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quarta-feira, 28 de março de 2012

DOENÇAS: CASUALIDADE OU CASTIGO DIVINO?


O Rev. Kopeska, amigo e irmão por afeição, escreve coisas que gosto: Aqui vai mais uma (com edições para caber aqui).
Epícuro, filósofo grego, tentou entender Deus a partir do sofrimento humano: Deus, ou quer impedir os males e não pode, ou pode e não quer, ou não quer nem pode, ou quer e pode. Se quer e não pode, é impotente: o que é impossível em Deus. Se pode e não quer, é invejoso: o que, do mesmo modo, é contrário a Deus. Se nem quer nem pode, é invejoso e impotente: portanto nem sequer é Deus. Se pode e quer, que é a única coisa compatível com Deus, donde provém então existência dos males? Por que razão é que não os impede? A filosofia epicurista ... reflete ... o egocentrismo infantil e utópico do ser humano em querer passar pela vida sem ... ônus, perda ou pesar. Algo impossível para ... (humanos). Não somente Epícuro e os amigos de Jó interpretaram a doença a partir da existência ou justiça de Deus. Há um livro (“Teorias Sobre as Doenças”) que traz a pesquisa feita em 139 culturas, das quais 135 interpretam as enfermidades como castigo divino. Trata-se da mistificação das doenças, as quais nossos antepassados a julgavam como fenômeno "sobrenatural", ... além da compreensão do mundo, superada, depois, pela teoria de que a doença é decorrente das alterações ambientais ... que o homem vive. ... saúde e doença são estados de um mesmo processo, ... Uma avó ligou para a neta. O bisneto atendeu e ela perguntou por que ele estava em casa e não no colégio. Ele respondeu: "Vó, estou descansando no Senhor". Ele estava doente, mas por causa da convicção religiosa, não podia admitir a doença, pois significava pecado na vida. Enfermidades não são castigos divinos, reflexo da falta de fé, sinais de pecados ou indicativos de negligência na comunhão com Deus. São fatos inerentes da nossa humanidade ... Os que confiamos na soberania de Deus ... cremos que as enfermidades podem ser instrumentos de Deus para a sedimentação emocional e espiritual. Assim é o carvalho, usado por geólogos e botânicos como medidor de catástrofes naturais. Quando querem saber o índice de temporais e tempestades ocorridas numa determinada floresta, eles observam o carvalho, que é a árvore que mais absorve as consequências de temporais. Quanto mais tempestades ele enfrenta, mais forte fica. Suas raízes se aprofundam e o caule se robustece, sendo quase impossível arrancar ou derrubar. Não é necessário fazer análises para saber. Basta olhar. Para absorver as tempestades, o carvalho assume aparência disforme, como se tivesse feito muita força, pode ter aparência triste. A tempestade para o carvalho é desafio e não ameaça. Assim somos nós. Devemos tirar proveito das situações contrárias à nossa vida e ficar mais fortes. Com a aparência abatida, mas fortes! Raízes profundas! O apóstolo Paulo escrevendo aos cristãos, na antessala do martírio em Roma, anima-os: ... nos gloriemos nas próprias tribulações, sabendo que a tribulação produz perseverança; e a perseverança, experiência; e a experiência, esperança.
Marcos Inhauser e Marcos Kopeska

quarta-feira, 21 de março de 2012

ABENSUADO


Não errei na grafia, não!
O que quero afirmar é que a benção vem acompanhada de suor, a inspiração tem muito de transpiração, o sucesso de dedicação. Não há atalhos para as coisas e os atalhos que nos são oferecidos são fraudes.
Milhões jogam todas as semanas na loteria, uns poucos acertam e os que levam a bolada, via de regra, passam a viver um inferno. Ou perdem o que ganharam ou precisam administrar os “amigos”. Chove na minha caixa postal e-mails me prometendo ganhar mundos e fundos sem sair de casa e quando os olho com mais cuidado, vejo que tenho que pagar e fico a pensar e concluir, a partir de experiências anteriores e de outros que as viveram, que o único ganho garantido é de quem recebe.
Quem ainda não recebeu uma carta ou e-mail do tipo corrente? Você conhece alguém que já ganhou dinheiro com isto a não ser quem iniciou a corrente?
Já li a biografia de muita gente que se tornou famosa por “a” ou por “b”. Pegue-se o exemplo de Thomas Edison que fez mais de dez mil experiências até que conseguisse inventar a lâmpada, que durava não mais de 48 horas. Ele teria afirmado que “Não errei dez mil vezes, apenas descobri dez mil coisas que não funcionam.” Li também a história de Ernest Henry Shackelton, definido como o maior líder que a humanidade conheceu. Tentou chegar ao polo sul e nunca conseguiu chegar lá, mas deixou lições preciosas sobre a obstinação, persistência e lealdade aos comandados.
Neste contexto preocupa-me a maciça e massiva pregação religiosa que tem assolado as televisões e templos que abrigam empreendimentos religiosos. Trata-se da pregação que diz que a pessoa pode se tornar rica, próspera, do dia para noite, bastando para tanto obedecer a Deus (obediência nas ofertas e dízimos!). Inúmeros são os relatos de gente que aparece dando seu “testemunho” de como foram abençoados porque deram o dízimo ou ofertaram generosamente. Já se questionou a autenticidade de tais testemunhos, visto que se sabe hoje que vários deles são pagos, de gente que ganha uns trocados para falar o que interessa ao dono do programa.
Esta semana surgiu a notícia de que a Uniesp (União das Instituições Educacionais do Estado de São Paulo) firmou convênios com igrejas comprometendo-se a pagar dízimo pela indicação e matricula de fiéis em seus cursos universitários. Haja criatividade! Aposto que ofereceram à Uniesp que receberiam de volta dez vezes mais do que dizimariam! Os espertalhões por trás de tal negociata querem o bem$ão sem suar a camisa. Usam o nome de Deus para o seu enriquecimento.
Eu, orientado pelo sábio Cirino (boia fria, negro, dos meus tempos de infância que me ensinou algumas lições preciosas) vou botar minhas barbas de molho. Acredito que o que comemos deve vir do suor do rosto. Querer a benção sem suar é comer do suor dos outros, que vão trabalhar mais do que devem e precisam para sustentar a opulência de espertalhões travestidos de sacerdotes, pastores, bispos e apóstolos.
Marcos Inhauser

quarta-feira, 14 de março de 2012

AMOR TERCEIRIZADO


Ela tinha certa capacidade financeira. Dona de um próspero negócio e metida a madame, frequentava uma das igrejas que pastoreei. Cada vez que tínhamos algum evento na igreja, fosse ele hospedando alguma reunião ou congresso, ou mesmo para angariar fundos para alguma instituição social, as mulheres e homens da igreja se cotizavam para ajudar. Uma vez era um churrasco beneficente, outra um jantar para angariar fundos, ou uma simples confraternização entre membros da igreja. Todos se cotizavam e se dispunham, menos a madame. Ela vinha para mim e dizia: arruma alguém para fazer em meu lugar que eu pago.
Um dia eu estava meio atravessado e disse a ela que não queria gente que pagasse a outros para amar no lugar dela. Ou ela viria ou então não precisávamos do seu amor terceirizado. Ela nunca mais apareceu na igreja.
No tempo em que estive indo quase diariamente à casa de repouso para visitar meu sogro e depois meu pai, revi esta cena muitas vezes. Vi nestas casas gente que ali foi colocada pelos filhos que nunca voltaram para fazer uma visita ao pai ou mãe. Era gente que acreditava que pagando a mensalidade já cumpriam com sua missão. Ouvia história de um homem que foi colocado, pagaram três meses adiantados e nunca mais deram o ar da graça, nem para pagar o restante, nem para levar o pai a outro local. Um deles me contou que tinha seis “tranqueiras na família” e que só uma sobrinha era quem tinha algum cuidado com ele.
É mais fácil terceirizar que sentar-se ao lado e ouvir a mesma história quatro ou cinco vezes em uma hora de convivência. É mais fácil saber que há alguém para cuidar e que se paga para fazer isto.
É verdade que há situações em que a situação de saúde da pessoa exige cuidados especiais e locais apropriados. No entanto, isto não exime os familiares de visitar, se fazer presente, ouvir as histórias.
Há gente que não demonstra amor nas relações pessoais, mas contribui com organizações que representam causas nobres, e estas então amam por elas e assim se sentem isentas de culpa.
Apesar de ser nosso dever contribuir para estas organizações que se propõem a aliviar miséria e sofrimentos humanos, estamos cometendo grave erro se acreditamos que estas contribuições nos livram de nossas responsabilidades pessoais de demonstrar amor ao próximo.
Um filho ou filha, que recebeu dos pais os cuidados na infância, que noites mal dormidas por eles foram por causa do cuidado que deram em momentos de enfermidade, não tem o direito de se ausentar ou mesmo de pagar para que outros amem no seu lugar.
O mesmo se pode dizer de pais que contratam babás para amar em seus lugares, ou mandam para a escolinhas para que lá sejam abraçadas e reconhecidas.
O amor ao próximo é intransferível. Não há como passar procuração. É uma responsabilidade individual, intransferível, inalienável. Amar é altamente recompensador e tem a capacidade de dar significado à vida.
Marcos Inhauser

quarta-feira, 7 de março de 2012

A VOZ FEMININA CALADA PELA INQUISIÇÃO


Não é de hoje que conheço e admiro o trabalho de pesquisa histórica que a professora Rute Salviano Almeida desenvolve, recuperando vozes femininas caladas pela Igreja. Ela traz a público mais um trabalho de sua lavra e pesquisa.
Lança amanhã seu livro “Uma voz feminina calada pela Inquisição”, no qual apresenta o contexto do final da Idade Média, o papel feminino e a vida das beguinas, mulheres que se dedicaram ao cuidado dos menos favorecidos, tornando-se mestras da vida e artesãs da alma.
A personagem central de seu livro é Margarida Porete, beguina itinerante que foi a primeira mulher queimada pela Inquisição francesa, em 1310. Ela ousou escrever e divulgar suas ideias na língua do povo, quando a permitida era somente o latim, considerada língua sacra. O livro apresenta o Tribunal da Inquisição, com textos da época, bulas condenatórias e o processo que levou Margarida à morte.
Como em seu primeiro livro “Uma voz feminina na Reforma”, a escritora destaca o silêncio das mulheres na História e o alto preço pago pela ousadia de falar, pois o discurso público da mulher equivalia a uma perversão no cenário da Idade Média.
No livro são apresentadas as mulheres como mães, esposas e “escravas da moda”, mostrando como o sexo feminino sempre sofreu em nome da beleza. As mulheres medievais depilavam os cabelos da testa com cal, devido à moda do penteado alto, no qual tinham que mostrar uma testa exageradamente grande.
Na conclusão, a autora reflete sobre as diferenças e semelhanças entre aquela época e a atual. Mais que isto, há que considerar-se que no meio religioso (tanto cristão, como muçulmano e judeu) a mulher continua calada. Poucos são os espaços em que ela pode expressar o que sente e pensa. Ao negar-lhe o acesso ao sacerdócio e à ordenação pastoral, calam suas vozes, mesmo quando elas representam, em média, 67% de todas as igrejas cristãs e religiões.
Na Idade Média, apesar de enfrentar pestes, inundações, guerras e crer que Deus era juiz vingativo e cruel, não queriam ser afastadas da fé, pois ela lhe dava segurança em meio à vida cheia de temores. Nesta pós-modernidade, por seu turno, acha-se vergonhoso crer nas doutrinas, preferindo “desconstruir” dogmas. Ao fazer isso, não conseguem colocar nada no lugar e acabam vivendo perdendo a esperança. Talvez isto explique a falta de empolgação, de brilho nos olhos da nossa geração, gente disposta a levar às últimas consequências seus ideais.
Se a Idade Média foi uma época de temores, hoje o sofrimento é a pobreza, violência, corrupção e desemprego. A fé continua a ser o único esteio da humanidade; se dava esperança ao homem medieval, continua a dar ao homem de hoje.
Uma pessoa que dedicou a vida a recuperar a voz das mulheres silenciadas, merece o apoio até dos homens. O livro pode ser encontrado no site da Hagnos (www.hagnos.com.br)
Marcos Inhauser