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quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

CONTROLE POPULAR DO PODER


Acabo de ler artigo publicado no El Pais explicando por que o povo elegeu Hitler. Voltei aos meus livros e leituras para ver o que mais poderia ler para fundamentar algumas das razões que o escritor do artigo elenca.
Encontrei este de William Godwin (Enquiry Concerning Political Justice and its Influence on Moral and Happiness, GG Robinson, London, 1796, Vol I, pg 108): “O grau de imaturidade ou maturidade da população se refletirá no sistema político, produzindo um regime ditatorial ou uma situação de liberdade. Fraqueza interna torna um povo presa fácil de um conquistador, ao passo que o esforço para oprimir um povo maduro na liberdade, provavelmente não será bem-sucedido”.
Isto foi alertado pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos; “ ... as potestades constitucionais do Chefe de Estado, por ser tão numerosas, amplas e importantes, lhe outorgam um poder muito grande, sem os contrapesos significativos, que por sua natureza, não só abre as portas a uma aplicação abusiva do poder, mas também permite que se anule, limite ou distorça o exercício efetivo da representação política e da participação popular e, por conseguinte, a observância de outros direitos e garantias.” (Diez años de actividades” – 1971 a 1981, pg 270).
Para citar um pensador, o governo é um comitê com poder para gerir e facilitar os interesses da elite. Para tanto, ele deve acomodar as classes populares emergentes, domesticá-las em algum esquema bem ao gosto das classes dominantes. Lembro-me que, quando cursava o pós-graduação em Educação na UFSCAR, estudamos as reformas educacionais que o Brasil já teve. O professor centrou sua análise na exposição de motivos, situados no contexto histórico, social e econômico que a nação vivia. Ficava claro como as reformas educacionais foram feitas para prover às elites a mão de obra que necessitavam naquele momento. Lendo Bordieu e Passeron (A Repodução), percebi como a escola é a célula reprodutora do pensamento dominante e de domesticação das mentes.
As elites, ao perceberem que não podem resistir ao poder do povo que se rebela, começam a dar reputação e espaço para um dos seus elementos (do povo) e o fazem príncipe, para, sob sua sombra, ter seus apetites saciados. O povo, por sua vez, dá sustentação ao “príncipe do povo eleito”, pois acreditam que ele irá defender os seus interesses. Eles se equivocam pois, quem o elegeu, foi o poder econômicos dos ricos. O Brasil está cheio de exemplos desta natureza, tanto à direita como à esquerda.
É citada com frequência a frase atribuída ao governador mineiro Antônio Carlos de Andrada: “façamos a revolução antes que o povo a faça”. É a revolução dos poderosos para aplacar a ira do povo, vendendo como se a revolução viesse para satisfazer seu anseio. Assim foi com o Collor, com a Ditadura mal denominada de Regime Militar, com o plano Cruzado etc.
Quando se tenta unificar as coisas colocando juntos anjos, cosmos, Igreja, estruturas políticas, religiosos, religião e Deus como sendo a origem e o sustentador da integração das partes, a coisa assume aura de sagrado. Isto pode dar-se pelo uso de textos bíblicos fora de seus contextos, presença constante de religiosos ao redor do núcleo do poder, discursos com ares de sagrado, mantras religiosos repetidos à exaustão, pseudo-fundamentação em valores religiosos. Nada mais pernicioso e maléfico do que a ditadura religiosa. Que o diga Irã, Afeganistão, Guatemala sob a égide de Ríos Mont, Pinochet e seu messianismo. O governo assim concebido acha que está acima da lógica política (quer governar sem a política e os políticos), busca uma solidez ontológica (como se existisse de per se) e tudo passa a ter validade ética. Aos de fora do núcleo só cabe obedecer. Os desobedientes e contestadores são lançados ao fogo do inferno. Que o digam os defenestrados de Sarney, Collor, Lula, Dilma, Temer e Bolsonaro.
É o esquema de um poder que trabalha o povo, manipula seus sentimentos, fabrica comportamentos, tudo para fortalecer o poder econômico de poucos.
Alguma dúvida? Olhe os recentes dados de concentração de renda no Brasil. É indecente como nos últimos 50 anos a coisa foi feita para que os ricos sejam mais ricos.
Que os profetas (denunciadores do pecado do poder) não se calem. Quando não há profecia, a nação padece! Isto é bíblico!
Marcos Inhauser

sábado, 7 de dezembro de 2019

BIBLIOPLANISTAS


Virou moda, apesar do absurdo que é, afirmar que a terra é plana. Tem gente que o afirma categoricamente e há um autodidata louco e aprendiz de astrólogo que diz que não há nada que refute a ideia de que a terra é plana.
A coisa é tão estapafúrdia que se chegou a realizar a primeira Flat Con, a Convenção Nacional da Terra Plana, com a seguinte enunciação: "A Terra está parada. Não se move. A superfície da Terra é plana. Há uma cúpula sobre nós chamada o Firmamento. O sol, a lua e as estrelas estão sob a cúpula do Firmamento. O sol e a lua são muito menores e mais próximos do que nos dizem. O sol e a lua se movem em seus próprios padrões sobre a superfície da Terra. Não há planetas. Apenas estrelas no céu. Não há espaço. Não podemos sair da cúpula. Está tudo bem aqui ..."
Eles dizem que nossos sentidos indicam que Terra é plana, o mundo parece ser plano, logo deve ser plano. Para eles a Terra é um disco redondo e achatado, o Polo Norte está no centro, a borda é formada por gelo (Antártica), a circum-navegação da Terra é fazer volta ao redor do Polo Norte. Sol e a lua são pequenas esferas a poucos milhares de quilômetros da Terra, que se movem em círculos ao redor do Polo Norte, e outras barbaridades.
Duvidam da evidência fotográfica, porque acham ser fácil manipular imagens. Para eles, a exploração espacial nunca aconteceu: é conspiração. Os astronautas, que disseram ter visto a Terra é redonda, foram subornados ou obrigados a dizer isso.
Mas há, em número maior e com o mesmo grau de absurdo, os Biblioplanistas. Contra toda a evidência histórica, linguística, cultural, da crítica literária e da glotologia, saem afirmando besteiras sobre a Bíblia. Mesmo quando uma palavra se trata de uma apax legomena (palavra que ocorre uma única vez), eles sabem tudo sobre o significado dela, mesmo em se tratando, no caso da Bíblia, de duas línguas mortas (hebraico bíblico e grego koiné).
Para os Biblioplanistas, os gêneros literários são coisa de hereges para torcer o real sentido das Escrituras. As contradições entre narrativas históricas ou a duplicidade delas (como no caso da criação), é coisa que só incrédulo acredita. A Bíblia é infalível e inerrante. As aparentes contradições têm algo a mais e o leitor mais atento e cuidadoso fica míope para estas “verdades ocultas”. Perguntar, questionar e duvidar de certos relatos é condenação eterna para os Biblioplanistas.
Acreditam que o Pentateuco foi escrito por Moisés ainda no deserto (só não explicam como há tanta água no texto da criação se o ambiente dele era o deserto). Acreditam na literalidade numérica: Moisés esteve 40 anos na corte de Faraó, 40 anos no deserto, 40 dias no monte Sinai e mais 40 anos na peregrinação, saiu do Egito com 600.00 homens, perseguido por 600 carros de combate do Faraó.
Desconhecem os gêneros literários. Para eles não há na Bíblia novela, saga, lenda, mito, saga etiológica, ironia, hipérbole, poesia, conto, anedota, discurso narrativo ou épico, ode, metáfora etc. As parábolas devem ser tomadas no seu sentido mais literal possível. Tudo deve ser interpretado desde uma ótica plana e rasa: literalmente, onde cada palavra tem o sentido primário, sem possibilidades de interpretações segundo o gênero no qual foi escrito. A poesia se torna historiografia, a saga etiológica é descritiva de fatos originais, as fábulas são fatos históricos.
Também acreditam que a vida na terra é um campo de batalha entre Deus e Satanás, com seus demônios que trazem enfermidades, desgraças, falências, adultérios e que há pessoas escolhidas a dedo por Deus para expulsar os demônios e trazer prosperidade.
Com tamanha infantilidade interpretativa, não surpreende que expulsem demônios da caspa, da obesidade, acreditem que a serpente e a mula de Balaão realmente falaram, que o universo foi criado em sete dias de 24 horas e que a terra tenha não mais de 7000 anos!
Marcos Inhauser

quarta-feira, 27 de novembro de 2019

ASSASSINOS DE COMPETÊNCIAS


Tive a oportunidade de fazer coaching com um gerente de área de uma multinacional. Ele me foi encaminhado como tendo problemas relacionais e de liderança. Fiz as duas primeiras sessões e descobri que havia algo mais que o atrapalhava: era extremamente centralizador.
Ele tinha uma equipe de umas 10 pessoas, todas competentes, com habilidades reconhecidas e expertise em áreas próprias. Um sabia bastante de Excel e dos macros que muitas planilhas demandam, outro era bom na manutenção e reparo na rede de computadores, tinha uma pessoa boa em escrever textos, outra que era boa no design gráfico, e assim por diante.
Ele tinha em mãos um potencial de trabalho que talvez nenhuma outra equipe na empresa se equiparasse. Tinha uma McLaren na mão, mas sua produção era de um Fusca. Voltei a conversar com o RH sobre o que estava percebendo e eles me afirmaram que eu estava no caminho certo e me pediram para ser mais direto sobre este tema com o coachee.
Na próxima sessão perguntei a ele quais eram, individualmente, as competências de cada um dos seus liderados. Ele foi descrevendo com certa acuidade e fui percebendo que ele tinha uma visão bastante completa do quadro funcional que tinha em mãos. Chegou a hora de ir mais fundo na questão: “qual foi a última vez que usou Fulano para fazer o que você diz que ele sabe fazer bem?”. Ele pensou, rememorou e foi taxativo: “não me lembro”, mas emendou em seguida: “talvez porque não houve nenhum trabalho que demandasse a competência que esta pessoa tem”.
Dei uma segunda rodada: “e Beltrana? O que você delegou a ela que ela pudesse usar suas competências? A resposta dele foi uma variação da primeira: “eu deleguei a ela uma tarefa, mas dada a urgência e complexidade, acompanhei a execução de perto e, no final, tive que assumir, para garantir que as coisas saíssem tempo e a contento”.
Na terceira rodada mudei o foco. Ao invés de perguntar sobre o passado, passei ao presente: “quais atividades que você tem hoje e a quem você delegou, segundo a habilidade que cada um tem?”. Ele citou alguns projetos nos quais o seu departamento estava envolvido, falou da complexidade de vários deles e mencionou, já prevendo a próxima pergunta: “eu tenho delegado coisas à minha equipe, mas, por questão de segurança, acompanho de perto o desenvolvimento e se vejo que as coisas estão fora do prazo ou não são feitas do jeito estabelecido, eu tomo as rédeas do processo”.
Conversa vai, conversa vem e descubro que ele era um acaparador. O termo vem do espanhol e significa a pessoa que assume todas as coisas, tem dificuldades de delegar, não usa as pessoas que tem, não desenvolve talentos e sepulta as competências que tem na equipe. Elas morrem por desmotivação, frustração e inanição. O acaparador entende de cesariana a motor a explosão. Tudo ele sabe, tem opinião marcante sobre todos os temas, sempre se coloca numa posição crítica em relação à opinião e sugestões que porventura lhe façam. Lógico, bastante racional e de boa argumentação, justifica sua atitude acaparadora como sendo benéfica para a empresa e a equipe, porque “ele sabe fazer melhor que qualquer um.” Usa de alguma deficiência de uma outra delegação que passou para justificar que prefere ele fazer todas as coisas.
Não preciso dizer que o acaparador é assassino de talentos, mas também é autofágico. Ou morre pela quantidade de coisas que assume para fazer (nem sempre fazendo tudo o que assume) ou morre pela avaliação funcional: é demitido por “excesso de trabalho e resultados pífios”. Ele se vê uma McLaren, a empresa e os colegas o veem como Fusca.
Marcos Inhauser

quarta-feira, 20 de novembro de 2019

CORRIGINDO-SE


Isto já me aconteceu várias vezes e percebo que não é só comigo. Escrevo algo, leio o que escrevi, corrijo, releio, e outra vez corrijo e mais uma vez leio e acho que está tudo bem. Mando a coluna para a publicação e quando é publicada percebo que escaparam coisas que deveriam ser corrigidas. Até já tive leitoras que me escreveram alertando sobre isto.
Tenho notado isto em outros colunistas (sou meio viciado em notícias e no jornalismo opinativo). É frequente encontrar erros nos textos que publicam na internet, coisas que não percebia no jornalismo impresso. Parece que é um mal do mundo digital.
Há muitos erros. Um deles e bastante comum no mundo da digitação é a inversão de letras na hora de digital. Lembro-me de, certa feita, ter escrito graça e na publicação descobri que havia digitado garça. Outro comum é a inserção de espaço no meio de uma palavra (ins tantâneo) ou colocar a última letra acoplada à palavra seguinte (queir aDeus), ou ainda a falta espaço entre palavras (coisassimples, queevidenciam). Tais erros são facilmente reconhecidos e merecem o beneplácito da indulgência. Há os erros de ditografia (escrever duas vezes em seguida a mesma palavra). Há ainda os erros que podem parecer de digitação, mas que, na realidade, são de alfabetização: souteira, adimito, pissicologia, previlégio e outras mais.
Outro erro comum, mas mais grave, é o da concordância que corta o “s” final ou não declina o verbo apropriadamente (os filho, fulano e beltrano comeu). Há ainda o erro de grafia e de gramática que evidenciam problemas mais sérios de conhecimento da língua: trocar mas por mais, eminência por iminência, precursora por percussora.
Certos tipos de erros podem ocorrer quando se copia um documento a partir de ditado. Podemos substituir uma palavra homófona por outra; i.e., “cozer” por “coser” ou “massa” por “maça”, “haja” e “aja”, “haver” e “a ver”, “passo” e “paço”.
Mas o que me chama a atenção é a incapacidade de ser perfeita a correção de alguém que relê o que escreveu. A gente escreve, lê, relê várias vezes e passa por cima dos erros. Parece que a mente não se atina para coisas simples ou tem um mecanismo de defesa para que não perceba os próprios erros.
Acho que é uma benção não termos a capacidade de ver todos os nossos erros. Se tal fizéssemos, seríamos eternos deprimidos e candidatos sérios ao suicídio. Há uma taxa de erros e defeitos em nós que reconhecemos e que nos fazem (ou deveriam) ter a consciência de que não devemos ser arrogantes ou jactanciosos. Há outros que os conhecemos pela ajuda de outros, que podem ser suaves ou duros ao apresentá-los a nós.
Depois de ter sido alertado para alguns erros de digitação (e mesmo de concordância), passei a levar a sério a orientação de um famoso jornalista do New York Times: escreva do jeito que você fala. Coloque o que escreveu na gaveta e no outro dia volte a ler e corrija. Coloque de novo na gaveta. Depois de dois ou três dias volte a ler e corte os adjetivos, as palavras terminadas em “mente”, transforme metade das vírgulas em ponto final. Dê um tempo e volte a ler. Depois peça para alguém corrigir o que você escreveu.
Mesmo assim não há garantia de perfeição. E se não somos perfeitos, por que se considerar melhor que os outros? Cada um tem sua taxa de imperfeição que deverá saber administrar. Cada pessoa com quem nos relacionamos tem sua taxa de imperfeição que devemos saber relevar. Nada mais chato do que conviver com uma pessoa que se acha perfeita!
Marcos Inhauser

quarta-feira, 13 de novembro de 2019

EVANGÉLICOS NÃO-CRISTÃOS


Pode parecer uma incoerência, mas não o é. Há muitos que declaram ser evangélicos e negam em suas vidas e pregações o que os evangelhos ensinam. Mas, antes de mais ada, precisamos conceituar os termos. Evangélico vem de evangelho, palavra que tem sua origem no grego neotestamentário (euangelión) e que significa “boas novas”. Curiosamente, ela foi originalmente usada até para o anúncio da vitória militar trazida por um mensageiro. Também se sabe que a palavra era usada para se referir a qualquer boa nova, independentemente da natureza ou do contexto onde a mesma estava inserida. Só mais tarde é que os escritores do Novo Testamento, ao fazerem dela uso, começaram a restringir o seu significado para se referir a Jesus Cristo e ao anúncio da salvação.
Estrita e morfologicamente falando, qualquer boa nova é euangelión e, por conseguinte, anunciar boas novas é evangelizar, não importa o campo em que tal boa nova pertença. Também se refere ao conteúdo conhecido como evangelhos. E mais contemporaneamente, o termo “evangélico” se refere aos que “pautam suas vidas pelos ensinamentos dos evangelhos”. Uma denominação evangélica seria, portanto, aquela que tem nos evangelhos a sua Carta Magna e referência maior para os valores e práticas da vida. Ser evangélico é ter nos quatro escritos o parâmetro para avaliar todos os demais livros, até mesmo os que estão na Bíblia.
Os anabatistas mais radicais acreditam e ensinam que há uma gradação na revelação que está nas Escrituras: Palavra de Deus é o que Jesus falou, o que Ele ensinou e isto está nos evangelhos. Todos os demais escritos bíblicos são Palavra de Deus desde que concordem com os que Jesus falou e ensinou. Note-se que, nesta visão radical do evangélico, há coisas bíblicas que não são evangélicas, porque vão contra os ensinamentos de Jesus. Os textos que falam da guerra são informativos e não normativos. Seguir a Cristo é seguir ao que dEle se sabe e conhece e descartar o que contra Ele e seus ensinamento se colocam.
Ora, se um “evangélico” prega a ira, o racismo, a beligerância, o armamento, pode ele ser considerado um evangélico e cristão? Se um “evangélico” defende a tortura e cultua um torturador, pode ele ser considerado evangélico? Se o Sermão do Monte é parte central nos ensinos de Jesus, pode ser cristão quem os nega e ensina o que vai contra os ensinamentos do Sermão do Monte? Pode ser o guerreiro um pacificador? Pode ser cristão quem promove o armamento, se envolve sistematicamente em corrupção, desvia verbas da merenda e a saúde? É cristão quem tem a ira como a essência do viver? Como achar que é evangélico quem não aceita e nem pratica a recomendação de “amar os inimigos” e “dar a outra face a quem bateu”? Se o evangelho é o anúncio da graça, é evangélico quem vende bençãos?
Tudo o que não é amor a Deus, ao próximo e a si mesmo (não no sentido egoísta e narcísico, mas no sentido de zelar pela própria vida) não pode ser considerado cristão e nem evangélico. Esta foi a resposta de Jesus quando perguntado qual era o maior dos mandamentos. O verdadeiro cristão se conhece pela sua dedicação ao próximo e seu ministério para empoderá-lo, suprindo suas necessidades, aconselhando, dando agasalho, conforto e norte para a vida. Evangelizar é dar sentido a vida do outro, é dar a dimensão de eternidade para quem está na depressão, é ar a esperança de melhores dias pela solidariedade e justiça
Marcos Inhauser

quinta-feira, 7 de novembro de 2019

HIENAS E SUAS HISTÓRIAS


Elas entraram na história não é de hoje. Também não é de agora que elas estão envoltas em projetos de poder político com roupagem religiosa.
Conta história que, no informe Albuquerque de 1514, antes mesmo que os descobrimentos continentais feitos por espanholes e portugueses tivessem atraído a maior parte dos colonos, Espanha destinou um milhar de espanhóis quando só restavam 29.000 indígenas, demonstrando que os anos primeiros foram terríveis na mortandade dos nativos. Georg Friederici em seu livro “Caracter del Descubrimiento y la Conquista de America” (Fondo de Cultura Económica, Mexico, 1987, pg. 397) relata que o cortar das mãos aos prisioneiros de guerra (nativos) e obrigá-los a sair correndo, era uma crueldade que se praticava na Espanha antes do descobrimento da América. Na América os espanhóis fizeram uso destes recursos com uma crueldade ainda mais espantosa, Depois de cortar as mãos e os pés dos homens e os seios das mulheres, eles os obrigavam a arrastar-se ou andar até que morressem por esgotamento sanguíneo. Era um espetáculo que propiciavam aos demais para infundir o terror.
Cieza de León em sua obra “Guerra de Añaquito”, citado pelo mesmo autor antes mencionado, afirma que “os piores exemplos da pavorosa e desalmada crueldade e da contextura moral dos conquistadores nos brinda ... no campo de batalha de Añaquito, onde o licenciado Benito Juarez de Carbajal, como uma hiena sedenta de sangue, estava em busca do representante do monarca Carlos, o vice-rei Blasco Nuñes de Vela. Encontrou, por fim, o ancião dignatário ferido, mas não mortalmente e ainda em estada de consciência. Ele o cobriu de impropérios e teria cortado pessoalmente a sua cabeça se seu acompanhante, Pedro de Puelles, não o tivesse alertado da infâmia de tal ação.” Conta a história de Blasco Nuñes obrigou a seu escravo a cortar cabeça ao vice-rei, tomou-a pelas barbas e saiu caminho afora levando o troféu e apresentando-o a todos quantos encontrava.
No “Arquivo Geral da Índias” se lê que “muita da prata que se tira daqui para esses reinos é beneficiada com o sangue dos índios e vai envolta em suas peles” (Dussel, Henrique. Caminhos da Libertação Latino Americana, Ed. Paulinas, 1989, pg.59).
Bartolomé de la Casas, dominicano e voz profética de denúncia dos desvarios da corte espanhola, afirmou que “a causa foi a cobiça e ambição insaciáveis que possuíam, que foram as maiores que podem existir no mundo ... não tiveram nem respeito, nem estima, que não digo que as trataram como bestas, mas como menos que esterco das praças” (Dussel, idem, pg 59-60).
Contraponto a Bartolomé de las Casas estava Gines de Sepúlveda, quem, baseado numa questionável Teologia Natural, alegava que os indígenas não tinham alma e que, portanto, não eram seres humanos. Este Ginés teve uma infância e adolescência cheia de insucessos e problemas (mentais?), com atos e escritos que beiram ao ridículo. Hoje, talvez, fosse diagnosticado como esquizofrênico ou bipolar.
São duas posturas religiosas: uma que usa dela para fundamentar um projeto político imperialista. O outro que usa da teologia para denunciar os desvios dos governantes e religiosos apaniguados. A retro-oculatra mostra do acerto do profeta em detrimento da voz mancomunada com o poder.
A minha sensação ao fazer este reconto histórico é que ele é muito atual. As hienas sedentas estão por aí, mas pregadas pelos Ginés de Sepúlvedas modernos.
Marcos Inhauser

quarta-feira, 30 de outubro de 2019

O CULTO DE UM SÓ

Acabara de chegar do exterior para voltar a morar no Brasil. Buscando retomar contatos e tomar pé da situação das igrejas brasileiras, um domingo à noite, minha esposa e eu fomos a uma igreja reformada, histórica, tradicional, etc.
Lá chegando fomos recebidos por alguns líderes da igreja que já nos conheciam e nos assentamos. Para surpresa minha, o pastor entrou pelo corredor central em processional. Estranhei porque conheço a forma de ser desta igreja e da denominação. Os pastores entram pela porta lateral ao púlpito, sem alarde ou exibição. Ele, no entanto, entrou pela porta central, fez a processional e, fiquei pasmo, estava vestido com uma beca usada por mestres e doutores e usada em cerimônias acadêmicas. Ele mal tinha concluído o bacharel! Era uma túnica pesada, destoante com o calor que fazia. Era a prova de um exibicionismo descabido.
Começou o culto e o indivíduo, com a voz empostada, fez a oração inicial, leu os Salmos, fez comentários e convidou a igreja a cantar um cântico que ele havia composto. Pegou o violão a começou a tocar a “seu” hino. Havia piano e órgão, mas ele se bastava ao violão. Terminado o cântico, ele leu outro trecho das Escrituras com aquela voz empostada, antinatural e entoou o solo de um cântico que ele também havia composto. No momento dos pedidos de oração pediu que a igreja orasse pelo CD que estava gravando para que fosse uma benção na vida de quem o comprasse. Ninguém mais teve a oportunidade de pedir que orassem.
Contou alguma coisa sobre sua vida e iniciou a prédica, onde, se me lembro bem, duas ilustrações eram sobre experiências próprias. Pediu que cantassem outro cântico que ele havia composto, ao som do violão que ele tocava.
Terminou o culto dando a benção apostólica com uma música de sua autoria e saiu da forma como entrou.
Ao sair minha esposa perguntou: para que existe piano e órgão no templo se ele é quem faz tudo? Lembro-me de haver dito: “ele bate o escanteio e corre para a área para cabecear e celebra o gol sozinho como se fosse o único em campo.” Devo dizer que não durou muito naquela igreja e em nenhuma outra.
O mesmo acontece com a equipe de louvor. Terminada sua “apresentação”, deixam o templo, porque, para eles, o culto acabou. Eles são o culto!  Preste atenção nos “cultos” televisivos do neopentecostalismo: só o midiático aparece e faz tudo!
Episódios como este eu os presenciei em outras oportunidades em variadas igrejas no Brasil e no exterior.
A igreja é uma comunidade. A igreja é uma cooperativa de dons e habilidades. Todos na igreja devem participar, cada qual com seu dom e habilidade. Paulo colocou isto de forma magistral: “o corpo inteiro bem ajustado, e ligado pelo auxílio de todas as juntas, segundo a justa operação de cada parte, efetua o seu crescimento para edificação ...” Se na igreja há alguém que tem um dom ou habilidade e não é usado, é uma anomalia. O culto de um só é uma excrescência, porque o “polifacético e polivalente” faz tudo. Ele entende de música, de decoração, de liturgia, de exposição bíblica, cita grego e hebraico, ensina, exorta, arrecada, administra, assina, entrega, devolve. Quando confrontado, se exime citando autores e uma lógica egoísta.
Ele não ajunta, espalha. Não pastoreia, se exibe. O púlpito vira palco. Manda instalar holofotes para que seja iluminado enquanto performa.
Graças a Deus, os narcisos não prevalecerão na congregação dos humildes!
Marcos Inhauser

quarta-feira, 23 de outubro de 2019

RESPOSTA ÀS ORAÇÕES?


Flávio Rico, colunista especializado em coisas da TV, noticiou na semana passada que a redução dos espaços das igrejas na TV aberta do Brasil é algo importante. Como exemplos ele informa que “Universal, que por mais de uma década vinha ocupando quatro horas diárias na programação da TV Gazeta, hoje só está com três.” “A Igreja Mundial do Poder de Deus, de Valdemiro Santiago, ... no decorrer dos tempos, diminuiu de forma bem drástica os seus espaços”. “E a Plenitude, que antes tinha mais da metade da grade da Rede Brasil, ficou só com duas”. 
Não foge à regra o caso da Band com o televisivo R. R. Soares, que deverá deixar o horário nobre que ocupa na grade da emissora.
O colunista salienta que as mudanças estão acontecendo e que, no caso da Internacional da Graça de Deus, do R. R. Soares, só deverá acontecer no ano que vem, por razões contratuais. O colunista não dá razões para este enxugamento, mas, alguma coisa se sabe por outras vias.
Há um esgotamento do modelo, seja porque todos fazem a mesma coisa com alguma maquiagem diferente, seja porque a mensagem, em sua essência é sempre a mesma. Eles socializam o sucesso (a Igreja ou o “apóstolo/ bispo” é quem fez o milagre) e privatizam a derrota, alegando falta de fé do ouvinte ou fiel.
Outro elemento é a conscientização popular de que estes pregadores midiáticos são inacessíveis. Não são pastores das ovelhas que têm seus dramas diários. São apresentados como exemplo de sucesso e de prosperidade, mas nunca estão disponíveis para ouvir e aconselhar.
Também há a conscientização de que o que estes midiáticos mais fazem é pedir dinheiro e o fazem com insistência, ousadia e constrangimento. Parece que há uma meta diária a ser batida e enquanto não chegam lá, precisam extorquir o quanto podem.
Há que se mencionar também que os exemplos de sucesso são apresentados na TV e, considerada a audiência, são mínimos. Vi certa feita um “testemunho” de conquista de alguém que eu conhecia bem e que dizia que estava com três carros na garagem, tinha quatro linhas telefônicas e uma casa de quase mil metros quadrados. O que ele não disse e eu sabia, era que os carros eram financiados e ele não pagava as prestações, que três das linhas estavam cortadas e a casa estava em execução para ter fraude na venda. Este cara morreu alguns anos depois deixando de “herança para os filhos” uma dívida milionária.
Há muita empulhação, manipulação e engano nestes midiáticos. Porque o Malafaia não vem contar sobre a falência da sua editora, ele que andou vendendo a Bíblia com suas anotações e o livro “Lições De Vencedor”?

Quero ver como sobreviverão porque é da essência do neopentecostalismo a necessidade de exposição midiática diária. Sem ela a arrecadação cai. E é o que está acontecendo. Eles estão enfrentando problemas para pagar suas contas com as redes de TV. Cada vez menos as pessoas estão dispostas a sair de casa e ir a um templo para ouvir lá o que podem ouvir em casa. E se não vão ao templo não ofertam. E não ofertando, as contas ficam a descoberto.
De minha parte, sem querer ser pré-vidente ou profeta adivinhatório, canto esta bola há tempos. Não é questão de premonição, mas de análise dos fatos e conclusão lógica. Um dia esta casa cai.
E isto será resposta a muitas orações por causa do mal que esta gente tem feito para o evangelho! Hoje, dizer que se é pastor, é motivo de chacota, graças ao empenho arrecadatório destes midiáticos!
Marcos Inhauser

quarta-feira, 16 de outubro de 2019

TEOLOGIA ZIRCÔNIO!


Um casal apareceu em casa porque soube que minha filha entendia de pedras preciosas. Eles haviam ganho de um andarilho uma pedra lapidada que brilhava muito. O casal era evangélico, passava por momentos difíceis e acreditaram no milagre da provisão.
Levaram a pedra para algumas pessoas tão leigas quanto eles para que a examinassem e quase todos disseram que havia grande possibilidade de ser um diamante. Olharam os preços de um diamante parecido e a cifra chegava à casa do milhão. Eles nos mostraram a pedra e, confesso, ficamos surpresos com a beleza dela. Chamei minha filha que morava na China e trabalha com pedras preciosas. Ela pediu fotos em vários ângulos, pediu para ver se havia impureza interior, se havia mancha de uma cor que eu não sabia identificar, mas minha esposa e o casal conseguiram ver. Ao final, minha filha pediu para eu soltar a pedra em cima do vidro da mesa. Deveria levantá-la a uns 30 centímetros e soltar.
Assim procedi. Ela me pediu para falar no reservado e foi quando ela sentenciou: “Pelo barulho na batida com o vidro isto é zircônio”. “Você tem certeza?” “O som do diamante é outro”. Argumentei que o som era via WhatsApp e do outro lado do mundo. “É zircônio!” concluiu ela.
No outro dia, minha esposa e o casal foram ver o seu Jozo, um japonês amigo nosso e de nossa filha e que é um dos maiores gemologistas do Brasil. Ele viu a pedra de longe e disse: “não é diamante e, para provar o que digo, vou mostrar alguns testes para vocês acreditarem”. Ele assim fez e provou que era zircônio de péssima qualidade.
Esta história me veio à mente ao ver gente cristã se empolgando com a ondas de “babaquices pseudoteológicas”. Estão achando que encontraram o diamante da teologia e da vida espiritual, que agora têm ao seu alcance a pedra fundamental do entendimento bíblico, que agora sabem a chave hermenêutica para todos os problemas espirituais e sofrimentos humanos, que descobriram o Santo Graal da vida cristã, que têm a pedra teologal. Abraçam as novidades como se diamante fossem. São alertados por quem tem alguma noção da coisa, que trabalha com teologia e eles simplesmente dão de ombros. Acham que a palavra do gemologista da teologia não é válida. Não acreditam que um perito pode identificar pelo barulho que faz. Quem nunca mexeu com gemas teológicas, se julga mais entendido que os gemologistas reconhecidos e respeitados.
A leitura literal e fundamentalista da Bíblia é mais verdadeira que a feita por linguistas especializadas em grego koiné e hebraico bíblico, ambas línguas mortas. Suas “descobertas”, mesmo que não tenham comprovação arqueológica ou sejam refutadas por quem entende das coisas da arqueologia, ainda assim é verdade absoluta. Acabam crendo no demônio da caspa, esquizofrenia, psicopatia, depressão, bipolaridade. Exorcizam obesidade e pobreza!
Mais tarde, quando a decepção vem porque descobrem que fizeram um anel solitário com uma pedra de péssima qualidade, um zircônio de quinta categoria, acusam Deus e o mundo de serem desonestos. Eles se revoltam e, via de regra, deixam a fé e a comunidade de lado. Para não pagar o mico de terem sido surdos às advertências dos gemologistas teológicos, fogem deles como o diabo da cruz. Preferem o zircônio das novidades à credibilidade dos teólogos!
Mas, como dizia um ex-aluno meu, citando Nietsche (duvido que o aforisma seja dele, mas mesmo assim muito válido): “todo palhaço tem sua plateia!” E zircônio vira diamante!
Marcos Inhauser

quarta-feira, 9 de outubro de 2019

MANIQUEÍSMO INTERPRETATIVO


Maniqueu, nasceu no terceiro século antes de Cristo no território do Império Sassânida (hoje Iraque) e é conhecido como fundador do maniqueísmo, filosofia religiosa dualística que divide o mundo entre Bom (Deus) e Mau (Diabo). Para ele, a matéria é má, e o espírito é bom. Passou, com o tempo, a se referir a toda postura fundada em dois princípios opostos: Bem e Mal. Para o maniqueísmo não existe meio termo: ou é do bem ou é do mal.
Nestes tempos estranhos de redes sociais e de gente que se “educou” respondendo questões de múltipla escolha, onde deveria escolher a alternativa certa entre duas ou mais, o maniqueísmo se alastrou qual praga da tiririca. Por ser uma geração que não foi treinada na dúvida, nem no questionamento, em que umas poucas premissas foram apresentadas como verdade absolutas, há o condão de achar que o que ele “sabe” é definitivo, absoluto e inquestionável.
Caracterizam-se por uma profundidade de conhecimento que se assemelha a um pires, leram os livros obrigatórios do ensino básico e o mais filosófico deles foi Capitu. Das notícias só leem os títulos, não leem artigos opinativos e adoram o Datena em suas platitudes. Por não serem treinados na leitura, mal entendem o que leem e acham que o autor disse o que não disse, afirmam o contrário do que está escrito e se julgam o Bem lutando contra o Mal. Desnecessário dizer que sempre representam o Bem! Merecem o neologismo de “leitor(anta)”.
Para quem, como eu, que escrevo há quase vinte anos esta coluna semanal, a cada pouco recebo manifestações via e-mail ou nas redes sociais deste tipo de leitor que diz o que eu não disse, que me julga pelas vírgulas, que vê em mim um cruzado contra a religião cristã, especialmente a evangélica. Certa feita recebi de um pastor uma crítica feroz e me aconselhando a usar este espaço para “pregar o evangelho” e não para apontar as mazelas de algumas igrejas. Respondi a ele perguntando se ele me oferecia o espaço no boletim da sua igreja para eu escrever. Estou esperando a resposta até hoje.
Uma das coisas mais comuns é o maniqueísmo diagnóstico: se ataco algum aspecto do capitalismo, sou comunista. Se ataco algo do marxismo, sou capitalista, se critico uma posição dos evangélicos sou católico etc. Quando da invasão do Afeganistão pelos Estados Unidos, ao criticar as ações e a mortandade provocada, recebi manifestações dizendo que eu era a favor dos talibãs!
Mais recentemente, em algumas vezes em que critiquei os destemperos verbais do atual presidente, fui acusado de ser comunista, petista, esquerdista. Quando critiquei o PT no governo, fui acusado de ser conservador, retrógrado, capitalista. Quando fiz algum reparo à Lava Jato, fui condenado por ser a favor da corrupção! Um deles me escreveu dizendo que eu sou “inguinorante” e que minha “inguinorança” me descredenciava a ser colunista.
Estamos na época em que qualquer alfabetizado se sente no dever e poder de dizer ao mundo o que pensa, mesmo que sua postagem seja a revelação do quão imbecil é. Neste contexto se inserem os haters, gente especializada em difamar, denegrir e fazer bullying virtual. Machucam pessoas pela aparência que têm, por serem gordas ou magras, cabelo curto ou comprido, e aí por diante. Não é para menos que vários destes famosos fecharam suas contas nas redes sociais.
Marcos Inhauser

quarta-feira, 2 de outubro de 2019

FAÇO O QUE QUERO?


Quantas vezes você já fez promessas de que faria regime, exercícios físicos, estudaria todo dia, leria 10 livros por anos? Quantas destas decisões foram cumpridas? Quantas coisas que você “sabe” que deve fazer ou mudar e nunca fez ou mudou?
O saber muda? Esta é uma pergunta que fui instigado a fazer para mim mesmo e tenho feito a algumas pessoas e percebo que, comigo e com outras pessoas, o fato de saber não garante, necessariamente, a mudança nos meus hábitos. Quantos viciados, alcoólatras, diabéticos que “sabem” que drogar-se, beber ou comer doces prejudica a saúde e a vida deles e que continuam nas mesmas práticas?
Quantas mães perderam horas aconselhando seus filhos, ensinando coisas e que veem seu trabalho frustrado porque seus filhos, a despeito de tudo o que ela disse, se envolveram com as coisas para as quais foram alertados? O questionamento não é novo, nem sou eu só que o faço. Já o apóstolo Paulo o fazia (e muito provavelmente outros antes deles, que não conheço): “Pois o que faço, não o entendo; porque o que quero, isso não pratico; mas o que aborreço, isso faço. Pois não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse pratico ... o querer o bem está em mim, mas o efetuá-lo não está.” (Romanos 7: 15-17).
O dilema é: se sei o que devo fazer e decido fazê-lo, por que nem sempre a decisão consciente que tomo se transforma em ação correspondente? A explicação mais plausível que se tem até o momento é que existem variáveis outras, inconscientes ou conscientes, que interferem no processo volitivo e o sabota, inoculando a ação e fazendo-a abortar.
No processo de entender estes “mecanismos subterrâneos” há a psicanálise, a interpretação de sonhos, a terapia da linha do tempo, a regressão, a hipnose, a terapia cognitiva, behavioral, a abordagem sistêmica, a das constelações familiares e assim por diante por diante. Cada uma delas tem seu valor e apresentam seus resultados, mas, ao fim e ao cabo, sempre fica algo escondido.
Diante disto, a máxima de Sócrates “conhece-te a ti mesmo”, tem sua razão de ser e é pertinente a todos nós. Se ela ainda é valida e a busca por conhecer-se deve ser uma missão individual e solidária, porque conhecer-se implica em ouvir o que outros têm a dizer sobre mim e perscrutar o que posso conhecer olhando para dentro de mim. Ocorre que, como humanos, sempre nos vemos melhores do que somos e do que os outros nos veem.
Há que considerar-se a capacidade humana de auto-engano. Acreditamos nas mentiras que contamos para nós mesmos. E, talvez, a mais terrível delas é enganar-se achando que nos conhecemos profundamente e cada entranha do consciente e inconsciente. A frase “eu me conheço” é uma mentira que acredito porque ela é produzida por mim e para mim mesmo. Acho que é aqui se aplica a máxima sapiencial: “Aquele que vive isolado busca seu próprio desejo; insurge-se contra a verdadeira sabedoria. O tolo não tem prazer no entendimento, mas tão somente em revelar a sua opinião.” (Provérbios 18:1-2).
O conhecer-se se dá no ambiente relacional. Outra vez o sábio: “... na multidão de conselheiros há sabedoria.” (Provérbios 11:14).
Em outras palavras, somos um enigma para nós mesmos!
Marcos Inhauser

quarta-feira, 25 de setembro de 2019

SOMOS UM POÇO QUASE TOTALMENTE ESCURO



Depois de vários anos morando fora do Brasil e muito mais tempo para morando fora da casa de meus pais, voltei para lá para ali estar por alguns dias. À noite, levantei-me para ir ao banheiro e, sem pensar ou tentar lembrar, eu sabia onde estava o interruptor e acendi a lâmpada sem problemas. Em seguida fui à cozinha e fui buscar o interruptor e não o encontrei. Eu sabia onde estava, mas, em função de uma reforma, havia mudado de lado. Eu fiquei perdido.
Por que eu sabia o do banheiro e não o da cozinha. Como eu “sabia” se eu não precisei pensar, rememorar ou tomar uma decisão a respeito? Eu simplesmente sabia pelo hábito de, durante anos, ir ao banheiro e saber onde estava o interruptor.
Lembrei-me disto nestes dias. Dirigindo na Califórnia, estava focado nas regras e sinalizações de trânsito. O “Pare” é “Pare”! Se não brecar o carro e olhar para entrar, é sinal de problemas se algum guarda estiver à espreita. No vermelho se pode dobrar à direita se não houver carros vindo. Vira e mexe eu me atrapalho com o “Pare” e só olho e mantenho a marcha se não houver nada que me impeça de fazê-lo. Por outro lado, no sinal vermelho, é minha tendência parar e esperar que o sinal abra para eu fazer a conversão à direita. Isto se deve a um hábito arraigado de dirigir no Brasil. Mesmo sabendo, não faço!
Dia destes, estava parado em um semáforo, meio absorto e dirigindo “no automático”. Eu esperava o sinal abrir para seguir em frente. Sem prestar atenção ao sinal, vi que os carros que estavam na mão oposta se movimentaram e eu arranquei. Não era a minha vez, mas o sinal autorizava para virar à esquerda. Quase uma trombada. Eu estava na força do hábito, uma vez que, no Brasil, são raríssimos os semáforos de três tempos que me permitem virar à esquerda. Eu “sabia” que assim é aqui, mas este conhecimento não valeu. O força do hábito foi maior. Para dirigir aqui, terei que praticar muitas vezes para que meu hábito arraigado nos “meus ossos” determine um comportamento diferente.
Outra coisa que me intrigou é como eu “sei” que devo falar em inglês com meus netos e o faço de forma automática. Quando estou com hispanos, “sei” que devo falar em espanhol e com os brasileiros em português. Não preciso “decidir”. Sai no automático.
Estas coisas se estendem a outras coisas menos importantes. Não preciso decidir comer de boca fechada, colocar a mão na frente da boca quando vou tossir ou espirrar, não fazer barulho “chupando” a sopa que está na colher, lavar as mãos depois de usar o banheiro, etc. Estes são saberes incorporados pela repetição desde a mais tenra infância, de tal forma que minha identidade é também formada por estes saberes inconscientes, mas que se tornam visíveis e notados quando a eles presto atenção. Mas também sou mais do que conheço a meu respeito e nem sempre sei dar razão a algumas coisas que faço automaticamente. Nem tudo sei explicar e o que explico sobre mim, nem sempre está correto. Sou um enigma para mim mesmo!
As terapias analíticas tentam me fazer descobrir este subsolo da minha (in)consciência. Podem fazer bom trabalho, mas arrancam uma ou duas camadas da escavação de um poço escuro que todos somos. Ainda é vigente o alerta do filósofo: conhece-te a ti mesmo!
Marcos Inhauser

quarta-feira, 18 de setembro de 2019

FALSOS PROFETAS


É fácil encontrar citações bíblicas alertando para os falsos profetas, pois eles são praga eterna e comum. Se o sábio falso é raridade, o profeta falso é achado em quantidade. Para reconhecê-los talvez o melhor caminho é olhar para as características do verdadeiro e perceber os que dele se desviam.
O verdadeiro profeta é apartidário. Ele não apoia este ou aquele candidato ou partido. Ele deve ser independente para poder dizer o que pensa deste ou daquele, mesmo os mais poderosos. Ele, no entanto, não é imparcial, visto que tem um compromisso radical com os pobres, as viúvas, explorados, estrangeiros e órfãos. Sempre está do lado deles. Como disse Max Weber, no antigo Israel havia a realeza mancomunada com os sacerdotes, o povo explorado por eles e o profeta que denunciava as injustiças da realeza/sacerdócio na exploração do povo.
O profeta, na pura acepção da palavra é “o mensageiro da parte de ... ”. Ele traz a mensagem da parte de Deus, palavra de denúncia e esperança. Não é o vidente que prevê o futuro, ainda que diga o que acontecerá caso insistam nas práticas iníquas. Seu exercício de futurologia é o da lógica que levas às últimas consequências os atos desastrosos praticados. Não é para menos que muitos o veja como vidente, como anunciador do futuro em termos visionários. Para tanto o Deuteronômio orienta: “Como saberemos se uma mensagem não vem do Senhor? Se o que o profeta proclamar em nome do Senhor não acontecer nem se cumprir, essa mensagem não vem do Senhor. Aquele profeta falou com presunção. Não tenham medo dele” (Dt 18:20-22)“. Outro alerta vem de um profeta: “Assim diz o Senhor Deus: Ai dos profetas loucos, que seguem o seu próprio espírito sem nada ter visto! ... Tiveram visões falsas e adivinhação mentirosa os que dizem: O Senhor disse; quando o Senhor os não enviou; e esperam o cumprimento da palavra. (Ez 13:3-7). Jesus também alertou: “Acautelai-vos dos falsos profetas, que se vos apresentam disfarçados em ovelhas, mas por dentro são lobos roubadores. Pelos seus frutos os conhecereis” ( Mt 7:15).
Pastores, bispos, apóstolos ou missionários que se apresentam como abençoadores de governo e deles necessitam para manter suas estruturas midiáticas ou religiosas, reproduzem o que havia no antigo Israel: a realeza casada como o sacerdócio para explorar o povo. É verdade que devemos orar pelos governantes, mas a mesma Bíblia estabelece que eles foram instituídos para punir os ímpios e zelar pelos pobres, estabelecendo a justiça e a paz.
A religião extorque com os impostos religiosos (dízimos e ofertas), assim como a realeza se mantém pelo extorquir via pesados impostos. A injustiça se dá no campo religioso e no governamental: se, quanto mais eu oferto na igreja, mais sou abençoado, o pobre está lascado. Se quanto mais rico eu for, menos imposto eu pago (jatinhos e iates não pagam imposto!), o fato de ser rico me dá um plus para ser ainda mais rico. O pobre paga mais e, por isto, está mais propenso a continuar na miséria. Isto gera a concentração de renda via lógica draconiana, perversa, iníqua e pecaminosa.
Na análise/diagnóstico para se conhecer os falsos ou verdadeiros profetas não se pode usar a lógica maniqueísta: se denuncio o governo A não significa, necessariamente, que sou a favor do governo B. O profeta denuncia erros e injustiças, mas isto não o compromete como apoiador da oposição. Sua posição sempre é de luta a favor dos pobres e explorados.
Como disse o sábio: “Não havendo profecia, o povo se corrompe” (Pr 29:18). Tomo a liberdade de modificar ligeiramente: “Não havendo profecia o governo se corrompe”.
Marcos Inhauser

quarta-feira, 11 de setembro de 2019

FALSOS SÁBIOS


Na minha última coluna pontuei alguns aspectos característicos do sábio e do profeta e a distinção entre eles. Recebi alguns comentários que me levaram a refletir mais sobre o assunto e a ele quero voltar.
Tanto o sábio como o profeta são pessoas de fala comedida e campos limitados de atuação. Como eles não têm resposta para tudo, sabem que o silêncio é sabedoria. O sábio fala pouco porque sua fala é fruto da reflexão, análise, investigação e, assim creio, ele é sábio em uma ou outra área, mas não o é em todos os assuntos. Uma pessoa que se acha entendida em todas as áreas, que entende de cesariana a motor a explosão, não é sábia: é cega e não se enxerga. Elas me fazem lembrar uma coisa que vi escrita em um muro de uma oficina mecânica em Manágua, Nicarágua: “especialista em carros nacionais e estrangeiros”. A primeira questão que me veio à mente foi perguntar qual era o carro nacional nicaraguense. A segunda foi questionar como podia entender de tudo.
Disto se tem duas características para se conhecer o falastrão do sábio, o verdadeiro do falso: quem fala muito, dá bom dia prá cavalo, fala besteiras, vomita insensatez. Disto temos exemplos no cenário brasileiro, especialmente no campo da política. A segunda é que o verdadeiro sábio não fala do que não entende, não julga o que não sabe, não acusa de ser falso o que não compreende. Se o faz é tolo e não sábio. É falso sábio.
Fiquei a me perguntar e revisar minhas memórias de um falso sábio e, confesso, não o encontrei. A razão para isto é que o falso sábio é descoberto e desacreditado em pouco tempo. Basta algumas conversas para que sua tolice seja explicitada e o pretenso sábio passa a ser motivo de chacotas.
Quero acrescentar uma terceira característica: o falso sábio se proclama como tal. Ele se afirma como sábio, se comporta como se tal fosse, se intitula como tal. No máximo tem um séquito de alguns cegos tão tolos quanto ele, que o aplaudem, muitas vezes familiares tão tolos quanto. O verdadeiro sábio é reconhecido como tal e nunca autoproclamado.
Há outra questão. O sábio, me parece, se atém à área das humanas. Ele fala e se posiciona sobre comportamento, valores, ética, conflitos, etc. O equivalente do sábio para as ciências e arte é o gênio. Einstein, Da Vinci, Michelangelo, Thomas Edson, Pascal, Lavoisier não são chamados de sábios, mas de gênios. Einstein era gênio, mas no campo das relações humanas, especialmente nas relações familiares, era um desastre. Da Vinci era um procrastinador inveterado e entregou meia dúzia das muitas encomendas que recebeu e que por elas recebeu. Michelangelo era de difícil trato, bem retratado no filme “Agonia e Êxtase”. Prosaicas são as histórias sobre o gênio Steve Job.
No entanto, a bem da verdade, devo admitir, alguns poetas maravilhosos, escritores talentosos, músicos que quase nos fazem tocar o divino quando os ouvimos, ainda que estejam na área que eu definiria como própria para os sábios, não são assim chamados. Penso em Frost, Victor Hugo, Goethe, Platão, Aristóteles e outros que são mais comumente chamados de gênios e não de sábios.
Para finalizar, não é a política o campo para os sábios. Eles têm um compromisso com a verdade, coisa rara na política. Alguns bons políticos são chamados de estadistas, mas não de sábios. Abraham Lincoln talvez possa ser considerado como tal, Mandela é outro. Estadista é o título para os políticos que se destacam e lideram a classe. Muitos políticos, especialmente os falastrões, estão mais para tolos que para sábios.
Quem sabe ler entenderá!

quarta-feira, 4 de setembro de 2019

O SÁBIO E O PROFETA


Na cultura grega ser considerado sábio era o ápice. Tal reconhecimento não era fruto de autoproclamação, auto reconhecimento ou petulância de quem assim se arvorasse. Ser sábio era o fruto de longa caminhada no saber e no discernimento das coisas. O sujeito inteligente, ou o que muito sabe, não, necessariamente, era sábio. Por outro lado, o sábio, não necessariamente, precisava ser dotado de acúmulo de saber, mas de percepção clara das coisas, dos fatos, das pessoas.
Trazendo para nossos dias, o sábio não é quem tem um PhD em algo, ou um título de Livre Docência, que tenha escrito muita coisa ou livros. O sábio pode ser alguém que, não tendo caminhado as trilhas do saber acadêmico, entende das coisas, normalmente as comezinhas. Não é um autodidata (que se caracterizam pela arrogância), mas alguém que aprendeu no convívio social, nas interações humanas e nas comunicações ecléticas. No dizer de Gramsci, acho, é o intelectual orgânico.
Na cultura hebraica e na semita, o ápice era ser profeta, no sentido de ser uma pessoa inserida na comunidade e que se compromete com a história. Tanto no sentido hebraico como no grego, a palavra que fala do profeta, não é a do vidente. Ainda que possa haver textos onde a conotação aparece, considerada no seu strictu sensu o profeta é o “que fala da parte de”, é o mensageiro, a pessoa dos recados. Daí porque ocorre com frequência a expressão “veio a mim a palavra do Senhor dizendo”, “vai e dize ao meu povo”, “assim disse o Senhor”
No ambiente hebraico, o profeta era alguém da comunidade, que vivia os dilemas sociais e econômicos dela, e se comprometia com a denúncia dos erros e pecados, especialmente dos dirigentes e governantes. O profeta tinha um compromisso radical com os pobres, viúvas, órfãos, estrangeiros, sujeitos prediletos dos exploradores e governantes injustos. Daí porque, no mais das vezes, a palavra profética é a da denúncia, do juízo sobre esta casta exploradora, sempre em favor dos menos favorecidos. A pregação profética da esperança futura não tem nada de visão, antecipação ou premonição, mas é o desejo genuíno de que haja mudanças na situação. Mais que uma revelação antecipatória é uma aspiração sublimatória do momento presente pela esperança futura.
Colocadas e explicitadas estas coisas, não preciso de muito espaço para afirmar que a relação profeta/reis/governantes/pseudo sacerdotes é espúria. O profeta não se assenta com os escarnecedores, com os exploradores, com os que praticam injustiças. Ele fica de fora destes círculos, dos palácios e só se dirige a eles para denunciar seus pecados e injustiças. Ele também se dirige aos explorados para dizer: vai haver troco, vai haver novos tempos, aguenta que Deus vai virar o jogo! O casamento do profeta com o governante é adultério e promiscuidade. Pior que isto é o governante se apropriar dos símbolos e discursos da religião, para passar a imagem de que seu governo é ungido e que ele faz a vontade de Deus. Quer parecer sábio ao dizer quem é terrivelmente evangélico.
Devemos lembrar que algumas das piores ditaduras que a humanidade conhece e viveu foram ditaduras religiosas, seja em nome de Javé, de Alá, ou outro deus qualquer. O presidente que se acha messias é um risco aos governados. Assim foram Pinochet, Hitler, para citar dois dos mais recentes. O messianismo que acreditavam e sustentavam validava as coisas que faziam. Uma coisa é ter metas no governo, outra é ver isto como missão com tempero religioso e discurso pseudoteológico.
Também acintoso é o governante que vai aos templos e se arvora pregador e recebe benção de sacerdotes que estão sub judice.
Marcos Inhauser

quarta-feira, 28 de agosto de 2019

DOM QUIXOTE DA CHAMA


Lá se vão mais de 35 anos quando, por determinação pessoal contrária à minha vontade, decidi ler o Dom Quixote. Eu o li em espanhol e, no princípio, achei o estilo rebuscado e rococó. Aos poucos fui tomando gosto e, devo dizer, acabei adorando o livro e ele marcou muito a minha vida e cosmovisão.
A sua “vocação” era tresloucada e, até onde se sabe, não tinha o treino e as habilidades necessárias para desempenhar a missão de cavaleiro a que se propôs. Saiu em desvairada aventura épica. Para tanto tinha seu fiel escudeiro, o Sancho Pança. Pelas gravuras se percebe ser uma dupla de opostos: Quixote era magro e alto, Sancho gordo e baixo. Este antagonismo é proposital na paródia anacrônica que a novela é. Também se percebe o antagonismo nos comportamentos: Quixote era visionário, irrealista, sonhador e psicótico. O Sancho era realista, comedido e sensato. O problema é que Quixote não o escutava.
Quixote tinha um cavalo, o Rocinante e uma inspiração, a Dulcineia. Ele nunca a viu e nem ela a ele. Ela nem mesmo sabia que ele existia. Era um devotado anônimo. Em homenagem a ela enfrentou inimigos imaginários (como os moinhos de ventos). Via inimigos por onde olhasse.
Da leitura aprendi a olhar os possíveis inimigos e perguntar se são reais ou imaginários. Busquei ter os meus Sancho Pança que me chamassem à realidade. Meu Rocinante é o que escrevo e ensino. Minha Dulcineia é a esposa e os netos e netas (que são reais e sabem das minhas lutas).
Este romance de cavalaria se tornou um clássico e o é porque sua história, ainda que anacrônica, encontra eco em situações presentes. Como exemplo, cito o Brasil atual. Temos um presidente que se encaixa na figura do Dom Quixote. Ele saiu do fundão do plenário, do baixo clero, nunca mostrou ter habilidades e competências para a missão que diz ter, tem seus fiéis escudeiros na trinca de filhos, arrumou mais três (Guedes, Moro e Lorenzoni). Tem seu Rocinante que são as redes sociais e vê inimigos a cada novo dia. Mais recentemente ele viu inimigos nas fotos e estatísticas do INPE e caiu de pau, apoiado pelos escudeiros, em cima do diretor e acabou por exonerá-lo. Viu monstros nas ONGS, nas fotos de satélites, nos governadores da região amazônica, no Macron e até na mulher dele. Até em ajuda internacional ele vê inimigos hipotéticos!
Parece que quanto mais fumaça as queimadas produzem, mais se deteriora a visão do nosso cavaleiro. Depois de ver o tiro sair pela culatra, chamou os ministros e o Exército para mostrar algo que deveria ter feito há muito tempo.
O seu Rocinante é vociferante! Todo dia tem que colocar algo nas redes, quase sempre (e não me lembro quando não o foi) de forma a criar o caos e a controvérsia. Parece que se inspirou no Jânio Quadros e no César Maia, especialistas em factoides para sempre estar na mídia. Que se inspira no Trump não há nenhuma dúvida, uma vez que o idolatra. Ainda que haja quem, no seu entorno, tente chamá-lo à realidade, nada muda.
Ele mexeu com a chama e saiu queimado! E o Brasil está saindo chamuscado pelas suas intemperanças e alucinações!
Marcos Inhauser

quarta-feira, 21 de agosto de 2019

CLAREZA É FUNDAMENTAL

Estava em uma cidade de porte médio que ainda não a conhecia. Com algum tempo para comer algo, busquei na internet um shopping para ter onde comer e passar duas horas de folga. Vi a propaganda de uns três ou quatro deles e fui ler os comentários que frequentadores postaram. Fiquei estarrecido. Eu queria informação clara e objetiva e o que li foi um amontoado de coisas desconexas, coleção de coisas sabidas e que se aplicam a todos os shoppings, de gente que fugiu da escola e não aprendeu usar vírgula nem ponto final.
Tenho constatado a dificuldade de muitos em serem concisos, enxutos, diretos e claros no que querem dizer. A palavra “arenga” é a que mais me vem à cabeça nestas horas. Discursos cansativos, fastidiosos, lenga-lenga, onde um “causo puxa outro” e nunca se chega à conclusão.
No mundo em que vivemos, onde a informação jorra aos borbotões, a clareza e objetividade devem ser qualidades de quem se coloca a falar em público ou em uma conversa. O moderno dilema não é a falta de informação, mas a seleção, dentre as muitas que há, das que são relevantes. Esta garimpagem do essencial e valoroso em meio ao lixo informacional é tarefa que as pessoas que queiram ser relevantes hoje e amanhã devem se especializar.
Uma especialista em seleção de candidatos às vagas na corporação em que trabalha me disse que tem feito o seguinte desafio aos entrevistados: em 30 segundos, me diga que você é o que gosta de fazer. Reprovação avassaladora. Tenho feito algo semelhante: “com uma só palavra defina o que você quer ser na vida” ou “com uma só palavra defina seu pai ou sua mãe”. Vira-e-mexe fico no vácuo ou começo a escutar uma novela.
Sabe-se que os e-mails que a pessoa precisa rolar para terminar de ler não são lidos na íntegra, que os vídeos com mais de 5 minutos também são descartados pelo espectador, que os livros de muitas páginas têm dificuldades em serem vendidos. Não é para menos que as palestras do TED fazem tanto sucesso: o essencial, com clareza, objetividade em 15 minutos.
Uma das habilidades que a nova geração deve desenvolver é a capacidade de garimpar joias na avalanche de informação. O garimpo deve ser acompanhado da capacidade/habilidade em passar adiante o que se coletou, mas fazendo-o de maneira clara e objetiva. Quem não se dedicar a esta tarefa vai comer pratos temperados por gente que se especializou, que assume a liderança situacional, que está à frente dos demais que se especializaram em comer fastfood cognitivo. Os preguiçosos sempre estarão a reboque, qual produto que sai do escapamento: já esteve no veículo, mas ficou para trás e virou fumaça!
Outro mal destes preguiçosos é que são penas ao vento: qualquer que venha com algo mais dourado, mais fantasioso, mais charmoso ou vistoso, será louvado e incensado pelos preguiçosos informacionais. Andam ao sabor do vento das novidades e das explicações fantasiosas. Preferem os lambaris pescados na boca do esgoto ao peixe por ele pescado em locais saudáveis.
Se você deixar de se dedicar à garimpagem do conhecimento essência, não reclame, dos frutos colhidos: marginalização profissional e social, além de ficar à margem da história e do trabalho. Dedique-se à objetividade e concisão e as chances na vida florescerão! Se insistir na prolixidade vai virar piada e chacota dos amigos e conhecidos.
Marcos Inhauser

quarta-feira, 14 de agosto de 2019

BANALIZAÇÃO DO SACRO E DO RELIGIOSO

Em conversas com alguns colegas pastores que já têm muita quilometragem no ministério, tenho percebido algumas coisas que vêm de encontro ao que também constato: a crescente banalização do sacro e do religioso (na sua forma mais autêntica e não formalmente institucionalizada); a repetição de erros conceituais e teológicos já demonstrados pela avaliação histórica; o crescente desprezo pelos reconhecidos pensadores da igreja.

A banalização do sacro e religioso tem se dado, a meu ver, pela pauperização das práticas cúlticas e litúrgicas, com o desprezo de uma longa caminhada de reflexões, experiências e resultados que a igreja, tanto a ocidental como a oriental fizeram ao longo dos anos. Símbolos caros a esta tradição são desprezados como se fossem lixo. É o mesmo que jogar as pinturas que estão no Louvre, inclusive a Mona Lisa sob o argumento de que elas promovem a sensualidade.

O segundo aspecto se dá nas prédicas. O que antes era a “a arte da retórica sacra” (ou homilética), com muito estudo, pesquisa bibliográfica, consulta aos teólogos, planejamento, conteúdo e unidade, virou uma arenga. É verdade que havia muita coisa bem estruturada, mas que não alimentava os ouvintes, tal como se deu na Europa no século XVII e ensejou o surgimento do Pietismo. Eram sermões profundamente teológicos, sem aplicação prática. A prédica de hoje, na maioria das igrejas, é a repetição de jargões, senso comum, clichês e frases que se parecem a pastel chinês: muita massa com pouco conteúdo.

Devo acrescentar a banalização da hinódia. Com raras exceções, os corinhos são anêmicos, sem reflexão, com a repetição de frases de efeito. Há os que são musicalizações de trechos bíblicos, no mais das vezes retirados de seu contexto. Comparados às letras e técnica musical dos hinos tradicionais, perdem de goleada. Há ainda os sermonetes que os líderes do louvor insistem em pregar entremeando os cânticos. São a quinta essência da afirmação oca, da repetição dos jargões, do falar nada. Parece que percebem que a letra nada diz e eles precisam ajudar com suas balelas.

Acrescento a facilidade e a quantidade de pessoas que se levantam durante o culto para ir beber água, especialmente quando há um bebedouro no interior do salão de cultos. Nunca vi povo com mais sede que os religiosos! Não percebem que este ato de se levantar e sair altera todo o sistema relacional e a concentração dos que ali estão. E, para minha indignação, o fazem com displicência, barulho e como que para chamar a atenção: olhem para mim que estou aqui!

A banalização do culto também se dá pela persistência de um grupo que costumeiramente chega atrasado. Se fosse para uma entrevista de trabalho, consulta médica, reunião com alguma autoridade lá estariam alguns minutos antes. Ao não serem pontuais comunicam que qualquer coisa é ou foi mais importante que estar no horário. E quando chegam, há os que se sentem na liberdade de saudar em voz alta, se desculpar pelo insistente atraso, cumprimentar quem chegou no horário. Transtornam o ambiente.

Tive um caso destes. O casal era pontual: todo domingo chegava com meia hora de atraso! Como ele era um dos encarregados da distribuição da Santa Ceia e ela era feita ao final do culto, decidi inverter a ordem. Para ele o distribuir os elementos era o máximo! Comecei o culto com a Santa Ceia. Ele não estava lá para o ato. Quando chegou de terno e gravata, a Ceia já havia sido celebrada. Ao final, quando percebeu que não foi ministrada no horário de costume, procurou se informar e veio prá cima de mim: “o que é isto de celebrar uma Santa Ceia subversiva?”

Faltam pastores melhor capacitados, liturgia bem estruturadas, sermões com densidade e palatáveis.
Marcos Inhauser

quarta-feira, 7 de agosto de 2019

SUJEITO (PRO)LIXO


Algo extremamente irritante é ouvir a exposição de um sujeito prolixo. Para ir do Brasil ao Uruguai ela passeia apor toda a América e, ao final, você se pergunta: onde queria mesmo chegar?
Certa feita, dando um curso sobre “Enxurrada Comunicacional”, as queixas se centravam em dois aspectos: a quantidade de e-mails recebidos diariamente, a maioria que deveria ser destinada ao lixo; a quantidade de mensagens que, parece que tinham certa pertinência e que o destinatário tinha que ler duas ou mais vezes, espremer o conteúdo, para saber o que o remetente queria comunicar. Quase sempre o remetente gastava muito verbo para introduzir o tema e o que ele queria mesmo dizer estava nas últimas linhas.
Pedi aos participantes que trouxessem seus notebooks e, durante o curso, escolhessem um e-mail longo com pouco conteúdo. Um dos participantes foi escolhido para, tendo apagado o remetente e qualquer possibilidade de identificação dele, o colocasse no Datashow para que todos examinassem. Foi uma risada só, porque, mesmo sem ser identificado, todos reconheceram o remetente. Ele até tinha um apelido que rimava com seu nome: Longarino.
Assisti a uma prova de retórica onde um aluno tinha que apresentar seu discurso para que o professor e os alunos o avaliassem. Depois de 45 minutos falando nada, o professor o parou e disse que o que havia dito já era suficiente para a avaliação. Ele então saiu-se com esta: “Mas eu ainda estou na introdução!”
Ganhei um livro que tentei ler. O cara que escreveu o prefácio escreveu mais que autora e nada disse. Nem terminei de ler o prefácio. Eu o dei de presente a um inimigo.
Uma característica dos (pro)lixos é que não sabem e nem planejam o que vão dizer. São arengadores onde um “causo puxa outro causo” e nunca causam nada. O discurso pode até ter um título, mas a introdução, argumentação e conclusão são peças desconexas. É o discurso Frankenstein.
Unidade passa longe. Misturam alhos com bugalhos, melancia com sopa. E há os que usam palavras inusuais, para parecer que sabem coisas acima da média. Pior é o que se acha doutor em algum assunto, inventa conceitos não explicitados (e se tenta explicitar, ninguém entende). Acha que falar difícil dá autoridade ao seu discurso de vento.
Uma imagem me vem à lembrança e ela é da minha infância: algodão doce. Lembro-me que ficava ao lado da máquina vendo o sujeito colocar um pouco de açúcar e aquilo virava uma montanha de doce. Quando se comia, ela se desfazia na boca e nada alimentava. Nestas minhas observações soube que dependendo do clima e o algodão doce não ficava bom. Virava uma paçoca!
Algodão doce é o oposto da rapadura: caldo de cana de açúcar, muita fervura, tempo de panela, resfriamento e se tem açúcar concentrado.
Tenho recebido muita coisa pela internet, seja pelo envio dos amigos ou pelas sugestões das redes. Descobri que se lesse tudo, teria que aplicar a regra de Pareto: 80% é lixo e 20% aproveitável. Por que perder tempo para ler o que nada acrescenta, nada ensina, nada edifica?
Vou para por aqui para ser só “meio prolixo”.
Marcos Inhauser

quarta-feira, 24 de julho de 2019

SUJEITO GERÚNDIO

Com certeza você já se deparou com uma espécie destas que abunda na fauna das coisas incompletas. Aliás, tenho me surpreendido com a quantidade de pessoas que se enquadram neste quesito.

O sujeito gerúndio é aquele que, quando perguntado sobre uma delegação, atribuição dada, expectativa que ele passou acerca dele mesmo, nunca conjuga o verbo no passado perfeito. Sempre vem com o gerúndio: “estou fazendo”, “estou pensando”, “estou buscando”, “estou planejando”, “estou vendo”, e por aí vem a infinidade de gerúndios que ele devolve toda vez que é cobrado ou instado a dar relatório sobre suas atividades.

Ele nunca termina nada! É um começa tudo, terminada nunca. Ele tem a capacidade de se empolgar instantaneamente com qualquer coisa, ideia, novidade, produto, trabalho, missão, mas, pouco tempo depois, o entusiasmo vai embora com a mesma velocidade com que chegou.

Estes me fazem lembrar do sábio Cirino, boia fria negro, com quem aprendi, na infância, algumas lições que jamais esqueci. Ele dizia: “tem gente que é como fogo no canaviá: quando pega fogo é uma beleza, uma ilumiação que se vê de longe. Mas o fogo dura pouco e quando apaga é só sujeira que deixa.” Outra do Cirino: “árvore que cresce rápido tem madeira fraca: quebra no primeiro vento”.

Tive um colega, pastor, que era um tipo diferente de gerúndio: ele sonhava em fazer alguma coisa, pensava um pouco e depois saia contando para todo mundo que estava fazendo o que havia sonhado. Só que não havia movido uma palha para implementar o que havia sonhado. Quando perguntado, via-se a madeira fraca: alegava dificuldades, falta de tempo, falta de recursos, mas sempre na forma gerúndica, nunca na terminativa.

Tive um aluno que era outro espécimen desta galera: ele imaginava fazer coisas grandiosas. Ao invés de sentar e detalhar o que iria fazer, ele me ligava dos Estados Unidos querendo me convencer a levar adiante o que estava sonhando. Eu dizia: “porque você mesmo não faz?” Ele me respondia: “você tem mais habilidade para gerenciar estas coisas”. Ele nunca realizou nada e na andropausa está depressivo porque não tem nada para mostrar aos filhos e netos.

Tive outro aluno que era tão detalhista que passava horas e dias trabalhando no detalhamento de um plano que tinha em mente. Ele vinha com um monte de papel, desenhos, gráficos, planilhas, cronograma, etc. Explicava em detalhes e tinha resposta para tudo. Nunca o vi realizando nada e quando o encontrei algum tempo depois, ainda era o mesmo. Sonhador, perfeccionista, sem ser realizador ou mesmo realista.

Há os que vêm com todo o arroubo possível, falando maravilhas das coisas que quer fazer e tentando convencer a entrar com ele na empreitada. A melhor técnica é pedir que ele elabore um projeto completo, com etapas, cronograma e custos. Você diz: “quando você tiver isto pronto, volte para conversarmos”. Há alguns que estou esperando há décadas.

Há os que, empolgados com qualquer novidade, abraçam tudo o que aparece. Como se diz no espanhol: “abrazan mucho, apretan poco”. Atiram em todos os pássaros e erram quase todos os tiros. Têm dificuldades em estabelecer prioridades, eleger o que importa, o que é factível. Ichak Adizes, consultor renomado, diz que são os Incendiários: sonhadores, imaginários, inventores de coisas e métodos, cada dia tem uma ideia nova que vai resolver todos os problemas da família, da igreja, da empresa ou do mundo. Ele bota todo mundo para correr atrás das suas pirotecnias. Ao novo dia as ideias de ontem serão abandonadas por outra melhor que acabou de ter. É especialista em criar de úlceras em todos. Acredita que será reconhecido pelas ideias geniais que tem.

Falei e disse! (não vou usar o gerúndio, mas “vai ter gente me criticando”!)

Marcos Inhauser

quarta-feira, 17 de julho de 2019

IGREJA QUE É IGREJA


Por mais igrejas que existam e pessoas que são frequentadoras delas, pedir aos pastores e membros que definam o que é a igreja é colher uma enxurrada de definições diferentes e, muitas vezes, díspares. Digo isto a partir da minha experiência como pastor que já viajou um bocado e visitou inúmeras igrejas.
Por anos foi um estudioso delas, pesquisando e tabulando dados sobre a membresia, tempo de permanência e várias outras condicionantes. Achei que tinha um bom entendimento sobre o assunto, mas era conhecimento cartesiano, racionalista e numérico.
Com o tempo percebi que a igreja é de uma natureza e dimensão que não se pode buscar conhecê-la só pelos números. Acabei me envolvendo em reflexões que me direcionavam à busca da essência da igreja, aquilo que ela é em uma definição minimalista. Tomei como base o texto onde Jesus afirma que onde estiverem dois ou três reunidos em seu nome, ele ali estaria. Cheguei à conclusão que igreja é reunião de gente, em nome de Jesus. Igreja é comunhão, onde as pessoas reunidas se conhecem e compartilham não só a fé, mas também a vida (incluindo bens).  Igreja é a agência divina para mostrar, de forma concreta, o amor ao próximo e o amor de Deus por todos.
Nesta caminhada foi surpreendido e fiquei estarrecido com algumas coisas que ouvi. Um casal, frequentador de uma determinada igreja, estava enfrentando dificuldades financeiras, porque ambos haviam perdido o emprego e eles tinham um bebê que precisava de um leite especial. A água estava para ser cortada, bem assim a eletricidade e o aluguel eles haviam recebido uma dose de paciência do proprietário. Foram ao pastor da igreja pedir ajuda para o leite do bebê. O pastor disse que ia pensar no assunto e, no outro dia, disse que a igreja não podia ajudá-los porque eles tinham outras prioridades.
Outra, que foi ovelha minha em Rio Verde, teve que mudar-se para São Paulo para arrumar emprego, casou-se com um asiático, ele foi embora sem mais nem menos e ela ficou na rua com quatro filhos. Colocou o que tinha no carro e, com os filhos estacionou no pátio de uma enorme Catedral. Falou com um dos pastores, pediu ajuda e ele disse que a ajuda que poderia dar era permitir que ela passasse a noite dentro do carro, mas que, por razões de seguro, ela não poderia ficar mais tempo.
Outra é de um casal, ambos pastores. Ela está com câncer há algum tempo, já passou por várias cirurgias e não tem podido trabalhar. O marido tinha dois empregos e perdeu um. Ela precisa fazer uma cirurgia para retirada de uma bolsa colostômica. Dada à natureza das cirurgias anteriores, a retirada desta bolsa é complicada e o anestesista cobra um bom dinheiro para fazer. Ninguém da igreja à qual eles servem e nem a igreja se dispuseram a ajudá-la. A Igreja alegou que estão muito focados na construção e que não podem desviar recursos.
Já há algum tempo tenho pensado que uma forma de se conhecer uma igreja é ver onde ela aplica seus recursos. Se o maior gasto que uma comunidade tem é com edifício, manutenção, aparelhos de som, eletricidade, há algo de errado com esta igreja.
Igreja existe para ser canal do amor de Deus, Se não faz isto para atender aos necessitados, tenho dificuldades em reconhecê-la com igreja verdadeira.
Marcos Inhauser