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quarta-feira, 24 de outubro de 2012

LAVAREMOS A ALMA?


Há uma expectativa acima da média no povo brasileiro com relação ao desenvolvimento e desenlace do julgamento dos réus no Mensalão. Havia a generalizada descrença de que houvesse a condenação generalizada dos réus.
Há que se reconhecer os trabalhos do Ministério Público e Polícia Federal que levantaram todas as falcatruas cometidas pelos que usaram o mandato para driblar e forjar decisões que interessavam a uma pequena parcela de um partido político. Também deve-se louvar o trabalho da Procuradoria Geral da República ao apresentar as denúncias, fazendo-o de forma a ver todas as acusações corroboradas pelos ministros do STF.
Mais ainda: a forma como o julgamentos dos réus se deu, com a possibilidade de acompanhamento via televisão e sites da internet. Todos pudemos acompanhar todas as votações, bem assim as divergências e argumentações havidas.
Há, no entanto, que se ressaltar que a participação do ministro Toffoli se deu sob a suspeita ética, devido às suas atividades pregressas como advogado do PT e assessor do ex-ministro José Dirceu. Mais que isto, pesa sobre ele alguns processos e acusações ainda não devidamente esclarecidos. No desenvolvimento do julgamento, ao analisar-se a sua participação, nota-se nele uma tendência em inocentar os acusados, especialmente os mais próximos do PT. Ele, que havia dito que se manteria imparcial, não o provou na prática, segundo minha ótica.
Por outro lado, a participação do ministro Levandowski. Ficou para mim a motivação que lhe moveu, qual seja, a de divergir do ministro relator. Ele quis ser o revisor e em quase todas as suas participações reviu o parecer do relator. As poucas vezes em que concordou com o relator, ministro Barbosa, foi na sua maioria para inocentar.
Mais estranho em todo o processo foi a mudança do voto de Levandowski, provocando o empate nas votações referentes ao deputado federal Valdemar Costa Neto (PR-SP), o ex-tesoureiro do PL Jacinto Lamas. Foram assim beneficiados pelo empate.
A existência de empate, pela falta de um ministro na composição normal do STF, em número de onze, o que impede o empate, levou o STF a discutir sobre a necessidade de um “voto minerva” a ser dado pelo presidente. No momento em que escrevo esta coluna, o assunto, depois de discussão no STF, assentou-se aplicação do princípio do “na dúvida, pró réu”, ou no latim “in dubio pro reo”.
Com isto, nos casos em que houve empate, haverá absolvição.
Outro dado discutido é a participação dos que inocentaram na votação das penas e da dosimetria. Isto é lógico: quem absolveu ou inocentou, não tem como votar as penas a quem ele crê que não é culpado.
Mas o que me “me enerva” (para usar o trocadilho do ministro Ayres Brito) é que o Toffoli ainda queira votar. Parece que lhe falta um mínimo de adequação. Ele não só inocentou meio mundo como agora quer aplicar penas segundo a sua ótica absolutória.
Para mim, fica um trocadilho neste processo todo: “in delubio, pro reo”. Sendo assim, a alma será lavada pela metade.
Marcos Inhauser

terça-feira, 16 de outubro de 2012

NÃO ME DEIXE CANSAR

Estávamos reunidos em culto na casa de uma pessoa. O ambiente era pesado porque a filha do casal que nos recebia estava na UTI do hospital. Usuária de drogas, ela havia se entregado há alguns anos a todas elas, mais álcool.
Muitas vezes vimos a mãe chorando, pedindo que orássemos pela filha, que ela fosse liberta das drogas, mas parece que nada resolvia. A cada dia ela ia se definhando e com ela definhava a mãe a o pai.
Naquela semana a situação chegou ao limite extremo. A filha estava morrendo. E nesta situação estávamos ali em culto e oração. Tínhamos a notícia de que a moça estava com falência dos dois rins e que passaria por hemodiálise, mas sem garantia de ela pudesse sobreviver.
A mãe, quieta e chorosa, estava arrasada. Tomei a coragem de perguntar a ela como se sentia e como havia aguentado tanto tempo a situação de ter uma filha que desaparecia e que quando voltava, era um trapo de gente.
Ela, de forma calma, disse mais ou menos o seguinte: “Nestes anos todos eu só tinha uma oração que eu fazia e faço. Pedia a Deus que não deixasse eu me cansar da minha filha. Ela aparecia a qualquer hora do dia ou da noite, sob chuva ou sol, sempre baleada pelas drogas. Eu a recebia, cuidava e amava. Ouvia as promessas que ela me fazia e me perguntava se dava para acreditar. Logo depois ela ia outra vez para a rua e voltava só Deus sabe quando. Eu ficava orando e pedindo a Deus que eu não me cansasse da minha filha. Eu hoje peço a Deus que a livre desta situação. Se ela sair desta e precisar fazer hemodiálise para sempre, e se meu rim for compatível, vou doar um rim para ela.”
Eu não acreditava no que estava ouvindo. Uma mãe disposta a dar parte de si para uma filha que jogou a sua vida fora, que estava nas últimas pelas lambanças que fez e uma mãe pedindo que ela vivesse e que seu rim fosse compatível para poder doar a ela.
Um misto de irritação, desconforto e incredulidade caíram sobre mim.
Oramos pela moça, mas eu não acreditava que ela pudesse escapar. Terminado o culto fui para casa e não conseguia dormir, pensando naquela oração e na disposição de doação. Foi quando um pensamento me veio forte (os mais espiritualizados diriam que Deus me falou): era a demonstração concreta da graça divina através de uma mãe para com uma filha que não merecia nada, depois de tudo o que havia feito.
Hoje eu faço a mesma oração. Há algumas pessoas que estou pedindo a Deus que eu não me canse delas, no que pesem o fato de serem murmuradoras, pessimistas, se passarem por vítimas, fazerem de uma vírgula uma novela, carentes afetivos. Pessoas que cansam, folgadas, espaçosas, que não dão o direito ao outro de falar, mas falam pelos cotovelos, interrompem, inconvenientes, repetitivas, egoístas.
Tomei a oração desta mãe como lema: Deus, não me deixe cansar destas pessoas doentes.
Marcos Inhauser

terça-feira, 9 de outubro de 2012

PEDRO 12 OU 126?

Antes de mais nada, quero afirmar que não tenho nada pessoal contra o Pedro Serafim. Nunca conversei com ele, nem mesmo o vi, mesmo de longe. Tenho tudo contra o Pedro Serafim político e isto já deixei claro desde a época do impeachment do Hélio.
Já escrevi aqui, quando dos fatos, que: “O resultado da “eleição” na Câmara ... era, ...  o conto de um final previsível. .. o Pedro não entrou na história de graça. .. tinha e tem seus objetivos. Seu sonho desde criancinha era ... ser prefeito de Campinas e conseguiu, ainda que pela via indireta, mesmo porque, se fosse pela urna, eu tenho minhas dúvidas de que seria eleito. ... na sua trajetória política, é uma decepção. Em 2010, quando da sua eleição para a presidência da Câmara já se alertava ... que ele era um dos parlamentares mais ausentes na Câmara. ...  Chegava atrasado e ... saia antes de terminar ...  a segunda grande decepção: a forma como conduziu a discussão e aprovação do aumento salarial de 126% (com uma) aprovação às surdinas e de forma sorrateira?”. ... como acreditar (em quem) autoconcedeu-se o escandaloso aumento de 126%?.... Causou-me espanto as afirmações (dele) ... de que o aumento era para que houvesse independência do legislativo (... confissão de promiscuidade...). ..No dia da eleição, em entrevista, disse que daria um choque de gestão e que “controlaria a transparência das contas”. Ato falho? Para mim confissão de um estilo, porque já mostrou na Câmara como controla a informação quando do episódio do aumento salarial.
Não sou profeta nem vidente. Leio os fatos e faço análises. Quando o Serafim saiu candidato, tinha certeza de que não ganharia nem de um poste. E com as propagandas a certeza foi crescendo, seja pela antipatia e falta de carisma que sua photox apresentava (foto turbinada a photoshop e botox que lhe dava uma carinha de adolescente travesso), seja por algumas inverdades colocadas.
Uma delas é que foi ele “quem pôs a correr a turma do Hélio e o Demétrio”. Até onde sei e percebi vendo e lendo os fatos dos impeachments, quem detonou o esquema foi o Ministério Público. Depois a Câmara, nas atuações de Orsi e Zimbaldi, que capitanearam o processo no legislativo. O Serafim esteve no processo porque era o Presidente da Câmara e lhe interessava para realizar o sonho de ser prefeito.
Outra inverdade foi dizer que sua ficha política não tinha mácula. Ora, o processo de aprovação dos 126% foi transparente? A forma como foi aprovado não foi eticamente reprovável, tanto que culminou na rejeição popular e no cancelamento dele pelos envergonhados vereadores? E as nomeações a rodo na Sanasa para dar guarida a seus interesses eleitorais (também aqui denunciados)?
Uma coisa não dita pelo prefeito tampão é que ele adora coisas com mais de 100%. Dados apresentados 15 dias antes da eleição mostravam que os gastos do gabinete do prefeito tinham aumentado mais de 140% neste ano.
Não foi coincidência que o número do Pedro nesta eleição tenha sido uma forma de evitar o “6”. Na verdade, seu número deveria ter sido “126”. Ele escondeu o quanto pôde o “6” de sua candidatura, mas o povo se lembrou que ele não era 12, mas 126.
Marcos Inhauser

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

NÃO REELEJO



Quando uma empresa precisa de funcionário, ela abre a vaga, anuncia, recebe currículos, analisa-os, entrevista os candidatos e, pelo processo seletivo, escolhe o que melhor se ajusta aos requisitos do cargo. O funcionário, por sua parte, tem responsabilidades a cumprir e uma justiça trabalhista a seu favor ou como algoz, dependendo do caso. Se não desempenhar a contento é demitido. 
No setor público o processo é idêntico. A cada quatro anos abre-se a vaga para prefeito, vereador, deputado, senador e presidente. Os candidatos se apresentam no processo seletivo, a banca examinadora (os eleitores) escolhe aquele que a seu juízo tem mais condições de trabalhar pela cidade, estado ou país. Ele assume o cargo e tem responsabilidades a cumprir e salário pago pelo exercício da função.
Assim como na iniciativa privada, ele tem certa autonomia. No caso do prefeito, pode contratar assessores e secretários para atuarem nas várias pastas. Esta contratação está implícita no cargo, mas é feita pela autoridade que sua eleição lhe dá. Ao escolher fulano ou sicrano, ele não se isenta da responsabilidade pelos atos ilícitos que venham a cometer, mesmo porque, é da sua função fiscalizar os seus subordinados.
Da mesma forma a Câmara Municipal. Os vereadores são eleitos, empossados e pagos. Devem legislar e fiscalizar o Executivo. Podem contratar assessores para ajudá-los na fiscalização e devem exigir destes o cumprimento de suas funções. Se não o fazem, são relapsos, coniventes ou comprados. A incompetência ou inapetência de um vereador ou de vereadores em fiscalizar é crime de lesa população, porque ganham para fazer o que não fazem.
Ora, nos recentes episódios na cidade de Campinas, mais especificamente o das construções com alvarás indevidos ou inexistentes, dos contratos superfaturados, e das propinas pagas, a responsabilidade é do secretário da área, mas é, no final das contas, do prefeito que o nomeou e dos vereadores que, com a penca de assessores que tem, não fizeram o que deveriam ter feito: fiscalizar o executivo. Foi preciso o Ministério Público para descobrir “o que se fazia dentro da casa”, inclusive com funcionários fantasmas, farra dos pedágios e ticket refeição.
Se prefeito, secretário e vereadores não fizeram aquilo para o qual foram contratados (eleitos) e pagos regiamente, mostraram-se incompetentes e devem ser demitidos da função para a qual foram eleitos e contratados. A inação inicial da Câmara foi escamoteada pela “hiperação” no processo de impeachment,  quando um dos vereadores galgou ao posto mais alto e pediu a cooperação dos demais na administração da cidade. A catatonia custou aos cofres públicos pelo que foi desviado e pelo que foi pago em salário para fazer o que eu não fizeram. Já vi cálculos do desvio. Gostaria de ver os cálculos com o dinheiro jogado fora com gente incompetente ou conscientemente preguiçosa e omissa.
Por isto, nesta eleição, não reelejo nenhum dos vereadores. Quero gente nova e Câmara Municipal nova. Quero a coisa cortada pela raiz.
Marcos Inhauser