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quarta-feira, 29 de abril de 2020

DOIS DISCURSOS SOBRE A IGNORÂNCIA

Semana passada, o Brasil e o mundo tiveram a possibilidade de ouvir dois discursos por ocasião da posse do novo ministro da Saúde. Foram dois discursos sobre a ignorância.

O discurso do presidente é o da ignorância de alguém que ignora a ciência, os dados estatísticos, a vivência de outras nações, as decisões acertadas e erradas, as lições que delas se podem tirar. É o discurso da ignorância de alguém que, tão somente baseado no seu instinto e premonição pelo achismo, faz afirmações sem base alguma em dados científicos e estatísticos. Nem mesmo as muitas conclusões de estudos sérios sobre a cloroquina, que não trazem resultados definitivos, é levada em conta. Ele as ignora.

O discurso do novo ministro da Saúde também foi o da ignorância. Ele disse que precisava conhecer melhor o SUS, que precisava de mais dados para tomar decisões, que as possíveis flexibilizações seriam feitas a partir de dados que ele não tinha. Ele afirma sua ignorância sobre detalhes da Covid-19.

Há uma diferença substancial entre os dois discursos: o primeiro é o da ignorância porque, deliberadamente, não quer conhecer ou considerar os dados. Não estuda a fundo o assunto e sai fazendo afirmações tresloucadas. Só empata com o ditador da Bielorrússia que diz que a vodca e sauna evitam o contágio. Bolsonaro tem se isolado e isto lhe garantiu o título de “o pior líder mundial a comandar uma reação contra a pandemia do novo coronavírus”. Seu posicionamento tem sido motivo de chacota internacional, a crer no que amigos que moram fora do Brasil me afirmam.

O discurso do Teich é o discurso da ignorância. Ele conhece muito e sabe que há muito mais por conhecer. É o discurso de quem, conhecendo a ciência médica com especialidade em um ramo complexo, a oncologia, sabe que o Corona está dando um baile na comunidade científica internacional. Ele, tal como seu antecessor, afirma que “basta a cada dia a sua surpresa”. Cada dia é um novo dia com novos conhecimentos e mistérios. Até agora não sabem ao certo se a falta de oxigênio é por problema nos pulmões ou na corrente sanguínea que é afetada pelo vírus.

Não é de hoje que pensadores, os mais variados, afirmam que a falta de conhecimento produz certezas absurdas. Quanto menos a pessoa sabe, mais ela acha que está certa. A maior evidência de uma pessoa burra é a somatória de certezas que ela tem. Quem tem conhecimento, que estuda, sabe que há muito mais por conhecer e que, mesmo o que sabe, está sujeito a revisões.

O pré-socrático Empédocles formulou uma teoria para a visão que se revelou maravilhosa para a sua época: vemos as coisas porque os olhos emitem fachos de luz que iluminam o objeto e assim os vemos. Foi preciso Aristóteles fazer uma pergunta certeira: se assim é, por que não enxergamos no escuro? Todo saber pode ser reformulado. Cabe relembrar outro filósofo grego: “desejar violentamente uma coisa é tornar-se cego para as demais” (frag 72).

A sabedoria está em saber o que se sabe, mas sempre estar aberto a novos saberes. A palavra chave da sabedoria é “talvez”, “está é uma possibilidade”, “hoje eu penso que as coisas são assim” e outras afirmações com mesmo sentido conceitual.

Dois discursos: um foi o da estultície; o outro tem sinais de sabedoria.

Marcos Inhauser