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terça-feira, 23 de agosto de 2011

NO PARAÍSO HÁ DISCIPLINA

O paraíso tem limites. Nem tudo se pode no paraíso. Há coisas possíveis e impossíveis. O paraíso não é o desfrutar de tudo que queremos, mas o desfrutar de tudo que podemos. No Éden havia um limite: até aqui podem comer de tudo; daqui para frente já não mais. Isto requeria uma dose de autocontrole, de disciplina.
Uma das coisas que tem me preocupado na tão propalada pós-modernidade é a ausência de critérios universais pela absoluta relativização e subjetivização dos valores morais. É certo e bom o que julgo como tais. Sou eu e mais ninguém quem deve ditar normas éticas para mim.
Uma vertente disto é a orientação que se tem passado aos pais de que a educação dos filhos não pode ser negativa (é proibido falar “não aos filhos”) antes deve ser de completa liberdade para que a criança descubra por si mesma o que pode e não pode. Ocorre que, a uma criança que não soube ouvir e obedecer “nãos”, será um adulto que não saberá dizer não quando isto for necessário. Uma das grandes consequências disto é que, quando lhe oferecerem drogas, porque na infância não lhe ensinaram a respeitar limites, não terá autocontrole para dizer não. Antes, porque tinha que descobrir por si o certo e o errado, se atirará de corpo e alma, tal como o educaram.
Não há paraíso sem domínio próprio, sem autocontrole, sem disciplina. Já no paraíso edênico, o lugar perfeito criado por Deus, havia um limite que impunha aos seus habitantes uma dose de domínio próprio. Estavam no paraíso, mas nem tudo lhes era permitido. O paraíso não é anarquia, a ausência de regras ou comportamento ético. Muitos são os que buscam o paraíso no comportamento aético ou antiético e se dão mal porque encontram o inferno.
Acabo de ler um livro que trata dos modelos de pais e sua influência sobre as filhas. A autora, depois de muito pesquisar, afirma que um pai que tenha autoridade (o que é diferente de ser autoritário – fabricante de ordens), que coloque de forma clara e precisa os limites dos “podes” e “não podes”, traz benefícios duradouros para seus filhos. A grande maioria deles não terá problemas de comportamento, nem mesmo na adolescência, e a vida sexual deles será qualitativamente melhor que a de filhos e filhas provindas de lares anárquicos.
Há limites no trabalho. Quem o faz além da conta se estressa, se enferma, ganha morte. Há coisas que podem e devem ser feitas no trabalho e há outras que não podem ser feitas. Um comprador de uma firma não pode comprar além de certos limites determinados pelas necessidades da sua empresa. O encarregado dos pagamentos não pode pagar além do devido e das reservas existentes. O atleta tem seus limites e deve conhecê-los e respeitá-los. Se ele treina para correr dez quilômetros e um dia decide correr trinta ou quarenta e cinco, poderá se lesionar gravemente. O cantor tem seus limites ditados pela extensão da sua voz. Poderá alcançar até um determinado limite os agudos e graves. Tentar ir além pode redundar em prejuízo à sua voz. Há limites no comer e no beber. O excesso pode se constituir no pecado da glutonaria e da bebedice, com os consequentes sintomas e enfermidades que isto acarreta.
O limite de não poder tocar na árvore do conhecimento do bem e do mal estabelece uma dimensão ecológica: há limites na capacidade e autoridade do ser humano de explorar a criação do Senhor. Deus criou o mundo e tudo o que nele há e o deu ao ser humano. Ocorre que esta doação não foi completa. Houve restrição. Mesmo no paraíso não se pode tudo e avançar o sinal é alterar o equilíbrio da natureza com a introdução da morte. Quando o ser humano explora a natureza de maneira irracional e sem considerar o equilíbrio ecológico, está trazendo morte à terra, à vegetação, aos animais. Ir além do que lhe é permitido no uso da natureza é repetir o pecado original, é trazer morte.
Em todo lar, família, trabalho, negócio, enfim em tudo que fazemos, há coisas permitidas e não permitidas. Educar os filhos para viver esta realidade é uma prova de amor e de responsabilidade.
O paraíso requer responsabilidade. Se é verdade que há limites a serem postos e obedecidos, também é verdade que o estabelecimento deles tem suas consequências. As decisões no paraíso não são inconsequentes: produzem, sempre, vida ou morte. O fato de haver necessidade de limites não nos dá autoridade de ir colocando-os onde bem entendemos. De cada ato de estabelecer limites ou de transgredi-los há um preço a ser pago. Há limites que produzem morte e há os que produzem vida. O legalismo é uma tentativa de colocar limites além da conta, gerando a morte da consciência crítica. Para o legalista só há uma alternativa: obedecer. O pai autoritário, o líder religioso legalista, o governante totalitário não permitem arguições, só obediência.
Cada limite colocado merece uma reação igual e contrária. Pode ser questionado e até desacreditado. Os limites perdurarão na medida em que produzem vida naqueles que os respeitam. E esta deve ser a chave para analisar os limites que temos nos nossos paraísos: desobedecê-los produz morte? E esta é a eterna alternativa que todos temos diante de nós: ou comemos da árvore da vida ou comemos da árvore da morte.
Marcos Inhauser

terça-feira, 16 de agosto de 2011

DESIGREJADOS

Acabei de receber telefonema de um amigo de longa data que foi pastor e ele se caracterizou como “desigrejado” atualmente. Ele é um dos muitos que aparecem na estatística publicada nesta segunda-feira dando conta que o número de ex-evangélicos tem subido em proporções inquietantes, de 4% para 14%, o que dá um total de quatro milhões de pessoas que frequentaram igrejas evangélicas e hoje não frequentam mais nenhuma. Os dados comparam os anos de 2003 e 2009, o que me leva a crer que este número é ainda maior, por algumas razões.
O fenômeno não é novo. No início dos anos 90, colegas que estavam fazendo mestrado na área da Ciência da Religião já vinham detectando este fenômeno e alguns que pesquisavam na região da baixada fluminense chegavam a dizer que um terço era composto de pessoas ex-membros de alguma igreja.
Como pastor há quase quarenta anos, venho notando e me surpreendendo com alguns sinais. O primeiro deles é que a nova geração não tem o mesmo compromisso de frequência e participação que eu encontrava no início de meu pastorado. Na primeira igreja que pastoreei eu tinha um senhor que saía todos os domingos às 5:30 da manhã para pegar ônibus e atravessar a cidade de São Paulo e participar da igreja. Em São Carlos eu tinha um que quando viajava, fazia questão de voltar aos domingos para não faltar aos cultos. Hoje, qualquer coisa é desculpa para faltar.
Outra coisa que venho notando é que a filiação formal como membro de uma igreja encontra resistência nas gerações mais novas. Antigamente se media uma igreja pelo número de membros ativos que tinha. Isto acabou. Ninguém mais está para isto. Querem participar sem se envolver com as coisas da administração da vida da igreja. Querem os benefícios, sem as responsabilidades.
Neste quesito entra também a questão dos dízimos e ofertas. Antes as pessoas dizimavam e ofertavam na igreja, que aplicava o dinheiro segundo a decisão de uma diretoria eleita. Hoje elas tem dificuldade em ofertar nas igrejas por uma de três razões: medo de que isto vá enriquecer os pastores, pelos muitos escândalos de bispos e apóstolos que se locupletaram; ou pelo entendimento de que eles sabem administrar melhor e preferem fazer caridade com o dízimo. Não são poucos os que conheço que tem administrado e distribuído seus dízimos de acordo com necessidades que veem. Uma terceira razão é a insensatez de se ter templos faraônicos que são usados poucas horas por semana. Há mausoléus que custam uma fortuna em manutenção e que são usados duas ou três horas semanais. Um verdadeiro desperdício.
Outro fenômeno que venho notando é a gradativa transformação da igreja em negócio. Dias destes um colega pastor, destes que tem a alma pastoral, me ligou e me contou que foi avaliado depois de um tempo na igreja e esta decidiu contratar outro que tivesse perfil mais gerencial. Estavam trocando o pastoral pelo gerencial. Quando a igreja faz isto, perde a sua característica de cuidar das pessoas e passa a cuidar dos números, da quantidade, da arrecadação. Deixa de ser igreja e passa a ser negócio. Há muitas igrejas que trocaram o termo discipulado por mentoring (termo técnico do mundo corporativo), nomeiam gerentes de áreas (Educação Cristã, Ação Social, Diaconia, etc.). Há ainda as que não buscam mais pastores com sólida base teológica, mas sim animadores de auditório. Se ele sabe fazer o pessoal cantar, pular, aplaudir, chorar, motivar a contribuir, é um excelente “pastor”, não importando o quanto de abobrinha vá dizer.
Com este cenário, não é para menos que tenha saltado de 4% a 14% o número dos desigrejados.
Marcos Inhauser

terça-feira, 9 de agosto de 2011

SÍNDROME DE COELET

O nome é estranho, porque transliteração (mal feita) da palavra hebraica para “pregador”. Coelet é o termo técnico para se referir ao escritor/pregador/sábio do livro de Eclesiastes, na Bíblia. Precisar quem era é um problema, mas há consenso de que deva ser Salomão, já velho, depressivo e desesperançado. Ele diz: “É ilusão, é ilusão, diz o Coelet. Tudo é ilusão. A gente gasta a vida trabalhando, se esforçando e afinal que vantagem leva em tudo isso? Pessoas nascem, pessoas morrem, mas o mundo continua sempre o mesmo. O sol continua a nascer, e a se pôr, e volta ao seu lugar para começar tudo outra vez. O vento sopra para o sul, depois para o norte, dá voltas e mais voltas e acaba no mesmo lugar. Todos os rios correm para o mar, porém o mar não fica cheio. A água volta para onde nascem os rios, e tudo começa outra vez. Todas as coisas levam a gente ao cansaço—um cansaço tão grande, que nem dá para contar. Os nossos olhos não se cansam de ver, nem os nossos ouvidos, de ouvir. O que aconteceu antes vai acontecer outra vez. O que foi feito antes será feito novamente. Não há nada de novo neste mundo. Será que existe alguma coisa de que a gente possa dizer: ´Veja! Isto nunca aconteceu no mundo´? Não! Tudo já aconteceu antes, bem antes de nós nascermos.” Lembrei-me dele com esta nova crise nos mercados mundiais. Também lembrei do Friedrich Nietzche, que, até onde entendi o que dele estudei (se é que entendi alguma coisa), tinha uma concepção meio que espiralada do eterno retorno da história, de tal forma que as coisas se repetem, não de forma idêntica, mas semelhante. Confesso que é difícil não ser contaminado pela desesperança e depressão do Coelet, especialmente nestes dias. Escrevi há um mês (“Nem direita, nem esquerda” 13/7) que as diferenças ideológicas, políticas, teológicas, litúrgicas estão se acabando, tudo convergindo para a mesmice. Há uma predominância do senso comum, das platitudes aceitas irrefletidamente, um exorcismo das diferenças, uma demonização do menino que diz que o rei está nu. Um país comunista, a China, é o maior investidor capitalista na economia do império! Não sei se ser diferente, crítico, cético já foi menos penoso que em nossos dias. Mas sei que isto tem um preço alto. Ser profeta e dizer o novo, o diferente, anunciar o castigo e a reconstrução é tarefa fadada à solidão. Que o diga Jeremias! Não dá holofote, mas caverna. À esta nova crise dos mercados não faltarão profeteiros (religiosos e seculares) a denunciar mazelas, pregar tribulação e anunciar salvação. No entanto, temos um problema insolúvel: há que crescer economicamente para dar empregos a milhares que diariamente entram ao mercado de trabalho, sob pena de ter as cidades incendiadas por hordas de jovens desesperançados, tal como acontece hoje em Londres e aconteceu no Egito, Síria, etc. Para que tenham emprego, há que ter gente consumindo o que se produz. Para produzir há que buscar recursos naturais, que arrebenta a natureza e polui as cidades, rios e mares. Há uma população mundial inviável para o tipo de economia que praticamos, que valoriza o lucro e a exploração sem limite. Estamos nos colapsando. Há esperança? Eu creio no Reino de Deus, na irrupção de Deus na história para nos dar um novo céu e nova terra. Mas hoje estou como Abraão (“crendo contra toda esperança”) e como o Coelet (“vaidade das vaidades, tudo é vaidade”, “será que existe alguma coisa de que a gente possa dizer: ´Veja! Isto nunca aconteceu no mundo?´”). É a síndrome do Coelet. Marcos Inhauser

SÍNDROME DE COELET

O nome é estranho, porque transliteração (mal feita) da palavra hebraica para “pregador”. Coelet é o termo técnico para se referir ao escritor/pregador/sábio do livro de Eclesiastes, na Bíblia. Precisar quem era é um problema, mas há consenso de que deva ser Salomão, já velho, depressivo e desesperançado. Ele diz: “É ilusão, é ilusão, diz o Coelet. Tudo é ilusão. A gente gasta a vida trabalhando, se esforçando e afinal que vantagem leva em tudo isso? Pessoas nascem, pessoas morrem, mas o mundo continua sempre o mesmo. O sol continua a nascer, e a se pôr, e volta ao seu lugar para começar tudo outra vez. O vento sopra para o sul, depois para o norte, dá voltas e mais voltas e acaba no mesmo lugar. Todos os rios correm para o mar, porém o mar não fica cheio. A água volta para onde nascem os rios, e tudo começa outra vez. Todas as coisas levam a gente ao cansaço—um cansaço tão grande, que nem dá para contar. Os nossos olhos não se cansam de ver, nem os nossos ouvidos, de ouvir. O que aconteceu antes vai acontecer outra vez. O que foi feito antes será feito novamente. Não há nada de novo neste mundo. Será que existe alguma coisa de que a gente possa dizer: ´Veja! Isto nunca aconteceu no mundo´? Não! Tudo já aconteceu antes, bem antes de nós nascermos.” Lembrei-me dele com esta nova crise nos mercados mundiais. Também lembrei do Friedrich Nietzche, que, até onde entendi o que dele estudei (se é que entendi alguma coisa), tinha uma concepção meio que espiralada do eterno retorno da história, de tal forma que as coisas se repetem, não de forma idêntica, mas semelhante. Confesso que é difícil não ser contaminado pela desesperança e depressão do Coelet, especialmente nestes dias. Escrevi há um mês (“Nem direita, nem esquerda” 13/7) que as diferenças ideológicas, políticas, teológicas, litúrgicas estão se acabando, tudo convergindo para a mesmice. Há uma predominância do senso comum, das platitudes aceitas irrefletidamente, um exorcismo das diferenças, uma demonização do menino que diz que o rei está nu. Um país comunista, a China, é o maior investidor capitalista na economia do império! Não sei se ser diferente, crítico, cético já foi menos penoso que em nossos dias. Mas sei que isto tem um preço alto. Ser profeta e dizer o novo, o diferente, anunciar o castigo e a reconstrução é tarefa fadada à solidão. Que o diga Jeremias! Não dá holofote, mas caverna. À esta nova crise dos mercados não faltarão profeteiros (religiosos e seculares) a denunciar mazelas, pregar tribulação e anunciar salvação. No entanto, temos um problema insolúvel: há que crescer economicamente para dar empregos a milhares que diariamente entram ao mercado de trabalho, sob pena de ter as cidades incendiadas por hordas de jovens desesperançados, tal como acontece hoje em Londres e aconteceu no Egito, Síria, etc. Para que tenham emprego, há que ter gente consumindo o que se produz. Para produzir há que buscar recursos naturais, que arrebenta a natureza e polui as cidades, rios e mares. Há uma população mundial inviável para o tipo de economia que praticamos, que valoriza o lucro e a exploração sem limite. Estamos nos colapsando. Há esperança? Eu creio no Reino de Deus, na irrupção de Deus na história para nos dar um novo céu e nova terra. Mas hoje estou como Abraão (“crendo contra toda esperança”) e como o Coelet (“vaidade das vaidades, tudo é vaidade”, “será que existe alguma coisa de que a gente possa dizer: ´Veja! Isto nunca aconteceu no mundo?´”). É a síndrome do Coelet. Marcos Inhauser

terça-feira, 2 de agosto de 2011

JUIZO TEMERÁRIO

Já contei aqui uma história dele (“Um pastor paradigmático” 22/02/2011), mas conto outra, por ser também paradigmática de um comportamento bastante comum. Estávamos em um Acampamento Menonita em San Juan de la Maguana, na República Dominicana, para um conferencia de igreja. Havia umas 200 pessoas, entre elas uma jovem que tinha certa deficiência mental, mas muito atenciosa e serviçal. Do local de reuniões ao refeitório havia uma distância de uns 500 metros e à noite não havia iluminação para sair do refeitório ao auditório, o que fazia com que as pessoas andassem por um caminho escuro. Certa noite fiquei até mais tarde no refeitório conversando com alguém e quando fiz menção de sair para o auditório, a jovem me perguntou se podia ir comigo porque tinha medo de andar no escuro sozinha. Disse que sim e lá fomos nós conversando. Fiz a elas algumas perguntas e ela me respondia e nas suas respostas ficava ainda mais evidente as dificuldades mentais que tinha. Eu caminhava devagar porque parecia que ela também tinha alguma dificuldade para andar, especialmente naquelas circunstâncias. Quando já estávamos bem próximos do auditório, havia na estreita calçada uma saliência. Ela tropeçou, caiu e começou a gritar e a chorar alto. No escuro eu não conseguia ver se ela havia se machucado ou não. Alguns homens vieram ajudar e a levamos para o salão onde o pessoal cantava. Ela entrou chorando alto, um tanto descontrolada, típico de uma pessoa em suas condições. Chamou a atenção de todos. O pastor convidado (o mesmo que era doutor em Apocalipse e que tinha estudado a Bíblia sozinho, sem ajuda de ninguém, só do Espírito Santo), veio correndo até ela e sem fazer uma única pergunta, começou a expulsar o demônio dela. Eu que tinha saído para buscar um remédio, quando voltei, vi ao redor dela uns dez homens orando, gritando, berrando e expulsando o demônio. Confesso que fiquei atônito, com vontade de fazer um esparramo e dizer que os endemoninhados eram eles que não perceberam a condição da moça, nem sabiam o que tinha acontecido. Assumiram que se uma mulher entra em um local de culto chorando é manifestação do demônio e pronto. Deixei a coisa rolar. Depois que ela se acalmou, os “exorcistas de araque” saíram dando glórias e ao iniciar sua “prédica” (uma arenga, na verdade) ele disse que o poder de Deus havia se manifestado naquele lugar pela expulsão de quem quis tumultuar o culto maravilhoso que teriam. Eu me acerquei a ela para saber se havia se machucado e percebi que havia torcido o tornozelo que já começava a inchar e tinha escoriado o joelho. A menina precisou ser levada embora para ser medicada porque não havia no local condições sequer de fazer uma compressa com gelo. O pregador ficou. Na avaliação dele, o culto foi uma benção! A avaliação dela eu não sei, não perguntei e ela não me falou. Na minha avaliação foi uma encenação, uma farsa, um tempo de arrogância religiosa. Conto isto porque sei, por testemunho de outros e por outras experiências, que tal prática é comum nos meios religiosos. Há uma impressionante tendência em pegar um sinal e fazer com ele um diagnóstico completo. Já ouvi muitas vezes que “fulano teve uma conversão verdadeira”, pelo fato de haver chorado durante um culto com apelo. Se não chorar, “não se converteu genuinamente”. Já vi alguém ser acusado de herege porque estava usando uma versão de Bíblia que não era a que aquela igreja adotava. A lista poderia se estender, mas não o faço porque cada de um de vocês se recordara de uma situação idêntica, na qual, talvez você mesmo tenha sido vítima de um juízo precipitado. O gozado é que até hoje nunca ouvi ninguém pregar sobre o pecado do juízo temerário, precipitado. Biblicamente falando, ele é tão pecado quanto tantos outros tão veementemente combatidos. Marcos Inhauser