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terça-feira, 21 de agosto de 2012

IGNORÂNCIA ARROGANTE

Ao pensar no título desta coluna estava me perguntando se não é ele um pleonasmo, isto porque, na minha experiência, quase sempre o ignorante é presunçoso e acha que o que sabe é a mais pura verdade.
Tive mais uma experiência destas esta semana. Uma senhora queria saber como era a Igreja da Irmandade, porque ela nunca tinha ouvido falar desta denominação. Ela introduziu o assu
nto da seguinte maneira:
- O senhor é pastor de qual Igreja?
- Igreja da Irmandade?
- Nunca ouvi falar. Ela é uma igreja normal? Ela é uma igreja “pentencostal”?
- Ela é uma igreja cristã.
- Mas ela é “pentencostal”?
- Não, ela não é pentecostal (falei acentuando para ver se ela percebia que pronunciava errado).
- Então ela não é uma igreja verdadeira porque não é “pentencostal” (ela insistia em dizer errado). A igreja verdadeira tem que ser “pentencostal”. Se não for verdadeira e “pentencostal” não é igreja, é do demônio.
- O que a senhora entende ser pentecostal? Qual a característica de uma igreja pentecostal?
- Uma igreja “pentencostal” é uma igreja avivada, que bate palmas quando canta, que ora com fervor, com fé, que cura, que profetiza, uma igreja que não é geladeira.
- Isto para a senhora é ser pentecostal? E se eu disser que em um terreiro de umbanda eles cantam, batem palmas quando cantam, fazem orações em voz alta, curam e dizem o que vai acontecer com a pessoa, isto significa que são pentecostais?
- De jeito nenhum!
- Então as características do ser pentecostal não podem ser as que a senhora me mencionou. Há alguma outra que a senhora queira adicionar? Eu esperava que ela fosse falar do batismo do Espírito Santo como segunda benção. Que nada!
- Uma igreja “pentencostal” tem que ter o Espírito Santo.
- Como a senhora sabe que a sua igreja tem o Espírito Santo e que a minha não o tem, mas que é do demônio?
Ela parou, pensou, viu que havia se enroscado e esbravejou:
- O senhor está me enrolando! O senhor tá querendo fazer eu me desviar da fé. Pare de me perguntar e acredite no que estou dizendo porque o que estou dizendo tá na Bíblia do jeitinho que tô falando pro senhor. E se o senhor não aceitar o que tô dizendo, que é o que está na Bíblia, o senhor vai queimar no fogo do inferno!

Não é primeira vez que sou excomungado por fazer perguntas que as pessoas não sabem responder. O que mais me intriga é que quando faço perguntas que a pessoa não tem respostas, o culpado sou eu. Eles me chamam de herege, de apóstata, mas nunca dizem: sou ignorante.
Assim, para muitos, sou herege, não porque o seja, mas porque eles não sabem dar respostas às minhas perguntas. Mais: se uma pergunta pode derrubar a fé de alguém, que fé mais mequetrefe é esta.
Marcos Inhauser

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

O TROPEÇO DAS ESTRELAS


Em Atenas, 2004 foram cinco de ouro. Em Pequim, 2008 foram três de ouro. Para 2012 em Londres o midiático Carlos Arthur Nuzman prometeu oito de ouro e só vieram três. Houve um trabalho de marketing muito forte em cima de algumas figuras que se esperava trariam ouro: seleções brasileiras de futebol masculino e feminino, seleções masculinas de basquete e de vôlei, equipe de ginástica olímpica, judô, salto com vara e salto triplo feminino, maratona. Exceção feita à seleção feminina de vôlei que arrancou a medalha com o pé na cova, toas demais esperanças frustraram.
A começar pelo time feminino de futebol, eliminado precocemente, com atuação pífia. A masculina foi se aguentando frente a adversários fracos, mas na hora agá, quando enfrentou uma seleção mais forte, deu no que deu. A Fabiana Murer foi derrubada pelo vento e a Maurren Maggi amarelou. Na maratona o primeiro brasileiro classificado ficou em quinto lugar. A seleção feminina de basquete só ganhou da Grã-Bretanha. Os irmãos Hipólito e a Daiane permitiram que pela primeira vez desde 2002 a Brasil não estivesse nas finais da modalidade.
O Neymar foi medíocre se comparado com outros jogos e atuações. Hulk, Marcelo, Alexandro, Rômulo, idem. Salvaram-se o Oscar e o Damião. O Doda, nem se ouviu falar, o Fernando Pessoas idem. O Cielo afundou.
As estrelas tropeçaram.
Quem se salvou? Gente desconhecida e sem as luzes da mídia global. Os irmãos Falcão, Sarah Menezes, Arthur Zanetti, Felipe Kitadai, Mayra Aguiar, Adriana Araújo, Juliana Silva e Larissa França, Yane Marques. Gente que foi sem brilho, sem holofote, mas que voltaram com o brilho de suas performances e medalhas.
Os medalhões voltaram de peito vazio.
No caso específico do futebol masculino, fica a interrogação: como um time que tem alguns dos melhores jogadores do mundo em suas posições, pode ser tão bisonho em uma final de Olimpíada? Como se mantém um treinador que, depois de tanto tempo, ainda não conseguiu dar unidade ao time?
A Dilma disse que quer mais medalhas em 2016 no Rio. Querer é uma coisa. O Nuzman também quis e prometeu. Mas onde está a política nacional de desenvolvimento de novos atletas? Ou, tal como se age nas obras para a Copa e Olimpíada, acredita-se que na hora agá tudo vai dar certo. Será que a Dilma acha que se faz um atleta de uma hora para outra? Como a nação sede da Olimpíada tem o compromisso de ter participantes em todas as modalidades esportivas, tenho para comigo que teremos muito mais motivos para nos envergonhar em 2016.
Disto fica uma lição: a humildade é fundamental quando se pensa em competir. E quem entrou de salto alto, saiu de cabeça baixa.
Marcos Inhauser

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

ADORÁVEIS POLÍTICOS


O desenrolar do julgamento do Mensalão está dando uma lição de como são e agem os políticos. Vamos por partes.
A primeira coisa que me chama a atenção é o fato de que “homem simples” (qualificação dada ao Delúbio) consegue pagar advogados que trabalham a peso de ouro, alguns dos mais caros do país. De onde sai a grana? Ou já saiu antes com o advento do valerioduto?
A segunda coisa é que nenhum deles se faz presente no plenário, como se a coisa não lhes afetasse.
A terceira é que os advogados, sem exceção, apresentam os réus como dignos de beatificação. O Zé Dirceu trabalhava tanto que não teria tempo para estas pequenezes. O Genoíno era um hábil articulador político e péssimo administrador financeiro. O Delúbio um exemplar cumpridor de ordens. O Marcos Valério um facilitador de tomadas de empréstimos perfeitamente legais junto a bancos. Os bancos fizeram o seu papel de emprestar o dinheiro e estão tentando receber o que emprestaram, tudo na mais perfeita legalidade e obediência aos preceitos legais do Banco Central. Todos eles ofereceram provas e foram inocentados nas auditorias e nas alegações contraditórias. O Ministério Público é um câncer na estrutura brasileira. Anda investigando demais e achando coisas. Ele tem a capacidade de achar pelos em ovos. O Procurador Geral é incoerente, junta documentos que lhe interessam e desconsidera outros que negam o que afirma. A Polícia Federal deveria estar investigando traficantes e não gastando tempo em dinheiro com gente de tão fina estirpe como os políticos brasileiros. Só deve valer nestes julgamentos documento de confissão assinado em cartório, com firma reconhecida e pelos menos 10 testemunhas.
Os réus, por sua vez, se praticaram alguma ilegalidade, foi no campo eleitoral, crime de menor importância e tão comum no universo brasileiro que nem vale a pena gastar este tempo todo para julgar. O melhor é não dar em nada. Ou melhor, o melhor é que saiam do STF com um atestado de pureza moral.
De minha parte espero que estes políticos e outros não réus do mensalão, mas tão envolvidos em falcatruas com o dinheiro público, seja na retenção de vales-refeição, na farra do pedágio, na indicação de parentes para trabalharem como assessores ou na Sanasa, desaparecem da vida pública brasileira. Alguns estão sendo impedidos de concorrer às próximas eleições (em Campinas vários já foram defenestrados e o mesmo ocorre em outros municípios). Alguns dos que hoje estão sendo julgados pelo STF ou pelos TREs já não contam com o prestígio de antes. No Genoíno de antes e o de agora há uma distância abissal. O Zé Dirceu perdeu muito do seu espaço. O Delúbio está sendo processado criminalmente. E assim por diante!
A opinião pública está atenta e acompanhando o que acontece. Se não todos os brasileiros, mas uma expressiva parcela. E nisto estamos dando nossa contribuição para que a pizzaria de Brasília vá à falência.
Marcos Inhauser

terça-feira, 31 de julho de 2012

A MESMA REGRA SE APLICA


Acostumado com a ineficiência das Agências Reguladoras (já falei da inoperância da ANS, ANEL, ANATEL, ANVISA, ANTT, ARTESP neste espaço), devo confessar que me surpreendi com a investida da ANATEL contra as operadoras de telefonia móvel. Primeiro porque saiu do catatonismo para a hiperatividade. Segundo porque veio de encontro ao anseio da população, ela que se caracterizou até aqui por ser uma agência que regulava os interesses das operadoras e não dos usuários.
O argumento básico utilizado para a investida drástica foi que as operadoras estavam vendendo mais aparelhos do que a rede instalada tinha capacidade de suportar. Em outras palavras, estavam vendendo o que não tinham condições de entregar, pois os investimentos que deveriam ter sido feitos não estavam acontecendo no ritmo esperado e demandado pelo aumento significativo dos usuários.
Pois bem. Se a máxima de vender mais do que a infraestrutura pode aguentar habilita a punição drástica que se aplicou, o mesmo princípio deve ser aplicado a outro setor, este gerenciado pelos governos federal, estaduais e municipais. Refiro-me ao da venda de automóveis.
O governo incentivou com a redução de IPI e taxas mínimas de financiamento a venda de carros zero. Houve incremento alarmante na quantidade de carros circulando pelas ruas, avenidas e estradas. Os governos ganharam uma nota preta com o IPI, ICMS, IPVA e “otras cositas más” embutidas, tais como o IOF no financiamento, a CIDE e o ICMS na gasolina, o ISSQN nos pedágios, etc. Há ainda o aumento no seguro dos carros (que gera mais impostos) fruto da inépcia governamental em coibir os roubos e furtos de veículos.
Houve um incremento em todos os níveis de arrecadação. Quem deveria proporcionar a infraestrutura que viabilizasse o uso da mercadoria que se comprou, simplesmente não fez nada. As ruas são as mesmas, as avenidas continuam iguais e as estradas foram terceirizadas e o que mais se vê é a plantação de radares (outra forma de tirar dinheiro do povo). Não bastasse isto, os governos municipais diminuíram o número de vagas de estacionamento nas ruas ou passaram a cobrar pelo uso do espaço público via Zona Azul. Há cidades onde se implantou a Zona Azul e não se acha o talão para ser comprado, e lá estão os fiscais para multar pela falta do cartão (isto ocorre em Campinas). Aumentaram a tropa dos “amarelinhos” ou “marronzinhos” (a cor depende do município) e estes anotadores de placa tem o dom da onipresença. Apareceram os donos de estacionamento que duplicaram o preço.
Se se pode penalizar as operadoras por falta de infraestrutura, quem penalizará os governos pelo mesmo pecado? Qual a agência reguladora que fiscaliza os atos destes incompetentes administradores? Quem poderá aplicar a sanção de não mais se vender carro até que as condições de infraestrutura sejam dadas?
A esta altura do campeonato, só vejo uma agência: o voto. Por isto e pela ineficiência já demonstrada, não reelejo ninguém. Quero esta corja fora o quanto antes.
Marcos Inhauser

quarta-feira, 25 de julho de 2012

MÁFIA OU CACHOEIRA


Há no Brasil a jabuticaba, que dizem só existir na terra brasilis, há os produtos jabuticaba (aqueles que a gente só encontra nesta terra, como, por exemplo, as novas tomadas elétricas), há as jabuticabas enxertadas, que são jabuticaba com inspiração estrangeira.
O caso Cachoeira parece ser desta última geração. À medida que os dados vêm à luz, percebe-se que a coisa é maior do que qualquer cidadão brasileiro pudesse imaginar. Creio mesmo que até os que estiveram envolvidos nas investigações se assustaram com os tentáculos desta hidra brasileira (animal mitológico de muitas cabeças, que renasciam em maior número à medida que se cortava uma delas). Desta hidra sabemos pouco, pois acredito que muito mais há para ser revelado e descoberto.
O que até agora se sabe levanta a questão: é um caso de corrupção ou um modelo mafioso que se instalou no governo de Goiás e de lá lançou tentáculos a outras partes?
Note-se que define a máfia como organização criminosa que tem suas atividades submetidas a uma direção oculta e que se infiltra na sociedade civil e instituições, com o objetivo de ter e vender facilidades. Dedicam-se às coisas ilícitas, seja no jogo, no tráfico, na corrupção, na venda de armas, etc. Para tanto arregimentam funcionários públicos e policiais para facilitar ou fazer vistas grossas às suas atividades. Sabe-se de políticos que tiveram suas campanhas financiadas, que foram eleitos e trabalharam fazendo lobby e defendendo os interesses dos financiadores.
A máfia não tinha escrúpulos em “ajuizar” os infiéis ou inimigos. As execuções sumárias de delatores, apóstatas e inimigos se tornaram prosaicas e renderam alguns filmes de boa bilheteria.
No caso tupiniquim, a coisa, ainda que pareça jabuticaba, está com tempero mafioso. Policiais civis, militares e federais que recebiam um mensalão para lubrificar os negócios ilegais dos caça-níqueis. Funcionários públicos locupletados para direcionar licitações. Prefeitos, vereadores, senadores e quiçá até governador que receberam financiamento para suas campanhas e que trabalharam como lobistas do empresário boa pinta, que, na fachada, era dono de uma empresa farmacêutica.
Acrescente-se a isto o laranjal que era utilizado para fazer os pagamentos espúrios, a compra sub ou superfaturada de uma mansão até agora não esclarecida devidamente, os quinze milhões de pagamento para que o ex-ministro da Justiça seja o advogado defensor, a chantagem feita em cadeia nacional de televisão dizendo que o marido não é bandido e que vai contar o que sabe, fazem desta Cachoeira algo, que para mim, está mais para a máfia que qualquer outro escândalo.
Não bastasse o enredo descrito, tem-se a morte do policial Tapajós, que participou nas investigações, o delegado Hylo Marques está sumido (que era informante do grupo mafioso) e um escrivão que trabalhou nas investigações foi encontrado morto em casa. Era Fernando Sturi Lima, 34 anos, teria se “suicidado” com um tiro na cabeça.
Ainda vai rolar água desta Cachoeira!
Marcos Inhauser

terça-feira, 17 de julho de 2012

HOMOGENEIZAÇÃO


Quem já viveu nos Estados Unidos por algum tempo notou que os shopping centers são quase todos iguais, com as mesmas lojas e mesma disposição em cada uma delas, dependendo da rede à qual pertencem. Se se entra em uma loja de rede que nem sempre está nos malls, tal como Target e Walmart, e depois se entra em outras lojas da mesma rede, até a disposição das coisas na loja é igual.
Se se viaja de carro e se quer parar em postos de gasolina, a diferença entre um e outro é mínima e em todos se encontra mais ou menos as mesmas coisas.
Coisa parecida está ocorrendo no Brasil. A invasão das redes Graal e Frango Assado (para ficar em duas citações) nos postos de gasolina e conveniências à beira de estradas, tem dado esta homogeneização gradativa.
Nos shopping centers, as chamadas “lojas ancoras” também tem levado a se ter mais do mesmo em qualquer um que se vá. Lá estão as Americanas, C&A, Renner, Fotóptica, etc. A maior homogeneização se dá nas praças de alimentação: em qualquer praça que se vá se encontra o mesmo: McDonald, Montanara Grill, Vivenda do Camarão, Spoleto, Viena, etc.
O processo se dá também no vestuário: todos de jeans e camisetas. Se se anda na região da Funchal, Vila Olímpia, Alphaville, Berrini, Faria Lima em horário de almoço pensar-se-á que jeans e calças pretas são uniformes das mulheres.
O mesmo se dá no campo das igrejas genericamente chamadas de “evangélicas” (recuso-me a aceitar tal designação como apropriada). Sai-se da Igreja X e vai-se para a Y, e depois a W e a seguir a Z e a coisa é a mesma: meia hora ou mais de cânticos congregacionais liderados por um grupo de narcísicos tocando algum instrumento. Os cânticos são os mesmos, seja nas igrejas históricas, independentes, livres, carismáticas, pentecostais ou neopentecostais. Quando se pensa que a mensagem deveria ser diferente, o que se tem é o monotematismo: todas tratando do mesmo tema, com variação nas ilustrações e nos textos bíblicos. Prosperidade e vitória nas lutas são o pão quente da hora.
A padronização imbeciliza porque não confronta com a novidade, a surpresa, a mudança. Viver a cada dia repetindo e vivendo a mesmice embota as mente e os corações. A homogeneização cultural e religiosa infantiliza porque não exige crescimento: tem-se mamadeira a qualquer dia e qualquer hora em todo lugar. Isto talvez explique a proliferação dos livros de autoajuda: mais do mesmo para as mesmas coisas. Fórmulas simples e mágicas para resolver questões que as pessoas não têm treino para tratar porque acostumadas à mesmice.
Nos templos tem-se uma mercadoria banalizada: a benção via oração do iluminado. Quanto mais pomposo for o título que ostenta (e sabe-se lá como foi que conseguiu esta comenda demissionário, pastor, bispo ou apóstolo – muitos por auto-ordenação!) mais poderosa e for te são a oração e a benção. Só que ela tem validade de yougurte: dura uma semana. Depois tem que ser renovada!
Marcos Inhauser

segunda-feira, 16 de julho de 2012

ADORAÇÃO


Há tempos venho me preocupando com o empobrecimento da liturgia e culto. O que era algo pensado, elaborado, feito com unidade e sequência lógica, foi, gradativamente, sendo substituído pelo “louvor” (um amontoado de cânticos desconexos na mensagem, escolhidos mais pelo entusiasmo que geram que na mensagem que trazem), a mensagem elaborada, estudada e bem fundamentada foi substituída pelos testemunhos de qualidade duvidável, que produziram o neologismo “tristemunho”.
Unidade litúrgica é algo que se perdeu e se desconhece nos cultos modernos. Teologia é sinônimo de palavrão e a própria liturgia ou é desconhecida ou é rejeitada como sendo algo que restringe a liberdade do Espírito. Os que propugnam que o culto deve ser livre para que se dê o agir do Espírito, não percebem que repetem as mesmas fórmulas domingo após domingo. Confundem excitação com espiritualidade, empolgação com manifestação espiritual.
Parece que se perdeu o conhecimento e o entendimento do culto em Israel, tanto no tabernáculo como templo, onde havia uma família inteira dedicada exclusivamente a isto (a família dos levitas), o culto tinha seus regulamentos (há todo um livro dedicado a este ordenamento, o de Levíticos), os cânticos eram selecionados a dedo e formaram o Saltério. Até a roupa dos sacerdotes tinha seu regulamento!
Falar de liturgia hoje em dia é recuperar a riqueza que se tinha e foi se perdendo. Mostrar a relação entre o culto, a adoração e a cura é algo que, ainda que praticado em muitos templos, não tem sido feito com a devida fundamentação bíblica e teológica. Adoração é uma arte perdida! Muitos dos que se promovem como líderes de adoração não tem a mais mínima noção do que teológica e biblicamente isto significa: curvar-se em homenagem, atribuir valor à divindade. Adoração é falar com Deus e não falar de Deus. Nos cânticos, orações, litanias, confissões falamos a Deus de nossas vidas e vicissitudes. Na mensagem ouvimos a Deus falando e nos dando esperança.
Por que cultuamos? Qual o papel da música e do cântico no culto? Sempre houve instrumentos para ajudar no canto congregacional? A congregação sempre foi permitida a cantar durante os cultos? O que esperamos que aconteça quando as pessoas saem do templo e retornam às suas casas? Pode haver cura durante o culto? Qual o papel dos dons no culto?
Conhecer estes aspectos leva as pessoas a ter melhor clareza na hora de adorar. Perceberão que a adoração não é medida pelo barulho, pelas palmas, pelo volume do som, pela quantidade de lágrimas, pelo brilhantismo dos músicos ou seja lá o que for. A adoração é feita em espírito e em verdade. Ela é uma atitude pessoal de render-se, de inclinar-se diante de Deus, de exaltá-lo, de submeter-se a Ele. Não é tempo de exposição narcísica (tal como se dá em muitos púlpitos que se transformam em palcos de exibicionismo), mas de contrição e humildade.

Marcos Inhauser



segunda-feira, 9 de julho de 2012

SECULARIZAÇÃO GRADATIVA


As últimas pesquisas sobre a religiosidade no Brasil têm revelado o crescente número de pessoas que se afirmam arreligiosas ou ateias. Acrescente-se a isto os que declaram ter fé, mas que se negam a estar vinculados a uma estrutura religiosa. Outro dado que veio à luz nos últimos é a queda no número dos que estavam vinculados à Universal e o crescimento da Igreja Mundial do Poder de Deus.
O crescente número dos não-religiosos e ateus se deve a um processo que se deu na Europa a partir da Segunda Guerra Mundial e que se convencionou chamar de secularização, que leva as pessoas a não mais considerar ensinos tradicionalmente religiosos como normativos para as suas vidas, preferindo adotar valores culturais ou de mercado. Há indícios que este secularismo está também vinculado à melhoria das condições sociais e econômicas, pois, tendo mais recursos, menos dependentes de Deus se tornam.
Nesta vertente é comum encontrar os que se valem do pragmatismo ou utilitarismo para justificar ações e comportamentos. Mais que isto, a secularização tem o condão de retirar as esperanças, especialmente as relacionadas à vida futura e até mesmo uma vida aqui mais justa e próspera.
No caso específico do contexto brasileiro, além da propalada ascensão econômica da classe D (fato discutível e que merece aguardar dados estatísticos de mais longo prazo), há a religiosidade secularizante.
A partir dos anos 70, com o surgimento e explosão do neo-pentecostalismo e a competição acirrada que se estabeleceu entre as várias correntes, a fé se tornou marketing (O Show da Fé!), as bênçãos viraram mercadoria e Deus foi esvaziado para se tornar em ajudante de ordens de pregadores que ousam dar-lhe ordens.
Transformada a fé em marketing e a benção em mercadoria que se compra nos templos dos “iluminados”, onde um bispo ou apóstolo determina a Deus o que deve acontecer, a dimensão mística e numinosa da fé e do sagrado se perdem e a racionalidade cartesiana do “pagar para receber” transforma a experiência sagrada da oração, da meditação, da comunhão, do serviço, do amor ao próximo em algo secularizante: Deus se deixa vender! E o Deus que se deixa vender não é Deus e, portanto, passo a ser ateu.
A religião do sucesso tem a habilidade de criar frustrados e decepcionados. Faz aumentar o número dos ex-membros de alguma igreja, que detestam pastores e cultos, que buscam formas alternativas de viver a fé, seja em pequenos grupos ou em vidas cristãs isoladas, muitos se dedicando ao autodidatismo bíblico e teológico, mãe das grandes heresias.
A religião midiática que cresce na direta proporção das horas de programa de televisão que veicula, que gasta milhões mensais para repetir ad nauseam as mesmas coisas, que promete o q não entrega, que fala mais em dinheiro que em amor ao próximo, mais em poder que em serviço, não é religião: é comércio. E comércio é o deus Mamom, secular e secularizante.
 Marcos Inhauser

terça-feira, 26 de junho de 2012

OS IGUAIS SE ALIAM


Um sociólogo da Universidade de Chicago (que a memória não me permite recordar o nome), que afirma que há um elemento gregário no ser humano e que as pessoas se aliam a outras que são iguais a elas e assim formam grupos. Ele chama a isto de conformação tribal. A igualdade passa pela semelhança no vestir, comer, falar, interesses, etc. A afirmação tem sua lógica na medida em que nos sentimos confortáveis ao lado de pessoas que pensam igual a nós, que concordam conosco em quase tudo, onde as conversas fluem em um processo gradativo de troca de experiências e não fica patinando em afirmações e contradições.
Lembrei disto na semana passada por causa dos recentes episódios envolvendo dois líderes de partidos políticos. Para quem acompanha a vida política do país há algum tempo, especialmente a partir do golpe de 64 e o surgimento do movimento operário no ABC paulista que redundou na formação do PT, também acompanhou as idas e vindas desta cria da ditadura que hoje lidera o PP, mas que teve sua peregrinação iniciada na Arena e a carreira política fomentada pelas fardas.
Lula e Maluf viviam às turras, com farpas envenenadas atiradas dos dois lados. Há alguns anos era inimaginável pensar que um dia pudessem se aliar. Mas como já disse Tancredo: a política é como a nuvem, a cada minuto muda de forma. E nuvem mudou e muito a sua forma.
O Maluf continua o mesmo e até hoje deve explicações à nação sobre as acusações e condenações que tem, notadamente as que se referem aos desvios de recursos públicos e dinheiro no exterior. Ele sempre usou a fórmula maquiavélica de que “os fins justificam os meios”. Neste afim sempre se aliou a quem estava no poder e tentou se eleger em tudo quanto é cargo, de prefeito a presidente.
Do outro lado, o Lula encarnava a virgem pura da política, denunciando tudo e todos, especialmente Maluf e Quércia. Como não conseguiu eleger-se presidente adotando a postura purista e de paladino da moral, influenciado pelo amigo Zé Dirceu decidiu deixar o convento da castidade e partir para algumas relações menos santas. Aliou-se ao PCdoB, ao PSB e ao PR, dando a este a vice-presidência, que tinha sido do PRB (antes se chamava PMR) e do PR. Assim se elegeu. Já eleito, fez um leque de alianças que mais parecia arco-íris que algo ideologicamente construído. Em nome da governabilidade valia tudo. Tanto valia que se aliançou ao PMDB a prostitua mór da política brasileira, em pé de igualdade com o DEM. Impôs a Dilma como candidata e para elegê-la entregou a vice-presidência ao Temer, velha raposa política e do PMDB. Tentou o Kassab e sua cria, o PSD e se deu mal.
Agora os iguais e aliançam. Quem mudou? O Maluf ou o Lula? Quem está levando ao paroxismo a máxima maquiavélica dos fins que justificam os meios. Para tentar eleger um poste, vale tudo, até ir à casa do Maluf e tirar fotos sorrindo ao ex-desafeto. O Maluf continua a mesmo. Só resta aceitar que a mudança ocorreu no Lula e nos seus asseclas.
De políticos assim estamos cansados. Queremos gente com valores e que tratem a coisa pública com seriedade e não nos chamem de palhaços.
Marcos Inhauser

quinta-feira, 21 de junho de 2012

CORPORCO


Uma característica bastante comum nos seres humanos é a proteção dos iguais. Parece que necessitamos proteger os que são nossos colegas, para que, na hora da necessidade, também sejamos protegidos.
Este sentimento de “espírito de corpo” pode ser visto e frequentemente é citado quando se trata de julgamentos que são feitos a profissionais pelas suas entidades de classe. Não foram poucas as vezes em que se salientou que os Conselhos Federais de Medicina, Odontologia, dos Contabilistas, da Magistratura, são lentos e muitas vezes omissos nos seus julgamentos. Parece que os julgamentos só se dão quando o caso é de tamanha evidência que nem juízo precisa. Também ocorrem quando há grande comoção social e pressão da opinião publica.
A cada pouco somos informados que o médico este ou aquele, que o juiz fulano ou beltrano, estão sendo acusados de algo e que eles já tem outras acusações anteriores nos órgãos colegiados. Há o caso do “cirurgião plástico” de Brasília que matou algumas pessoas e o Roger Abdelmassih. Há ainda os procuradores denunciados por estarem pegando dinheiro dos precatórios há bom tempo e que o julgamento foi digno de uma lesma.
No campo da política a coisa é ainda pior. Recentemente tivemos o lamentável episódio da absolvição da Jaqueline Roriz, no que pese o vídeo comprovando o recebimento da propina. Aí estão os casos do deputado Saulo Moreira (ALE/RJ);  deputado Sérgio Moraes (PTB-RS), que em 2009 ficou famoso ao dizer que “se lixava” para a opinião pública; deputado José Mentor (PT-SP) por sua participação no Mensalão; Paulinho da Força (PDT-SP), acusado de participar de um esquema de desvio de dinheiro do BNDES; Jair Bolsonaro (PP-RJ), acusado de homofobia e racismo; Olavo Calheiros (PMDB-AL) - Acusado de quebra de decoro supostamente por ter ligações com o dono da construtora Gautama, Zuleido Veras, preso na Operação Navalha da Polícia Federal; Sandro Mabel (então no PL-GO), acusado de distribuição de suborno; João Correia (PMDB-AC), acusado de envolvimento na máfia das Sanguessugas; Vadão Gomes (PP-SP), Pedro Henry (PP-MT, José Janene (PP-PR, Wanderval Santos (então no PL-SP), Professor Luizinho (PT-SP), Roberto Brant (PFL-MG), Romeu Queiroz (PTB-MG), João Magno (PT-MG), João Paulo Cunha (PT-SP), Josias Gomes (PT-BA), todos absolvidos das acusações de participação no mensalão.
Neste momento, há evidências de que o Demóstenes pode se safar. Talvez porque ele saiba demais e pode complicar a vida de muita gente. E o Pagot não querem ouvir porque vai botar lama na mesa presidencial.
Na Câmara de Campinas já tivemos alguns exemplos iguais. Foram absolvidos do uso indevido dos tickets refeição, da contratação de funcionários fantasmas, da retenção de parte dos salários dos funcionários, da farra dos pedágios.
Pelo jeito, mais que espírito de corpo, há nestes colegiados um espírito de porco. Gostam de viver na lama e não saem dela nem a pau.
Marcos Inhauser