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quinta-feira, 17 de maio de 2012

MODERNOS VERSALHES


Na semana passada escrevi algo sobre os hábitos higiênicos nos palácios da Europa nos séculos XVII e XVIII e sobre o fato de que no palácio de Versalhes não havia banheiros. As fezes eram jogadas janelas afora. As pessoas não escovavam dentes, nem tomavam banhos regulares e por isto precisavam ser abanadas para disfarçar o mau cheiro.
Enquanto escrevia a coluna comecei a pensar se a situação atual é diferente. Dos Palácios modernos, especialmente os brasileiros, tem saído muito mau cheiro, muita caca. Sejam eles Palácios federais, estaduais ou municipais, o que se tem notícia é que são fétidos e enlameados (perdão pelo eufemismo, mas o espaço não me permite o uso da palavra correta). Os Palácios fétidos são ligados aos poderes Judicial, Legislativo e Executivo. O recente escândalo do Cachoeira veio mostrar o quanto a lama entrou nos palácios e quanto mau cheiro está exalando e por exalar.
Pensei também que as tais CPIs são como leques a esparramar o mau cheiro, afastar o mau cheiroso, sem nos dar a segurança de que os outros gambás também serão retirados. Os paladinos da moral acabam por se mostrar empresários do mal. Aí estão os desembargadores flagrados com o dinheiro dos precatórios, os deputados mamando na contravenção dos bingos, os asseclas encontrados nos palácios se beneficiando de esquemas de sobrefaturamento (vide o recente caso na PM de São Paulo com o encarregado de autorizar alvarás de construção e que tem mais de 120 imóveis), governadores que se enriquecem do dia para a noite ou jantando em restaurantes de contas astronômicas pagas por empresário que se locupleta com o dinheiro público, senadores donos de estado ou proprietários do gado mais fértil do mundo, prefeitos que montam esquemas milionários de desvio, tal como o correu em Campinas e outras cidades da região e no Brasil.
Neste sentido, fico à espera de novidades mau cheirosas na Prefeitura de Campinas, outra vez. Notícia veiculada por este jornal na semana passada mostra como os partidos políticos perderam a vigência em Campinas, cedendo espaço às negociações diretas dos vereadores com o Executivo.
Fontes bastante bem informadas me passaram um dado preocupante: depois da ascensão do novo prefeito, tem havido um festival de nomeação de novos coordenadores e criação de novas coordenadorias na Sanasa, todas com salários entre quatorze e vinte e cinco mil. Até uma Coordenadoria de Saúde Bucal foi criada, só Deus sabe para quê. Boa parte dos recém-nomeados não tem histórico de trabalho com a Sanasa.
Não é de hoje que a Sanasa, ao invés de tratar o esgoto e a água, tem recebido o esgoto da política. É emblemático o fato de ter a Sanasa um prédio sem janelas, envidraçado em sua totalidade, impedindo que se veja de fora o que lá dentro acontece. Total falta de transparência!!!
Marcos Inhauser

quarta-feira, 9 de maio de 2012

CHEIROSOS E LIMPINHOS


Com algumas exceções, todos somos cheirosos e limpinhos.
Isto nem sempre foi assim. Quando se visita o Palácio de Versailles, observa-se que não há banheiros! As fezes humanas eram atiradas pelas janelas do palácio. Na Idade Média não existia pasta de dente, escovas de dentes, perfumes, desodorantes, papel higiênico. As pessoas eram abanadas não por causa do calor, mas do odor que as pessoas exalavam, pois não tomavam banho, não escovavam os dentes, não usavam papel higiênico e não faziam higiene íntima. Os nobres eram os únicos que podiam ter quem os abanassem, espalhando o mau cheiro que o corpo e suas bocas exalavam.
Na Idade Média, a maioria dos casamentos ocorria no mês de junho (início do verão), pois o primeiro banho do ano era tomado em maio. Assim, em junho, o cheiro das pessoas ainda estava tolerável. Como alguns odores já começavam a exalar, as noivas carregavam para disfarçar buquês de flores junto ao corpo, dando assim origem ao costume de se casar em maio e carregar buquês.
Os banhos eram tomados numa única tina. O chefe da família era o primeiro. Depois, sem trocar a água, vinham os outros homens da casa, as mulheres e, por fim, as crianças. Quando chegava a vez delas, a água já estava tão suja que era possível perder o bebê lá dentro. É por isso que existe a expressão em inglês "don't throw the baby out with the bath water” (não jogue o bebê junto com a água do banho).
Os telhados não tinham forro e as madeiras que os sustentavam eram o lugar para animais se aquecerem. Quando chovia, começavam as goteiras e os animais pulavam para o chão. Assim surge a expressão "it's raining cats and dogs" (está chovendo gatos e cachorros).
Os que tinham dinheiro possuíam pratos de estanho. Certos alimentos oxidavam o material e muita gente morria envenenada. Os tomates, sendo ácidos, foram considerados venenosos. Os copos de estanho eram usados para beber cerveja ou uísque. Essa combinação, às vezes, deixava o indivíduo no chão (numa espécie de narcolepsia induzida pela bebida alcoólica e pelo óxido de estanho). Alguém que passasse pela rua poderia pensar que estava morto, recolhia o corpo e preparava o enterro. O corpo era velado por alguns dias e a família ficava esperando para ver se o morto acordava ou não. Surgiu assim o velório.
A Inglaterra nem sempre teve espaço para enterrar todos os mortos. Os caixões eram abertos, os ossos tirados e o túmulo era utilizado para outro defunto. Às vezes, ao abrir os caixões, percebiam que havia arranhões nas tampas, do lado de dentro, o que indicava que aquele morto tinha sido enterrado vivo. Surgiu a ideia de amarrar uma tira no pulso do defunto que passava por um buraco no caixão e ficava amarrada a um sino. Após o enterro, alguém ficava de plantão ao lado do túmulo durante uns dias. Se o indivíduo acordasse, o movimento de seu braço faria o sino tocar. Ele seria "saved by the bell", ou salvo pelo gongo, expressão essa por nós usada até os dias atuais.  (Condensado de um artigo anônimo que recebi há muito tempo).
Marcos Inhauser

quarta-feira, 2 de maio de 2012

MOEDA DE TROCA


A recente cachoeira de vídeos e áudios que tem vindo a público, revelando o lado fétido e nada ético da vida pública e política de altas autoridades da república e da polícia, revela também algumas coisas que merecem ser consideradas.
Sabe-se hoje que o Procurador Geral da República já sabia dos descaminhos do Senador Demóstenes há três anos e nada fez para que o mesmo fosse devidamente enquadrado. Pergunta-se hoje o que o levou a ficar três anos engavetando o assunto. Seria ele Procurador ou, como foi o antecessor, Engavetador Geral da República?  Quais interesses ele defendia ou que temores tinha para que as coisas não fossem trazidas a público?
Outra pergunta que se faz é por que só agora a coisa veio a publico, na profusão de evidências, onde a cada dia nova revelação aparece, como se a cachoeira do esgoto fosse conta-gotas? Haveria alguma estranha relação entre os fatos hora revelados e o julgamento a ser feito pelo STJ sobre o mensalão? Haveria aqui alguma possível moeda de troca ou “presta atenção” à oposição? Seria algo do tipo: se vocês quiserem mexer fundo na lama do mensalão, nós temos uma cachoeira de fezes para jogar sobre vocês.
Causa-me estranheza que a CPI dos Corruptores, tantas vezes aventada e necessidade urgente nesta república de mal feitos, nunca tenha saído do papel e nem mesmo é aventada pelos políticos de plantão. Já se fez algo para punir um ou outro pego na corrupção, mas nada que tocasse no âmago da questão. Se há corruptos há corruptores. Que as construtoras são as grandes vilãs, todo mundo sabe e evidências já foram levantadas, todas devidamente arquivadas por sentenças judiciais, sob a legação de ilegalidade no levantamento das provas. Quem, em sã consciência, acredita que desta vez vão pegar os tubarões? Será que vão mexer fundo na coisa, pegando a construtora que mais contratos tem com o Governo Federal? Duvido e aposto que não. Providencialmente pegaram um lambari da construtora e o puseram em prisão, o Cavendish já saiu de cena, a Alckmin já disse que vai rever os contratos com a Delta, a própria Delta já abriu mão de algumas obras mais vistosas (Maracanã e Petrobrás). Assessores do Agnelo Queiroz já renunciaram para “ter tempo de preparar a defesa”, o Marconi Perilo nega de pés juntos que nada tem a ver com a coisa. Vai sobrar para quem?
O Demóstenes vai receber seu quinhão por ter batido forte no governo e agora recebe o troco. Os dois delegados da PF vão cair em desgraça, os deputados Lereia e o Protógenes vai receber seu quinhão de vingança, o Nercessian é figura insípida e não afeta o tabuleiro do jogo e vai sobrar até para o Tulio Maravilha.
Mas tubarão não vai cair nesta rede. É ano eleitoral e a moeda de troca vai rolar. Vai se fingir que se investiga, vai se fingir que se pune, cada partido vai receber seu quinhão das construtoras, laboratórios farmacêuticos e bancos e continuamos sendo o mesmo país que sempre fomos. E assim será financiada a campanha eleitoral. Quanto mais derem para os partidos, menos chances tem as construtoras, bancos, laboratórios de serem chamados a se explicar na CPI.
Marcos Inhauser

A DECEPÇÃO FOI ELEITO


Nada que me surpreendesse. O resultado da “eleição” na câmara Municipal de Campinas era, para mim, o conto de um final previsível. Eu já disse aqui que o Pedro Serafim não entrou na história de graça. Ele tinha e tem seus objetivos. Seu sonho desde criancinha era um dia ser prefeito de Campinas e conseguiu, ainda que pela via indireta, mesmo porque, se fosse pela urna eu tenho minhas dúvidas de que seria eleito.
Ele, na sua trajetória política, é uma decepção. Em 2010, quando da sua eleição para a presidência da Câmara já se alertava para o fato de que o ele era um dos parlamentares mais ausentes na Câmara. Quase não participava das comissões e nas sessões.  Chegava atrasado e costumava sair antes de terminar as reuniões.  Os vereadores foram questionados sobre os motivos que os levaram a votar nele e não responderam. Nos corredores muitos parlamentares admitiram que Serafim iria rever o valor dos salários dos vereadores.
Aqui está a segunda grande decepção: a forma como conduziu a discussão e aprovação do aumento salarial de 126%. À época eu escrevi: “A Câmara Municipal de Campinas, no melhor dos espíritos natalinos, decidiu dar-se um belo presente: aumento nos salários de 126%! ... Qual o índice usado para que eles aprovassem os 126%? E por que foi feito em uma aprovação às surdinas e de forma sorrateira?”. Na semana seguinte escrevi: “como acreditar no comandante em chefe da decisão que autoconcedeu-se o escandaloso aumento de 126%. O meu raciocínio é: a questão do aumento foi proposta, discutida, aceita e aprovada nos bastidores, bem assim a maneira sorrateira de aprovar. ... Causou-me espanto as afirmações do agora prefeito tampão, ... de que o aumento era para que houvesse independência do legislativo (... confissão de promiscuidade...). “
A terceira decepção é que, no mandato tampão queria governar juntamente com os vereadores, sugerindo o conluio do executivo com o legislativo, inconstitucional. Mais tarde disse que não conseguiu fazer grandes coisas no mandato tampão porque era temporário, ainda que tivesse todo o poder da caneta para fazer acontecer coisas. Se não soube se impor na autoridade de tampão, como acreditar que se imporá no mandato tampão-eleito? Temporário por temporário, os dois os são.
No dia da eleição, em entrevista, disse que daria um choque de gestão e que “controlaria a transparência das contas”. Ato falho? Para mim confissão de um estilo, porque já mostrou na Câmara como controla a informação quando do episódio do aumento salarial. O que a população espera e reclama é que a transparência das contas não seja controlada, mas feita de forma clara.
Não tenho dúvidas: Campinas continuará sem prefeito até dezembro. Até lá haverá muita campanha, muito acerto de bastidores e vereadores tentando limpar a barra que sujou nestes episódios todos. De minha parte não reelejo a nenhum deles!
Marcos Inhauser