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quarta-feira, 29 de agosto de 2018

ANABATISTAS E O SERMÃO DO MONTE

Na minha caminhada de teologia e igreja, percebi que muitos, como eu durante meus primeiros anos, têm pouca ou nenhuma informação sobre o movimento da Reforma Radical (Anabatistas) e suas contribuições para a teologia reformada.

Uma característica bastante forte na maioria dos grupos anabatistas (Menonitas, Irmandade e Quakers) é a forte ênfase na obediência aos princípios presentes no Sermão da Montanha e mais especialmente nas Bem-aventuranças. Fruto disto é o compromisso radical de vários grupos anabatistas com questões relacionadas à paz e ao ser pacificador. Há várias histórias sobre este compromisso radical.

Uma delas é a relatada no Livro dos Mártires (Mundo Cristão, 2011). Um anabatista estava sendo perseguido por um soldado que o levaria preso e à morte por ser anabatista. Ao cruzar um rio congelado, o gelo se trincou com os passos do anabatista e o soldado, que veio no seu encalço, se afundou no rio gelado. O anabatista voltou, o ajudou a sair do rio e em seguida o soldado o levou preso e à morte. Obediência radical.

Outra história se deu nos Estados Unidos no período da colonização. Durante os anos imediatamente anteriores à Guerra de Independência, alguns da Irmandade se mudaram para uma área na Pennsylvania, chamada Morrison Cove. Ali, com outros colonizadores brancos, começaram a trabalhar na agricultura. Em novembro de 1777, os indígenas atacaram quem estava em Cove. Os da Irmandade não fugiram, nem lutaram contra eles. Cerca de 30 personas da Irmandade foram mortas. À medida que atacavam, os da Irmandade diziam em alemão Gottes Wille sei getham. (“a vontade de Deus seja feita”). Os indígenas se impressionaram com a maneira como suportavam o sofrimento, sem revidar. Muitos anos mais tarde, os antigos indígenas perguntaram se os “Gotswilthans” ainda viviam em Cove. Era a maneira como se lembravam da Irmandade.

Nestes dias, a Igreja da Irmandade da Nigéria deu mais um exemplo concreto de obediência radical. Grande parte das meninas raptadas em uma escola (mais de duzentas) pelo Boko Haran (grupo terrorista que se afirma muçulmano) pertencia à Irmandade. Agora, “no processo de reconstrução de suas vidas após os ataques dos terroristas do Boko Haram, irmãos e irmãs da Igreja da Irmandade na Nigéria (Ekklesiyar Yan’uwa a Nigeria) decidiram reconstruir também suas relações com seus vizinhos muçulmanos. Esse processo não se deu somente através do reestabelecimento do diálogo e da convivência pacífica, tão comuns antes do terror e da divisão imposta pelos terroristas. Eles incluíram em seu projeto a reconstrução de uma mesquita queimada pelo Boko Haram, impactando profundamente os líderes e a comunidade muçulmana local. Decididos a seguir o exemplo de Jesus em sua radicalidade, eles literalmente deram a outra face, não pagaram o mal com o mal, expressando a regra de ouro em sua forma mais concreta: "Portanto, tudo que quereis que os homens vos façam, fazei-o também a eles." (Mateus 7:12)” (dados fornecidos pelo Rev. Musa Mambula, um dos líderes da Igreja da Irmandade na Nigéria).

É também a aplicação concreta dos ensinamentos bíblicos: "Vede que ninguém pague a outro mal por mal. Antes, procurai sempre praticar o bem entre vós e para com todos." (1Ts 5:15) e “procurai a paz da cidade, para a qual fiz que fôsseis levados cativos, e orai por ela ao Senhor: porque na sua paz vós tereis paz." (Jr 29:7).

Como cristão não entendo como há quem apoie quem promove o armamento, a guerra, a violência, etc. Quem é cristão promove a paz!

Marcos Inhauser

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

CRISTOFOBIA: O ÓDIO ASSASSINO

CRISTOFOBIA: ÓDIO ASSASSINO
No Peru houve um movimento guerrilheiro/terrorista chamado Sendero Luminoso. Ele era “metralhadora giratória” porque suas ações eram desprovistas de qualquer lógica.
Lembrei-me deles nestes dias em que o terrorismo ganhou outra vez os noticiários. Mas não quero falar do Charlie Hebdo, mas do Boko Haram, a “metralhadora giratória” que atua na Nigéria.
A Igreja da Irmandade tem um trabalho naquele país que se iniciou em 1923 com missionários que para lá foram. Em 1955 o primeiro pastor nigeriano foi ordenado. A igreja focou seus trabalhos em educação, saúde e agricultura. Escolas foram criadas, serviços médicos oferecidos e projetos agrícolas foram desenvolvidos. A igreja cresceu ao ponto de ser hoje quase o dobro em tamanho que a igreja-mãe, a Church of the Brethren.
Conheci a vários dos pastores desta igreja (EYN - Igreja da Irmandade na Nigéria) no tempo em que estudei e dei aulas no Bethany Theological Seminary. A partir de 2000 comecei a ouvir destes irmãos nigerianos referências ao Boko Haram. As menções se intensificaram e as práticas começaram a ser selvagens: matavam indiscriminadamente, às vezes centenas, outras vezes milhares. Se se quer resumir as intenções deste grupo, pode-se dizer que pretendem instalar um califado islâmico que tenha a lei da Sharia como fundamento e a erradicação de qualquer vestígio de educação ocidental e cristianismo. Eles não pensam duas vezes para aniquilar quem se coloca como obstáculo às suas pretensões.
A EYN teve vários dos seus pastores e membros assassinados, templos queimados, lavouras destruídas, escolas fechadas. Muitas das moças sequestradas em 2014 pertencem à EYN. 96.000 membros da EYN foram obrigados se mudar por causa da violência e necessitam de abrigos, comida e água. Dos 50 Distritos que a EYN tem (grupos de igrejas de uma mesma região geográfica que se coordenam em suas atividades), 37 foram fortemente impactados e 18 foram fechados. 280 pastores e evangelistas tiveram que se mudar e deixar seus templos. Mais de 3.000 membros da EYN já foram mortos. Maiores informações podem ser obtidas no http://www.brethren.org/partners/nigeria/crisis.html e no http://www.brethren.org/partners/nigeria/documents/fact-sheet.pdf.
Esta é uma crise que não acabará em breve. Talvez demore décadas!
O Boko Haram é movido por uma “cristofobia” (termo emprestado do Reinaldo Azevedo). A EYN, tem suas raízes históricas e teológicas alicerçadas no pacifismo (assim como as demais igrejas da paz/anabatistas: Irmandade, Menonitas e Quáqueros). Têm ensinado e praticado a não-violência, mesmo diante das barbáries sofridas. Ser pacifista em meio a esta crise e tanta barbárie gratuita tem sido um grande desafio para os cristãos nigerianos.
Apoio maciço e massivo tem sido prestado aos refugiados que sobrevivem aos extermínios. A Church of the Brethren já mandou este ano mais de 2,8 milhões de dólares para ajudar nesta crise e decidiu colocar um prédio histórico da denominação à venda para levantar fundos para ajudar os nigerianos. Jovens voluntários, membros da Church of the Brethren estão sendo enviados para ajudar aos refugiados, fugitivos e famintos. Movimentos de oração e jejum têm sido promovidos clamando a Deus pela Nigéria e pelos cristãos que lá vivem.

A Igreja da Irmandade no Brasil, ainda que pequena, tem se solidarizado e orado por esta grave situação que a EYN e a Nigéria vivem.