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terça-feira, 26 de junho de 2012

OS IGUAIS SE ALIAM


Um sociólogo da Universidade de Chicago (que a memória não me permite recordar o nome), que afirma que há um elemento gregário no ser humano e que as pessoas se aliam a outras que são iguais a elas e assim formam grupos. Ele chama a isto de conformação tribal. A igualdade passa pela semelhança no vestir, comer, falar, interesses, etc. A afirmação tem sua lógica na medida em que nos sentimos confortáveis ao lado de pessoas que pensam igual a nós, que concordam conosco em quase tudo, onde as conversas fluem em um processo gradativo de troca de experiências e não fica patinando em afirmações e contradições.
Lembrei disto na semana passada por causa dos recentes episódios envolvendo dois líderes de partidos políticos. Para quem acompanha a vida política do país há algum tempo, especialmente a partir do golpe de 64 e o surgimento do movimento operário no ABC paulista que redundou na formação do PT, também acompanhou as idas e vindas desta cria da ditadura que hoje lidera o PP, mas que teve sua peregrinação iniciada na Arena e a carreira política fomentada pelas fardas.
Lula e Maluf viviam às turras, com farpas envenenadas atiradas dos dois lados. Há alguns anos era inimaginável pensar que um dia pudessem se aliar. Mas como já disse Tancredo: a política é como a nuvem, a cada minuto muda de forma. E nuvem mudou e muito a sua forma.
O Maluf continua o mesmo e até hoje deve explicações à nação sobre as acusações e condenações que tem, notadamente as que se referem aos desvios de recursos públicos e dinheiro no exterior. Ele sempre usou a fórmula maquiavélica de que “os fins justificam os meios”. Neste afim sempre se aliou a quem estava no poder e tentou se eleger em tudo quanto é cargo, de prefeito a presidente.
Do outro lado, o Lula encarnava a virgem pura da política, denunciando tudo e todos, especialmente Maluf e Quércia. Como não conseguiu eleger-se presidente adotando a postura purista e de paladino da moral, influenciado pelo amigo Zé Dirceu decidiu deixar o convento da castidade e partir para algumas relações menos santas. Aliou-se ao PCdoB, ao PSB e ao PR, dando a este a vice-presidência, que tinha sido do PRB (antes se chamava PMR) e do PR. Assim se elegeu. Já eleito, fez um leque de alianças que mais parecia arco-íris que algo ideologicamente construído. Em nome da governabilidade valia tudo. Tanto valia que se aliançou ao PMDB a prostitua mór da política brasileira, em pé de igualdade com o DEM. Impôs a Dilma como candidata e para elegê-la entregou a vice-presidência ao Temer, velha raposa política e do PMDB. Tentou o Kassab e sua cria, o PSD e se deu mal.
Agora os iguais e aliançam. Quem mudou? O Maluf ou o Lula? Quem está levando ao paroxismo a máxima maquiavélica dos fins que justificam os meios. Para tentar eleger um poste, vale tudo, até ir à casa do Maluf e tirar fotos sorrindo ao ex-desafeto. O Maluf continua a mesmo. Só resta aceitar que a mudança ocorreu no Lula e nos seus asseclas.
De políticos assim estamos cansados. Queremos gente com valores e que tratem a coisa pública com seriedade e não nos chamem de palhaços.
Marcos Inhauser

quinta-feira, 21 de junho de 2012

CORPORCO


Uma característica bastante comum nos seres humanos é a proteção dos iguais. Parece que necessitamos proteger os que são nossos colegas, para que, na hora da necessidade, também sejamos protegidos.
Este sentimento de “espírito de corpo” pode ser visto e frequentemente é citado quando se trata de julgamentos que são feitos a profissionais pelas suas entidades de classe. Não foram poucas as vezes em que se salientou que os Conselhos Federais de Medicina, Odontologia, dos Contabilistas, da Magistratura, são lentos e muitas vezes omissos nos seus julgamentos. Parece que os julgamentos só se dão quando o caso é de tamanha evidência que nem juízo precisa. Também ocorrem quando há grande comoção social e pressão da opinião publica.
A cada pouco somos informados que o médico este ou aquele, que o juiz fulano ou beltrano, estão sendo acusados de algo e que eles já tem outras acusações anteriores nos órgãos colegiados. Há o caso do “cirurgião plástico” de Brasília que matou algumas pessoas e o Roger Abdelmassih. Há ainda os procuradores denunciados por estarem pegando dinheiro dos precatórios há bom tempo e que o julgamento foi digno de uma lesma.
No campo da política a coisa é ainda pior. Recentemente tivemos o lamentável episódio da absolvição da Jaqueline Roriz, no que pese o vídeo comprovando o recebimento da propina. Aí estão os casos do deputado Saulo Moreira (ALE/RJ);  deputado Sérgio Moraes (PTB-RS), que em 2009 ficou famoso ao dizer que “se lixava” para a opinião pública; deputado José Mentor (PT-SP) por sua participação no Mensalão; Paulinho da Força (PDT-SP), acusado de participar de um esquema de desvio de dinheiro do BNDES; Jair Bolsonaro (PP-RJ), acusado de homofobia e racismo; Olavo Calheiros (PMDB-AL) - Acusado de quebra de decoro supostamente por ter ligações com o dono da construtora Gautama, Zuleido Veras, preso na Operação Navalha da Polícia Federal; Sandro Mabel (então no PL-GO), acusado de distribuição de suborno; João Correia (PMDB-AC), acusado de envolvimento na máfia das Sanguessugas; Vadão Gomes (PP-SP), Pedro Henry (PP-MT, José Janene (PP-PR, Wanderval Santos (então no PL-SP), Professor Luizinho (PT-SP), Roberto Brant (PFL-MG), Romeu Queiroz (PTB-MG), João Magno (PT-MG), João Paulo Cunha (PT-SP), Josias Gomes (PT-BA), todos absolvidos das acusações de participação no mensalão.
Neste momento, há evidências de que o Demóstenes pode se safar. Talvez porque ele saiba demais e pode complicar a vida de muita gente. E o Pagot não querem ouvir porque vai botar lama na mesa presidencial.
Na Câmara de Campinas já tivemos alguns exemplos iguais. Foram absolvidos do uso indevido dos tickets refeição, da contratação de funcionários fantasmas, da retenção de parte dos salários dos funcionários, da farra dos pedágios.
Pelo jeito, mais que espírito de corpo, há nestes colegiados um espírito de porco. Gostam de viver na lama e não saem dela nem a pau.
Marcos Inhauser

ESPIRITUALIDADE DISTORCIDA OU FÉ?


Preocupa-me o conceito de “fé” nos dias e no contexto em que é usado nos dias de hoje no Brasil.. Ela é ensinada fé como virtude mágica, varinha de condão, um “abra cadabra gospel” que produz coisas mirabolantes. Recuso-me a aceitar a fé infantil e estúpida de um pastor que segurava serpentes para provar a veracidade de um verso da Bíblia. Valeu para ele o dito popular: “Se quiseres, confia na pata do coelho: mas lembra-se de que ela não deu sorte ao coelho.”
Recuso-me a aceitar a fé como palavra de ordem que sai de lábios jactanciosos dizendo o que deve Deus fazer. Quando as ações de Deus forem sugestionadas ou dirigidas pelos humanos, ele terá deixado de ser Deus.
Recuso-me a crer que fé é o que faz com que as massas supervalorizem a autoflagelação e o sacrifício, em detrimento da graça pela qual fomos atraídos a Cristo. Ora, se a fé exigisse sacrifícios, a graça não seria graça. Então o que é fé? Fé é crer cega e dependentemente de Deus, mesmo que isso pareça um atentado à sanidade.
Conta-se que numa grande cidade, numa avenida sem nenhum semáforo, um pai procurava atravessar segurando a mão da filha de sete anos. Depois de alguns minutos de indecisão e de espera, o pai alcançou o outro lado da avenida tendo sempre a filha à mão. Ao se encontrar do outro lado, a menina exclamou: “Aquele edifício tem 10 andares. Eu os contei direitinho!” Porque confiava no pai, a menina não tinha visto o perigo da rua e dos carros. Quem confia no Senhor, fica em paz! Isso é fé. Esta é a definição de Hebreus 11:1 “Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem.” Não vejo Deus, mas confio absolutamente que, em sua soberania, ele sempre terá o melhor para mim. Não vejo o futuro, mas creio em quem está à frente: Jesus. Fé expressa em forma de confiança absoluta, de esperança imortal, de serenidade em meio às tempestades.
Analisando a religiosidade tupiniquim vejo mais crendices do que fé real e inabalável. Certa vez, três amigos encontraram-se após muitos anos de separação. Contando suas experiências, um deles disse: “Sou um homem muito infeliz. Perdi todo o dinheiro que possuía. Não tenho mais nada”. O outro disse: “É difícil a sua situação, mas não é tão triste quanto a minha. Perdi minha esposa e meus dois filhos. Oh! Se pudesse dar tudo o que você perdeu para tornar a vê-los!” O terceiro amigo disse: “A infelicidade de vocês é pequena comparada à minha. Um de vocês perdeu o dinheiro, que pode ser recobrado. O outro perdeu os queridos, porém, espera encontrá-los no céu. Mas eu perdi o que de mais precioso existe sobre a terra: perdi a fé”. (Rev. Marcos Kopeska, editado para que caiba neste espaço).

quarta-feira, 6 de junho de 2012

ASSASSINOS DE CONVERSAS


Fui à festa junina no colégio de meus netos para vê-los participar das atividades. Enquanto esperava fui me irritando com o volume do som. Quatro enormes caixas acústicas “animavam” o ambiente. O encarregado do barulho, em uma barraca ao lado da quadra, estava com o fone de ouvido posto e não sei se tinha noção do quão alto o som estava.
À medida que esperava a apresentação, me perguntava: será que não percebem o dano que podem estar causando aos ouvidos das crianças que aqui estão? Como podem enfatizar a reciclagem, ensinando a selecionar o lixo e evitando a poluição, se eles mesmos promovem a poluição sonora? O som equalizado para reforçar os graves, batia na cabeça como se fosse marreta. Eu que sou movido a música, estava irritado com ela.
Quando terminou a apresentação eu achei que teria alívio. Que nada! Lá estava a “música ambiente” em volume tão alto que dificultava a conversa com as pessoas que conhecia. Um tinha que gritar para o outro para ser ouvido e entendido. Saí de lá antes do previsto, cuspindo marimbondos.
Aquele era um tempo em que as famílias estavam reunidas, que as pessoas se encontravam e se cumprimentavam, um tempo de celebração da amizade que foi atrapalhado por um DJ sem noção, que acreditava que a sua música era mais importante que a amizade e as conversas. Longe do local onde as pessoas estavam, o DJ não percebia o estrago que estava fazendo.
Esta não é a primeira vez que fico irritado com a “música ambiente” que é mais música que ambiente”. Detesto restaurantes com música ao vivo. Quando vou a um deles o faço em companhia da esposa, dos filhos ou amigos e o que quero é conversar, trocar ideias, contar piadas. E lá está o barulho a atrapalhar. Ao final, na hora da conta, ainda querem me cobrar o “couvert artístico”. Querem que eu pague por ter sido atrapalhado na conversa, por ter ficado irritado, por ter ficado com dor-de-cabeça.
Lembro-me de um restaurante no interior do estado de Goiás onde fui jantar. Havia um cara grunhindo, equipado com um vilão que mais parecia arma que instrumento musical, cantando desafinado. Horrível! E ainda tiveram a ousadia de me cobrar R$ 15,00 para ser torturado pelo indivíduo. Não paguei.
Outra feita, em uma festa de casamento, quando as famílias que há tempos não se encontravam e tinham a oportunidade de colocar as novidades em dia, foram literalmente impedidas de fazê-lo por causa de um desajustado, equipado com uma mesa de som, que botou putz-putz para tocar e que ninguém conseguia fazer mais nada que ficar calado e olhando um para a cara do outro. Para mim ele tinha a necessidade de ser notado, mais que a noiva. E conseguiu. Todos o xingaram.
Estes sonoplastas de araque são assassinos de conversas. Matam o diálogo interpondo a violência da altura de seu som. A música ambiente é para suavizar, estabelecer um clima ameno e nunca para agredir. Ela deve facilitar o diálogo, o encontro, a conversa e não matar uma das coisas mais preciosas do ser humano: falar e ouvir.
Marcos Inhauser

MELHOROU, E MUITO!


Há mais de quinze anos ou eu ou minha esposa, mensalmente, temos que ir à farmácia de alto custo para a retirada de medicamentos para uma pessoa incapacitada de fazê-lo. Nas primeiras vezes (e por alguns anos) tivemos que ir um cubículo na Unicamp onde, ainda que muito bem atendidos pelos que ali trabalhavam, havia problemas na entrega dos medicamentos, pois ora faltava este ou aquele, ora faltavam os dois. A gente tinha que ficar ligando para saber se tinha chegado (isto quando conseguia ser atendido, pois o telefone vivia ocupado) e não poucas vezes, mesmo tendo chegado os medicamentos, não eram suficientes para cobrir a demanda. Invariavelmente havia que chegar muito cedo, enfrentar fila e não poucas vezes perdia-se a manhã toda para a retirada dos medicamentos.
Quando a coisa começou a funcionar com certa regularidade, fomos surpreendidos com a decisão, sabe-se lá de quem, de mudar a farmácia para outro local, no bairro Ponte Preta. No início a coisa foi um caos. O que começava a funcionar passou a ser um caos. Filas enormes, falta de funcionários e tinha muito mais gente para retirar medicamentos que na Unicamp, pois, ao que parece, concentraram tudo em um só local. Era um festival de gente brava e reclamações, algumas até ofensivas.
Com o passar do tempo algumas mudanças começaram a ser implementadas. Há uma pré-seleção e muitos nem mais precisam pegar a fila para ter a senha. O processo de retirada passou a ser melhor, as orientações quanto aos documentos e receitas necessárias foram melhor explicadas, a renovação passou a ser agendada, as datas de retirada passaram a ser marcadas previamente quando da retirada dos medicamentos, as filas diminuíram, há mais gente trabalhando e atendendo ao público e até um serviço de “ouvidoria” foi implementado. Nas últimas vezes que lá estive não mais percebi reclamações (que eram constantes), não mais gente brava com o atendimento (também constantes no modelo anterior) e não mais tive que voltar por falta de medicamentos.
A falta de planejamento, comum no setor público, quando esperam acabar para então fazer a licitação e a compra, com a devida demora que o processo acarreta, parece (e espero que assim continue) que são coisa do passado, ao menos para a Farmácia de Alto Custo. Isto é o que ocorre nos centros de saúde, onde há muito, não se encontra o terceiro remédio que precisamos retirar e que não há na farmácia de alto custo. Há meses não há fluoxetina e, quando perguntadas, as funcionárias respondem: “só Deus sabem quando vai chegar”. E isto que o prefeito-tampão é médico e o prefeito-defenestrado também o é.
De minha parte quero deixar registrado aqui o meu reconhecimento pela melhoria significativa havida. Quero também afirmar que quando pessoas comprometidas, mesmo sendo funcionários públicos, decidem melhorar o serviço prestado, conseguem fazê-lo. Que o exemplo seja seguido por outros órgãos do setor público.
Marcos Inhauser