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quarta-feira, 4 de março de 2020

CADÊ OS PROFETAS?


Não é de hoje que me preocupo com a dimensão profética da igreja. Não me refiro às profetadas, tão comum em centros de adivinhações e chutes prognósticos, nem aos “porta-vozes de Deus” que manipulam a vida de incautos, mas à dimensão veterotestamentária: pessoas vocacionadas para diagnosticar o presente, denunciar os pecados individuais, sejam eles cometidos por pessoas simples como pelos reis, e o pecado nacional (tão esquecido pelos púlpitos e dos animadores de auditório religioso). Falo do pro+phemi, do pro+phetai, dos Isaías, Jeremias, Amós, Habacuques modernos.
Lembro-me de ter conversado com o presidente de uma igreja protestante de Cuba em 1989, que me falava das maravilhas do ser igreja naquela nação, da liberdade que tinham em pregar e evangelizar dentro das quatro paredes, da dimensão querigmática, diacônica, didática que estavam exercendo. Quando lhe perguntei sobre a dimensão profética, senti que ele se encolheu mais que maracujá maduro. E respondeu que tudo tem seu tempo.
O mesmo aconteceu com um renomado pastor guatemalteco, diretor de seminário e aclamado como teólogo, que em uma reunião de seminários em Campinas, dizia ser a Guatemala o país latino americano mais evangélico e evangelizado em todo o continente. Na hora das perguntas eu lhe perguntei como explicava o fato de ser (falo de 1990) o país mais violento politicamente da América. Ele me disse que não estava ali para falar de política. Mas este homem, quando pastor de uma igreja que fica atrás do Palácio Nacional, permitiu que tropas do Exército se colocassem na torre da Igreja para vigiar e atirar nos manifestantes. E ele sabia que eu sabia disto, porque estive na sua igreja e constatei isto.
Olho para a igreja brasileira e fico a procurar profetas no sentido bíblico e não os encontro. Conheci o Federico Pagura, argentino, metodista, um p(r)o(f)eta, mistura de profeta e poeta. Conheci o Dom Pedro Casaldáliga, outro p(r)o(f)eta. Li sobre o Helder Câmara e o respeitei e o respeito. E entre os evangélicos? Quem foi ou é profeta? Quem está levantando de forma profética e poética sua voz para denunciar os escândalos, os desmandos, a locupletação da coisa pública, as hienas do erário, o dono do Maranhão, os boquirrotos?
Que igreja é esta, muito mais conhecida pelos “louvores”, solicitação de ofertas e dízimos, pelos escândalos de seus “líderes”, pela falta de ética em seus vereadores, deputados e senadores? Que igreja é esta que seus líderes gostam mais de holofotes, de palcos, multidões,  carrões, televisão, rádio que ter cara e coragem para denunciar os políticos? Quem é profeta nesta igreja brasileira? Quem está dando sua cara? Onde estão os Jeremias, Amós, Habacuques, Isaías, Miquéias?
Não temos profetas porque a igreja evangélica brasileira não prega sobre o pobre e o empobrecido, sofre as viúvas e órfãos, sobre a injustiça no campo e na cidade. A igreja brasileira produziu gramáticos como bem cita Eber Ferreira da Silva em sua tese (Eduardo Carlos Pereira, Othoniel Motta, Erasmo Braga, Francisco Augusto Pereira Junior, entre outros). Mas profetas? ... Nunca!
Esta é uma igreja manca porque sua teologia está centrada em uma só perna. Enferma, deficiente, anormal, porque prega um evangelho pela metade, só prega o que interessa ao grande público e não confronta os empoderados. Falta-lhe coragem para o ministério que não dá holofotes, que mais leva às cavernas que aos palcos. Uma igreja que tem mais cantores e milagreiros que pastores e profetas. Uma igreja que tem mais animadores de auditório que doutrinadores, que tem mais excitação que adoração, mais embusteiros que mensageiros.
Marcos Inhauser

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