Não tive paciência para ver o depoimento do Duque na CPI. Vi
depois alguns flashes, o primeiro deles de que “há tempo de falar e há tempo de
se calar”. A partir daí, pelo que li, foi uma repetição das frases: “reservo-me
no direito de ficar em silêncio” e a variante “reservo-me no direito de ficar
calado”. Isto me levou a aprofundar algo que venho meditando há tempos, que é o
significado e os tipos de silêncio.
Há o silêncio do ignorante. Ele não fala nada porque não tem
nada para falar. Seu cérebro não tem informações para poder dizer qualquer
coisa significativa. E, para não dar vexame, se fecha em copas. Ele sabe que
não sabe. Este é um silêncio raro, porque o ignorante, no mais das vezes, é
boquirroto e tem respostas e soluções para tudo. Já pensei que a ignorância é
diretamente proporcional à quantidade de palavras ditas. Neste capítulo há o
silêncio do ignorante honesto que, quando perguntado, ele diz: “não sei”, “não
tenho como explicar” e sua resposta lacônica é honesta.
Há o silêncio conveniente. A pessoa não fala porque, se
falar, se incrimina. O não produzir provas contra si é um direito reconhecido
em quase todas as nações sérias que tenham um regramento constitucional que
mereça o nome. Neste quesito se inserem os silêncios dos muitos “depoimentos”
que se tentou fazer nas CPIs e que os convocados, baseados ou não em liminar,
faziam valer o direito ao silêncio. Deve-se notar que o Duque, quando
perguntado se conhecia o Vaccari (o que é sabido de todos que, sim, conhecia)
preferiu manter-se em silêncio.
Há o silêncio cúmplice. Na máfia há a omertà que é o pacto de silêncio cúmplice, para que ninguém seja
dedurado pelos companheiros. O Barusco e o Paulo Roberto Costa quebraram a omertà e deduraram meio mundo! O
silêncio do Delúbio e agora do Vaccari se enquadram nesta categoria, pois, se
abrirem a boca, ferram com todo mundo. A omertà
do dono da UTC, Ricardo Pessoa, também, se mantido, pode ser colocado dentro
desta categoria.
Outra modalidade é o silêncio reflexivo. A pessoa permanece
calada, quieta, não porque não tenha nada a dizer, nem porque não quer se
incriminar, nem é um ato de cumplicidade com a companheirada, mas porque,
diante dos fatos e novidades, precisa de tempo para ler, ver, diagnosticar,
avaliar o diagnóstico, para só então falar. É o silêncio da prudência!
Há o silêncio da sabedoria. Se o ignorante, no mais das
vezes, fala pelos cotovelos, dando respostas a tudo e ensinando todo mundo, o
sábio só fala quando solicitado e mesmo assim, fala com parcimônia. Fala o estritamente
necessário. O sábio, ao falar, não se delonga, não dá reposta prontas, antes
instiga os ouvintes a se perguntarem e acharem por si mesmos respostas para as
questões que a ele foram dirigidas.
Ainda se pode dizer do silêncio inquisitivo. A pessoa fica
em silêncio e no seu silêncio todas as perguntas e respostas são possíveis. Ele
não fala, mas obriga os outros a falarem e explicitarem o que estão pensando. É
um silêncio angustiante para quem o recebe, porque nele cabem todas as
possibilidades. Este silêncio também é o
da sabedoria. Ele obriga as pessoas a se posicionarem, a se definirem, sob
risco próprio. Nunca poderão se valer das palavras do sábio, porque elas não
virão.
Para os que não gostam de pensar e querem respostas prontas
e esclarecedoras, o silêncio é cruel, mas enriquecedor.