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domingo, 26 de março de 2023

ESTUDOS SOBRE CULTO E LITURGIA VI

 LITURGIA COMO CONJUNTO DOS RITUAIS

Somos seres ritualísticos. Cada um de nós tem alguns rituais diários, alguns até inconscientes. Há quem sempre se sente no mesmo lugar à mesa, para refeições; quem sempre tome café na mesma xícara; quem sempre tenha alguns rituais para tomar banho; etc.

Há quem, ao entrar no templo, se curve; os que sempre levantam as mãos para orar ou cantar, os que se levantam quando a Palavra é lida; etc.

Este conjunto de “rituais” são práticas diárias que moldam o nosso jeito de ser e cultuar.

Há práticas cultuais que são rituais: sempre pedir à congregação para ler a Palavra; ficar em pé para cantar; falar “amém” durante os cânticos ou pregação; etc.

O conjunto destes rituais e o ordenamento deles, vamos chamar de liturgia. Esta palavra vem do grego e significa “o serviço do povo”, isto porque o culto é um “serviço que o povo congregado presta”

Estes “ritos”, sejam eles ligados ou não ao culto, nós os aprendemos pelo exemplo de outras pessoas, ou por coisas que amamos e a elas devotamos um afeto diferente. Imagine que tenho uma caneca que ganhei de alguém muito especial. Ao só usar esta caneca, eu o faço por amor à pessoa que a deu para mim. É uma forma ritualística de dizer “te amo” a quem a presenteou.

Há ritos que construímos por amor a algo que gostamos de fazer. Imagine a pessoa que adora tomar banho e que cria um ritual que a ajuda aumentar o prazer de banhar-se.

Há rituais que os construímos e praticamos para reverenciar uma pessoa amada. É o caso dos filhos e filhas que tomam as mãos dos pais e as beijam e pedem a benção. É o caso de alguém que respeita tanto uma pessoa, que, ao encontrá-la se curva em sinal de respeito.

Todo ritual é uma manifestação afetiva, uma demonstração de amor, por algo ou alguém. Como seres humanos somos pessoas que amam, que têm afetos por outras pessoas e por coisas. Os rituais são práticas que demonstram este amor e esta reverência. Em parte, somos os rituais que praticamos.

Em relação ao culto também temos “nossos rituais”: eles são a forma de mostrar amor a Deus, a Jesus Cristo, ao Espírito Santo e também ao próximo. Levantar as mãos ao orar ou cantar, ficar em pé em determinados momentos do culto, abraçar quem está ao lado ou ao final do culto, lavar os pés de alguém na cerimônia a isto dedicada, servir o pão e o vinho, ungir com óleo, participar da mesa ao final, são rituais de amor a Deus e ao próximo.

O conjunto destas práticas rituais são gestos e declarações de amor. Por trás destes ritos há história, exemplos, imaginação, reflexão, atuação inconsciente. O culto da igreja reunida, para ser entendido e conhecido, mais que conhecer as doutrinas da denominação, deve ser entendido a partir das práticas rituais do povo reunido. Os rituais cúlticos não são teológicos: são vivenciais.

A reunião do povo em nome de Jesus (condição para ser igreja reunida) já é uma declaração de amor a Jesus. Mas ao se encontrar com outros, é uma declaração de amor ao próximo. Ao desejar a comunhão (objetivo do culto, porque culto que não celebra e promove a comunhão pode ser qualquer coisa, mas nunca será um culto cristocêntrico), a manifestação dos laços afetivos que ajuntam e mantém juntos os irmãos e irmãs.

O culto e a liturgia que o ordena, são formas de declarar o amor, fomentar laços afetivos, criar vínculos relacionais.

PREGUNTAS PARA REFLEXÃO

Você tem algum “ritual” na sua vida?

Há alguém na sua família que tenha um “ritual”?

Qual o seu “ritual” quando está chega ao templo ou local de reunião?

Quais os “rituais” que você pode citar de outras pessoas que vão ao culto que você está?

Eles são observados antes de iniciar o culto ou durante a realização do culto?

Você entende que estes “rituais” ajudam você a cultuar?

Os ritos que você identifica em você foram ensinados, exigidos pelos pais, ou você os construiu?

Qual o seu ritual particular que você crê ser o mais importante para a sua vida?

Você concorda com a afirmação de que todo “ritual” é uma declaração de amor?

Qual “ritual” praticado pela igreja com a qual você se reúne que expressa amor a Deus, a Jesus e ao Espírito Santo?

Se o culto é um ordenamento de rituais, e os rituais não têm teologia? Como explicar isto?

Você concorda com esta afirmação?

Você tem consciência de que, ao ir ao culto, está fazendo uma declaração de amor à Trindade e ao próximo?

Cultuar é amar? Você concorda com isto?

Marcos Inhauser

ESTUDOS SOBRE CULTO E LITURGIA V

 DA ORDEM NO E DO CULTO

Paulo, escrevendo à igreja de Corinto pede que os cultos sejam feitos com ordem e decência. Parece que havia sérios problemas de barulho, gente falando, tumultuando, andando e fazendo outras coisas durante o culto.

A palavra a ser usada aqui é “reverência”. Ela é fruto da consciência de que o culto é o encontro com a Trindade, que está no seio da comunidade reunida. Há um ditado usado em muitas igrejas: “antes do culto, fale com Deus em oração; durante o culto ouça Deus nos cânticos, orações e ensino; depois do culto, seja Cristo na sociedade onde você vive”.

Há sabedoria nas igrejas aonde as pessoas chegam, escolhem onde se sentar, esperam o início do culto lendo em silêncio a Bíblia ou orando, há ordem nas participações durante o culto, e comunhão pelas conversas e cumprimentos depois do culto”.

Há quem advogue que, ao planejar o culto, fazendo “uma liturgia”, é limitar a ação do Espírito, porque este se manifesta quando há liberdade. Outros afirmam que fazer uma ordem do culto é obrigar o Espírito a fazer o que queremos.

Esquecem-se de que o “vento (Espírito) sopra onde quer, e ouves a sua voz; mas não sabes donde vem, nem para onde vai” (Jo 3:8). Nada impede o Espírito. Não planejar o culto é garantia de bagunça e confusão.

Assim como, em uma refeição, há certa ordem nos alimentos a serem comidos, e não se come a sobremesa antes ou no meio da comida principal, também no culto deve haver uma ordem nos elementos.

Há alguns modelos bíblicos que oferecem um roteiro para o culto. O primeiro deles está em Isaías 6:1-8.

1 No ano em que morreu o rei Uzias, eu vi o Senhor assentado sobre um alto e sublime trono, e as orlas do seu manto enchiam o templo. 2 Ao seu redor havia serafins; cada um tinha seis asas; com duas cobria o rosto, e com duas cobria os pés e com duas voava. 3 E clamavam uns para os outros, dizendo: Santo, santo, santo é o Senhor dos exércitos; a terra toda está cheia da sua glória. 4 E as bases dos limiares moveram-se à voz do que clamava, e a casa se enchia de fumaça. 5 Então disse eu: Ai de mim! pois estou perdido; porque sou homem de lábios impuros, e habito no meio dum povo de impuros lábios; e os meus olhos viram o rei, o Senhor dos exércitos! 6 Então voou para mim um dos serafins, trazendo na mão uma brasa viva, que tirara do altar com uma tenaz; 7 e com a brasa tocou-me a boca, e disse: Eis que isto tocou os teus lábios; e a tua iniquidade foi tirada, e perdoado o teu pecado. 8 Depois disto ouvi a voz do Senhor, que dizia: A quem enviarei, e quem irá por nós? Então disse eu: Eis-me aqui, envia-me a mim.

No verso 3 se vê a adoração

No verso 5 a confissão

No verso 7 o perdão

No verso 8 a consagração

Veja a sequência lógica na ordem: quando nos reunimos para cultuar, cantamos a santidade de Deus. Ao fazê-lo, percebemos/compreendemos nossa pecaminosidade e somos movidos a pedir perdão. Confessado, recebemos o perdão de Deus. Só então estamos aptos para nos consagrarmos a Deus, afirmando envia-me a mim.

Outro modelo é o Pai Nosso:

Pai nosso que estais nos céus: EXALTAÇÃO

Santificado seja o Teu nome: ADORAÇÃO

Venha o Teu Reino: SÚPLICA

Seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu: CONSAGRAÇÃO

o pão nosso de cada dia nos dá hoje: PROVISÃO

perdoa-nos as nossas dívidas: CONFISSÃO

Assim como nós também temos perdoado aos nossos devedores: TESTEMUNHO

não nos deixes entrar em tentação; mas livra-nos do mal: SANTIFICAÇÃO

Porque teu é o reino e o poder, e a glória, para sempre, Amém: DOXOLOGIA

Há uma lógica na sequência de exaltação, adoração, súplica, consagração, provisão, confissão, testemunho, santificação e doxologia.

Da mesma forma, nos cultos, deve haver uma estrutura lógica que dê sequência normal a cada parte.

Há a predominância do modelo de cultos onde se tem duas partes: louvor e pregação. O louvor é uma coletânea de cânticos desconexos em suas mensagens que não conduzem os participantes a ouvir a mensagem.

Tem-se momentos de empolgação no início, para depois ter uma calmaria durante o tempo de sermão.

PERGUNTAS PARA REFLEXÃO

Alguma semelhança das nossas igrejas com o que Paulo combatia em Corinto?

Como você “ser reverente”?

Como ser reverente nos nossos cultos?

Como respeitar a reverência do irmão ou irmã?

Como conciliar a reverência com o jeito latino/hispano de ser sociável?

É reverente interromper a leitura bíblica que alguém faz, em silencio e sozinho, antes do culto começar?

É possível limitar a ação do Espírito?

Um culto que tenha um planejamento “apaga” a ação do Espírito?

Como explicar que, na história da igreja, durante muito tempo, a congregação não cantava e ainda assim tinha vigor?

Nos cultos que você tem participado, você percebe que há um certo planejamento para que os elementos sejam apresentados em uma sequência lógica e racional?

Você já havia pensado que há na Bíblia esquemas litúrgicos?

Seria lógico começar com a consagração, antes da adoração, confissão e perdão?

Alguma vez ensinaram a você que o Pai Nosso, além de ser uma oração comunitária (daí a prevalência do “nosso”), é também um esquema litúrgico?

Você se lembra de algum culto que você tenha participado e que se seguiu uma estrutura litúrgica mais ou menos parecida a esta?

Você acha que o culto que tem uma grande quantidade de corinhos, que são cantados em 40 a 45 minutos, e depois vem a pregação, é algo que enriquece ou empobrece o culto?

Marcos Inhauser

ESTUDOS SOBRE CULTO E LITURGIA IV

 ELEMENTOS DO CULTO

Há vários elementos que fazem parte do culto público:

  1. 1.)   Leitura bíblica
  2. 2.)   Orações
  3. 3.)   Cânticos
  4. 4.)   Compartilhamento de alegrias e preocupações
  5. 5.)   Ensino
  6. 6.)   Ceia
  7. 7.)   Batismo
  8. 8.)   Ágape
  9. 9.)   Unção de enfermos
  10. 10.)                      Comprometimento
  11. 11.)                      Benção

Todos os cultos devem ser cristocêntricos, ou seja, Jesus deve ser o centro de todas as ações que ocorrem durante o culto. Nada deve ser mais vistoso, chamativo, importante que Jesus. O pregador, o que dirige o louvor, os testemunhos, as orações, o ensino, tudo deve ter Cristo como referência e objetivo. O culto que fala mais de Satanás que de Cristo, perde sua validade. O culto que fala mais do pecado que do perdão que Jesus oferece, deixa de ser um culto cristocêntrico.

a.)   Leituras bíblicas

Devem ser feitas em textos curtos, de preferência acompanhados pela congregação, em versão bíblica acessível aos participantes. Deve-se evitar traduções que usam termos difíceis ou construções de frases complicadas. Se alguma palavra ocorre que não seja do entendimento da maioria, o leitor deve explicar o sentido dela, sem pregar um sermão sobre o significado.

As leituras dos Salmos devem estar presentes, ainda que existam outros salmos em outras partes (ex. Cântico de Débora, Orações de Habacuque e Jonas, alguns textos do Apocalipse, etc.)

A outra leitura é a que servirá de base para o estudo comunitário ou para a pregação. Deve ser curto e que enfoque o assunto e tema a serem tratados no ensino.

b.)  As orações públicas podem ser feitas pelo dirigente ou por pessoa convidada a fazê-lo. Deve-se ter em mente que as orações podem ser de:

a.      De louvor

b.     De agradecimento

c.      De súplica

d.     De intercessão

e.      De confissão

f.       De compromisso.

Cada uma destas deve ser feita no momento apropriado, durante o desenvolvimento da liturgia.

c.)   Os cânticos: devem ser em harmonia com o tema que vai ser ensinado, e não uma coletânea aleatória deles. Deve haver unidade nas mensagens dos cânticos, para que não se passeie pelos mais variados temas ou sejam eles escolhidos porque deixam a congregação animada.

d.)  Compartilhamento de alegrias e preocupações, é um tempo em que as pessoas têm a oportunidade de contar por que estão tristes ou preocupadas e pedir que a congregação ore agradecendo ou intercedendo

e.)   Ensino: se dá pelo estudo comunitário de um texto sugerido, quando todos têm a oportunidade de trazer a sua interpretação e aplicação às vidas. Não é um que ensina, mas todos participam do ensino e do aprendizado. É a oportunidade em que todos os dons presentes possam contribuir.

A outra forma de ensino é através da pregação, quando a pessoa encarregada escolhe o texto e tira dele o ensino para a congregação.

f.)    Todo culto deve levar os participantes a uma renovação do compromisso com o Reino, de comprometer-se em viver o que acaba de ser ensinado. Sem isto, o culto não alcançará seus objetivos.

g.)  Benção: todos os cultos devem terminar com a invocação da benção sobre a congregação, pedindo a Deus paz, a resposta às orações feitas, a capacidade para viver cristãmente, a benção de Deus sobre as vidas.

A benção é um envio do povo para ir ao mundo e ser luz e sal.

PERGUNTAS PARA REFLEXÃO

Você consegue perceber estes elementos presentes nos cultos que você frequenta/participa?

Quando, durante um culto, o dirigente do louvor faz de tudo para ser notado, canta fazendo “encenações”, você acha que é isto cristocêntrico?

Quando o pregador fala mais de Satanás que de Cristo, isto pode ser considerado um culto cristão?

Como você reage à afirmação: “há igrejas que não passam de um microfone rodeado de gente, buscando espaço para brilhar nos holofotes do púlpito”?

Você já esteve em um culto que o dirigente lê um capítulo inteiro e que ninguém se lembra do que o texto fala?

Você se lembra de algum pregador que leu um texto enorme e usou uma frase de todo o texto para seu sermão?

Nos cultos que você tem participado fazem a leitura dos Salmos?

Você se lembra de alguma vez que um texto diferente foi lido como salmo?

Quantos estudos e ou sermões você já ouviu com base em livros do Antigo Testamento?

Você concorda com o estudioso que disse que “para muitos, o Antigo Testamento é comer caranguejo: muito trabalho para pouca carne?

Você já ouviu gente orando na igreja fazendo orações que não acabam nunca?

Você já percebeu que quando se pede uma oração de gratidão as pessoas acabam pedindo e não conseguem só louvar ou agradecer?

Qual a diferença que você faria para orações de súplica e de intercessão?

Nos cultos que você tem participado, há tempo para a confissão de pecados?

Há lugar no culto para um tempo de orações silenciosas?

Como são escolhidos os cânticos nos cultos que você participa?

Eles têm sequência no tema, ou é uma salada de coisas?

Há unidade de tema neles, ou cada um diz uma coisa?

Você se lembra de haver cantado em algum culto um hino ou corinho que fosse mais suave, mais calmo, às vezes cantado a meia voz?

Nos cultos que você tem participado há um tempo dedicado para que as pessoas compartilhem suas histórias e peçam que orem por elas, ou só fazem o pedido, ou ainda, mandam o pedido por escrito?

O ensino nos cultos que você participa trata sempre de uns poucos temas, ou há a preocupação de ampliar e buscar os mais variados temas?

Há repetição contínua de frases e\ou jargões nos sermões?

Se se toma o Pai Nosso como referência para o ensino, onde se trata de Deus como Pai, da santidade de Deus, da santidade dos adoradores, do cumprir a vontade de Deus, de perdoar, de ser perdoado, de pedir o alimento nosso (o que significa pão também para o próximo), você vê que o ensino nos cultos abrange esta variedade de temas?

É possível um culto sem cânticos?

É possível um culto sem pregação?

Quantas vezes, durante ou ao final de um culto você se sentiu movido\a a renovar seu compromisso com o Reino?

Qual o nível de mudança que você percebe na sua vida por ter participado dos cultos?

O que mais mudou em você: foi pelo ensino, pelos cânticos, ou testemunhos?

É costume encerrar um culto com a benção?

Se não é, na sua opinião, a que se deve isto?

Se sim, como você se sente ao receber a benção?

Você acha que isto te ajuda a lidar com os problemas diários?

Marcos Inhauser

ESTUDOS SOBRE CULTO E LITURGIA III

 A CORPOREIDADE DO CULTO

O texto de Rm 12:1 fala em “apresentar os vossos corpos como um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional.” Há neste texto a dimensão da corporalidade.

O culto é a reunião de pessoas em nome de Jesus. Ao reunir pessoas se reúne corpos. As pessoas não vêm só com a boca, os ouvidos, mas vem com a integralidade de seus corpos.

Esta presença integral, traz implicações que devem ser consideradas.

O corpo não é só uma presença física real, mas apresenta a somatória dos sentidos que fazem parte integrante do culto: tato, olfato, audição, visão e paladar.

Ao considerar o “corpo” como essencial para a realização do culto, não se pode deixar de considerar que os cinco sentidos fazem parte deste corpo e que oculto deve incluí-los.

A quase totalidade dos cultos privilegia a audição e a visão. As pessoas participam do culto ouvindo e vendo. E os outros sentidos?

Não se pode esquecer que, no Tabernáculo e no Templo, havia o altar de incenso. Havia orientação detalhada para a sua fabricação e uso: “Toma especiarias aromáticas: estoraque, onicha e gálbano, especiarias aromáticas com incenso puro; de cada uma delas tomarás peso igual; e disto farás incenso, um perfume, segundo a arte do perfumista, temperado com sal, puro e santo; e uma parte dele reduzirás a pó e o porás diante do testemunho, na tenda da revelação onde eu virei a ti; coisa santíssima vos será” (Ex 30:34-36).

Era um perfume que se usava para que o sentido do olfato fosse usado no culto.

O Apocalipse fala deste incenso no culto nos céus: “os vinte e quatro anciãos prostraram-se diante do Cordeiro, tendo cada um deles uma harpa e taças de ouro cheias de incenso, que são as orações dos santos.

Há nas igrejas não católicas uma rejeição ao uso do incenso nos cultos. As razões para isto podem ser listadas, porque são várias. Mas o olfato não tem participado de nossos cultos e precisa ser resgatado, para que todo o corpo seja contemplado.

O tato, outro dos sentidos, tem sua participação nos cultos, mas de maneira acessória. Ele aparece nos abraços, apertos de mão, no ósculo santo, mas de maneira a não ser parte essencial. Grande parte do tato aparece depois de encerrado o culto, quando as pessoas se cumprimentam.

Na tradição da Irmandade, o Ágape, com a lavagem dos pés, é uma forma de se ter o tato presente no culto.

Este mesmo evento traz para dentro do culto o paladar, porque dele é parte integrante a refeição comunal. O paladar também está presente quando se celebra a Ceia, na ministração do pão e do vinho. Quando da unção de enfermos o tato também está presente

O sentido da visão se tem quando, no culto, se usam símbolos e decoração. O uso de flores, de cores que trazem a simbologia conforme o calendário litúrgico, da cruz à frente, a Bíblia aberta e visível, o gestual dos participantes (o levantar das mãos, a dançar, as mãos espalmadas para cima como que oferecendo).

Esta corporeidade do culto implica também que não só o local de reunião deve estar bem arrumado, decorado com símbolos e agradável à vista, mas que os participantes também devem se preocupar com sua aparência, e com vestimentas que indicam seriedade e reverência.

No Tabernáculo e Templo, as pessoas que celebravam o culto (os levitas e sacerdotes) usavam vestes apropriadas. Não participava com vestimentas regulares, cotidianas. Há regiões onde se usa a expressão “roupa de missa” para designar a roupa adequada para a participação no culto.

O culto não deve ser para exibicionismo de vestimentas, desfile de modas, ou para salientar, via vestimentas e adornos, os atributos físicos. A reverência passa pela vestimenta.

Não se trata de estabelecer um “dress code”, mas de ajudar as pessoas a buscarem formas decentes e respeitosas de se apresenta para cultuar.

PERGUNTAS PARA REFLEXÃO

Você já tinha pensado nesta exigência do corpo no culto?

Você já participou de algum culto inclusivo, onde os cinco sentidos foram considerados?

Ao pensar no culto que era realizado no Antigo Testamento, como você o “traz para nossos dias”?

Você já participou de algum culto que tivesse incenso sendo queimado e o aroma estivesse no ambiente?

Como sua igreja reagiria se se decidisse a colocar incenso sendo queimado nos cultos?

Sendo o incenso símbolo das orações, o orar nos cultos elimina a necessidade do incenso?

Como você entende o uso de aromatizantes nos locais de culto, como forma de inclusão dos sentidos no culto?

As igrejas latinas (hispano, lusos, italianos, franceses etc.) são mais táteis nas suas manifestações de afeto?

Como incluir o tato durante os cultos?

O dar as mãos, o impor as mãos, o ungir são expressões táteis usadas nos cultos que você tem participado?

Além do paladar que se tem na distribuição do pão e do vinho, que outras formas podem ser usadas para ter a presença deste sentido no culto?

Como você vê o uso de óleo aromático (óleo mais perfume) para ungir os enfermos?

Quais símbolos você identifica que estão presentes no local de cultos que você frequenta?

Você conhece a simbologia litúrgica das cores?

Você concorda que o local de culto deve ser agradável aos olhos e que a decoração deve ser bem elaborada?

Ao transportar as vestes sacerdotais dos cultos do AT para nossos dias, significa que os líderes dos cultos devem usar roupas especiais?

Como você reagiria se um dia o líder do louvor estivesse de bermuda e chinelos?

Você se sentiria confortável se a líder ou a que está a frente liderando o louvor estive com uma blusa bem decotada ou com a roupa colada ao corpo?

Você já percebeu que há gente que vai para igreja achando que é um desfile de modas, onde podem exibir suas vestes e adornos?

Como os homens se exibem nos cultos?

Marcos Inhauser

ESTUDOS SOBRE CULTO E LITURGIA II

 O CULTO COMO EPIFANIA

A epifania é usada no sentido religioso para as manifestações divinas, quando há a consciência de estar na presença da divindade. Neste contexto, epifania seria o momento ou a sensação de estar diante de Deus ou de alguma de suas manifestações. Se o culto é o momento exclusivo dedicado ao encontro com a Trindade, o culto é uma experiência epifânica, no sentido de que, ao dele participar, a pessoa está aberta para a divindade e suas manifestações.

A garantia da presença de Deus na reunião está nas palavras de Jesus: onde se acham dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles” (Mt 18:20).  Há algumas coisas nesta afirmação que devem ser consideradas.

  1. 1.)   A reunião deve ser “em nome de Jesus”. Não é qualquer reunião, mas algo que tem como denominador comum Jesus Cristo. Por isto o culto deve ser cristocêntrico.
  2. 2.)   O número não é importante. Deve ser uma reunião. Não há a garantia da presença se não houver a reunião. O número é mínimo.
  3. 3.)   O texto não faz exigências como, por exemplo: reunidos no templo, reunião para estudo bíblico, reunidos para orar etc. O importante é que haja reunião em nome de Jesus.
  4. 4.)   A presença não depende de oração de invocação.  Jesus prometeu estar. É a graça se fazendo concreta.

A presença é real, mas não visível. Sabe-se e se pode ter certeza da presença de Cristo porque esta é Sua promessa. Os que se reúnem em nome de Jesus o fazem na fé de que Ele está no meio deles, ainda que Ele não seja visível.

No entanto, sente-se a presença através dos cânticos, orações, abraços, comunhão, leitura da Palavra, ensino, benção, Ceia, batismo, unção de enfermos, lavagem dos pés. Não é uma experiência que se possa traduzir em dados concretos e quantificáveis, mas é uma experiência “emocional, afetiva e pessoal”. O culto tem, então, uma dimensão além do racional e das palavras proferidas nas orações, cânticos e ensino. O Culto deve ser “sentido”.

É verdade que Paulo afirmou que há uma racionalidade no culto (Rm 12:1), mas também é verdade que há emoções no culto.  Pode haver e haverá pessoas emocionadas e que chegam às lágrimas. A emoção faz parte do culto, mas não é nem obrigatória, nem evidência de que o culto foi mais abençoado porque alguém se emocionou.

A presença real não visível tem uma dimensão de visibilidade indireta. Não se vê a Cristo no culto de forma direta. Ele é visto no próximo, a quem amo, toco, abraço, oro por ele e ele por mim. Ele é criatura de Deus, feito à imagem e semelhança de Deus. Ver o próximo, amar o próximo é a forma de ver ao Criador e amá-Lo. No encontro com o próximo a visibilidade da presença de Jesus se faz concreta na comunhão dos participantes.

Nos rituais próprios do culto cristão (oração, cânticos, ensino, Ceia, batismo, lavagem dos pés, leitura, unção dos enfermos e ensino da Palavra) há a concretude da visibilidade da presença não visível, mas real. Pelos rituais eu vejo e compartilho com o próximo. Na lavagem dos pés, eu toco o outro. No abraço eu sinto o outro. Nas orações, intercedo pelo outro. O culto é cristocêntrico que se faz concreto no próximo e na comunhão. É a epifania que se realiza. O outro passa a ser Cristo para mim e eu Cristo para ele.

No culto não deve haver espaço para o egoísmo, para os discursos onde o “eu” é a ênfase. O culto deve transformar o eu, meu, em nós e nosso. Por isto, a “comunhão é a peça central no culto.” O culto deve se estender para que, mesmo depois do encerramento dele, a pessoa seja alguém voltado para o próximo e não egoísta.

 

PERGUNTAS PARA REFLEXÃO

Quando você participa de um culto, você tem a consciência de que se trata de um tempo de encontro especial com Deus?

A solenidade, o silêncio, a reverência, no seu entender, ajudam a ter esta consciência?

A presença de Jesus se deve às nossas orações para que Ele esteja presente, ou Ele estará presente porque prometeu?

Uma reunião familiar para aniversário, por exemplo, pode ser um culto?

Um almoço em família, com oração é um culto?

A quantidade de participantes influi na “qualidade” de um culto?

Por que muitos acreditam que “quanto mais gente houver reunida, mais abençoado o culto e”?

Pode-se garantir a presença quando há dois ou três, mas pode-se garantir a presença quando a quantidade se torna importante?

Quando uma igreja, por circunstâncias especiais, se reúne debaixo de uma árvore, na praça, nas escadarias de um prédio, o culto é menos abençoado ou menos culto?

Podemos duvidar de que, tendo o povo se reunido em nome de Jesus para culto, Jesus não se fará presente?

Um culto no qual ninguém chora é menos culto?

Um culto onde todo mundo chora é garantia da presença e ação de Deus?

É possível manipular um culto para provocar lágrimas e emoções nos presentes?

Como se dá a racionalidade no culto?

As emoções devem ser produzidas, ou elas aparecem espontaneamente?

Você já teve alguma experiência de ter sido Cristo na vida de outra pessoa?

Durante um culto, você já sentiu que o irmão ou irmã que participava com você do culto, era Jesus quem estava ao seu lado?

Se o culto é este encontro com a divindade na concretude do próximo, pode ele ser irreverente?

É culto uma reunião em que tem gente levantando a toda hora, indo beber água, mexendo no celular, mantendo conversas paralelas, não participando dos cânticos e da leitura bíblica?

Marcos Inhauser

ESTUDOS SOBRE CULTO E LITURGIA I

 ENTENDENDO O CULTO

O culto público é a reunião de pessoas em determinado lugar, que desejam louvar a Deus através de cânticos, orações individuais ou coletivas, cantar juntamente com os demais e estudar a Palavra de Deus, seja pelo estudo comunitário das Escrituras ou pela pregação feita.

O culto é um momento sagrado porque é o encontro com Deus, com o Filho e com o Espírito Santo. Jesus afirmou que “onde se acham dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles.” (Mt 18:20). O culto tem algo de misterioso, glorioso, numinoso porque tem a presença real no seio dos que congregam.

O Profeta Habacuque, ao falar dessa dimensão sagrada do culto, diz: “o Senhor está no seu santo templo; cale-se diante dele toda a terra.” (Hb 2:20)

Em outro trecho, Paulo, ao falar do culto na Igreja de Corinto afirma que: “Se, pois, toda a igreja se reunir num mesmo lugar, e todos falarem em línguas, e entrarem indoutos ou incrédulos, não dirão porventura que estais loucos?  ... Que fazer, pois, irmãos? Quando vos congregais, cada um de vós tem salmo, tem doutrina, tem revelação, tem língua, tem interpretação. Faça-se tudo para edificação. ... Deus não é Deus de confusão, mas sim de paz. ... faça-se tudo decentemente e com ordem. (ICo 14:23-40).

O escritor aos Hebreus coloca esta seriedade em outras palavras: “Tendo ... ousadia para entrarmos no santíssimo lugar, pelo sangue de Jesus, pelo caminho que ele nos inaugurou, caminho novo e vivo, através do véu, isto é, da sua carne ... cheguemo-nos com verdadeiro coração, em inteira certeza de fé ... retenhamos inabalável a confissão da nossa esperança, porque fiel é aquele que fez a promessa; e consideremo-nos uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras, não abandonando a nossa congregação, como é costume de alguns, antes admoestando-nos uns aos outros. (Hb 10:19-25). Ele ainda diz que: “... estamos rodeados de tão grande nuvem de testemunhas” (Hb 12:1). Isto se aplica tanto na vida pessoal, como quando nos congregamos.

A reunião para o culto não é algo sem implicações. Tem a ver com o divino e deve atentar para as orientações da Palavra.

Pelos textos citados, podemos concluir que o culto:

1.)   É um encontro com a Trindade

2.)   É um tempo de participação da comunidade

3.)   É um tempo de ordem

4.)   É um tempo comunhão

5.)   É um tempo de sonhar com o Reino

6.)   É um tempo de esperança

7.)   É um tempo de consagração

PERGUNTAS PARA REFLEXÃO

Se cultuar é falar com Deus pela adoração e oração, e ouvir a Deus na comunhão, na troca de experiências com os irmãos e irmãs, através da Palavra, como isto tem acontecido nas igrejas de hoje?

Você acha que há consciência que o tempo de culto é um “encontro com a Trindade” e que o culto merece todos o respeito e reverência?

Há um teólogo que disse que a única maneira de louvarmos a Deus é com nosso silêncio? Você concorda com ele?

Um culto com muito barulho, música alta, gritos é mais abençoador que um culto mais “calmo e silencioso”?

Como aplicar o texto de Habacuque aos nossos cultos?

Na sua experiência e na igreja que você congrega, as coisas são feitas com ordem e decência?

Ou todo mundo quer participar, cantar, declamar um poema, ler um trecho da Bíblia e isto é feito sem ordem?

Quando há gente conversando ou usando o celular durante o louvor ou a pregação, como isto é desobediência aos ensinos de Paulo?

Os cultos que você tem participado tem dado a você a sensação/consciência de que está entrando em um espaço comprado com o sangue de Jesus?

Os cultos têm renovado a sua esperança?

Os cultos têm ajudado a desejar o Reino de Deus?

Os cultos têm levado você a renovar seu compromisso com o Reino?

Você já tinha pensado que o culto é assistido por uma nuvem de testemunhas invisível que dele tomam parte?

O culto pode ser um tempo de diversão, de empolgação, um estar para extravasar emoções?

Marcos Inhauser