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domingo, 29 de março de 2015

TIPOS DE SILÊNCIO

Não tive paciência para ver o depoimento do Duque na CPI. Vi depois alguns flashes, o primeiro deles de que “há tempo de falar e há tempo de se calar”. A partir daí, pelo que li, foi uma repetição das frases: “reservo-me no direito de ficar em silêncio” e a variante “reservo-me no direito de ficar calado”. Isto me levou a aprofundar algo que venho meditando há tempos, que é o significado e os tipos de silêncio.
Há o silêncio do ignorante. Ele não fala nada porque não tem nada para falar. Seu cérebro não tem informações para poder dizer qualquer coisa significativa. E, para não dar vexame, se fecha em copas. Ele sabe que não sabe. Este é um silêncio raro, porque o ignorante, no mais das vezes, é boquirroto e tem respostas e soluções para tudo. Já pensei que a ignorância é diretamente proporcional à quantidade de palavras ditas. Neste capítulo há o silêncio do ignorante honesto que, quando perguntado, ele diz: “não sei”, “não tenho como explicar” e sua resposta lacônica é honesta.
Há o silêncio conveniente. A pessoa não fala porque, se falar, se incrimina. O não produzir provas contra si é um direito reconhecido em quase todas as nações sérias que tenham um regramento constitucional que mereça o nome. Neste quesito se inserem os silêncios dos muitos “depoimentos” que se tentou fazer nas CPIs e que os convocados, baseados ou não em liminar, faziam valer o direito ao silêncio. Deve-se notar que o Duque, quando perguntado se conhecia o Vaccari (o que é sabido de todos que, sim, conhecia) preferiu manter-se em silêncio.
Há o silêncio cúmplice. Na máfia há a omertà que é o pacto de silêncio cúmplice, para que ninguém seja dedurado pelos companheiros. O Barusco e o Paulo Roberto Costa quebraram a omertà e deduraram meio mundo! O silêncio do Delúbio e agora do Vaccari se enquadram nesta categoria, pois, se abrirem a boca, ferram com todo mundo. A omertà do dono da UTC, Ricardo Pessoa, também, se mantido, pode ser colocado dentro desta categoria.
Outra modalidade é o silêncio reflexivo. A pessoa permanece calada, quieta, não porque não tenha nada a dizer, nem porque não quer se incriminar, nem é um ato de cumplicidade com a companheirada, mas porque, diante dos fatos e novidades, precisa de tempo para ler, ver, diagnosticar, avaliar o diagnóstico, para só então falar. É o silêncio da prudência!
Há o silêncio da sabedoria. Se o ignorante, no mais das vezes, fala pelos cotovelos, dando respostas a tudo e ensinando todo mundo, o sábio só fala quando solicitado e mesmo assim, fala com parcimônia. Fala o estritamente necessário. O sábio, ao falar, não se delonga, não dá reposta prontas, antes instiga os ouvintes a se perguntarem e acharem por si mesmos respostas para as questões que a ele foram dirigidas.
Ainda se pode dizer do silêncio inquisitivo. A pessoa fica em silêncio e no seu silêncio todas as perguntas e respostas são possíveis. Ele não fala, mas obriga os outros a falarem e explicitarem o que estão pensando. É um silêncio angustiante para quem o recebe, porque nele cabem todas as possibilidades.  Este silêncio também é o da sabedoria. Ele obriga as pessoas a se posicionarem, a se definirem, sob risco próprio. Nunca poderão se valer das palavras do sábio, porque elas não virão.
Para os que não gostam de pensar e querem respostas prontas e esclarecedoras, o silêncio é cruel, mas enriquecedor.


quarta-feira, 18 de março de 2015

NÃO CONFUNDA VEEMÊNCIA COM ESTRIDÊNCIA!



A vida me deu certo gosto pela precisão no uso das palavras. Só o gosto, porque a prática tem se mostrado muito mais complicada que a intenção. A intenção é boa, mas ...
Neste afã de entender o sentido preciso das palavras, andei “assuntando” nestes dias sobre o significado de quatro delas, relacionadas entre si por serem do contexto da comunicação e se referirem ao comportamental.
Como seres humanos, temos “sangue” que nos move a mostrar os sentimentos quando falamos. Especialistas atribuem à linguagem corporal e à metalinguagem algo em torno de 75% do processo comunicacional.
A primeira palavra é indolência. Ela veio do latin indoles (prefixo in significando negação e dolens e dolere usada para dor). No português indolência está mais para a passividade, para a atitude indiferente em relação aos fatos e/ou fala. O indolente é aquele que ouve um insulto e parece que não ouviu ou não deu bola para o que lhe foi dito. É aquele que, quando fala, mais parece ter sangue de barata que ser uma pessoa com sentimentos e convicções. Parece que não acredita no que fala.
A segunda é veemência. Ela também veio do latim: vehementia, significando o ardente, que tem vigor. Ela tem uma relação com vehere que significa levar ou portar. A pessoa veemente é a que fala e acredita no que fala e leva isto aos seus ouvintes. Ela fala com “sangue nos olhos”. Acredita e quer que os demais acreditem no que está falando. Uma pessoa veemente não vai falar baixinho, manso, antes terá um tom de voz mais elevado para expor o que pensa. Os ultrassensíveis acharão que ela exagera, que poderia e deveria falar com menos vigor e intensidade, que grita quando fala.
A terceira é estridente, que também vem do latin (stridente que significa fazer ruído). O estridente é verborrágico, fala alto como se o volume da sua fala pudesse ser entendida como veemência. O estridente, no mais das vezes é uma pessoa sem argumentos que usa da gritaria para fazer calar as vozes que não quer ouvir. Há o estridente que se vale da tergiversação da fala do outro para fazer valer seu raciocínio, pois ele cria ruído na comunicação e entende o que lhe convém entender.
Há ainda a violência, que também vem do latim (violentus: “o que age pela força”, com sentido derivado de violare que é “tratar com brutalidade, desonrar, ultrajar”). O violento na comunicação tem a intenção de ofender e ultrajar o outro, faltando com o respeito e usando, no mais das vezes, palavras de baixo calão.
Há certo consenso de que a sociedade brasileira é indolente no que se refere às questões políticas. O consenso é que o brasileiro faz piada de tudo e tem memória curta. Parece que a cúpula do PT acredita nisto. Acham que podem fazer o que querem que o povo vai fazer piada e logo cai no esquecimento.
Quando o povo decidiu comunicar com veemência o que acredita e quer, não poucos foram os que se levantaram para tergiversar o que está acontecendo e alguns partiram para a estridência. Neste contexto, entendo que o panelaço foi estridência e não veemência. Chamar os manifestantes de “elite branca” e “coxinhas” foi violência.
Mas, na fala dos ministros que deram a cara aliviar a vergonha da Dilma, houve veemência e estridência. Afirmaram com a convicção que se esperava que deveriam ter (ainda que não concorde com eles), mas a estridência ficou por conta do Rosseto ao dizer que falar de impeachment é ilegal e que os manifestantes eram pessoas que não tinham votado na Dilma. Puro ruído para atrapalhar o que as ruas estavam dizendo.
Se alguém puder ensinar isto ao Rosseto, ao Mercadante, Berzoini e Cardoso, eu, na minha humildade, agradeceria, mesmo porque, não acredito que eles tenham tempo para ler o que este escriba da periferia tem a dizer.
Marcos Inhauser

quarta-feira, 4 de março de 2015

SOCIEDADE MINIMAMENTE SATISFEITA

SOCIEDADE MINIMAMENTE SATISFEITA
Sonho ter um governo comprometido com uma sociedade plenamente satisfeita. Alguns dirão que isto é utópico, mas de u-topós (o não existente “ainda”) vivem os sonhadores e os revolucionários. O conservador se contenta com o status quo. Foram os sonhadores e os profetas (não os que predizem o futuro, mas o que o propõe) que levaram alguns a lutar pelo novo. Os conservadores, como o próprio termo designa, querem manter o que existe, sem mudanças.
No afã de manter a sociedade do jeito que está, os conservadores precisam “vender o peixe” de uma satisfação mínima como sendo o “máximo” que a sociedade pode ter. Usam da mídia para tergiversar valores e satisfação, onde uma cerveja, um carro novo, uma boa novela, o BBB são sinais de uma sociedade satisfeita. Neste contexto se deve incluir as inúmeras bolsas oferecidas pelos “ex-revolucionários-agora-conservadores”. Receber uma Bolsa Família do governo é o “must”! É o contentamento com a miséria presente para que não sonhem com o paraíso futuro. Sonhar com um futuro melhor é revolucionário.
O tresloucado Maduro, na Venezuela, está batendo em quem pede uma nação melhor. Milhares de jovens, especialmente franceses e ingleses, diante da impossibilidade de um emprego decente em solo europeu, estão abraçando a jihad e indo para o Estado Islâmico ou a Al Qaeda, porque eles estão propondo algo novo no futuro (questionável por certo, porque repetição de desastres do passado).
Os conservadores, especialmente os religiosos, tremem de medo do novo. Não foram preparados para a novidade, no que pese o fato de sempre estarem falando de uma Jerusalém futura, a pátria celestial. Para tanto, se dedicam a um trabalho de doutrinação incultural, onde valores do mundo ocidental e notadamente os valores estadunidenses, são passados como valores do Reino. O que se faz é ensinar uma coisa retórica, um catecismo, que se deve memorizar. Memorizar é conservar o passado. Teoriza-se para não dar lugar à experiência. Repetir o que se aprendeu não permite pensar no novo e no diferente.
Pensar repetidas vezes o mesmo é depressivo. Todo dia é tudo sempre igual. As mesmas rezas, as mesmas frases, as mesmas orações. Plenifica-se assim a imbecilidade.
Porque são incapazes de lidar com a graça e suas surpresas, preferem aprisionar o Espírito em “Cinco Leis Espirituais”. Querem ordenar o mundo em estruturas rígidas, exigindo a obediência dos fiéis, bem ao estilo dos fariseus dos tempos jesuânicos. Um “sábio que estudou no seminário ou se auto-ordenou” deve ensinar as mesmas coisas, sermão após sermão, para não correr o risco de ver suas ovelhas pensando o diferente ou o inusitado.  Se as ovelhas passam a pensar e questionar, ele pode perder o emprego.
Quando se defrontam com o novo, antes mesmo de fazer o “examinar de tudo e reter o que é bom”, são rápidos em acusar de heresia. Preferem o acanhado e medíocre mundo conhecido a viver a plenitude da graça. Vivem a des-graça!
Não é coincidência que tenho encontrado mais sinais e vivências da graça fora dos templos. Eu as tenho visto em letras de música, em filmes seculares, em experiências comuns de pessoas não-tão-religiosas e mesmo nas arreligiosas. Nas vezes em que estive em um templo ouvindo um sermão, confesso, deu-me náuseas teológicas pela contundência na espiritualidade servil à instituição religiosa, pautada na obediência aos postulados seculares chamados de doutrina ou ortodoxia.

Prefiro a liberdade da graça ao engessamento da sã doutrina.
Marcos Inhauser