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quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

SOU O BEM SUPREMO

Wolfhart Pannenberg, teólogo alemão, afirmou certa feita algo que outros já haviam dito com outras palavras “todos os movimentos revolucionários se tornam, de repente, conservadores, assim que fazem a revolução. Então, a estrutura estabelecida de poder se identifica muito facilmente com o bem supremo”. Traduzindo: quando os revolucionários chegam ao poder, a aura de messianismo e superioridade sobe à cabeça.
Lembrei disto nestes dias em que o Maduro (que maduro só é no nome), andou fazendo mais algumas trapalhadas, seguindo as pegadas do mestre Chávez. Mas neste saco também se pode enfiar a Cristina Kirchner e o Evo Morales.
Mas, a bem da verdade, o que me chamou mesmo a atenção foi o discurso atravessado da represidente, dizendo que a culpa da corrupção na Petrobrás é do FHC, porque, se tivessem investigado a coisa no início, a santidade dos nomeados do PT na PTrobrás não teria acontecido.
É melhor ouvir isto que ser surdo. Assim como prefiro ouvir o Maduro acusando os EUA do desabastecimento na Venezuela e de financiar a oposição que pede comida, e a Cristina suicidando o promotor antes de qualquer laudo pericial.
Na visão dos petralhas, eles são santos e o que fazem o fazem para o bem do povo, ainda que o povo não tenha visto centavos da dinheirama locupletada na estatal e em outras maracutaias. O projeto de governo do PT é o bem maior, um dogma político inquestionável e quem ousa falar contra é ameaçado com o “controle social da mídia”.
Neste contexto de “revolucionários” que se tornaram o bem supremo, a função profética da denúncia nunca é bem vista. Os ex-revolucionários agora conservadores têm a tendência em achar que nada deve ser mudado porque o que fizeram e fazem é o bem supremo. Exemplo disto é a dificuldade da represidente em destituir o Mantega e a Graça Foster, em negociar com o Eduardo Cunha e em flexibilizar o valor do reajuste do Imposto de Renda. Ela sabe o que é certo e bom para o governo e para o povo.
Os revolucionários autênticos têm a tendência em ser excelentes em diagnósticos e fracos em propostas. Parecem máquina de RX. Só dizem onde está o problema, mas as soluções são anêmicas. Estes também não gostam da função profética por explicitar a carência que têm em propor soluções.
A função profética trabalha na dialética da crítica e da ação, com o objetivo de ser fiel ao Reino de Deus. Se o profeta tende à crítica ou à ação, ele peca por ser conservador (ação engessada) ou de progressismo (crítica exagerada). No entanto, tanto um como outro se atordoam quando a voz profética diz que o “rei está nu”, que isto não é o que estão dizendo que é, que os revolucionários se transformaram em deuses promotores do bem supremo, que as propostas do progressismo são inviáveis. Não é para menos que os profetas devem ser mortos. Eles perturbam a direita e a esquerda.
Os pregadores de certezas detestam os profetas, porque lançam perguntas e questionam a segurança medíocre que passam à plateia. Os sacerdotes institucionais se arrepiam diante do profeta porque os desmascara como usurpadores do povo, movidos pela ganância e pelo engodo de que podem abençoar porque são mediadores entre Deus e os homens, tendo assim um status superior.
Fecho esta reflexão com uma citação do Alvin Gouldner: “a velha sociedade se mantém através de teorias e ideologias que estabelecem sua hegemonia sobre as mentes humanas, as quais, por isto mesmo, se submetem a ela voluntariamente, sem cruzar os dedos”.

Talvez seja aqui que se entende o comportamento passivo da sociedade brasileira.
Marcos Inhauser

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

O CARNAVAL DO PT

Há várias semelhanças entre o governo do PT e o carnaval.
O carnaval dura quatro dias. Se a Escola de Samba for a campeã, esta alegria pode se prolongar por mais alguns dias e volta à passarela no ano seguinte com energia para tentar o bicampeonato. As notas dadas pelos juízes para a eleição da campeã sempre são questionadas e os perdedores ficam chiando. Terminada a festa, entra-se na quarta-feira de cinzas para espiar os pecados e curtir a ressaca. Não um dia inteiro, mas meio dia de trégua.
Se for campeã, a escola de samba não tem muito do que se arrepender e a quarta de cinzas, ao invés de ser para curtir a ressaca e se penitenciar dos erros, se transforma em oba-oba pela vitória obtida.
Assim foi com o PT: botou seu bloco na rua várias vezes e não ganhou o campeonato. As alegorias e a o enredo eram os mesmos, sempre enfatizando a santidade da sigla, o compromisso ético que o levava ao purismo de nunca aceitar alianças com outros partidos. Um dia, orientados pelo guru-agora-condenado-e-sempre enrolado, o José Dirceu, decidiram mudar o enredo e a alegoria, ainda que não mudaram o mestre-sala. Foram para a passarela e ganharam o título pela primeira vez. A quarta de cinzas foi de celebração. Foi um carnaval não de quatro dias, mas de quatro anos.
No próximo carnaval voltaram com as mesmas alegorias, carros alegóricos, agora recheados com Vales-Refeição, Transporte, e especialmente o carro-mór que foi o destaque: o Bolsa Família. Bingo! Deu bicampeonato! Mais quatro anos de carnaval, com direito muita rega-bofe e a transas sem preservativo e com isto engravidaram o Mensalão.
Perceberam que manter o mesmo enredo poderia tirar o tricampeonato. Mudaram a porta bandeira e colocaram uma cria do mestre-sala bicampeão. Encheram a “coisa” de plumas e paetês, adereços mil, para que o povo não percebesse o perfil nada esguio e o currículo fabricado às pressas para que a madame fosse a nova porta-bandeira. Com muitos efeitos pirotécnico e tecnológicos, levaram o tricampeonato. A quarta de cinzas foi de celebração de deuses que se encastelaram no trono do poder e de lá nunca mais sairiam. Tinham galgado a eternidade. Mais quatro anos de celebração desbragada. Mantiveram o carnavalesco nas finanças para obedecer os desígnios dos deuses tricampeões. O antigo mestre-sala, sempre reverenciado, vivia dando seus pitacos.
Vieram para a passarela para o tetracampeonato. Mesma alegoria, mesma porta-bandeira, mas com a promessa de que o carnavalesco seria demitido na quarta-de-cinzas. Na área de concentração começou a cheirar lona queimada, porque alguém inesperado, que não era terrorista, mas juiz federal, decidiu dizer que a mestre-sala tinha rebolado mais do que devia e que o salto tinha quebrado.
Foi um Deus-nos-acuda. Perceberam que a escola rival tinha bom mestre-sala, boas fantasias, um carnavalesco experiente e que o tetra podia ir para a cucuia. Mandaram balas para adoçar os juízes votantes, pediram a colaboração de subalternos de empresas estatais para garantir a votação e foram para a passarela mostrando uma confiança tímida, mesmo porque, o carro alegórico da ética estava comprometido e pegando fogo! A ética não podia desfilar.
A votação dos juízes foi sintomática: se emocionaram com as pirotecnias do carro Bolsa Família. Deu tetracampeonato! A quarta-de-cinzas foi diferente das anteriores. Ganharam, mas não tinham o que celebrar. O novo carnavalesco mostrou as lambanças feitas pelo anterior, quem, para garantir o tetra, comprometeu as finanças da Escola de Samba. O incêndio do carro da ética não conseguiram apagar e na área da dispersão várias ambulâncias tiveram que levar aos hospitais “estrelas” com overdose e ressaca de bebedeira prolongada.

Os quatro anos não serão de carnaval, mas de cinzas!

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

FAÇA AS PAZES COM A IMPERFEIÇÃO

O senso comum diz que ninguém é perfeito. Isto é verdade! Há no ser humano um DNA que tem o gene de imperfeição.
Se for verdadeira a história de que Adão e Eva tiveram dois filhos, um bonzinho e outro que matou o irmão, todos somos descendência de um assassino, de um fraticida. Depois dele teve um Jacó que vivia brigando com o Esaú, um Esaú meio desligado que não pensou duas vezes em trocar o direito de primogenitura por um prato de lentilha, o Saul que mandou matar o melhor amigo do filho, o Davi que mandou matar o marido da amante, o Salomão que gostava da pompa e da circunstância, tanto que arrumou uma coleção de esposas. Isto para ficar nos mais conhecidos.
A imperfeição é um toque da graça da Deus. Porque não acertamos sempre (ou quase nunca), buscamos a ajuda de Deus para vencer as coisas que sabemos não ter a capacidade para fazer certo. Porque erramos e fazemos mal feito, voltamos e temos a benção de refazer e recomeçar. Se nunca acertássemos nada, seríamos depressivos por nascimento. Se sempre acertássemos, seríamos arrogantes, nos achando os “reis da cocada”. A imperfeição nos coloca em nosso devido lugar: seres humanos. Se Deus nos tivesse feito perfeitos, teria concorrência.
O problema não é ser imperfeito. Há algumas atitudes em relação à imperfeição que podemos ter. Ceder a ela e sempre fazer as coisas mal feitas. São as pessoas conformistas e as derrotistas. Valem-se do fato de não sermos perfeitos para fazer pela metade. É ser derrotado de enttrada na guerra com a imperfeição.
A outra atitude é a de não se enxergar e achar que tudo o que faz, faz bem feito. Esta classe de pessoas se coloca como exemplo para tudo e todos, são professores da universidade (porque sabem de tudo e para tudo tem o “jeito certo de fazer”). Estas têm a tendência de se julgarem fortes, que se conhecem, que são bem resolvidas, que tem o controle da situação e do entorno. É achar que pode ganhar a guerra com a imperfeição.
As primeiras são cansativas de se relacionar porque tem a tendência à murmuração, ao azedume. As segundas são difíceis de se relacionar porque são arrogantes e prepotentes.
Estes dois grupos têm o problema de não se enxergar. O primeiro porque não consegue ver que pode fazer algo bem feito. O segundo porque acha que tudo que faz, está bem feito. Ela é o padrão de conduta, comunicação, relacionamentos. Estão mais para peças de museu que para vidas reais.
Uma terceira atitude é a das pessoas que se conhecem imperfeitas, que mesmo no que são bons sabem que podem falhar. Estas, no que pese a possibilidade de falhar, fazem o melhor que podem, ficam frustradas com o que não saiu como queriam, mas depois dão risada da coisa que não funcionou do jeito que esperava ou queria. Entendem que o fizeram ontem e o fizeram bem feito, não é garantia de que, se fizerem hoje, terão o mesmo resultado. Veem a vida com variáveis múltiplas e não como relação de causa e efeito simples.
Assumir a imperfeição é sinal de maturidade. Trabalhar pela perfeição é depender da graça de Deus. Aceitar os tropeços e desacertos é perdoar-se. É fazer as pazes com a imperfeição.

Marcos Inhauser

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

GERAÇÃO Y UMA OVA!

Andava bronqueado com o senso comum de chamar os jovens de “Geração Y”, mas não sabia por quê. Ouvi muita gente “intindida” discursando sobre as características e senso de urgência desta geração. O meu nariz anda torcido há tempos, desde que comecei a ouvir no Brasil a réplica daquilo que existe nos Estados Unidos, categorizando gerações (founders, boomers, busters, Y, Z, etc..). Detesto transplante de conceitos que servem para o império e que se quer aplicar aqui como se fôssemos iguais aos de lá.
No sábado passado, ouvi o Dr. Volney Faustini, Administrador de Empresas, Escritor, Preletor, Consultor nas áreas de Marketing, Vendas e Inovação Empresarial. Foi Presidente da ABT – Associação Brasileira de Telesserviços de 1991 a 1995. Realizou centenas de seminários, workshops e treinamentos nas áreas de Telemarketing, Vendas, Motivação, Inovação Empresarial e Planejamento Estratégico. São de sua autoria, os livros: A Arte do Telemarketing (1992) e A Inovação Vencedora do Varejo (1999).
Ele, tal como eu, andava irritado com a coisa. Só que ele passou da irritação à pesquisa. Leu 2.000 biografias de líderes brasileiros desde o império.
Estudou a fundo a nossa história e a dividiu em períodos de Apogeu e Crise; descobriu fatores comuns (Ascensão, Apogeu, Queda e Crise), bem assim o encadeamento entre elas.
Na sua categorização temos as seguintes eras: Exploradores (1683-1707; Indignados (1708-1730; Inconfidentes (1731-1752); Realeza (1753-1775); Novo Brasil (1776-1796); Monárquicos (1797-1818) - Unificadores (1819-1840); Abolicionistas (1841-1861); Transformadores (1882-1904); Modernidade (1905-1927); Revolucionários (1928-1947); Bossa Nova (1948-1966); Caras Pintadas (1967-1984); Globalizados (1985-2006) e Colaborativa (2007-2028?).
Na correlação entre as gerações estadunidenses e as brasileiras tem-se o seguinte: Os Baby Boomers (nascidos entre 43-60) tem a geração Bossa Nova (nascidos entre 48-66); a geração X (61-81) tem a geração brasileira dos Cara Pintadas (67-84); a geração Y (82-04) encontra no Brasil a geração Globalizados (85-06) e a geração que tem os mais variados nomes nos EUA (05-??) encontra a Colaborativa no Brasil (07-??).
Como exemplos típicos da Geração Bossa Nova tem-se a FHC, Joaquim Barbosa, Alckmin, Aécio, Marina Silva, Eduardo Campos, Ayrton Senna. Na Geração Caras-Pintadas tem-se a Lindberg Farias, Luciana Genro, ACM Neto, Manuela D´Ávila, Gisele Bundchen, Luciano Hulk, Barrichelo e Felipe Massa. Na Geração Globalizados pode-se citar René Silva, João Montanaro, Gabriel Medina, Gergório Duvivier, Paulinho, Neymar, Lucas Piazon, Luan Santana, Maisa da Silva Andrade.
Já a Geração Colaborativa é a que está por vir, que tem seus poucos anos de vida e ainda não se tem a possibilidade de caracterizá-la, mas de uma coisa se sabe: não mais aceitarão as coisas feitas. Eles terão que participar, colaborar, construir junto.
Sei que vai ter gente que vai torcer o nariz para esta nova descrição geracional. O que posso fazer? É mais fácil ir com a onda e pegar o bonde andando e falar as abobrinhas que todos falam. O que dizem pode ser verdade lá, mas não aqui.
Eu, de minha parte, porque acho que senso comum é a somatória das afirmações feitas pelos que não pensam, tô fora de chamar de Geração Y.

Marcos Inhauser

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

AS MULHERES NA IGREJA

O apóstolo Paulo, a certa altura, disse que “não há judeu nem grego, não há servo nem livre, não há macho nem fêmea; porque todos são um em Cristo Jesus.” (Gl 3:28). Esta passagem é a mais citada para apoiar a visão de que se deve permitir mulheres na liderança da Igreja. Conservadores não dão importância a ela, apontando conflito com outras passagens paulinas ou dizendo que se deve abordá-la à luz da ordem hierárquica da criação onde, segundo eles, o homem tem primazia por direito natural e divino.
Fatores históricos, bíblicos e teológicos convergem no sentido de dar às mulheres a liberdade para usarem os dons dados por Deus em qualquer posição de liderança na Igreja. Mulheres e homens foram igualmente criados por Deus e a queda não afetou mais a um que ao outro. Embora o pecado tenha destruído o relacionamento inicial, a redenção em Cristo restaurou a ambos e os colocou em pé de igualdade dentro da comunidade de fé.
A controvertida passagem retro-mencionada não foi escrita no vazio, em momento de alucinação paulina ou em função de alguma pressão que tenha sofrido. Antes, traz uma longa e rica história a respaldá-la e com um contexto específico ao seu redor que inclui perspectivas sobre a criação, o modelo e ensinamentos de Jesus.
Há pouca controvérsia sobre o fato de Jesus ter revolucionado o modo de tratar as mulheres. Elas foram curadas, tocadas, permitidas a se sentar a seus pés e ungi-lo, foram partícipes de Seu ministério e tiveram a primazia de ser as primeiras a ver o túmulo vazio e a Jesus ressuscitado. Ele resgatou as mulheres de serem primariamente seres de procriação e objetos sexuais, e restaurou seu status como seres humanos, criadas à imagem de Deus.
Pelo fato de ter sido Paulo quem disse que não há distinção entre macho e fêmea, torna a frase ainda mais significativa. Judeu e cidadão de Roma, cresceu repetindo as orações tradicionais de ação de graças judaicas: “Bendito seja Deus por não ter-me feito um gentio; ... um camponês ignorante ou escravo; ... ou uma mulher.”  No mundo greco-romano fórmula semelhante era usada pelos gregos: “Por ter nascido humano e não animal, por ter nascido homem e não mulher, por ter nascido grego e não bárbaro.” 
Há que se observar o paralelo das três frases nestas duas orações e a tríplice exortação de Paulo na frase citada.  Paulo era um homem bem educado, e pode-se facilmente imaginar que o paralelo não é mera coincidência: “não há judeu nem grego, não há servo nem livre, não há macho nem fêmea”. Parece querer desdizer o que as orações judaicas e greco-romanas diziam.
Por outro lado, percebe-se a orientação batismal presente, pois lembra seus leitores que são “revestidos” em Cristo (v. 27), têm uma nova identidade e um relacionamento, não só vertical com Deus através de Cristo, mas também horizontal, com a comunidade. Eles “são um em Cristo” (v. 28), independentemente de raça, classe ou sexo.  A salvação do judeu e do gentio, do escravo ou livre, dos homens ou mulheres já está resolvida pelo sacrifício de Cristo e ambos podem e devem usar seus dons no serviço ao próximo e nos ministérios da igreja.

Chega de discriminação feita por quem deve proclamar a igualdade de gêneros feita por Cristo na cruz!
Marcos Inhauser

CRISTOFOBIA: ÓDIO ASSASSINO

No Peru houve um movimento guerrilheiro/terrorista chamado Sendero Luminoso. Ele era “metralhadora giratória” porque suas ações eram desprovidas de qualquer lógica. Lembrei-me deles nestes dias em que o terrorismo ganhou outra vez os noticiários. Mas não quero falar do Charlie Hebdo, mas do Boko Haram, a “metralhadora giratória” que atua na Nigéria.
A Igreja da Irmandade tem um trabalho naquele país que se iniciou em 1923 com missionários que para lá foram. Em 1955, o primeiro pastor nigeriano foi ordenado. A igreja focou seus trabalhos em educação, saúde e agricultura. Escolas foram criadas, serviços médicos oferecidos e projetos agrícolas foram desenvolvidos. A igreja cresceu ao ponto de ser hoje quase o dobro em tamanho que a igreja-mãe, a Church of the Brethren.
Conheci a vários dos pastores desta igreja (EYN - Igreja da Irmandade na Nigéria) no tempo em que estudei e dei aulas no Bethany Theological Seminary. A partir de 2000 comecei a ouvir destes irmãos nigerianos referências ao Boko Haram. As menções se intensificaram e as práticas começaram a ser selvagens: matavam indiscriminadamente, às vezes centenas, outras vezes milhares.
Se se quer resumir as intenções deste grupo, pode-se dizer que pretendem instalar um califado islâmico que tenha a lei da Sharia como fundamento e a erradicação de qualquer vestígio de educação ocidental e cristianismo. Eles não pensam duas vezes para aniquilar quem se coloca como obstáculo às suas pretensões.
A EYN teve vários dos seus pastores e membros assassinados, templos queimados, lavouras destruídas, escolas fechadas. Muitas das moças sequestradas em 2014 pertencem à EYN. 96 mil membros da EYN foram obrigados a se mudar por causa da violência e necessitam de abrigos, comida e água. Dos 50 Distritos que a EYN tem (grupos de igrejas de uma mesma região geográfica que se coordenam em suas atividades), 37 foram fortemente impactados e 18 foram fechados. 280 pastores e evangelistas tiveram que se mudar e deixar seus templos. Mais de 3 mil membros da EYN já foram mortos.
 Mais informações podem ser obtidas no http://www.brethren.org/partners/nigeria/crisis.html e nohttp://www.brethren.org/partners/nigeria/documents/fact-sheet.pdf
Esta é uma crise que não acabará em breve. Talvez demore décadas!
O Boko Haram é movido por uma “cristofobia” (termo emprestado do Reinaldo Azevedo). A EYN, tem suas raízes históricas e teológicas alicerçadas no pacifismo (assim como as demais igrejas da paz/anabatistas: Irmandade, Menonitas e Quáqueros). Têm ensinado e praticado a não-violência, mesmo diante das barbáries sofridas. Ser pacifista em meio a esta crise e tanta barbárie gratuita tem sido um grande desafio para os cristãos nigerianos.
Apoio maciço e massivo tem sido prestado aos refugiados que sobrevivem aos extermínios.
A Church of the Brethren já mandou este ano mais de 2,8 milhões de dólares para ajudar nesta crise e decidiu colocar um prédio histórico da denominação à venda para levantar fundos para ajudar os nigerianos.
Jovens voluntários, membros da Church of the Brethren estão sendo enviados para ajudar aos refugiados, fugitivos e famintos. Movimentos de oração e jejum têm sido promovidos clamando a Deus pela Nigéria e pelos cristãos que lá vivem.
A Igreja da Irmandade no Brasil, ainda que pequena, tem se solidarizado e orado por esta grave situação que a EYN e a Nigéria vivem.
Marcos Inhauser

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

CRISTOFOBIA: O ÓDIO ASSASSINO

CRISTOFOBIA: ÓDIO ASSASSINO
No Peru houve um movimento guerrilheiro/terrorista chamado Sendero Luminoso. Ele era “metralhadora giratória” porque suas ações eram desprovistas de qualquer lógica.
Lembrei-me deles nestes dias em que o terrorismo ganhou outra vez os noticiários. Mas não quero falar do Charlie Hebdo, mas do Boko Haram, a “metralhadora giratória” que atua na Nigéria.
A Igreja da Irmandade tem um trabalho naquele país que se iniciou em 1923 com missionários que para lá foram. Em 1955 o primeiro pastor nigeriano foi ordenado. A igreja focou seus trabalhos em educação, saúde e agricultura. Escolas foram criadas, serviços médicos oferecidos e projetos agrícolas foram desenvolvidos. A igreja cresceu ao ponto de ser hoje quase o dobro em tamanho que a igreja-mãe, a Church of the Brethren.
Conheci a vários dos pastores desta igreja (EYN - Igreja da Irmandade na Nigéria) no tempo em que estudei e dei aulas no Bethany Theological Seminary. A partir de 2000 comecei a ouvir destes irmãos nigerianos referências ao Boko Haram. As menções se intensificaram e as práticas começaram a ser selvagens: matavam indiscriminadamente, às vezes centenas, outras vezes milhares. Se se quer resumir as intenções deste grupo, pode-se dizer que pretendem instalar um califado islâmico que tenha a lei da Sharia como fundamento e a erradicação de qualquer vestígio de educação ocidental e cristianismo. Eles não pensam duas vezes para aniquilar quem se coloca como obstáculo às suas pretensões.
A EYN teve vários dos seus pastores e membros assassinados, templos queimados, lavouras destruídas, escolas fechadas. Muitas das moças sequestradas em 2014 pertencem à EYN. 96.000 membros da EYN foram obrigados se mudar por causa da violência e necessitam de abrigos, comida e água. Dos 50 Distritos que a EYN tem (grupos de igrejas de uma mesma região geográfica que se coordenam em suas atividades), 37 foram fortemente impactados e 18 foram fechados. 280 pastores e evangelistas tiveram que se mudar e deixar seus templos. Mais de 3.000 membros da EYN já foram mortos. Maiores informações podem ser obtidas no http://www.brethren.org/partners/nigeria/crisis.html e no http://www.brethren.org/partners/nigeria/documents/fact-sheet.pdf.
Esta é uma crise que não acabará em breve. Talvez demore décadas!
O Boko Haram é movido por uma “cristofobia” (termo emprestado do Reinaldo Azevedo). A EYN, tem suas raízes históricas e teológicas alicerçadas no pacifismo (assim como as demais igrejas da paz/anabatistas: Irmandade, Menonitas e Quáqueros). Têm ensinado e praticado a não-violência, mesmo diante das barbáries sofridas. Ser pacifista em meio a esta crise e tanta barbárie gratuita tem sido um grande desafio para os cristãos nigerianos.
Apoio maciço e massivo tem sido prestado aos refugiados que sobrevivem aos extermínios. A Church of the Brethren já mandou este ano mais de 2,8 milhões de dólares para ajudar nesta crise e decidiu colocar um prédio histórico da denominação à venda para levantar fundos para ajudar os nigerianos. Jovens voluntários, membros da Church of the Brethren estão sendo enviados para ajudar aos refugiados, fugitivos e famintos. Movimentos de oração e jejum têm sido promovidos clamando a Deus pela Nigéria e pelos cristãos que lá vivem.

A Igreja da Irmandade no Brasil, ainda que pequena, tem se solidarizado e orado por esta grave situação que a EYN e a Nigéria vivem.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

UM MISTO DE SENTIMENTOS

Pela primeira vez pude ter reunidos para as festas de final de ano a todos os meus netos, um dos meus dois genros e minha nora. São catorze anos desde que minha primeira filha se casou e depois deste tempo todo, poder celebrar o Natal juntos, ver a criançada pulando, gritando, aprontando, foi uma experiência indescritível. Ao mesmo tempo em que desfrutava, ouvia no noticiário e constatava as mudanças climáticas e uma pergunta vinha à mente de forma inevitável: que mundo vamos deixar para eles?
Vi a posse dos governadores e da Dilma. Ouvi parte dos discursos e me bateu aquele ar de frustração por perceber que todos os candidatos que prometeram o paraíso, acenavam com frituras na administração. Ouvi alguma coisa do que os ministros disseram e, na expectativa de mudanças, o que vi foi a perpetuação da mesmice.
Ouvi sobre as mudanças que se propõe para o Salário Desemprego e Auxilio Doença e acreditei que haveria alguma seriedade na área econômica e mudanças para evitar o Auxilio Preguiça que o Salário Desemprego se transformou. Mal acabei de ouvir, veio a notícia de que a coisa não passa pelo Congresso, porque a base aliada está descontente com as nomeações feitas pela presidente.
Ouvi o ministro Barbosa dizer que faria mudanças no cálculo do salário mínimo. Vibrei porque, ainda que seja analfabeto em economia, sei que a fórmula arrebenta os gastos públicos, uma das mazelas deste governo. No outro dia li que o ministro veio a público dizer que não disse o que havia dito, pressionado que fora pela presidente em férias. O príncipe virou sapo pela intervenção da bruxa.
Tomou posse o mais antigo ministro não empossado, o Levy, aquele que foi nomeado e nunca empossado para dar tempo ao ministro-das-eternas-desgraças praticar a sua contabilidade criativa, feito Mandrake escondendo o descalabro das contas públicas.
Olho na minha estante e vejo um livro que o tenho e o li há mais de 20 anos. Está em inglês e o título e "Para uma Esperança Melhor". O autor, Hauerwas, trabalha a questão de manter acesa a esperança de dias melhores e que isto e possível. Creio nisto, mas, com esta política que vejo, com os Renans, Sarneys, Zés Dirceu, Delubios, Vacaris, Vacarezzas, Youssef, Duque e aliados, parentes e clones, fico em dúvida se esperança melhor poderemos ter.
Isto me leva a pensar que, nos tempos de Seminário, na minha formação teológica, fui ensinado a ter e comunicar certezas, especialmente a de melhores dias e a do Reino de Deus ao fim de tudo. No entanto, vejo que a vida é como barco ao sabor das ondas, levado para todo lado. Como ter certezas neste mundo de mudanças radicais a cada minuto? O mundo ficou liquido, volátil, multiforme.
Em meio às incertezas, viver é uma aventura. Viver com e pela fé é loucura. Ao menos não posso dizer que não fui avisado: o apóstolo Paulo já havia alertado que o evangelho é loucura.
Marcos Inhauser

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

OS SAGRADOS TRABALHO E DESCANSO

Se o trabalho é um direito, o descanso também o é. Vivemos tempos em que o trabalho tem sido escasso em muitas partes, onde taxas de desemprego são altas, como ocorre na Europa, especialmente na Grécia, Espanha e Portugal. O desemprego dos jovens é ainda mais alto, o que impede a realização pessoal, mata os sonhos e cria frustrações.
O Estado reconhece o trabalho como fonte de riqueza, como direito e dever social. Ele deve promover as condições que eliminem a pobreza e assegurem por igual aos habitantes a oportunidade de uma ocupação.
Na relação de trabalho fica proibida qualquer condição que impeça o exercício dos direitos trabalhadores, que desconheça ou rebaixe sua dignidade. O trabalho obrigatório (sem o consentimento do trabalhador) caracteriza-se como trabalho escravo e deve ser condenado.
Depois que inventaram o notebook e o celular, o trabalhado passou a ser de tempo integral. Não são poucos os que vivem conectados, fazendo extensas jornadas, algumas delas feitas sem o consentimento do trabalhador. Há muitos que, trabalhando como escravos, o fazem pensando na promoção que poderá vir caso se mostrem comprometidos.
Aliado a isto está a globalização que permite e requer contatos com todas as partes do mundo. Quem tem que se contatar com a China ou Coréia, não poucas vezes, tem que fazê-lo de madrugada.
Se trabalhar é necessário, o repouso também o é. A instituição de um descanso depois de seis dias de trabalho é algo milenar. Esse descanso é algo tão divino e necessário, que a Bíblia afirma que o próprio Deus descansou. Ele, na Bíblia, estava determinado não só para os seres humanos, mas também para toda a criação (os animais e os campos). O dia de descanso, mais que uma questão religiosa e cúltica, é uma questão de justiça social e de valorização da vida e do trabalho.
Levíticos determina que durante seis anos semear-se-ia a terra e se recolheria seu fruto. Mas durante o sétimo ano, se deixaria descansar, sem cultivar, para que comessem os pobres, as viúvas e os órfãos. Idêntico procedimento teria com o vinhedo e as oliveiras. Aqui se trabalha o conceito do descanso para a terra e para o ser humano. Entendo que no sistema capitalista, se aperfeiçoou a exploração de tal maneira que temos, em alguns setores, o descanso que é aproveitado para outra atividade como forma de se aumentar a renda.
O descanso vem como tempo de contemplação da obra realizada. Trabalhar, produzir, sem poder olhar e gozar do que se produziu, é escravidão. Trabalhar sem ter sábado é morrer. Trabalhar sem descansar é morte. O trabalho tem limites. O gozar a vida é parte do próprio viver."
Quem paralisa o trabalho e descansa, participa do ser e do atuar de Deus. Negar-se ao trabalho, ao menos em um dia, é corresponder ao criador. E "se Deus é por nós, quem será contra nós" (Rm 8.31). Quem, pois, obedece aos babilônicos, quem ceda às pressões e trabalha o sábado, abandona a Javeh. Assume a idolatria. Aqui, trabalho nos dias sábados e idolatria são sinônimos, como o veremos mais adiante com uma precisão maior.

É o descanso para as mãos, para o corpo. É espaço no qual caem as cadeias. 
Marcos Inhauser

SÓ NA BENÇA!!!

Há não muitos dias fui a um supermercado da periferia, pois precisa de dois itens para levar ao grupo de estudo. Acerquei-me à banca de frutas para pegar alguns limões e ouvi o seguinte diálogo:
Boa tarde irmã!
— Oh! irmão. Boa tarde. Como vai o irmão?
— Tô na bença. Só na bença. E a irmã?
— Eu também. Bença pura!
— A irmã ainda congrega naquela igreja?
— Sim irmão, mas tô pensando em ir prá outra igreja.
— Por que, irmã?
— O “obrero” de lá é muito pidão. Todo dia pedindo dinheiro prá alguma coisa. É prá pagar a luz, a água, a gasolina, o aluguel, o “pograma” de rádio. Se a gente for dar “toda veis” que ele pede, a gente passava fome. Não ia sobrar prá nada!
— Tem “obrero” que só pensa no “dinheiro”.
Demorei para me afastar porque a senhora me impedia o acesso aos limões e eu estava interessado na conversa. Depois de mais algumas perguntas e respostas, ele perguntou:
— A irmã tem notícia do irmão Antonio? Nunca mais soube nada dele.
— Não, não tenho sabido de nada. E o irmão sabe do irmão Geraldo que andava com ele? Ele também sumiu. Fiquei sabendo que ele foi mandado embora do trabalho. Ele tinha muito tempo de empresa.
— Pois é, irmã. O Geraldo foi mandado embora, pegou uma bolada e decidiu abrir um ministério só prá ele. Alugou um salão, abriu uma igreja e a coisa tá indo bem.
— Verdade irmão?
— Ele tá com o ministério dele não faz um ano. Ele já conseguiu comprar uma casa prá ele, só com o trabalho na igreja. Ele montou uma loja de CDs evangélicos na igreja, vende Bíblias, adesivos de geladeira.
— O irmão Geraldo é um homem espiritual, de oração. Ele fala “bunito” e prega só na Bíblia. Deus tá abençoando ele!
— É verdade irmã! Mas tem gente que tá fazendo muito dinheiro sendo pastor.
— O da minha igreja já deve estar rico, ao menos pelo que ele pede e o povo dá. Só que ele não mostra o que tem. É sabido! Anda com o mesmo carrinho velho, mora na mesma casa. De repente a riqueza aparece!
— Tenho que ir, irmã! Fica na bença!
— O irmão também. Vai na bença. Um dia vou lá ver o ministério do irmão Geraldo. Capaz até de mudar prá igreja dele.
Não preciso fazer comentários. A conversa é autoexplicativa e revela o grau de comercialização que a fé se transformou em segmentos bem identificados.
Foi-se o tempo em que igreja era coisa séria, dirigida por gente capacitada, formada em teologia sob a supervisão de um tutor, período experiencial e só então era ordenado.
 Marcos Inhauser