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domingo, 29 de março de 2015

TIPOS DE SILÊNCIO

Não tive paciência para ver o depoimento do Duque na CPI. Vi depois alguns flashes, o primeiro deles de que “há tempo de falar e há tempo de se calar”. A partir daí, pelo que li, foi uma repetição das frases: “reservo-me no direito de ficar em silêncio” e a variante “reservo-me no direito de ficar calado”. Isto me levou a aprofundar algo que venho meditando há tempos, que é o significado e os tipos de silêncio.
Há o silêncio do ignorante. Ele não fala nada porque não tem nada para falar. Seu cérebro não tem informações para poder dizer qualquer coisa significativa. E, para não dar vexame, se fecha em copas. Ele sabe que não sabe. Este é um silêncio raro, porque o ignorante, no mais das vezes, é boquirroto e tem respostas e soluções para tudo. Já pensei que a ignorância é diretamente proporcional à quantidade de palavras ditas. Neste capítulo há o silêncio do ignorante honesto que, quando perguntado, ele diz: “não sei”, “não tenho como explicar” e sua resposta lacônica é honesta.
Há o silêncio conveniente. A pessoa não fala porque, se falar, se incrimina. O não produzir provas contra si é um direito reconhecido em quase todas as nações sérias que tenham um regramento constitucional que mereça o nome. Neste quesito se inserem os silêncios dos muitos “depoimentos” que se tentou fazer nas CPIs e que os convocados, baseados ou não em liminar, faziam valer o direito ao silêncio. Deve-se notar que o Duque, quando perguntado se conhecia o Vaccari (o que é sabido de todos que, sim, conhecia) preferiu manter-se em silêncio.
Há o silêncio cúmplice. Na máfia há a omertà que é o pacto de silêncio cúmplice, para que ninguém seja dedurado pelos companheiros. O Barusco e o Paulo Roberto Costa quebraram a omertà e deduraram meio mundo! O silêncio do Delúbio e agora do Vaccari se enquadram nesta categoria, pois, se abrirem a boca, ferram com todo mundo. A omertà do dono da UTC, Ricardo Pessoa, também, se mantido, pode ser colocado dentro desta categoria.
Outra modalidade é o silêncio reflexivo. A pessoa permanece calada, quieta, não porque não tenha nada a dizer, nem porque não quer se incriminar, nem é um ato de cumplicidade com a companheirada, mas porque, diante dos fatos e novidades, precisa de tempo para ler, ver, diagnosticar, avaliar o diagnóstico, para só então falar. É o silêncio da prudência!
Há o silêncio da sabedoria. Se o ignorante, no mais das vezes, fala pelos cotovelos, dando respostas a tudo e ensinando todo mundo, o sábio só fala quando solicitado e mesmo assim, fala com parcimônia. Fala o estritamente necessário. O sábio, ao falar, não se delonga, não dá reposta prontas, antes instiga os ouvintes a se perguntarem e acharem por si mesmos respostas para as questões que a ele foram dirigidas.
Ainda se pode dizer do silêncio inquisitivo. A pessoa fica em silêncio e no seu silêncio todas as perguntas e respostas são possíveis. Ele não fala, mas obriga os outros a falarem e explicitarem o que estão pensando. É um silêncio angustiante para quem o recebe, porque nele cabem todas as possibilidades.  Este silêncio também é o da sabedoria. Ele obriga as pessoas a se posicionarem, a se definirem, sob risco próprio. Nunca poderão se valer das palavras do sábio, porque elas não virão.
Para os que não gostam de pensar e querem respostas prontas e esclarecedoras, o silêncio é cruel, mas enriquecedor.


quarta-feira, 18 de março de 2015

NÃO CONFUNDA VEEMÊNCIA COM ESTRIDÊNCIA!



A vida me deu certo gosto pela precisão no uso das palavras. Só o gosto, porque a prática tem se mostrado muito mais complicada que a intenção. A intenção é boa, mas ...
Neste afã de entender o sentido preciso das palavras, andei “assuntando” nestes dias sobre o significado de quatro delas, relacionadas entre si por serem do contexto da comunicação e se referirem ao comportamental.
Como seres humanos, temos “sangue” que nos move a mostrar os sentimentos quando falamos. Especialistas atribuem à linguagem corporal e à metalinguagem algo em torno de 75% do processo comunicacional.
A primeira palavra é indolência. Ela veio do latin indoles (prefixo in significando negação e dolens e dolere usada para dor). No português indolência está mais para a passividade, para a atitude indiferente em relação aos fatos e/ou fala. O indolente é aquele que ouve um insulto e parece que não ouviu ou não deu bola para o que lhe foi dito. É aquele que, quando fala, mais parece ter sangue de barata que ser uma pessoa com sentimentos e convicções. Parece que não acredita no que fala.
A segunda é veemência. Ela também veio do latim: vehementia, significando o ardente, que tem vigor. Ela tem uma relação com vehere que significa levar ou portar. A pessoa veemente é a que fala e acredita no que fala e leva isto aos seus ouvintes. Ela fala com “sangue nos olhos”. Acredita e quer que os demais acreditem no que está falando. Uma pessoa veemente não vai falar baixinho, manso, antes terá um tom de voz mais elevado para expor o que pensa. Os ultrassensíveis acharão que ela exagera, que poderia e deveria falar com menos vigor e intensidade, que grita quando fala.
A terceira é estridente, que também vem do latin (stridente que significa fazer ruído). O estridente é verborrágico, fala alto como se o volume da sua fala pudesse ser entendida como veemência. O estridente, no mais das vezes é uma pessoa sem argumentos que usa da gritaria para fazer calar as vozes que não quer ouvir. Há o estridente que se vale da tergiversação da fala do outro para fazer valer seu raciocínio, pois ele cria ruído na comunicação e entende o que lhe convém entender.
Há ainda a violência, que também vem do latim (violentus: “o que age pela força”, com sentido derivado de violare que é “tratar com brutalidade, desonrar, ultrajar”). O violento na comunicação tem a intenção de ofender e ultrajar o outro, faltando com o respeito e usando, no mais das vezes, palavras de baixo calão.
Há certo consenso de que a sociedade brasileira é indolente no que se refere às questões políticas. O consenso é que o brasileiro faz piada de tudo e tem memória curta. Parece que a cúpula do PT acredita nisto. Acham que podem fazer o que querem que o povo vai fazer piada e logo cai no esquecimento.
Quando o povo decidiu comunicar com veemência o que acredita e quer, não poucos foram os que se levantaram para tergiversar o que está acontecendo e alguns partiram para a estridência. Neste contexto, entendo que o panelaço foi estridência e não veemência. Chamar os manifestantes de “elite branca” e “coxinhas” foi violência.
Mas, na fala dos ministros que deram a cara aliviar a vergonha da Dilma, houve veemência e estridência. Afirmaram com a convicção que se esperava que deveriam ter (ainda que não concorde com eles), mas a estridência ficou por conta do Rosseto ao dizer que falar de impeachment é ilegal e que os manifestantes eram pessoas que não tinham votado na Dilma. Puro ruído para atrapalhar o que as ruas estavam dizendo.
Se alguém puder ensinar isto ao Rosseto, ao Mercadante, Berzoini e Cardoso, eu, na minha humildade, agradeceria, mesmo porque, não acredito que eles tenham tempo para ler o que este escriba da periferia tem a dizer.
Marcos Inhauser

quarta-feira, 4 de março de 2015

SOCIEDADE MINIMAMENTE SATISFEITA

SOCIEDADE MINIMAMENTE SATISFEITA
Sonho ter um governo comprometido com uma sociedade plenamente satisfeita. Alguns dirão que isto é utópico, mas de u-topós (o não existente “ainda”) vivem os sonhadores e os revolucionários. O conservador se contenta com o status quo. Foram os sonhadores e os profetas (não os que predizem o futuro, mas o que o propõe) que levaram alguns a lutar pelo novo. Os conservadores, como o próprio termo designa, querem manter o que existe, sem mudanças.
No afã de manter a sociedade do jeito que está, os conservadores precisam “vender o peixe” de uma satisfação mínima como sendo o “máximo” que a sociedade pode ter. Usam da mídia para tergiversar valores e satisfação, onde uma cerveja, um carro novo, uma boa novela, o BBB são sinais de uma sociedade satisfeita. Neste contexto se deve incluir as inúmeras bolsas oferecidas pelos “ex-revolucionários-agora-conservadores”. Receber uma Bolsa Família do governo é o “must”! É o contentamento com a miséria presente para que não sonhem com o paraíso futuro. Sonhar com um futuro melhor é revolucionário.
O tresloucado Maduro, na Venezuela, está batendo em quem pede uma nação melhor. Milhares de jovens, especialmente franceses e ingleses, diante da impossibilidade de um emprego decente em solo europeu, estão abraçando a jihad e indo para o Estado Islâmico ou a Al Qaeda, porque eles estão propondo algo novo no futuro (questionável por certo, porque repetição de desastres do passado).
Os conservadores, especialmente os religiosos, tremem de medo do novo. Não foram preparados para a novidade, no que pese o fato de sempre estarem falando de uma Jerusalém futura, a pátria celestial. Para tanto, se dedicam a um trabalho de doutrinação incultural, onde valores do mundo ocidental e notadamente os valores estadunidenses, são passados como valores do Reino. O que se faz é ensinar uma coisa retórica, um catecismo, que se deve memorizar. Memorizar é conservar o passado. Teoriza-se para não dar lugar à experiência. Repetir o que se aprendeu não permite pensar no novo e no diferente.
Pensar repetidas vezes o mesmo é depressivo. Todo dia é tudo sempre igual. As mesmas rezas, as mesmas frases, as mesmas orações. Plenifica-se assim a imbecilidade.
Porque são incapazes de lidar com a graça e suas surpresas, preferem aprisionar o Espírito em “Cinco Leis Espirituais”. Querem ordenar o mundo em estruturas rígidas, exigindo a obediência dos fiéis, bem ao estilo dos fariseus dos tempos jesuânicos. Um “sábio que estudou no seminário ou se auto-ordenou” deve ensinar as mesmas coisas, sermão após sermão, para não correr o risco de ver suas ovelhas pensando o diferente ou o inusitado.  Se as ovelhas passam a pensar e questionar, ele pode perder o emprego.
Quando se defrontam com o novo, antes mesmo de fazer o “examinar de tudo e reter o que é bom”, são rápidos em acusar de heresia. Preferem o acanhado e medíocre mundo conhecido a viver a plenitude da graça. Vivem a des-graça!
Não é coincidência que tenho encontrado mais sinais e vivências da graça fora dos templos. Eu as tenho visto em letras de música, em filmes seculares, em experiências comuns de pessoas não-tão-religiosas e mesmo nas arreligiosas. Nas vezes em que estive em um templo ouvindo um sermão, confesso, deu-me náuseas teológicas pela contundência na espiritualidade servil à instituição religiosa, pautada na obediência aos postulados seculares chamados de doutrina ou ortodoxia.

Prefiro a liberdade da graça ao engessamento da sã doutrina.
Marcos Inhauser

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

SOU O BEM SUPREMO

Wolfhart Pannenberg, teólogo alemão, afirmou certa feita algo que outros já haviam dito com outras palavras “todos os movimentos revolucionários se tornam, de repente, conservadores, assim que fazem a revolução. Então, a estrutura estabelecida de poder se identifica muito facilmente com o bem supremo”. Traduzindo: quando os revolucionários chegam ao poder, a aura de messianismo e superioridade sobe à cabeça.
Lembrei disto nestes dias em que o Maduro (que maduro só é no nome), andou fazendo mais algumas trapalhadas, seguindo as pegadas do mestre Chávez. Mas neste saco também se pode enfiar a Cristina Kirchner e o Evo Morales.
Mas, a bem da verdade, o que me chamou mesmo a atenção foi o discurso atravessado da represidente, dizendo que a culpa da corrupção na Petrobrás é do FHC, porque, se tivessem investigado a coisa no início, a santidade dos nomeados do PT na PTrobrás não teria acontecido.
É melhor ouvir isto que ser surdo. Assim como prefiro ouvir o Maduro acusando os EUA do desabastecimento na Venezuela e de financiar a oposição que pede comida, e a Cristina suicidando o promotor antes de qualquer laudo pericial.
Na visão dos petralhas, eles são santos e o que fazem o fazem para o bem do povo, ainda que o povo não tenha visto centavos da dinheirama locupletada na estatal e em outras maracutaias. O projeto de governo do PT é o bem maior, um dogma político inquestionável e quem ousa falar contra é ameaçado com o “controle social da mídia”.
Neste contexto de “revolucionários” que se tornaram o bem supremo, a função profética da denúncia nunca é bem vista. Os ex-revolucionários agora conservadores têm a tendência em achar que nada deve ser mudado porque o que fizeram e fazem é o bem supremo. Exemplo disto é a dificuldade da represidente em destituir o Mantega e a Graça Foster, em negociar com o Eduardo Cunha e em flexibilizar o valor do reajuste do Imposto de Renda. Ela sabe o que é certo e bom para o governo e para o povo.
Os revolucionários autênticos têm a tendência em ser excelentes em diagnósticos e fracos em propostas. Parecem máquina de RX. Só dizem onde está o problema, mas as soluções são anêmicas. Estes também não gostam da função profética por explicitar a carência que têm em propor soluções.
A função profética trabalha na dialética da crítica e da ação, com o objetivo de ser fiel ao Reino de Deus. Se o profeta tende à crítica ou à ação, ele peca por ser conservador (ação engessada) ou de progressismo (crítica exagerada). No entanto, tanto um como outro se atordoam quando a voz profética diz que o “rei está nu”, que isto não é o que estão dizendo que é, que os revolucionários se transformaram em deuses promotores do bem supremo, que as propostas do progressismo são inviáveis. Não é para menos que os profetas devem ser mortos. Eles perturbam a direita e a esquerda.
Os pregadores de certezas detestam os profetas, porque lançam perguntas e questionam a segurança medíocre que passam à plateia. Os sacerdotes institucionais se arrepiam diante do profeta porque os desmascara como usurpadores do povo, movidos pela ganância e pelo engodo de que podem abençoar porque são mediadores entre Deus e os homens, tendo assim um status superior.
Fecho esta reflexão com uma citação do Alvin Gouldner: “a velha sociedade se mantém através de teorias e ideologias que estabelecem sua hegemonia sobre as mentes humanas, as quais, por isto mesmo, se submetem a ela voluntariamente, sem cruzar os dedos”.

Talvez seja aqui que se entende o comportamento passivo da sociedade brasileira.
Marcos Inhauser

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

O CARNAVAL DO PT

Há várias semelhanças entre o governo do PT e o carnaval.
O carnaval dura quatro dias. Se a Escola de Samba for a campeã, esta alegria pode se prolongar por mais alguns dias e volta à passarela no ano seguinte com energia para tentar o bicampeonato. As notas dadas pelos juízes para a eleição da campeã sempre são questionadas e os perdedores ficam chiando. Terminada a festa, entra-se na quarta-feira de cinzas para espiar os pecados e curtir a ressaca. Não um dia inteiro, mas meio dia de trégua.
Se for campeã, a escola de samba não tem muito do que se arrepender e a quarta de cinzas, ao invés de ser para curtir a ressaca e se penitenciar dos erros, se transforma em oba-oba pela vitória obtida.
Assim foi com o PT: botou seu bloco na rua várias vezes e não ganhou o campeonato. As alegorias e a o enredo eram os mesmos, sempre enfatizando a santidade da sigla, o compromisso ético que o levava ao purismo de nunca aceitar alianças com outros partidos. Um dia, orientados pelo guru-agora-condenado-e-sempre enrolado, o José Dirceu, decidiram mudar o enredo e a alegoria, ainda que não mudaram o mestre-sala. Foram para a passarela e ganharam o título pela primeira vez. A quarta de cinzas foi de celebração. Foi um carnaval não de quatro dias, mas de quatro anos.
No próximo carnaval voltaram com as mesmas alegorias, carros alegóricos, agora recheados com Vales-Refeição, Transporte, e especialmente o carro-mór que foi o destaque: o Bolsa Família. Bingo! Deu bicampeonato! Mais quatro anos de carnaval, com direito muita rega-bofe e a transas sem preservativo e com isto engravidaram o Mensalão.
Perceberam que manter o mesmo enredo poderia tirar o tricampeonato. Mudaram a porta bandeira e colocaram uma cria do mestre-sala bicampeão. Encheram a “coisa” de plumas e paetês, adereços mil, para que o povo não percebesse o perfil nada esguio e o currículo fabricado às pressas para que a madame fosse a nova porta-bandeira. Com muitos efeitos pirotécnico e tecnológicos, levaram o tricampeonato. A quarta de cinzas foi de celebração de deuses que se encastelaram no trono do poder e de lá nunca mais sairiam. Tinham galgado a eternidade. Mais quatro anos de celebração desbragada. Mantiveram o carnavalesco nas finanças para obedecer os desígnios dos deuses tricampeões. O antigo mestre-sala, sempre reverenciado, vivia dando seus pitacos.
Vieram para a passarela para o tetracampeonato. Mesma alegoria, mesma porta-bandeira, mas com a promessa de que o carnavalesco seria demitido na quarta-de-cinzas. Na área de concentração começou a cheirar lona queimada, porque alguém inesperado, que não era terrorista, mas juiz federal, decidiu dizer que a mestre-sala tinha rebolado mais do que devia e que o salto tinha quebrado.
Foi um Deus-nos-acuda. Perceberam que a escola rival tinha bom mestre-sala, boas fantasias, um carnavalesco experiente e que o tetra podia ir para a cucuia. Mandaram balas para adoçar os juízes votantes, pediram a colaboração de subalternos de empresas estatais para garantir a votação e foram para a passarela mostrando uma confiança tímida, mesmo porque, o carro alegórico da ética estava comprometido e pegando fogo! A ética não podia desfilar.
A votação dos juízes foi sintomática: se emocionaram com as pirotecnias do carro Bolsa Família. Deu tetracampeonato! A quarta-de-cinzas foi diferente das anteriores. Ganharam, mas não tinham o que celebrar. O novo carnavalesco mostrou as lambanças feitas pelo anterior, quem, para garantir o tetra, comprometeu as finanças da Escola de Samba. O incêndio do carro da ética não conseguiram apagar e na área da dispersão várias ambulâncias tiveram que levar aos hospitais “estrelas” com overdose e ressaca de bebedeira prolongada.

Os quatro anos não serão de carnaval, mas de cinzas!

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

FAÇA AS PAZES COM A IMPERFEIÇÃO

O senso comum diz que ninguém é perfeito. Isto é verdade! Há no ser humano um DNA que tem o gene de imperfeição.
Se for verdadeira a história de que Adão e Eva tiveram dois filhos, um bonzinho e outro que matou o irmão, todos somos descendência de um assassino, de um fraticida. Depois dele teve um Jacó que vivia brigando com o Esaú, um Esaú meio desligado que não pensou duas vezes em trocar o direito de primogenitura por um prato de lentilha, o Saul que mandou matar o melhor amigo do filho, o Davi que mandou matar o marido da amante, o Salomão que gostava da pompa e da circunstância, tanto que arrumou uma coleção de esposas. Isto para ficar nos mais conhecidos.
A imperfeição é um toque da graça da Deus. Porque não acertamos sempre (ou quase nunca), buscamos a ajuda de Deus para vencer as coisas que sabemos não ter a capacidade para fazer certo. Porque erramos e fazemos mal feito, voltamos e temos a benção de refazer e recomeçar. Se nunca acertássemos nada, seríamos depressivos por nascimento. Se sempre acertássemos, seríamos arrogantes, nos achando os “reis da cocada”. A imperfeição nos coloca em nosso devido lugar: seres humanos. Se Deus nos tivesse feito perfeitos, teria concorrência.
O problema não é ser imperfeito. Há algumas atitudes em relação à imperfeição que podemos ter. Ceder a ela e sempre fazer as coisas mal feitas. São as pessoas conformistas e as derrotistas. Valem-se do fato de não sermos perfeitos para fazer pela metade. É ser derrotado de enttrada na guerra com a imperfeição.
A outra atitude é a de não se enxergar e achar que tudo o que faz, faz bem feito. Esta classe de pessoas se coloca como exemplo para tudo e todos, são professores da universidade (porque sabem de tudo e para tudo tem o “jeito certo de fazer”). Estas têm a tendência de se julgarem fortes, que se conhecem, que são bem resolvidas, que tem o controle da situação e do entorno. É achar que pode ganhar a guerra com a imperfeição.
As primeiras são cansativas de se relacionar porque tem a tendência à murmuração, ao azedume. As segundas são difíceis de se relacionar porque são arrogantes e prepotentes.
Estes dois grupos têm o problema de não se enxergar. O primeiro porque não consegue ver que pode fazer algo bem feito. O segundo porque acha que tudo que faz, está bem feito. Ela é o padrão de conduta, comunicação, relacionamentos. Estão mais para peças de museu que para vidas reais.
Uma terceira atitude é a das pessoas que se conhecem imperfeitas, que mesmo no que são bons sabem que podem falhar. Estas, no que pese a possibilidade de falhar, fazem o melhor que podem, ficam frustradas com o que não saiu como queriam, mas depois dão risada da coisa que não funcionou do jeito que esperava ou queria. Entendem que o fizeram ontem e o fizeram bem feito, não é garantia de que, se fizerem hoje, terão o mesmo resultado. Veem a vida com variáveis múltiplas e não como relação de causa e efeito simples.
Assumir a imperfeição é sinal de maturidade. Trabalhar pela perfeição é depender da graça de Deus. Aceitar os tropeços e desacertos é perdoar-se. É fazer as pazes com a imperfeição.

Marcos Inhauser

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

GERAÇÃO Y UMA OVA!

Andava bronqueado com o senso comum de chamar os jovens de “Geração Y”, mas não sabia por quê. Ouvi muita gente “intindida” discursando sobre as características e senso de urgência desta geração. O meu nariz anda torcido há tempos, desde que comecei a ouvir no Brasil a réplica daquilo que existe nos Estados Unidos, categorizando gerações (founders, boomers, busters, Y, Z, etc..). Detesto transplante de conceitos que servem para o império e que se quer aplicar aqui como se fôssemos iguais aos de lá.
No sábado passado, ouvi o Dr. Volney Faustini, Administrador de Empresas, Escritor, Preletor, Consultor nas áreas de Marketing, Vendas e Inovação Empresarial. Foi Presidente da ABT – Associação Brasileira de Telesserviços de 1991 a 1995. Realizou centenas de seminários, workshops e treinamentos nas áreas de Telemarketing, Vendas, Motivação, Inovação Empresarial e Planejamento Estratégico. São de sua autoria, os livros: A Arte do Telemarketing (1992) e A Inovação Vencedora do Varejo (1999).
Ele, tal como eu, andava irritado com a coisa. Só que ele passou da irritação à pesquisa. Leu 2.000 biografias de líderes brasileiros desde o império.
Estudou a fundo a nossa história e a dividiu em períodos de Apogeu e Crise; descobriu fatores comuns (Ascensão, Apogeu, Queda e Crise), bem assim o encadeamento entre elas.
Na sua categorização temos as seguintes eras: Exploradores (1683-1707; Indignados (1708-1730; Inconfidentes (1731-1752); Realeza (1753-1775); Novo Brasil (1776-1796); Monárquicos (1797-1818) - Unificadores (1819-1840); Abolicionistas (1841-1861); Transformadores (1882-1904); Modernidade (1905-1927); Revolucionários (1928-1947); Bossa Nova (1948-1966); Caras Pintadas (1967-1984); Globalizados (1985-2006) e Colaborativa (2007-2028?).
Na correlação entre as gerações estadunidenses e as brasileiras tem-se o seguinte: Os Baby Boomers (nascidos entre 43-60) tem a geração Bossa Nova (nascidos entre 48-66); a geração X (61-81) tem a geração brasileira dos Cara Pintadas (67-84); a geração Y (82-04) encontra no Brasil a geração Globalizados (85-06) e a geração que tem os mais variados nomes nos EUA (05-??) encontra a Colaborativa no Brasil (07-??).
Como exemplos típicos da Geração Bossa Nova tem-se a FHC, Joaquim Barbosa, Alckmin, Aécio, Marina Silva, Eduardo Campos, Ayrton Senna. Na Geração Caras-Pintadas tem-se a Lindberg Farias, Luciana Genro, ACM Neto, Manuela D´Ávila, Gisele Bundchen, Luciano Hulk, Barrichelo e Felipe Massa. Na Geração Globalizados pode-se citar René Silva, João Montanaro, Gabriel Medina, Gergório Duvivier, Paulinho, Neymar, Lucas Piazon, Luan Santana, Maisa da Silva Andrade.
Já a Geração Colaborativa é a que está por vir, que tem seus poucos anos de vida e ainda não se tem a possibilidade de caracterizá-la, mas de uma coisa se sabe: não mais aceitarão as coisas feitas. Eles terão que participar, colaborar, construir junto.
Sei que vai ter gente que vai torcer o nariz para esta nova descrição geracional. O que posso fazer? É mais fácil ir com a onda e pegar o bonde andando e falar as abobrinhas que todos falam. O que dizem pode ser verdade lá, mas não aqui.
Eu, de minha parte, porque acho que senso comum é a somatória das afirmações feitas pelos que não pensam, tô fora de chamar de Geração Y.

Marcos Inhauser

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

AS MULHERES NA IGREJA

O apóstolo Paulo, a certa altura, disse que “não há judeu nem grego, não há servo nem livre, não há macho nem fêmea; porque todos são um em Cristo Jesus.” (Gl 3:28). Esta passagem é a mais citada para apoiar a visão de que se deve permitir mulheres na liderança da Igreja. Conservadores não dão importância a ela, apontando conflito com outras passagens paulinas ou dizendo que se deve abordá-la à luz da ordem hierárquica da criação onde, segundo eles, o homem tem primazia por direito natural e divino.
Fatores históricos, bíblicos e teológicos convergem no sentido de dar às mulheres a liberdade para usarem os dons dados por Deus em qualquer posição de liderança na Igreja. Mulheres e homens foram igualmente criados por Deus e a queda não afetou mais a um que ao outro. Embora o pecado tenha destruído o relacionamento inicial, a redenção em Cristo restaurou a ambos e os colocou em pé de igualdade dentro da comunidade de fé.
A controvertida passagem retro-mencionada não foi escrita no vazio, em momento de alucinação paulina ou em função de alguma pressão que tenha sofrido. Antes, traz uma longa e rica história a respaldá-la e com um contexto específico ao seu redor que inclui perspectivas sobre a criação, o modelo e ensinamentos de Jesus.
Há pouca controvérsia sobre o fato de Jesus ter revolucionado o modo de tratar as mulheres. Elas foram curadas, tocadas, permitidas a se sentar a seus pés e ungi-lo, foram partícipes de Seu ministério e tiveram a primazia de ser as primeiras a ver o túmulo vazio e a Jesus ressuscitado. Ele resgatou as mulheres de serem primariamente seres de procriação e objetos sexuais, e restaurou seu status como seres humanos, criadas à imagem de Deus.
Pelo fato de ter sido Paulo quem disse que não há distinção entre macho e fêmea, torna a frase ainda mais significativa. Judeu e cidadão de Roma, cresceu repetindo as orações tradicionais de ação de graças judaicas: “Bendito seja Deus por não ter-me feito um gentio; ... um camponês ignorante ou escravo; ... ou uma mulher.”  No mundo greco-romano fórmula semelhante era usada pelos gregos: “Por ter nascido humano e não animal, por ter nascido homem e não mulher, por ter nascido grego e não bárbaro.” 
Há que se observar o paralelo das três frases nestas duas orações e a tríplice exortação de Paulo na frase citada.  Paulo era um homem bem educado, e pode-se facilmente imaginar que o paralelo não é mera coincidência: “não há judeu nem grego, não há servo nem livre, não há macho nem fêmea”. Parece querer desdizer o que as orações judaicas e greco-romanas diziam.
Por outro lado, percebe-se a orientação batismal presente, pois lembra seus leitores que são “revestidos” em Cristo (v. 27), têm uma nova identidade e um relacionamento, não só vertical com Deus através de Cristo, mas também horizontal, com a comunidade. Eles “são um em Cristo” (v. 28), independentemente de raça, classe ou sexo.  A salvação do judeu e do gentio, do escravo ou livre, dos homens ou mulheres já está resolvida pelo sacrifício de Cristo e ambos podem e devem usar seus dons no serviço ao próximo e nos ministérios da igreja.

Chega de discriminação feita por quem deve proclamar a igualdade de gêneros feita por Cristo na cruz!
Marcos Inhauser

CRISTOFOBIA: ÓDIO ASSASSINO

No Peru houve um movimento guerrilheiro/terrorista chamado Sendero Luminoso. Ele era “metralhadora giratória” porque suas ações eram desprovidas de qualquer lógica. Lembrei-me deles nestes dias em que o terrorismo ganhou outra vez os noticiários. Mas não quero falar do Charlie Hebdo, mas do Boko Haram, a “metralhadora giratória” que atua na Nigéria.
A Igreja da Irmandade tem um trabalho naquele país que se iniciou em 1923 com missionários que para lá foram. Em 1955, o primeiro pastor nigeriano foi ordenado. A igreja focou seus trabalhos em educação, saúde e agricultura. Escolas foram criadas, serviços médicos oferecidos e projetos agrícolas foram desenvolvidos. A igreja cresceu ao ponto de ser hoje quase o dobro em tamanho que a igreja-mãe, a Church of the Brethren.
Conheci a vários dos pastores desta igreja (EYN - Igreja da Irmandade na Nigéria) no tempo em que estudei e dei aulas no Bethany Theological Seminary. A partir de 2000 comecei a ouvir destes irmãos nigerianos referências ao Boko Haram. As menções se intensificaram e as práticas começaram a ser selvagens: matavam indiscriminadamente, às vezes centenas, outras vezes milhares.
Se se quer resumir as intenções deste grupo, pode-se dizer que pretendem instalar um califado islâmico que tenha a lei da Sharia como fundamento e a erradicação de qualquer vestígio de educação ocidental e cristianismo. Eles não pensam duas vezes para aniquilar quem se coloca como obstáculo às suas pretensões.
A EYN teve vários dos seus pastores e membros assassinados, templos queimados, lavouras destruídas, escolas fechadas. Muitas das moças sequestradas em 2014 pertencem à EYN. 96 mil membros da EYN foram obrigados a se mudar por causa da violência e necessitam de abrigos, comida e água. Dos 50 Distritos que a EYN tem (grupos de igrejas de uma mesma região geográfica que se coordenam em suas atividades), 37 foram fortemente impactados e 18 foram fechados. 280 pastores e evangelistas tiveram que se mudar e deixar seus templos. Mais de 3 mil membros da EYN já foram mortos.
 Mais informações podem ser obtidas no http://www.brethren.org/partners/nigeria/crisis.html e nohttp://www.brethren.org/partners/nigeria/documents/fact-sheet.pdf
Esta é uma crise que não acabará em breve. Talvez demore décadas!
O Boko Haram é movido por uma “cristofobia” (termo emprestado do Reinaldo Azevedo). A EYN, tem suas raízes históricas e teológicas alicerçadas no pacifismo (assim como as demais igrejas da paz/anabatistas: Irmandade, Menonitas e Quáqueros). Têm ensinado e praticado a não-violência, mesmo diante das barbáries sofridas. Ser pacifista em meio a esta crise e tanta barbárie gratuita tem sido um grande desafio para os cristãos nigerianos.
Apoio maciço e massivo tem sido prestado aos refugiados que sobrevivem aos extermínios.
A Church of the Brethren já mandou este ano mais de 2,8 milhões de dólares para ajudar nesta crise e decidiu colocar um prédio histórico da denominação à venda para levantar fundos para ajudar os nigerianos.
Jovens voluntários, membros da Church of the Brethren estão sendo enviados para ajudar aos refugiados, fugitivos e famintos. Movimentos de oração e jejum têm sido promovidos clamando a Deus pela Nigéria e pelos cristãos que lá vivem.
A Igreja da Irmandade no Brasil, ainda que pequena, tem se solidarizado e orado por esta grave situação que a EYN e a Nigéria vivem.
Marcos Inhauser

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

CRISTOFOBIA: O ÓDIO ASSASSINO

CRISTOFOBIA: ÓDIO ASSASSINO
No Peru houve um movimento guerrilheiro/terrorista chamado Sendero Luminoso. Ele era “metralhadora giratória” porque suas ações eram desprovistas de qualquer lógica.
Lembrei-me deles nestes dias em que o terrorismo ganhou outra vez os noticiários. Mas não quero falar do Charlie Hebdo, mas do Boko Haram, a “metralhadora giratória” que atua na Nigéria.
A Igreja da Irmandade tem um trabalho naquele país que se iniciou em 1923 com missionários que para lá foram. Em 1955 o primeiro pastor nigeriano foi ordenado. A igreja focou seus trabalhos em educação, saúde e agricultura. Escolas foram criadas, serviços médicos oferecidos e projetos agrícolas foram desenvolvidos. A igreja cresceu ao ponto de ser hoje quase o dobro em tamanho que a igreja-mãe, a Church of the Brethren.
Conheci a vários dos pastores desta igreja (EYN - Igreja da Irmandade na Nigéria) no tempo em que estudei e dei aulas no Bethany Theological Seminary. A partir de 2000 comecei a ouvir destes irmãos nigerianos referências ao Boko Haram. As menções se intensificaram e as práticas começaram a ser selvagens: matavam indiscriminadamente, às vezes centenas, outras vezes milhares. Se se quer resumir as intenções deste grupo, pode-se dizer que pretendem instalar um califado islâmico que tenha a lei da Sharia como fundamento e a erradicação de qualquer vestígio de educação ocidental e cristianismo. Eles não pensam duas vezes para aniquilar quem se coloca como obstáculo às suas pretensões.
A EYN teve vários dos seus pastores e membros assassinados, templos queimados, lavouras destruídas, escolas fechadas. Muitas das moças sequestradas em 2014 pertencem à EYN. 96.000 membros da EYN foram obrigados se mudar por causa da violência e necessitam de abrigos, comida e água. Dos 50 Distritos que a EYN tem (grupos de igrejas de uma mesma região geográfica que se coordenam em suas atividades), 37 foram fortemente impactados e 18 foram fechados. 280 pastores e evangelistas tiveram que se mudar e deixar seus templos. Mais de 3.000 membros da EYN já foram mortos. Maiores informações podem ser obtidas no http://www.brethren.org/partners/nigeria/crisis.html e no http://www.brethren.org/partners/nigeria/documents/fact-sheet.pdf.
Esta é uma crise que não acabará em breve. Talvez demore décadas!
O Boko Haram é movido por uma “cristofobia” (termo emprestado do Reinaldo Azevedo). A EYN, tem suas raízes históricas e teológicas alicerçadas no pacifismo (assim como as demais igrejas da paz/anabatistas: Irmandade, Menonitas e Quáqueros). Têm ensinado e praticado a não-violência, mesmo diante das barbáries sofridas. Ser pacifista em meio a esta crise e tanta barbárie gratuita tem sido um grande desafio para os cristãos nigerianos.
Apoio maciço e massivo tem sido prestado aos refugiados que sobrevivem aos extermínios. A Church of the Brethren já mandou este ano mais de 2,8 milhões de dólares para ajudar nesta crise e decidiu colocar um prédio histórico da denominação à venda para levantar fundos para ajudar os nigerianos. Jovens voluntários, membros da Church of the Brethren estão sendo enviados para ajudar aos refugiados, fugitivos e famintos. Movimentos de oração e jejum têm sido promovidos clamando a Deus pela Nigéria e pelos cristãos que lá vivem.

A Igreja da Irmandade no Brasil, ainda que pequena, tem se solidarizado e orado por esta grave situação que a EYN e a Nigéria vivem.