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domingo, 26 de março de 2023

ESTUDOS SOBRE CULTO E LITURGIA II

 O CULTO COMO EPIFANIA

A epifania é usada no sentido religioso para as manifestações divinas, quando há a consciência de estar na presença da divindade. Neste contexto, epifania seria o momento ou a sensação de estar diante de Deus ou de alguma de suas manifestações. Se o culto é o momento exclusivo dedicado ao encontro com a Trindade, o culto é uma experiência epifânica, no sentido de que, ao dele participar, a pessoa está aberta para a divindade e suas manifestações.

A garantia da presença de Deus na reunião está nas palavras de Jesus: onde se acham dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles” (Mt 18:20).  Há algumas coisas nesta afirmação que devem ser consideradas.

  1. 1.)   A reunião deve ser “em nome de Jesus”. Não é qualquer reunião, mas algo que tem como denominador comum Jesus Cristo. Por isto o culto deve ser cristocêntrico.
  2. 2.)   O número não é importante. Deve ser uma reunião. Não há a garantia da presença se não houver a reunião. O número é mínimo.
  3. 3.)   O texto não faz exigências como, por exemplo: reunidos no templo, reunião para estudo bíblico, reunidos para orar etc. O importante é que haja reunião em nome de Jesus.
  4. 4.)   A presença não depende de oração de invocação.  Jesus prometeu estar. É a graça se fazendo concreta.

A presença é real, mas não visível. Sabe-se e se pode ter certeza da presença de Cristo porque esta é Sua promessa. Os que se reúnem em nome de Jesus o fazem na fé de que Ele está no meio deles, ainda que Ele não seja visível.

No entanto, sente-se a presença através dos cânticos, orações, abraços, comunhão, leitura da Palavra, ensino, benção, Ceia, batismo, unção de enfermos, lavagem dos pés. Não é uma experiência que se possa traduzir em dados concretos e quantificáveis, mas é uma experiência “emocional, afetiva e pessoal”. O culto tem, então, uma dimensão além do racional e das palavras proferidas nas orações, cânticos e ensino. O Culto deve ser “sentido”.

É verdade que Paulo afirmou que há uma racionalidade no culto (Rm 12:1), mas também é verdade que há emoções no culto.  Pode haver e haverá pessoas emocionadas e que chegam às lágrimas. A emoção faz parte do culto, mas não é nem obrigatória, nem evidência de que o culto foi mais abençoado porque alguém se emocionou.

A presença real não visível tem uma dimensão de visibilidade indireta. Não se vê a Cristo no culto de forma direta. Ele é visto no próximo, a quem amo, toco, abraço, oro por ele e ele por mim. Ele é criatura de Deus, feito à imagem e semelhança de Deus. Ver o próximo, amar o próximo é a forma de ver ao Criador e amá-Lo. No encontro com o próximo a visibilidade da presença de Jesus se faz concreta na comunhão dos participantes.

Nos rituais próprios do culto cristão (oração, cânticos, ensino, Ceia, batismo, lavagem dos pés, leitura, unção dos enfermos e ensino da Palavra) há a concretude da visibilidade da presença não visível, mas real. Pelos rituais eu vejo e compartilho com o próximo. Na lavagem dos pés, eu toco o outro. No abraço eu sinto o outro. Nas orações, intercedo pelo outro. O culto é cristocêntrico que se faz concreto no próximo e na comunhão. É a epifania que se realiza. O outro passa a ser Cristo para mim e eu Cristo para ele.

No culto não deve haver espaço para o egoísmo, para os discursos onde o “eu” é a ênfase. O culto deve transformar o eu, meu, em nós e nosso. Por isto, a “comunhão é a peça central no culto.” O culto deve se estender para que, mesmo depois do encerramento dele, a pessoa seja alguém voltado para o próximo e não egoísta.

 

PERGUNTAS PARA REFLEXÃO

Quando você participa de um culto, você tem a consciência de que se trata de um tempo de encontro especial com Deus?

A solenidade, o silêncio, a reverência, no seu entender, ajudam a ter esta consciência?

A presença de Jesus se deve às nossas orações para que Ele esteja presente, ou Ele estará presente porque prometeu?

Uma reunião familiar para aniversário, por exemplo, pode ser um culto?

Um almoço em família, com oração é um culto?

A quantidade de participantes influi na “qualidade” de um culto?

Por que muitos acreditam que “quanto mais gente houver reunida, mais abençoado o culto e”?

Pode-se garantir a presença quando há dois ou três, mas pode-se garantir a presença quando a quantidade se torna importante?

Quando uma igreja, por circunstâncias especiais, se reúne debaixo de uma árvore, na praça, nas escadarias de um prédio, o culto é menos abençoado ou menos culto?

Podemos duvidar de que, tendo o povo se reunido em nome de Jesus para culto, Jesus não se fará presente?

Um culto no qual ninguém chora é menos culto?

Um culto onde todo mundo chora é garantia da presença e ação de Deus?

É possível manipular um culto para provocar lágrimas e emoções nos presentes?

Como se dá a racionalidade no culto?

As emoções devem ser produzidas, ou elas aparecem espontaneamente?

Você já teve alguma experiência de ter sido Cristo na vida de outra pessoa?

Durante um culto, você já sentiu que o irmão ou irmã que participava com você do culto, era Jesus quem estava ao seu lado?

Se o culto é este encontro com a divindade na concretude do próximo, pode ele ser irreverente?

É culto uma reunião em que tem gente levantando a toda hora, indo beber água, mexendo no celular, mantendo conversas paralelas, não participando dos cânticos e da leitura bíblica?

Marcos Inhauser

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