Professor, pastor, teólogo e educador corporativo Textos escritos para a coluna semanal no Correio Popular, da cidade de Campinas e texto escritos depois de 2021, que tratam de temas nacionais, internacionais, sobre igreja e teologia
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quarta-feira, 18 de abril de 2012
Carta de Princípios da Criança Diabética
Há alguns anos presto serviço voluntário junto à ONG Pró-Diabéticos. Fundada em 2005, pela Sra. Claudia Filatro, mãe de uma criança com diabetes tipo1, a ONG Pró-Crianças e Jovens Diabéticos, sediada em Campinas/SP, e com filial em Guarujá/SP, conta com cerca de 30 voluntários, nasceu com a missão de prover amor, orientação e meios aos pacientes portadores de diabetes tipo 1, com prioridade para crianças e adolescentes de baixa renda, e seus familiares.
O Diabetes mellitus (DM) é um dos principais problemas de saúde pública mundial, tendo afetado no ano de 2011 cerca de 366 milhões de pessoas e com uma estimativa de 552 milhões de indivíduos afetados no ano de 2030 se medidas de prevenção não forem adotadas.
O Diabetes mellitus tipo 1 (DM1) é o distúrbio metabólico mais frequente na infância e na adolescência e caracteriza-se pela deficiência absoluta da secreção de insulina, resultante da destruição autoimune das células beta do pâncreas.
Recentemente a ONG trabalhou dura e arduamente na elaboração da “Carta de Princípios dos Direitos da Criança e do Adolescente com diabetes tipo 1”. Esta é mais uma iniciativa inédita da ONG, cujo papel é defender os direitos, interesses e necessidades das crianças e adolescentes de baixa renda com diabetes tipo 1. A Carta visa garantir os direitos básicos dessa população e para isto precisa ser aprovada pelo Congresso Nacional. A forma de se conseguir isto é através de Abaixo Assinado eletrônico com 50.000 assinaturas on line.
Com esta carta busca-se o direito de receber cuidados especiais de um Cuidador capacitado em diabetes tipo 1 que ajudará o paciente a receberem os cuidados especiais; que ajudará a criança a gerenciar em nível domiciliar o tratamento medicamentoso do paciente, assim como do plano alimentar de prescrito pelo médico ou de nutricionista; controlará as crises agudas e complicações, manterá registros glicêmicos, estímulo e/ou acompanhamento do paciente nas atividades físicas, visando sempre concentrar esforços no tratamento preventivo.
A ONG lança agora a campanha para as assinaturas sejam colhidas e que podem ser firmadas por pessoas físicas, jurídicas, associações de portadores de diabetes, e demais entidades de defesa dos direitos da criança.
A forma de aderir à campanha e deixar sua assinatura é acessando o site:: http://www.peticoesonline.com/peticao/carta-de-principios-dos-direitos-da-crianca-e-do-adolescente-com-diabetes-tipo-1/456.
Colhidas as assinaturas necessárias, o próximo passo será a entrega da Carta com as devidas assinaturas eletrônicas à Ministra dos Direitos Humanos Maria do Rosário Nunes, ao Ministro da Saúde Alexandre Padilha, Coordenador Nacional de Saúde da Criança e do Adolescente do Ministério da Saúde e ao CONANDA (Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente), a fim de que sejam implementadas as ações necessárias que assegurem a efetivação dos direitos dessa população.
Marcos Inhauser
quinta-feira, 12 de abril de 2012
MEU TEMPLO É A COZINHA
Meu altar é o fogão.
Minha ceia é o arroz e feijão,
salada e mistura.
A mesa é a celebração da
comunhão.
Os vapores das panelas são o
incenso das minhas orações.
O cheiro é a antecipação do
paraíso.
A reunião é a adoração.
O barulho dos comensais é o canto
de louvor.
Não falo em metáforas, mas na
concretude dos fatos de entender que cada refeição é uma Eucaristia. Cada vez
que entro na cozinha eu o faço com reverência. Gosto de cozinhar e entendo que
fazê-lo é um ato de amor ao próximo. Cozinho não para mim, mas para os meus
familiares, os meus amigos. Esmero-me.
Cortar uma cebola ou um tomate é
um ato de celebrar ao Criador ao ver as texturas, a disposição das sementes, o
cheiro, o gosto. Colher a salsa e a cebolinha é um ato de usufruir do criado e
o prazer do sabor na comida. Mesmo folhas minúsculas, moídas, picadas, esmagadas,
trazem tempero e a delícia da criação ao prato preparado. Temperar uma carne,
um peixe, um frango é um ato de adoração ao Criador que nos deu a comida e a
sabedoria em prepará-las. Que mundo mais
sem graça seria se tudo viesse pronto, como fast food divino. Ele deixou a nós
a liberdade para temperar, acrescentar sabores, mudar formas, variar arranjos.
A cozinha requer uma estola
sacerdotal. O avental é a estola do sacerdote cozinheiro. E cozinheiro que se
preze tem seus instrumentos próprios: tem suas facas, sua chaira, sua pedra de
afiar, a colher de mexer. Não é qualquer faca, nem qualquer colher. Há hora certa
de entrar em cena. Dependendo do que se vai cortar ou mexer, lá vai o
instrumento certo. Há uma liturgia no ato de cozinhar.
Cada vez que preparo uma comida
posso dizer com toda propriedade e sem nenhuma blasfêmia que “isto é meu corpo
dado por vós”, “isto é meu sangue dado por vós”. Quem nunca saiu de uma cozinha
exausto e moído de canseira? Quem nunca cortou o dedo preparando a comida? Mais
que isto, posso dizer que é meu corpo e meu sangue porque o alimento ali
apresentado teve horas de trabalho, de vida consumida para trazê-lo e coloca-lo
à mesa. E cada vez que apresento o alimento na mesa da comunhão, propicio o
milagre da ressurreição: corpos famintos, esmaecidos pela canseira, tem seu
vigor renovado, sua vida ressuscitada.
Sentar-se à mesa tem um quê de
sacramental. As inimizades não resistem a uma comida fraternal, a unidade é
fortalecida pelo fato de compartilhar da comida. A solidariedade é enriquecida
por ter que desfrutar da comida pensando que o outro também deve comer. Há o
milagre da multiplicação: quantas vezes você serviu uma janta ou almoço e achou
que a comida era pouca? E quantas vezes, apesar disto, sobrou um pouco no fundo
da panela?
Cada vez que juntos comemos,
esperamos a oportunidade de um novo comer, uma nova reunião, uma nova
Eucaristia. Cada almoço e jantar deve ser uma Eucaristia celebrada na
intimidade do lar, no convívio dos queridos e no convite dos que queremos nos
reconciliar.
Marcos Inhauser
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terça-feira, 3 de abril de 2012
A REFEIÇÃO RELIGIOSA
Não é
nenhuma coincidência que a celebração cúltica máxima nos tempos do Antigo
Testamente seja uma refeição e, de igual forma, no Novo Testamento. Todo o
calendário litúrgico da religião judaica estava e ainda está voltada para a
celebração anual da Páscoa. A esta celebração Jesus subiu a Jerusalém, assim
como muitos faziam em Israel para, no templo, participar da festa que conferia
identidade e integridade nacionais.
Todo judeu
devia, ao menos uma vez em sua vida, participar desta festa na cidade santa.
A
centralidade e importância desta refeição comunitária se devem ao fato de ter
sido ela instituída quando o povo ainda estava no Egito, em escravidão por mais
de quatro séculos, e que, depois de nove pragas, são orientados a matar um
cordeiro, vestir-se para viagem, sandália aos pés, porque iniciariam a
peregrinação para a liberdade, conhecida como Êxodo. O sentido de comunhão
estava evidente no fato de que todos da família, inclusive as crianças, deviam
participar. Se o cordeiro fosse muito para uma família, vizinhos deviam ser
convidados para que juntos dele comessem e assim desfrutassem da experiência do
convívio celebrativo da libertação.
A
celebração tinha ainda o caráter rememorativo e educativo, pois, quando os
filhos perguntassem por que celebravam a Páscoa, os pais deviam contar a
história da escravidão no Egito e como o povo foi libertado. Além de educar, também
tinha o objetivo de evitar que os judeus fizessem com outros povos o que o
Egito havia feito com eles.
Já no Novo
Testamento a centralidade da Eucaristia não é menor, nem diferente o seu
objetivo. Cabe ressaltar que Jesus não deixou para Sua igreja a Bíblia, nem o
templo, nem um manual de doutrina, nem rituais definidos e demarcados. A única
coisa que Ele deixou foi a Eucaristia ou Santa Ceia. Ressalte-se ainda que, no
Seu ministério e muito mais depois da Sua ressurreição, ele ceou com seus
amigos, inimigos e apóstolos.
Ele
instituiu a Ceia como forma de comunhão e celebração rememorativa, tal como se
devia fazer na Páscoa. “Fazei isto em memória de mim” e “porque todas as vezes
que comerdes este pão e beberdes deste cálice, anunciais a Sua morte até que
ele venha”. Memória do Seu sacrifício e morte libertadora, assim como na Páscoa
a morte do cordeiro era libertadora.
Há entre
católicos e protestantes divergências quanto ao significado da Eucaristia.
Mesmo entre os protestantes não há consenso, havendo os que a consideram
sacramento e os que a veem como memorial.
Pessoalmente,
seguindo a tradição anabatista, creio que a Eucaristia é compreendida pela
lavagem dos pés, pela refeição comunal e pela celebração recordatória do comer
do pão e beber do cálice e que, a participação nesta celebração é meio de graça
(aqui deixo de ser anabatista e sou calvinista). A Páscoa não é um fim de
semana prolongado para que se possa ir à praia ou viajar. É a celebração da
intervenção divina na história, sempre para nosso benefício e salvação.
Marcos
Inhauser
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