Se se busca informações sobre o conceito de autoafirmação, encontrar-se-ão milhares de artigos e posicionamentos sobre o tema, muitos deles conflitantes. A autoafirmação é a ação que uma pessoa faz para dizer quem ela é, o que faz e o que não sabe fazer.
Assim, há uma autoafirmação que é positiva e necessária para a solidificação da identidade pessoal. Devo saber quem sou, o que gosto, o que não gosto, o que sei fazer bem, o que sei fazer e o faço, mas não com excelência, e o que, decididamente, não sei fazer. Isto devo ter bem claro para mim. Algumas vezes isto deve ser dito aos outros para que saibam quem sou. Faz parte da construção de relacionamentos saudáveis. Ela é saudável e necessária.
Há também uma autoafirmação destrutiva, quando a pessoa se desmerece, se diminui na frente dos outros, se anula nos relacionamentos. Ela acha que não tem qualidades e deixa isto refletir na forma como se relaciona. Ela é corrosiva e deve ser trabalhada.
Há uma autoafirmação repetitiva que é preocupante. Ela é feita pelas pessoas que, sentindo-se inseguras ou não acreditando no que fazem ou posição que têm, precisam dizer repetidas vezes: “eu sou o chefe”, “quem toma decisões aqui sou eu”, “eu tenho o melhor carro”, “quem está na cadeira de chefe sou eu”, “eu sou empreendedor”, “eu sou doutor”, “eu tenho amigos importantes”, “eu apareço nas colunas sociais”, “eu sou uma pessoa religiosa”, “eu sou o cara”, “eu sou uma mulher linda” “não vou admitir que haja interferências nas minhas decisões”, “quem manda em casa sou eu”, “sou bonita”, “sou másculo”, “eu sou bom no que faço”, “eu tenho a caneta” etc.
Esta autoafirmação se dá por causa da enorme carência afetiva que alguns têm. Precisam estar em evidência, ter suas qualidades constantemente reconhecidas. Elas, no íntimo, não acreditam em si mesmas, duvidam que os outros reconheçam suas posições, autoridade e poder. Por isto precisam afirmar diante dos outros e de si mesmos, para, de algum modo convencer e ser convencido. A autoafirmação repetitiva transforma-se em uma manifestação neurótica de se destacar diante dos outros, para ser respeitado, aprovado e enaltecido.
Provavelmente viveram experiências traumáticas, se sentiram desprezados, excluídos ou submetidos às situações humilhantes, sofreram bullying na infância ou adolescência.
O exagero na autoafirmação é mecanismo de compensação porque tem visão alienada do mundo e é recurso para compensar o medo de perder espaço na vida pessoal e social.
Diante de uma pessoa que, sem necessidade, faz autoafirmações e se coloca como superior, o melhor é desconversar e mudar de assunto. O que elas querem é que se concorde com elas ou que se dê espaço para que demonstrem suas “qualidades”.
Estávamos em uma roda de amigos, alguns deles gerentes e diretores de RH. O “autoafirmativo”, novo no grupo, do nada disse que estava fazendo coaching e que seu método era superior. Disse isto e adicionou: “eu tenho muita experiência como diretor de empresa e muita vivência lidando com comportamentos humanos”. Um a um foi se levantando. Ao final ficou falando a um único que permaneceu e que tinha o dom de vítima.
O autoafirmativo arrogante é intragável. Ele quer se convencer que é bom tentando convencer os outros das suas qualidades e estas não são impostas, mas reconhecidas na vivência. Se preciso dizer que sou é porque ninguém está reconhecendo.
Marcos Inhauser
Professor, pastor, teólogo e educador corporativo Textos escritos para a coluna semanal no Correio Popular, da cidade de Campinas e texto escritos depois de 2021, que tratam de temas nacionais, internacionais, sobre igreja e teologia
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Há outros artigos e livros de Marcos e Suely Inhauser à sua disposição no site www.pastoralia.com.br . Vá até lá e confira
quarta-feira, 6 de maio de 2020
quarta-feira, 29 de abril de 2020
O CONTEÚDO IDEOLÓGICO DO PODER
Já dizia o Maquiavel que: “percebendo os grandes (elites) que não podem resistir ao povo, começam a dar reputação a um dos seus elementos e o fazem príncipe, para poder, sob sua sombra, satisfazer seus apetites” (Maquiavel, Cap. IX, parágrafo II). Já disse Marx que o "Estado moderno não passa de um comitê instituído para gerenciar os interesses da Burguesia" (perdi o endereço da citação).
A democracia representativa via eleições que têm um amplo uso da mídia (caríssima) não é jogo para pequenos. Uma campanha para vereador, prefeito, deputado estadual, federal, senador ou presidência exige investimentos muitas vezes superior aos proventos que porventura venham a receber. Se ganha, precisa se locupletar para pagar o que gastou e ainda sair com algum. Se perde e tem o apoio do partido, pode receber algum do fundo partidário. Se não tem, está falido. É um investimento de alto risco!
Há que se considerar também que há um conjunto de regras, leis, decretos e verbas que facilitam a reeleição de quem já são deputados, prefeitos ou presidentes. No caso dos deputados e vereadores, há os assessores que, na verdade, funcionam como cabos eleitorais. No caso dos deputados, além dos assessores, as verbas parlamentares destinadas aos seus redutos eleitorais ajudam a alavancar os votos. Daí porque a renovação das câmaras e senado é mínima.
O coeficiente eleitoral é outro imbróglio, porque elege quem não teve votos, mas está um em partido que tem um Tiririca ou Enéas.
Se se entende que a democracia representativa, via voto popular, deve eleger os que têm a maioria de votos da população, é uma excrescência alguém ser eleito com 30% ou 35% dos votos válidos de uma nação. Ele vai representar a nação 100% com 30% de apoio! O eleito, financiado que foi seja pelo partido (uso de verbas públicas) ou via apoio de empresários ou elite econômica, o foi porque esta gente tem seus interesses que deverão ser defendidos. Ser financiados pela indústria das armas implica em legislar a favor da liberação das armas. A medida provisória 936, foi questionada e, em parte, foi revogada. O dono da Havan, apoiador número 1 do presidente, foi rápido no gatilho: em poucas horas da entrada em vigência ele fez uso dela e demitiu 11.000 funcionários. Parece que sabia de antemão o que iria ser editada. Estes funcionários estão agora em um limbo jurídico.
O Paulo Freire, tão vilipendiado pela atual administração, tem um parágrafo elucidador no seu “Educação como Prática da Liberdade” (pg. 17) “Do ponto de vista das elites, a questão se apresenta de modo claro: trata-se de acomodar as classes populares emergentes, domesticá-las em algum esquema de poder ao gosto das classes dominantes”. As idas e vindas no ministério da Educação mostram este acomodamento. Um ministro incompetente, que mal sabe escrever, que tem o dedo podre porque tudo o que toca vira piada, acomoda os sonhos dos emergentes via Enem e FIES, onde a reprovação é culpa do sonhador e o custo é bancado a posteriori por quem ousou sonhar e “alcançou seu sonho”.
Como um governo que tem 33% de apoio e 67% de rejeição, que tem metade da população querendo o seu impeachment ou renúncia, que troca o Superintendente da PF (Polícia Federal) e a transforma em PF (Polícia Familiar) pode se sustentar? Um piromaníaco que, tendo o incêndio do Corona Vírus não se contenta e ateia mais fogo?
Há segredos obscuros nas salas e cafezinhos de Brasília. Há financiamento inexplicáveis que o STF está tentando desvendar.
Marcos Inhauser
A democracia representativa via eleições que têm um amplo uso da mídia (caríssima) não é jogo para pequenos. Uma campanha para vereador, prefeito, deputado estadual, federal, senador ou presidência exige investimentos muitas vezes superior aos proventos que porventura venham a receber. Se ganha, precisa se locupletar para pagar o que gastou e ainda sair com algum. Se perde e tem o apoio do partido, pode receber algum do fundo partidário. Se não tem, está falido. É um investimento de alto risco!
Há que se considerar também que há um conjunto de regras, leis, decretos e verbas que facilitam a reeleição de quem já são deputados, prefeitos ou presidentes. No caso dos deputados e vereadores, há os assessores que, na verdade, funcionam como cabos eleitorais. No caso dos deputados, além dos assessores, as verbas parlamentares destinadas aos seus redutos eleitorais ajudam a alavancar os votos. Daí porque a renovação das câmaras e senado é mínima.
O coeficiente eleitoral é outro imbróglio, porque elege quem não teve votos, mas está um em partido que tem um Tiririca ou Enéas.
Se se entende que a democracia representativa, via voto popular, deve eleger os que têm a maioria de votos da população, é uma excrescência alguém ser eleito com 30% ou 35% dos votos válidos de uma nação. Ele vai representar a nação 100% com 30% de apoio! O eleito, financiado que foi seja pelo partido (uso de verbas públicas) ou via apoio de empresários ou elite econômica, o foi porque esta gente tem seus interesses que deverão ser defendidos. Ser financiados pela indústria das armas implica em legislar a favor da liberação das armas. A medida provisória 936, foi questionada e, em parte, foi revogada. O dono da Havan, apoiador número 1 do presidente, foi rápido no gatilho: em poucas horas da entrada em vigência ele fez uso dela e demitiu 11.000 funcionários. Parece que sabia de antemão o que iria ser editada. Estes funcionários estão agora em um limbo jurídico.
O Paulo Freire, tão vilipendiado pela atual administração, tem um parágrafo elucidador no seu “Educação como Prática da Liberdade” (pg. 17) “Do ponto de vista das elites, a questão se apresenta de modo claro: trata-se de acomodar as classes populares emergentes, domesticá-las em algum esquema de poder ao gosto das classes dominantes”. As idas e vindas no ministério da Educação mostram este acomodamento. Um ministro incompetente, que mal sabe escrever, que tem o dedo podre porque tudo o que toca vira piada, acomoda os sonhos dos emergentes via Enem e FIES, onde a reprovação é culpa do sonhador e o custo é bancado a posteriori por quem ousou sonhar e “alcançou seu sonho”.
Como um governo que tem 33% de apoio e 67% de rejeição, que tem metade da população querendo o seu impeachment ou renúncia, que troca o Superintendente da PF (Polícia Federal) e a transforma em PF (Polícia Familiar) pode se sustentar? Um piromaníaco que, tendo o incêndio do Corona Vírus não se contenta e ateia mais fogo?
Há segredos obscuros nas salas e cafezinhos de Brasília. Há financiamento inexplicáveis que o STF está tentando desvendar.
Marcos Inhauser
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DOIS DISCURSOS SOBRE A IGNORÂNCIA
Semana passada, o Brasil e o mundo tiveram a possibilidade de ouvir dois discursos por ocasião da posse do novo ministro da Saúde. Foram dois discursos sobre a ignorância.
O discurso do presidente é o da ignorância de alguém que ignora a ciência, os dados estatísticos, a vivência de outras nações, as decisões acertadas e erradas, as lições que delas se podem tirar. É o discurso da ignorância de alguém que, tão somente baseado no seu instinto e premonição pelo achismo, faz afirmações sem base alguma em dados científicos e estatísticos. Nem mesmo as muitas conclusões de estudos sérios sobre a cloroquina, que não trazem resultados definitivos, é levada em conta. Ele as ignora.
O discurso do novo ministro da Saúde também foi o da ignorância. Ele disse que precisava conhecer melhor o SUS, que precisava de mais dados para tomar decisões, que as possíveis flexibilizações seriam feitas a partir de dados que ele não tinha. Ele afirma sua ignorância sobre detalhes da Covid-19.
Há uma diferença substancial entre os dois discursos: o primeiro é o da ignorância porque, deliberadamente, não quer conhecer ou considerar os dados. Não estuda a fundo o assunto e sai fazendo afirmações tresloucadas. Só empata com o ditador da Bielorrússia que diz que a vodca e sauna evitam o contágio. Bolsonaro tem se isolado e isto lhe garantiu o título de “o pior líder mundial a comandar uma reação contra a pandemia do novo coronavírus”. Seu posicionamento tem sido motivo de chacota internacional, a crer no que amigos que moram fora do Brasil me afirmam.
O discurso do Teich é o discurso da ignorância. Ele conhece muito e sabe que há muito mais por conhecer. É o discurso de quem, conhecendo a ciência médica com especialidade em um ramo complexo, a oncologia, sabe que o Corona está dando um baile na comunidade científica internacional. Ele, tal como seu antecessor, afirma que “basta a cada dia a sua surpresa”. Cada dia é um novo dia com novos conhecimentos e mistérios. Até agora não sabem ao certo se a falta de oxigênio é por problema nos pulmões ou na corrente sanguínea que é afetada pelo vírus.
Não é de hoje que pensadores, os mais variados, afirmam que a falta de conhecimento produz certezas absurdas. Quanto menos a pessoa sabe, mais ela acha que está certa. A maior evidência de uma pessoa burra é a somatória de certezas que ela tem. Quem tem conhecimento, que estuda, sabe que há muito mais por conhecer e que, mesmo o que sabe, está sujeito a revisões.
O pré-socrático Empédocles formulou uma teoria para a visão que se revelou maravilhosa para a sua época: vemos as coisas porque os olhos emitem fachos de luz que iluminam o objeto e assim os vemos. Foi preciso Aristóteles fazer uma pergunta certeira: se assim é, por que não enxergamos no escuro? Todo saber pode ser reformulado. Cabe relembrar outro filósofo grego: “desejar violentamente uma coisa é tornar-se cego para as demais” (frag 72).
A sabedoria está em saber o que se sabe, mas sempre estar aberto a novos saberes. A palavra chave da sabedoria é “talvez”, “está é uma possibilidade”, “hoje eu penso que as coisas são assim” e outras afirmações com mesmo sentido conceitual.
Dois discursos: um foi o da estultície; o outro tem sinais de sabedoria.
Marcos Inhauser
O discurso do presidente é o da ignorância de alguém que ignora a ciência, os dados estatísticos, a vivência de outras nações, as decisões acertadas e erradas, as lições que delas se podem tirar. É o discurso da ignorância de alguém que, tão somente baseado no seu instinto e premonição pelo achismo, faz afirmações sem base alguma em dados científicos e estatísticos. Nem mesmo as muitas conclusões de estudos sérios sobre a cloroquina, que não trazem resultados definitivos, é levada em conta. Ele as ignora.
O discurso do novo ministro da Saúde também foi o da ignorância. Ele disse que precisava conhecer melhor o SUS, que precisava de mais dados para tomar decisões, que as possíveis flexibilizações seriam feitas a partir de dados que ele não tinha. Ele afirma sua ignorância sobre detalhes da Covid-19.
Há uma diferença substancial entre os dois discursos: o primeiro é o da ignorância porque, deliberadamente, não quer conhecer ou considerar os dados. Não estuda a fundo o assunto e sai fazendo afirmações tresloucadas. Só empata com o ditador da Bielorrússia que diz que a vodca e sauna evitam o contágio. Bolsonaro tem se isolado e isto lhe garantiu o título de “o pior líder mundial a comandar uma reação contra a pandemia do novo coronavírus”. Seu posicionamento tem sido motivo de chacota internacional, a crer no que amigos que moram fora do Brasil me afirmam.
O discurso do Teich é o discurso da ignorância. Ele conhece muito e sabe que há muito mais por conhecer. É o discurso de quem, conhecendo a ciência médica com especialidade em um ramo complexo, a oncologia, sabe que o Corona está dando um baile na comunidade científica internacional. Ele, tal como seu antecessor, afirma que “basta a cada dia a sua surpresa”. Cada dia é um novo dia com novos conhecimentos e mistérios. Até agora não sabem ao certo se a falta de oxigênio é por problema nos pulmões ou na corrente sanguínea que é afetada pelo vírus.
Não é de hoje que pensadores, os mais variados, afirmam que a falta de conhecimento produz certezas absurdas. Quanto menos a pessoa sabe, mais ela acha que está certa. A maior evidência de uma pessoa burra é a somatória de certezas que ela tem. Quem tem conhecimento, que estuda, sabe que há muito mais por conhecer e que, mesmo o que sabe, está sujeito a revisões.
O pré-socrático Empédocles formulou uma teoria para a visão que se revelou maravilhosa para a sua época: vemos as coisas porque os olhos emitem fachos de luz que iluminam o objeto e assim os vemos. Foi preciso Aristóteles fazer uma pergunta certeira: se assim é, por que não enxergamos no escuro? Todo saber pode ser reformulado. Cabe relembrar outro filósofo grego: “desejar violentamente uma coisa é tornar-se cego para as demais” (frag 72).
A sabedoria está em saber o que se sabe, mas sempre estar aberto a novos saberes. A palavra chave da sabedoria é “talvez”, “está é uma possibilidade”, “hoje eu penso que as coisas são assim” e outras afirmações com mesmo sentido conceitual.
Dois discursos: um foi o da estultície; o outro tem sinais de sabedoria.
Marcos Inhauser
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A QUARENTENA DE JESUS
Relatam os evangelhos (Mateus, Marcos e Lucas) que Jesus entrou em quarentena, logo no início de seu ministério. Os textos afirmam que ele foi levado ao deserto pelo Espírito e o diabo o tentou neste período. O que ele fez foi uma quarentena real porque foram quarenta dias isolado de tudo e todos.
Os relatos também afirmam que ele nada comeu neste período, findo o qual (ou no final dele) Jesus teve fome. Foi quando, espertamente, o diabo o tentou e a primeira das tentações foi transformar pedra em pães.
A primeira coisa que quero salientar deste episódio é que o isolamento social é algo que pode ser visto e encontrado em muitos personagens da história humana, seja ele um isolamento imposto ou autoimposto. No caso de Jesus ficamos com as duas possibilidades: ele foi imposto a Jesus pelo Espírito que o levou ao deserto ou foi autoimposto, em consonância com a terceira pessoa da trindade. Não há motivação externa para este isolamento, a não ser que, guiado pelo Espírito, o foi para ser tentado (no dizer de Mateus e Lucas). Não havia uma epidemia que o obrigasse a tal.
A segunda coisa é que houve privação de alimento durante a quarentena. Tal foi esta privação que o diabo, astuto, fez sua primeira tentação apoiada nesta situação famélica. Jesus percebeu que poderia comer se usasse o que podia fazer, mas que colocava sua vida e ministério em risco.
Estamos em quarentena imposta e há também os que assim estão por autoimposição, conscientes do momento que vivemos e dos riscos que corremos. Muitos são os que, como Jesus, veem minguar as possibilidades de ter e dar alimento aos seus, são tentados a abandonar o isolamento e dedicar-se às coisas que possam trazer o sustento. Há os que, acostumados com a rotina diária de sair e trabalhar, não se sentem confortáveis ficando “engaiolados”. Como passarinhos precisam sair para voar.
Todos, tal como Jesus, estamos tentados a transformar pedras em pães.
A segunda tentação foi a de mostrar o poder de ser imune à queda: “atira-te do pináculo do templo”. Usando do poder e ele poderia dar ordens aos anjos para que o protegessem. Muitos há que, neste tempo de infestação, acham que são intocáveis. Mudam até o salmo e dizem: “Porque ele me livra do laço do corona e desta peste. ... Não temo os terrores da pandemia, nem o vírus que voa de dia, nem peste que anda na escuridão, nem mortandade que assole ao meio-dia. Milhares vão morrer, dez mil à minha direita; mas eu não serei atingido”. (Sl 91).
Tal com o Jesus somos tentados a mostrar nossa fortaleza e o poder de não se contaminar
A terceira tentação foi a de dirigir sua adoração para outra coisa que não fosse Deus. O diabo lhe promete céus e terra. Como podia ele fazer isto se Deus é o criador e mantenedor de tudo e, por conseguinte, o dono de tudo? Estava oferecendo algo que não tinha poderes para oferecer. Nesta quarenta também há os que estão oferecendo o que não podem entregar. Baseados na ignorância que os caracteriza, afirmam e prometem o que não podem concretizar.
Tal como Jesus, somos tentados a adorar quem não tem poder nem para demitir um funcionário seu.
Marcos Inhauser
Os relatos também afirmam que ele nada comeu neste período, findo o qual (ou no final dele) Jesus teve fome. Foi quando, espertamente, o diabo o tentou e a primeira das tentações foi transformar pedra em pães.
A primeira coisa que quero salientar deste episódio é que o isolamento social é algo que pode ser visto e encontrado em muitos personagens da história humana, seja ele um isolamento imposto ou autoimposto. No caso de Jesus ficamos com as duas possibilidades: ele foi imposto a Jesus pelo Espírito que o levou ao deserto ou foi autoimposto, em consonância com a terceira pessoa da trindade. Não há motivação externa para este isolamento, a não ser que, guiado pelo Espírito, o foi para ser tentado (no dizer de Mateus e Lucas). Não havia uma epidemia que o obrigasse a tal.
A segunda coisa é que houve privação de alimento durante a quarentena. Tal foi esta privação que o diabo, astuto, fez sua primeira tentação apoiada nesta situação famélica. Jesus percebeu que poderia comer se usasse o que podia fazer, mas que colocava sua vida e ministério em risco.
Estamos em quarentena imposta e há também os que assim estão por autoimposição, conscientes do momento que vivemos e dos riscos que corremos. Muitos são os que, como Jesus, veem minguar as possibilidades de ter e dar alimento aos seus, são tentados a abandonar o isolamento e dedicar-se às coisas que possam trazer o sustento. Há os que, acostumados com a rotina diária de sair e trabalhar, não se sentem confortáveis ficando “engaiolados”. Como passarinhos precisam sair para voar.
Todos, tal como Jesus, estamos tentados a transformar pedras em pães.
A segunda tentação foi a de mostrar o poder de ser imune à queda: “atira-te do pináculo do templo”. Usando do poder e ele poderia dar ordens aos anjos para que o protegessem. Muitos há que, neste tempo de infestação, acham que são intocáveis. Mudam até o salmo e dizem: “Porque ele me livra do laço do corona e desta peste. ... Não temo os terrores da pandemia, nem o vírus que voa de dia, nem peste que anda na escuridão, nem mortandade que assole ao meio-dia. Milhares vão morrer, dez mil à minha direita; mas eu não serei atingido”. (Sl 91).
Tal com o Jesus somos tentados a mostrar nossa fortaleza e o poder de não se contaminar
A terceira tentação foi a de dirigir sua adoração para outra coisa que não fosse Deus. O diabo lhe promete céus e terra. Como podia ele fazer isto se Deus é o criador e mantenedor de tudo e, por conseguinte, o dono de tudo? Estava oferecendo algo que não tinha poderes para oferecer. Nesta quarenta também há os que estão oferecendo o que não podem entregar. Baseados na ignorância que os caracteriza, afirmam e prometem o que não podem concretizar.
Tal como Jesus, somos tentados a adorar quem não tem poder nem para demitir um funcionário seu.
Marcos Inhauser
quarta-feira, 8 de abril de 2020
O PRIMEIRO ISOLAMENTO SOCIAL
Ao que parece e se considerarmos o relato bíblico, podemos afirmar que o primeiro isolamento social se deu com Noé e sua família. Se se considera que a história bíblica inicia-se com o Abraão, estamos nos referindo a um período da pré-história bíblica.
A narrativa diz que “a terra estava corrompida diante de Deus, e cheia de violência ... eis que estava corrompida; porque toda a carne havia corrompido o seu caminho sobre a terra”. Há aqui um primeiro elemento a ser considerado: havia uma desordem social e moral que reinava. Não sabemos, com certeza, quais elementos influenciavam para esta corrupção da terra, mas o caos havia se instalado.
Creio que situação igual estamos vivendo: uma desordem social promovida pela ganância, onde uma elite detém mais de 50% da riqueza de toda a terra e o resto fica para os outros bilhões de moradores. Há uma desordem social nas relações de trabalho, onde a escravatura não foi abolida e muitos trabalham noite e dia por míseros trocados, para que os donos das empresas andem de jato e gastem fortunas em restaurantes, boutiques e cassinos., iates, etc.
Houve uma sentença: “O fim de toda carne é chegado”. Divinamente instruído, Noé começa a construir a arca, segundo as orientações técnicas que a divindade lhe havia passado. Não é exagero imaginar o quanto ele foi criticado, quantos quiseram demovê-lo da ideia, quanto acharam um absurdo. Ele estava seguro na sua empreitada. Acredito mesmo que deveria haver algum pretenso líder querendo mover as massas via WhatsApp para acabar com a “loucura de Noé”.
No tempo certo a arca foi finalizada e ele, sua esposa seus três filhos com suas respectivas esposas entraram na arca para uma quarentena. Aqui foi literal: quarenta dias de chuva, de infestação!
Tal como o tempo que vivemos, o vírus da inundação veio chegando e foi invadindo e tomando de sobressalto a todos. Era uma inundação democrática: nada escapou, nem primeiro ministro, nem príncipe, nem médico ou secretário da saúde. Os que estavam em isolamento social estavam a salvo.
É verdade que o estresse bateu nos confinados. Estavam doidos para dar uma volta. Noé, prudente e obediente às ordens emanadas da OMS, soltou uma pomba e ela logo regressou e ele concluiu que não era hora de decretar o fim do isolamento. Sete dias mais tarde, novamente soltou a pomba e ela voltou com um galho de oliveira. Sábio como era, Noé conclui que a curva da inundação estava entrando na decrescente. Mas ainda não era hora de sair do isolamento. Mais sete dias. Nova pomba foi solta e esta não mais voltou, pelo que concluiu que já se podia sair do isolamento em segurança.
A família inteira estava a salvo para uma novidade de vida em uma nova terra.
Perceba-se que havia um caos, houve um julgamento dolorido com muitas mortes, para então e só então, haver a novidade, a nova criação.
Acredito que estamos em um processo de juízo sobre a maldade imperante, sobre a estrutura econômica injusta, onde a vontade do Trump se sobrepõe sobre a necessidade de saúde de milhões, o que lhe dá o “direito” de sequestrar equipamentos. Acredito também que estamos em dores gestacionais de uma nova sociedade. Esperemos a pomba não mais voltar para saber que podemos reconstruir.
Marcos Inhauser
A narrativa diz que “a terra estava corrompida diante de Deus, e cheia de violência ... eis que estava corrompida; porque toda a carne havia corrompido o seu caminho sobre a terra”. Há aqui um primeiro elemento a ser considerado: havia uma desordem social e moral que reinava. Não sabemos, com certeza, quais elementos influenciavam para esta corrupção da terra, mas o caos havia se instalado.
Creio que situação igual estamos vivendo: uma desordem social promovida pela ganância, onde uma elite detém mais de 50% da riqueza de toda a terra e o resto fica para os outros bilhões de moradores. Há uma desordem social nas relações de trabalho, onde a escravatura não foi abolida e muitos trabalham noite e dia por míseros trocados, para que os donos das empresas andem de jato e gastem fortunas em restaurantes, boutiques e cassinos., iates, etc.
Houve uma sentença: “O fim de toda carne é chegado”. Divinamente instruído, Noé começa a construir a arca, segundo as orientações técnicas que a divindade lhe havia passado. Não é exagero imaginar o quanto ele foi criticado, quantos quiseram demovê-lo da ideia, quanto acharam um absurdo. Ele estava seguro na sua empreitada. Acredito mesmo que deveria haver algum pretenso líder querendo mover as massas via WhatsApp para acabar com a “loucura de Noé”.
No tempo certo a arca foi finalizada e ele, sua esposa seus três filhos com suas respectivas esposas entraram na arca para uma quarentena. Aqui foi literal: quarenta dias de chuva, de infestação!
Tal como o tempo que vivemos, o vírus da inundação veio chegando e foi invadindo e tomando de sobressalto a todos. Era uma inundação democrática: nada escapou, nem primeiro ministro, nem príncipe, nem médico ou secretário da saúde. Os que estavam em isolamento social estavam a salvo.
É verdade que o estresse bateu nos confinados. Estavam doidos para dar uma volta. Noé, prudente e obediente às ordens emanadas da OMS, soltou uma pomba e ela logo regressou e ele concluiu que não era hora de decretar o fim do isolamento. Sete dias mais tarde, novamente soltou a pomba e ela voltou com um galho de oliveira. Sábio como era, Noé conclui que a curva da inundação estava entrando na decrescente. Mas ainda não era hora de sair do isolamento. Mais sete dias. Nova pomba foi solta e esta não mais voltou, pelo que concluiu que já se podia sair do isolamento em segurança.
A família inteira estava a salvo para uma novidade de vida em uma nova terra.
Perceba-se que havia um caos, houve um julgamento dolorido com muitas mortes, para então e só então, haver a novidade, a nova criação.
Acredito que estamos em um processo de juízo sobre a maldade imperante, sobre a estrutura econômica injusta, onde a vontade do Trump se sobrepõe sobre a necessidade de saúde de milhões, o que lhe dá o “direito” de sequestrar equipamentos. Acredito também que estamos em dores gestacionais de uma nova sociedade. Esperemos a pomba não mais voltar para saber que podemos reconstruir.
Marcos Inhauser
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quarta-feira, 1 de abril de 2020
(RE)FLEXÕES
Flexão é o dobrar-se,
curvar-se. Também se aplica à ginástica no sentido de exercícios específicos
feitos. Reflexão é aqui usada em sentido diverso do dicionário, onde ela
significa “Ação ou efeito de
refletir, de se desviar da direção original; meditação, pensamento ou análise
detalhada sobre um assunto, sobre si próprio ou sobre algum problema ou
sentimento; atributo de quem se comporta com prudência.” Eu aqui o
emprego no sentido de algo sobre o qual, mais uma vez me ponho a exercitar a
capacidade (sic) interpretativa sobre algo que me parece complicado e não tenho
respostas.
Assim, a (re)flexão que quero trazer está baseada em um dos Salmos
bíblicos, o 42: “Por que estás
abatida, ó minha alma, e por que te perturbas dentro de mim? Espera em Deus,
pois ainda o louvarei pela salvação que há na sua presença. Ó Deus meu, dentro de mim a minha alma
está abatida; ... Um abismo chama outro abismo ao ruído
das tuas catadupas; todas as tuas ondas e vagas têm passado sobre mim. Contudo, de dia o Senhor ordena a sua
bondade, e de noite a sua canção está comigo, uma oração ao Deus da minha vida. A Deus, a minha rocha, digo: Por que te
esqueceste de mim? por que ando em pranto por causa da opressão do inimigo? Como com ferida mortal nos meus ossos
me afrontam os meus adversários, dizendo-me continuamente: Onde está o teu
Deus? Por que estás abatida, ó minha alma, e
por que te perturbas dentro de mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei, a
ele que é o meu socorro, e o meu Deus.”
O
que me intriga é o trecho que “um
abismo chama outro abismo ao ruído das tuas catadupas; todas as tuas ondas e
vagas têm passado sobre mim” onde se vê um indicativo para o juízo
de Deus.
No
contexto da crise que vivemos, tenho recebido muitos vídeos, mensagens, áudios
e memes. O que tem me irritado é quantidade de apocalipsistas que têm se
levantado para declarar com a autoridade de um asno que o corona é um vírus comunista,
que saiu de um país comunista, que é o Satanás em forma de vírus, que é o castigo
de Deus sobre as iniquidades da humanidade, que é sinal da segunda vinda de
Jesus, que é uma das bestas apocalíticas, etc.
Outros,
menos terroristas, afirmam que Deus está usando um microrganismo de DNA
bastante simples para aplacar a arrogância dos governantes mundiais e da elite
capitalista. É Deus fazendo seu juízo sobre a soberba humana.
Eu
me pergunto: se o Corona é obra de Deus como castigo, como é que o salmista, em
situação ao que parece mais ou menos idêntica à que vivemos hoje, me pede para me
aquietar, para experimentar a bondade de Deus, para cantar de manhã e à noite?
Se a bondade de Deus está comigo, por que Ele permite que os inimigos zombem de
mim e me façam sofrer ainda mais? Se é castigo de Deus para os soberbos e
gananciosos, porque eu, que não sou ganancioso, avarento ou explorador do
próximo devo sofrer? Se o Corona é castigo de Deus, todos devem ser castigados,
especialmente os mais velhos e com comorbidades?
Não
tenho respostas e estou aberto para ouvir quem, com seriedade, queira ajudar a trazer
luz para este texto.
Marcos
Inhauser
Marcadores:
castigo de Deus,
juízo indiscriminado,
Salmo 42
quarta-feira, 25 de março de 2020
MAQUIAVELISMO VIRÓTICO
Não concordo com nada do que a seguir vou dizer. Trata-se de
um exercício de realismo fantástico.
Está assentado por todas as fontes confiáveis que a Covid-19
ataca a todos indistintamente, sendo que, na população com mais de 60 anos e portadora
de alguma comorbidade, ele é fatal com taxas superiores às outras idades.
Imagine que ministros da Economia de alguns países, sejam
formados e orientados pelas ideias de Nicolau Maquiavel, aquele que, entre
outras coisas disse que “os fins justificam os meios” e o “mal se deve fazer de uma só vez e o bem
deve vir a prestação” (citei as ideias e não as frases exatas). Imagine que
estes ministros e o governo que eles participam têm sérios problemas com a
Previdência, especialmente porque a idade da população está aumentando
exponencialmente. Imagine que eles fazem cálculos, puxam daqui, esticam dali e
não encontram onde arrumar oxigênio para manter esta população geriátrica viva
ou mesmo como diminuir os custos sociais e médicos que tal parcela da população
acarreta.
Estes ministros enviam aos Congresso dos seus países projetos
de Reforma da Previdência e enfrentam forte resistência da população, da mídia,
da parte afetada e, especialmente, dos funcionários públicos (do legislativo,
executivo e judiciário) porque a pressão para que seus salários de marajá sejam
reduzidos é muito forte. Os ministros já retardaram as aposentadorias, mexeram
nos benefícios, precarizaram a saúde para ver se a geriatria desistia de ir a
hospitais. A reforma sai capenga, mas sem mexer no grande problema: os velhos
aumentam como juros de agiota e os marajás continuam carvalhos: “imexíveis”.
Aí vem o Corona!
Há clamor popular para que se tomem medidas, mas os mesmos
que pedem providências têm dificuldades em aceitar o autoexílio. Os chefes-mor
minimizam e dizem que é gripezinha. Alguns outros líderes de países fazem coro.
Conversas prá todo lado, simulações mil sobre a curva de
infecção e a possibilidade de achatamento dela para que o sistema de saúde não
se colapse, os primeiros casos de morte são idosos que estavam no Sistema
Privado de Saúde, fala-se no pior, prepara-se a população para um genocídio
etário, entenda-se geriátrico. Aventa-se a impossibilidade de ter isolamento
nas periferias das grandes cidades, fala-se da Índia, Bangadlesh, Afeganistão, a
falta de água e sabão em muitas residências, compara-se a Itália, com a China,
Coreia, Alemanha, França, Reino Unido. Acentuam-se as cores na quantidade de
velhos morrendo. É uma forma sub-reptícia de dizer: preparem-se, os velhos
morrerão.
Neste turbilhão liberam-se a astronômicas quantidades de
recursos para aumentar o número de leitos e UTIs que não se sabe se vão se
tornar reais nas proporções prometidas. Especialistas criticam a decisão. Alguns
altruístas destinam pequena parcela de suas polpudas reservas para que o
sistema de saúde tenha mais uns segundos de sobrevida. O tempo corre e a curva
das mortes se acentua. Montam-se esquemas alternativos. O povo é destinatário
de um monte de Fake News e a internet colapsa pela quantidade de gente em casa
usando streaming. Surgem profetas, pregadores, especialistas, residentes em
algum canto infestado, todos trazendo sua verdade sobre a crise, reforçando a
ideia que é esperar que vai passar. Tudo vai dar certo! Vejam a China!
Pouca conversa de vizinhança, nada de papo de boteco onde as
coisas podem ter uma interpretação diferente da mídia dominante.
Os maquiavélicos, em seus gabinetes desinfetados e imunes à
desgraça, esperam a Reforma da Previdência que a natureza está promovendo. No
final da crise, muitos dos aposentados não mais terão que ser pagos porque
morreram. Alivia-se a curva ascendente e agora descendente dos gastos
previdenciários. O fim da geriatria vai se conquistando. Uma nova realidade
Previdência se implantará, graças a Maquiavel e seus seguidores.
Quem sobrou vivo vai dar graças a Deus por ter escapado do
vírus. E a massa ignara aplaudirá os esforços feitos pelas “otoridades”.
As cenas aqui descritas são pura ficção e não têm nenhuma
semelhança com qualquer fato real. Quem assim interpretar está dá sinais de que
é analfabeto.
Marcos Inhauser
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quarta-feira, 18 de março de 2020
MINHA EXPERIÊNCIA COM O CORONA
Viajei dos Estados Unidos para o Brasil no dia 01 de março,
chegando ao Brasil no dia 02 pela manhã. Tinha estado na Califórnia (clima
ameno) e Dayton – OH e Richmond – IN (climas bastante severos, com nevadas e temperaturas
abaixo de zero).
Ao chegar fui visitar minha mãe no hospital, pois a mesma,
com 90 anos de idade, havia sofrido uma queda e quebrado o fêmur. Na terça, dia
03 voltei a visitá-la na parte da manhã, mas, depois do almoço comecei a ter
tosse, coriza, febre de 39 e muitas dores pelo corpo. Liguei para o SAMU
pedindo orientação sobre como ser atendido e eles, depois várias pessoas que
não quiseram dar instruções (isto eu ouvia pelo telefone, ao fundo), uma delas
veio e me disse que deveria ir ao Pronto Socorro. Achei um tanto estranha a
orientação, pois, se estava infectado para um local de concentração de pessoas.
Fiz segundo a orientação recebida e me dirigi, acompanhado
de minha esposa, para o pronto socorro de um hospital de Campinas. Ela se dirigiu
ao balcão, falou da suspeita e imediatamente me levaram para uma sala isolada.
Até aí, tudo bem. A minha surpresa e estarrecimento começou quando médico
plantonista, sem nenhuma proteção que o caso exige, entrou na sala, pediu que
eu abrisse a minha boca, disse que estava com secreção de pus, mas que não era
corona porque não havia caso “autóctone”. Argumentei que estava chegando dos
Estados Unidos e que não se tratava de um caso autóctone brasileiro. Ele
reafirmou que não havia “casos autóctones nos Estados Unidos” e que,
definitivamente eu não estava com o corona vírus. Ele me deixou ali mais um
tempo, minha esposa depois for ver o que que estava acontecendo e ele disse que
eu não estava com dengue e que deveria tomar dipirona para a febre. Voltei para
casa e, por conta própria, decidi entrar em isolamento.
Na sexta-feira o quadro se gravou e voltei a outro Pronto
Socorro. Fui atendido com a presteza e cuidados que o quadro ameritava. O
médico, todo paramentado com vestes apropriadas me examinou, fez uma série de
perguntas e colheram material para o teste. Disse que iria me deixar em
isolamento porque eu apresentava ciclos respiratórios curtos. Argumentei que
tinha condições de ficar em isolamento em minha casa e que me comprometi a
voltar caso o quadro se modificasse. Nisto estou desde o dia 6 de março.
Tal como orientado, nos primeiros dias, recebi chamadas telefônicas
de controle, buscando informações sobre meu quadro. Comecei a perguntar sobre o
resultado do teste e nada de me darem resposta conclusiva. Houve um dia em que
eu disse que estava em isolamento e assim permaneceria por consciência da
gravidade e que minha permanência não dependia do controle deles. Que eu estava
fazendo a minha parte e que estava esperando que eles fizessem a parte deles: o
resultado do teste. Nunca mais me ligaram!
Acionei alguns contatos e um deles, que tem acesso aos
resultados do Fiocruz, me informou que meu resultado só sairá no dia 06 de
abril! Fiquei indignado. Voltei ao hospital, mesmo porque a tosse persiste em
ficar, e novo teste foi feito, cujo resultado demora quatro dia úteis! Não
sabia que o corona trabalha só nos dias de semana.
Aqui estou de molho há 14 dias, sem perspectiva de alta e
sem saber se o que tenho é o corona. Descobri que a mídia do governo é muito
melhor que a prática, que, mesmo com um plano de saúde, estou nesta pendência e
espera. O que será dos que precisam e precisarão nos momentos de pico da
pandemia? Não quero nem pensar!
Marcos Inhauser
quarta-feira, 11 de março de 2020
A DURA BENÇÃO
Foi em julho de 1991 quando assisti ao primeiro curso com
vistas ao meu mestrado. Tratava do processo de envelhecimento e o fazia em duas
dimensões: o crescente envelhecimento da nação estadunidense (de resto, verdade
para todas as demais) e o processo de envelhecimento individual, com os
cuidados, custos e atenção que se deve dar a ele. Lembro-me, com bastante
clareza, de muita coisa que foi passada, seja pele dificuldade inicial com a
língua, seja porque apresentou alguns dados que nunca havia pensado.
Um deles, que me marcou muito, foi o processo visto como um
retorno à infância. Nascemos precisando que nos carreguem, que nos deem comida
na boca, dependentes, carentes afetivamente, vamos ganhando corpo, forças e, a
cada dia, vamos nos libertando da dependência ao ponto de, em certo momento,
podermos andar sozinhos. E assim caminhamos até o dia em que a idade nos tira
parte das forças das pernas, nos torna mais dependentes, a cada dia temos uma
nova necessidade de ajuda, precisamos que alguém volte a colocar a comida na
nossa boca e voltamos a usar fraldas.
Cuidar de um bebê é cuidar da esperança: amanhã ele vai
estar maior, mais seguro, mais forte e logo, logo, vai andar sozinho. Cuidar do
ancião é o cuidado sem esperança: a cada dia uma coisa nova a definhar e tirar
energias. É o cuidado da graça que cuida sem esperar retorno.
Na época em que estudei isto, fiquei impactado, mas uma
coisa é saber a outra é viver. Nos últimos sete anos tive minha mãe morando
comigo. Ela veio com 83 anos, estava bem, andava, fazia tudo, comia de tudo. À
medida que foi envelhecendo com a gente, percebemos que passou a dormir mais
tempo, a ter menos energia para certas coisas, resmungava quando tinha que
tomar banho, ficou mais agressiva nas respostas, confundia datas, não se
recordava com precisão certas coisas fundamentais da sua vida. Fomos
acompanhando este processo dia-após-dia e nos certificando que a velhice é um
processo de infantilização.
No curso que mencionei, por se tratar de um Seminário, deu-se
muita atenção ao conceito da benção que se tem ao cuidar dos pais. Sempre
acreditei nisto e vivi isto nos dias em que tivemos minha mãe conosco. Foram momentos
alegres e difíceis, houve momentos prazerosos e outros em que deu vontade de
mandar para uma clínica. Sempre pensei que ela seria tratada por estranhos.
Aqui, por mais difícil que fosse, era um filho e uma nora cuidando dela.
Sabíamos que ela orava todos os dias por nós e todos os
dias, antes de ir deitar ela vinha orar comigo. Era sempre a mesma oração que
ela havia aprendido na infância e que, em certa parte, ela dava uma ênfase
peculiar: “... e pela noite gostoooooosa que Tu vais nos dar”. Quando
precisávamos sair à noite para uma visita ou compras ela ficava sentada na sala
esperando a nossa volta, não importando o horário que voltávamos. Havia nela um
cuidado e a ideia mágica de ficar nos esperando nos guardaria. Mas não era
mágica: ela ficava orando pela nossa volta. Quando chegávamos, invariavelmente,
ela nos recebia com um “bem vindos” espontâneo e acolhedor. Vou sentir falta
disto e da oração repetida ao dormir.
Seu sonho era chegar aos 90 anos, idade que ninguém da sua
extensa família havia chegado. Ela chegou, celebrou seus 90 anos em grande
estilo reunindo os parentes e se recolheu para os paramos celestiais. Deixou e
exemplo de uma mulher forte, dedicada, fiel ao Senhor e mãe admirada pelos
filhos, noras e netos. Foi trabalhoso, mas valeu pela benção de tê-lo conosco
até os últimos momentos.
Marcos Inhauser
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quarta-feira, 4 de março de 2020
CADÊ OS PROFETAS?
Não é de hoje que me preocupo com a dimensão profética da
igreja. Não me refiro às profetadas, tão comum em centros de adivinhações e
chutes prognósticos, nem aos “porta-vozes de Deus” que manipulam a vida de
incautos, mas à dimensão veterotestamentária: pessoas vocacionadas para
diagnosticar o presente, denunciar os pecados individuais, sejam eles cometidos
por pessoas simples como pelos reis, e o pecado nacional (tão esquecido pelos
púlpitos e dos animadores de auditório religioso). Falo do pro+phemi, do pro+phetai,
dos Isaías, Jeremias, Amós, Habacuques modernos.
Lembro-me de ter conversado com o presidente de uma igreja
protestante de Cuba em 1989, que me falava das maravilhas do ser igreja naquela
nação, da liberdade que tinham em pregar e evangelizar dentro das quatro
paredes, da dimensão querigmática, diacônica, didática que estavam exercendo.
Quando lhe perguntei sobre a dimensão profética, senti que ele se encolheu mais
que maracujá maduro. E respondeu que tudo tem seu tempo.
O mesmo aconteceu com um renomado pastor guatemalteco,
diretor de seminário e aclamado como teólogo, que em uma reunião de seminários
em Campinas, dizia ser a Guatemala o país latino americano mais evangélico e
evangelizado em todo o continente. Na hora das perguntas eu lhe perguntei como
explicava o fato de ser (falo de 1990) o país mais violento politicamente da
América. Ele me disse que não estava ali para falar de política. Mas este
homem, quando pastor de uma igreja que fica atrás do Palácio Nacional, permitiu
que tropas do Exército se colocassem na torre da Igreja para vigiar e atirar
nos manifestantes. E ele sabia que eu sabia disto, porque estive na sua igreja
e constatei isto.
Olho para a igreja brasileira e fico a procurar profetas no
sentido bíblico e não os encontro. Conheci o Federico Pagura, argentino,
metodista, um p(r)o(f)eta, mistura de profeta e poeta. Conheci o Dom Pedro
Casaldáliga, outro p(r)o(f)eta. Li sobre o Helder Câmara e o respeitei e o
respeito. E entre os evangélicos? Quem foi ou é profeta? Quem está levantando
de forma profética e poética sua voz para denunciar os escândalos, os
desmandos, a locupletação da coisa pública, as hienas do erário, o dono do
Maranhão, os boquirrotos?
Que igreja é esta, muito mais conhecida pelos “louvores”, solicitação
de ofertas e dízimos, pelos escândalos de seus “líderes”, pela falta de ética em
seus vereadores, deputados e senadores? Que igreja é esta que seus líderes gostam
mais de holofotes, de palcos, multidões, carrões, televisão, rádio que ter cara e
coragem para denunciar os políticos? Quem é profeta nesta igreja brasileira?
Quem está dando sua cara? Onde estão os Jeremias, Amós, Habacuques, Isaías,
Miquéias?
Não temos profetas porque a igreja evangélica brasileira não
prega sobre o pobre e o empobrecido, sofre as viúvas e órfãos, sobre a
injustiça no campo e na cidade. A igreja brasileira produziu gramáticos como
bem cita Eber Ferreira da Silva em sua tese (Eduardo Carlos Pereira, Othoniel
Motta, Erasmo Braga, Francisco Augusto Pereira Junior, entre outros). Mas
profetas? ... Nunca!
Esta é uma igreja manca porque sua teologia está centrada em
uma só perna. Enferma, deficiente, anormal, porque prega um evangelho pela
metade, só prega o que interessa ao grande público e não confronta os
empoderados. Falta-lhe coragem para o ministério que não dá holofotes, que mais
leva às cavernas que aos palcos. Uma igreja que tem mais cantores e milagreiros
que pastores e profetas. Uma igreja que tem mais animadores de auditório que
doutrinadores, que tem mais excitação que adoração, mais embusteiros que
mensageiros.
Marcos Inhauser
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