Leia mais

Há outros artigos e livros de Marcos e Suely Inhauser à sua disposição no site www.pastoralia.com.br . Vá até lá e confira

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

NÃO SE DISCUTE?


Recebi do meu amigo Rev. Marcos Kopeska, o seguinte texto que reproduzo na íntegra: “Por muitos anos ouvi o jargão: ´religião, política e futebol não se discute.´ Acontece que por não discutirmos religião deixamos uma lacuna enorme de omissão numa sociedade tão carente de orientação espiritual. Esta vacuidade passou a ser preenchida por crendices cegas com o nome de devoção, manias e histerias espiritualistas com o nome de avivamento, religiões que aparecem e desaparecem com nome de evangelização, mercenários da fé que adoram resultados e cifras com o nome de apóstolos e pedófilos embebidos de fantasias com o nome de sacerdotes.
Quando deixamos de discutir deixamos de refletir. Henri Paincore, filósofo, dizia: “Duvidar de tudo ou crer em tudo. São duas soluções igualmente cômodas, que nos dispensam, ambas, de refletir.” Não discutir é cômodo, mas é trágico.
Dizem que discutir religião leva as pessoas à intolerância e fanatismo. Discordo! A falta de reflexão aberta leva ao ostracismo e o ostracismo ao radicalismo. E discutir política? Nem me fale! Por falta de discussões amplas com as bases é que continuamos a eleger os mesmos “ratos do Congresso” que a cada mês nos surpreendem com novos escândalos, que pagam toda a dívida externa e emprestam para o FMI às custas da maior carga tributária já imposta, que dão uma nova roupagem ao velho e vergonhoso passado a cada quatro anos.
Não discutir política leva a sociedade a crer na mídia tendenciosa e achar que os projetos assistencialistas eleitoreiros são prioritários, enquanto nos hospitais faltam leitos e médicos. Por não discutirmos política a massa é omissa e aceita o ópio do BBB, carnaval; e espera pelo bolsa família que os brasileiros que trabalham pagam com seus suados impostos.
E discutir futebol? Ah sim! Temos 180 milhões de técnicos falando das decepções que os mega contratos trouxeram. Temos 180 milhões de administradores preocupadíssimos com os atrasos nos cronogramas de construção e reforma dos estágios para a Copa. Acontece que poucos destes 180 milhões sabem que este atraso está custando próximo a 6 bilhões de reais, quase o triplo dos R$ 1,95 bilhão, estimativa quando da candidatura do Brasil junto a Fifa.
Nunca antes foi tão importante discutir religião, política e futebol. Não se esqueça: O verdadeiro cristianismo passa pelo viés da cidadania.” (Marcos Kopeska)
Assino o que ele diz. E porque me sobra um pouco de espaço, acrescento que o cristianismo brasileiro viveu e vive uma marginalização alienante, onde temas corriqueiros são proibidos. Áreas onde a mensagem evangelizadora precisa dar sua palavra, a igreja se cala, como é o caso da sexualidade, do modelo econômico, dos salários, dos direitos humanos, da corrupção, etc. Vamos trabalhar estes temas!
 Marcos Inhauser

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

FÁCIL, SUPERFICIAL E RÁPIDO


Quero compartilhar uma constatação que faço, depois de muitos anos dando aulas. Tenho mais de 35 anos como professor em vários níveis e em diferentes locais. Como trabalho com uma área que envolve abstração (conceitos teológicos e filosóficos), venho percebendo, ao longo dos anos, uma acentuada deterioração na capacidade dos alunos em conseguir trabalhar conceitos e certa aversão pelo aprofundamento de temas.
Expressão como “isto é baboseira”, “estudar estas coisas é perda de tempo”, “o que eu ganho sabendo isto”, “estou cansado de teologia, quero vida cristã”, “não preciso de teologia, preciso de poder para expulsar demônios e curar”, “de que adianta um sermão bem estudado se a igreja não enche de gente?”, “para encher a igreja de gente não é necessário saber teologia” são por mim ouvidas com frequência cada vez maior.
Confesso que me arrepiam estas afirmações (e outras mais que não elenquei por falta de espaço). Estamos vivendo, não só no campo teológico, mas em todas as áreas, um processo de superficialização do saber. Cada vez mais sabemos menos sobre menos coisas. O que interessa é o fácil, o intuitivo, aquilo que dá para fazer sem precisar ler nenhum manual de instrução. Os celulares, smaRtphones, tablets, Ipods e Ipads são os queridinhos porque podem ser usados sem grandes conhecimentos. É tudo intuitivo e mesmo uma criança pega e em poucos minutos já está sabendo as funções básicas.
Da mesma forma devem ser os livros didáticos: intuitivos. Os cursinhos preparatórios para concursos e vestibulares, no mais das vezes, ensinam o “pulo do gato” na hora de responder. Os cursos precisam formar em menos tempo. Querem uma graduação em dois anos ou menos. O que interessa é o diploma na parede e no currículo. O saber, isto é outra coisa.
A predileção pelo fácil, superficial e rápido passou a ser a característica destes tempos. Tudo tem que ser intuitivo, sem trabalho. O arroz que você cozinha dentro de um saquinho e que não queima, fica molinho e soltinho, mesmo sem saber cozinhar. A lasanha que é só colocar no micro-ondas. A pipoca que não suja panela com óleo da fritura. Verduras e legumes que já vêm cortados. Carne que se compra temperada. Frango assado pronto. Jornais que só tem os titulares (quem tem tempo para ler a notícia toda?). Os feeds de notícias estão aí para provar isto.
Gasta-se mais tempo nos games que nos processos de aprendizado. Livrarias se fecham, mas lojas de jogos se proliferam. Os livros perderam espaço para os aparelhos eletrônicos. O saber aprofundado vai sendo substituído pelas soluções mágicas dos avatares. Há muita tinta gasta com fofocas de celebridades. Ibope para BBB é exemplo desta opção pelo fácil, superficial e rápido: para ganhar um milhão e meio em poucos dias sem fazer nada, vale qualquer coisa. Para aumentar o Ibope vale até a simulação de um estupro, providencialmente ocorrido ou marketeiramente planejado.
Há horas que bate uma desesperança tão grande!
Marcos Inhauser

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

ERRAR NA HORA ERRADA


Se somos todos imperfeitos, todos cometemos erros. Se todos cometemos erros por natureza imperfeita, há um direito ao erro inerente ao fato de sermos humanos. Ninguém escapa a isto: erramos! E contamos com a compreensão dos outros para não nos crucificar pelos nossos erros, mesmo porque, como já disse o apóstolo Paulo “se alguém pensa estar em pé, cuide para que não caia”. Hoje são complacentes com meus erros, amanhã eu retribuo com a minha complacência.
Já houve quem disse que “o maior problema do homem não são os erros que comete, mas o seu desejo de ser perfeito” (Norberto R. Keppe). Nem mesmo os gênios escapam ao erro. Assim foi com Salvador Dali e Walt Disney que decidiram fazer juntos um filme que nunca saiu e que deu enorme prejuízo. O nome dele seria Destino e só foi finalizado em 2003.
No entanto, esta semana me chamaram a atenção erros cometidos na hora errada. Não que haja hora certa para errar, mas há horas em que errar se torna mais grave. Refiro-me ao erro do piloto do navio Costa Concórdia que aproximou-se em demasia da costa e bateu em rochas submersas, causando mais de uma dezena de vítimas fatais e um prejuízo bilionário. Ele tinha o direito de errar e porque erraria, havia uma quantidade de aparatos eletrônicos, radares e cartas náuticas, para garantir que o possível erro fosse minimizado. A pergunta que fica é: como um navio com todos os recursos e tecnologia pode meter-se em tal encrenca sem que alarmes ou dispositivos de correção fossem disparados?
A outra história é a do coração que estava sendo transportado pela equipe médica para que o mesmo fosse usado em um transplante e o carrinho bate no pé do carregador e o coração cai fora da caixa onde estava acondicionado. Para azar maior do infeliz, havia a televisão para filmar o seu “desastre”.
Estes dois fatos me fizeram recordar do acidente do Airbus da Air France. Um piloto experiente decide errar na errada e entrar onde não podia: decide que não haveria problemas em avançar em meio às nuvens carregadas que estavam à frente. Deu no que deu. Como um piloto com tal experiência comete um erro tão primário em um momento tão crucial? Como uma pequena peça, o Pitot, decide falhar na hora em que mais se precisava dela?  O mesmo se pode perguntar do acidente da Gol no choque com o jato executivo.
Não há nenhum seguro de que alguém não vai errar na hora agá. Um dos melhores jogadores da Itália na Copa de 1994, o Roberto Baggio, falhou. O pai que colocou o nome dele no seu filho e este veio jogar na Copinha este ano, na hora de bater o pênalti, também falhou.
O prefeito tampão também errou, e várias vezes, quando se esperava que acertasse. Errou na votação do aumento de salários dos vereadores. Errou nas justificativas que deu. Errou ao convidar o Villagra para participar do seu governo. Errou ao afirmar que os vereadores são corresponsáveis no sucesso ou fracasso do executivo, não levando em conta a separação dos poderes. Só que este erra a toda hora e não só nas horas erradas.
Marcos Inhauser

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

TEMPLO À VIDA


Por nove dias frequentei o PS São José, por causa da internação de meu pai. Passei ali muitas horas, nos mais variados horários e até de madrugada fiquei ali em vigília. Outras tantas vezes levei minha mãe e a esperei durante o tempo que ela quis e suas forças aguentaram.
Não posso calar-me diante do que ali vi, vivi e presenciei. A primeira foi a forma como meu pai foi recebido e atendido. Imediatamente acolhido, em poucos minutos fui chamado para dar dados da situação da saúde dele. Em meia hora me comunicaram que ele ficaria para observação e alguns exames. Eu o acompanhei à enfermaria e vi dois enfermeiros “dando um jeito em uma cama”, colocando na cabeceira alguns apoios de rolo de papel, porque ela estava quebrada. Ouvi um dizer para o outro: “nós aqui sem camas decentes e o doutor na Oscar Freire gastando os seiscentos milhões!”. Aquela foi a cama destinada a meu pai e em nada ficou devendo às outras que ali estavam.
Comecei a perceber a forma carinhosa, atenciosa, competente e humana com que enfermeiros/as e médicos/as atendiam a todos indistintamente. Todas as vezes em que pedi a posição sobre a saúde do meu pai, nunca me esconderam nada, antes, de forma clara me indicavam a gravidade do caso. Na noite em que seu quadro se agravou, me avisaram do ocorrido.
Cuidaram do meu pai com dignidade, profissionalismo, competência e dedicação. Da parte dos médicos vi a o esforço para recuperá-lo. Quando pediram uma vaga no Ouro Verde para transferi-lo pedi a Deus que isto não ocorresse. Vi o cuidado deles em deixar meu pai penteado, mesmo que estivesse inconsciente.
Vi como eles atendiam e cuidavam dos demais. Uma pessoa ao lado xingava e ofendia as enfermeiras. Eu estava ficando irritado. A enfermeira veio para dar a ele remédio e o chamou de “meu amor” e aplicou a injeção com o devido cuidado para que não o machucasse. Um final de tarde entraram uma mulher surtada e um garoto de treze anos drogado. Os dois deram o maior escândalo. A mulher precisou de cinco homens para contê-la. O garoto também precisou ser contido. Eles o fizeram com cuidado e humanidade e em nenhum momento vi irritação ou violência da parte dos funcionários/as e enfermeiros/as.
Em uma das vezes fiquei a pensar que o PS São José é um Templo à Vida: sacerdotes e sacerdotisas, todos vocacionados, que são buscados por quem precisa da benção da saúde e eles, no exercício de suas vocações e com auxílio dos recursos, abençoam os que ali estão. Há na enfermaria um altar no centro, onde estão estes sacerdotes e sacerdotisas da vida ministrando aos enfermos.
Meu pai faleceu nas mãos destes sacerdotes e a ele somos gratos (minha mãe, filhos, noras, netos/as, bisnetos/as). Ao PS São José o nosso agradecimento e reconhecimento de que, em meio às agruras, dificuldades, carências e displicências do poder público, cumprem com sua vocação de abençoar aos enfermos.
O PS São José é um Templo à Vida.
Marcos Inhauser

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

SE ELE PUDESSE ESCREVER AO SAMU


Meu pai vem enfrentando problemas de saúde há algum tempo. No dia 26 de dezembro o quadro se agravou e decidi que o levaria ao médico, mas ele não estava em condições de ir no meu carro, debilitado que estava. Decidi chamar o SAMU. Liguei a primeira vez e deu mensagem para que ligasse mais tarde, fato que se repetiu mais três vezes. Comecei a me angustiar e ficar irritado. Como pode um serviço de emergência não atender? Achei que era porque estava ligando de celular e também achei que seria um absurdo se não aceitassem ligações de celular. Tentei mais uma vez e fui atendido. E aí começaram as minhas surpresas.
A primeira foi o atendimento inicial. Expliquei o quadro do meu pai e disse que não se tratava de uma urgência. Fui transferido para conversar com uma médica quem também me atendeu de forma exemplar. Novamente expliquei que não se tratava de urgência e que esperaria até que pudessem me atender. Preparei-me para uma longa espera. Trinta e cinco minutos mais tarde a ambulância chegou. E nova surpresa!
Se meu pai pudesse falar, sei que ele diria mais ou menos o seguinte: “nasci e cresci em meio a alemães e me casei com uma alemã. Frequentei igreja alemã. Aprendi que anjos eram brancos, vestidos de branco e com asas. Quando a porta da ambulância se abriu desceu um anjo que não era branco. Aliás, uma anja. Linda, negra e extremamente cuidadosa. Logo me ajudou a ir para a maca e me mediu a pressão, o pulso, a glicemia e começou a conversar comigo. Depois ligou avisando um médico de que eu chegaria. Ela me disse que eu iria para o Pronto Socorro e que de lá, depois de uma avaliação, me diriam o que fariam comigo. Este anjo não tinha asas. Tinha rodas e um motorista, também anjo. Minhas experiências anteriores com ambulâncias é que é uma viagem sacolejante, barulhenta por causa da sirene ligada, cheia de freadas e arrancadas. Este anjo motorista não era assim. Mais parecia que estava transportando ovos e que tomava todo o cuidado para não quebrá-los. Pela primeira vez me senti conduzido como se fosse um rei, assessorado por uma anja. Vi meu filho perguntando o nome deles: o anho se chama Claudecir e a anja Veridiana. Não vou mais vê-los. Meu quadro se agravou muito, perdi a consciência e os médicos dizem que sou paciente terminal. Mas antes que isto aconteça, quero deixar minha gratidão a estes anjos e meus parabéns ao SAMU pelo excelente trabalho que fazem. Milton Inhauser”.
Marcos Inhauser

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

TU ÉS PEDRO!


Tu és Pedro e sobre esta pedra se edifica a Babel política de Campinas!
O ex-presidente da Câmara, agora prefeito tampão de Campinas, assumiu o cargo de Prefeito e, salvo muita boa argumentação contrária, acredito que ele realizou um sonho de infância. Será também o “candidato natural” para assumir a prefeitura em um mandato tampão mais longo, pois não acredito que ele tenha se enfiado de corpo e alma nesta empreitada sem deixar amarrado os nós futuros.
Confesso que não posso acreditar neste prefeito tampão e nem nos paladinos da ética pública dos vereadores. Até as pombas do Largo do Rosário sabiam que algo de podre havia no reino doutor prefeito. No entanto, a Câmara só se mexeu depois que o Ministério Público fez as suas investigações e trouxe à luz as negociatas que rolavam.
Mais: como acreditar no comandante em chefe da decisão que autoconcedeu-se o escandaloso aumento de 126%. O meu raciocínio é: a questão do aumento foi proposta, discutida, aceita e aprovada nos bastidores, bem assim a maneira sorrateira de aprovar. Também foi decidida a ordem dos fatos: primeiro o aumento, depois o arremedo de acerto com o corte de verbas. Se a votação fosse feita na ordem inversa, correriam o risco de ter cortado a verba e não poder aumentar os salários.
Há outro raciocínio: a ser verdadeira a informação de que o aumento foi proposto e inicialmente negociado pelo líder do PT, o Josias Lech, surge a suspeita de que teria sido uma tentativa de abrandar a sanha de cassação e esta um tiro que saiu pela culatra dos articuladores petistas.
Causou-me espanto as afirmações do agora prefeito tampão, primeiro de que o aumento era para que houvesse independência do legislativo (e já argumentei que isto é uma confissão de promiscuidade, que se o aumento vigorará só a partir de 2013 significa que os vereadores continuarão a negociar com a Prefeitura, agora capitaneada pelo capitão do aumento). Em segundo lugar, na entrevista concedida à EPTV no dia seguinte à cassação, o ex e agora tampão, ao ser questionado sobre o aumento, disse que a população estava mal informada, que não representa incremento de gastos e que ele (agora em tom agressivo e contundente) nunca toleraria aumento de despesas. Vamos por partes: se a população não está bem informada, por que não se discutiu o assunto abertamente, mostrando a matemática do “ajuste”? Se a população precisava estar bem informada, por que se fez a votação de forma escusa, enviesada? Por que todos os vereadores, imediatamente após a votação deram chá de sumiço? Por que, quando puderam esclarecer (no episódio do CQC), expuseram a cidade ao mais completo ridículo, deixando a Câmara com cara de circo?
Pedro: você merece ser vigiado pela população, porque a Câmara não cumpriu seu mandato a contento no período do doutor e não fará agora, dependente que ainda é do executivo, segundo sua própria afirmação. De minha parte, farei o que me está ao alcance!
Marcos Inhauser

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

PEDRO? SERÁ-O-FIM?


Poderia ter colocado o título na afirmativa: Pedro será-o-fim. Ou na exclamativa: Pedro: será-o-fim! Ou na meia interrogativa: Pedro: será-o-fim?
Escrevo na terça à tarde quando a Câmara de Vereadores inicia o processo de leitura do relatório da Comissão Processante, dado que não houve acordo entre as partes. Serão 1440 páginas de leitura protocolar, para as moscas ouvirem, fato que ninguém estará atento ao inteiro teor do relatório. Mais: me atrevo a afirmar que é protocolar porque o veredicto está dado. E é aqui onde entra a interrogação, exclamação ou afirmação do título.
Na interrogação a pergunta quer saber se com isto acaba a novela em que se transformou a política campineira. Duvido! Se na afirmativa, há duplo significado: a constatação de que pode ser o fim da novela, como também pode ser irônico, insinuando coisas que ficam a critério do leitor imaginar. Na exclamativa está o assombro de ter que engolir o Pedro como prefeito não eleito por um período de um ano.
Digo assombro por duas razões: a primeira óbvia, já explicitada na frase anterior e a segunda decorrente dos fatos recentes. Pode uma pessoa que preside um legislativo e que comanda 33 vereadores para uma votação feita à sorrelfa, só possível pelos conchavos anteriores entre os beneficiados, ser guindado a um posto que vaga porque o ocupante é acusado de tramoias? Que moral tem o Pedro de vir a público dizer que vai administrar com lisura se na presidência da Câmara não foi transparente, nem escorreito? Como pode vir a ser prefeito o homem que justificou o golpe aos cofres públicos dizendo que era para que o legislativo tivesse independência? Qual a dependência havida até então ou até o início da vigência do novo salário em 2013? Significa que estaremos com um legislativo cabresteado pelo executivo até lá? Que tipo de conluio haverá entre o novo chefe do executivo, ex-chefe do legislativo, que se mancomunou para um presente de 126% e que teve o desplante de justificar com o engodo da independência?
Como a Prefeitura e a Câmara não são conventos com santos reclusos (conclusão que faço à luz dos fatos), mas estão mais para ofidiários do Butantã, coloco minhas barbas de molho. Entre o De Metro Viagra e o Pedro Será o Fim, fico com o primeiro, porque, ao menos terá oposição a vigiar o que ele faz.
Marcos Inhauser

PAPAI NOEL GENEROSO


Nada melhor que dar-se presente com o dinheiro dos outros. Ainda mais quando este dinheiro é público!
A Câmara Municipal de Campinas, no melhor dos espíritos natalinos, decidiu dar-se um belo presente: aumento nos salários de 126%! É impressionante como todo final de ano e por meios nada claros, os nossos políticos se concedem reajustes pornográficos. Qual o índice usado para que eles aprovassem os 126%? E por que foi feito em uma aprovação às surdinas e de forma sorrateira?
Com a presença cidadã que havia na Câmara para a votação da Macrozona 5, abrir o assunto  e discutir a elevação dos salários de forma clara e transparente, com certeza, enfrentaria a ira popular, como de fato aconteceu quando souberam da esperteza praticada pelos “nobres edis”. Os ovos atirados mostram a indignação dos presentes com a manobra. Populares foram detidos porque demonstraram a indignação atirando ovos. Os vereadores, protegidos pela Guarda Municipal, deram um bote nos cofres públicos e nenhum deles foi detido ou será punido par tal ato.
São estes vereadores que querem passar por paladinos da moralidade pública, abrindo Comissões Processantes para averiguar a moralidade do executivo e dos contratos da Sanasa. Que moral tem tais vereadores se na calada da noite, de forma imoral e antiética, se beneficiam ao legislar em causa própria? Como poderão denunciar contratos escusos se a elevação dos salários teve o mesmo condão?
Nos tempos do Collor eu morava fora do país. Em uma viagem que fazia ao Brasil, sentei-me ao lado de um grande empresário e durante a viagem viemos conversando. A certa altura, por perceber que ele sabia das coisas de Brasília, eu lhe perguntei a razão para o impeachment do Collor, que tinha acabado de acontecer. Ele, didaticamente, me explicou: “há um bolo e cada membro da família tem direito ao seu pedaço, coisa estabelecida e respeitada há tempos. Um dia um deles, por se julgar com autoridade ou melhor que os outros, decide que seu pedaço deve ser maior que todos os outros. A briga se instala e os outros membros tem duas opções: ou negociam ou destituem o membro. Foi o que aconteceu. O Collor mexeu na fatia do bolo dos políticos, deu briga e ele dançou.”
Tenho a sensação de que o que está ocorrendo na política de Campinas é um rearranjo nas fatias do bolo. Um já dançou, o outro está com a valsa pronta para dançar e outros conseguiram aumentar a sua fatia, talvez por inveja do tamanho da fatia dos que tinham o poder.
Marcos Inhauser

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

MOVIDO A MÚSICA

Em casa havia um dito: se o rádio está ligado, o Marcos está em casa. Desde pequeno andei fuçando para ter música à mão. Lá nos idos, eu fiz rádio de galena (pequena engenhoca que pegava uma única estação, sem uso de pilha ou outra fonte de energia) e ficava à noite ouvindo música.
Dei um jeito de ter um rádio na cabeceira da cama. Por reclamações com o som dele, tirei os falantes e coloquei debaixo do travesseiro para não atrapalhar os irmãos. Muitas destas rádios desligavam às onze ou meia-noite e eu ficava bravo por não ter música para ouvir. Arrumei um de Ondas Curtas porque podia ouvir até mais tarde, sem ter que desligar à meia noite. Tive uma vitrolinha portátil que ficava até tarde da noite ligada, tocando a meia dúzia de compactos e LPs que tinha.
Fiz das tripas o coração para ter como pegar FM, quando só havia estação em São Paulo. Queria ouvir a Eldorado porque me disseram que só tocava músicas. Consegui, mas nem sempre com recepção boa. Comprei um rádio portátil à pilha e descobri quão caro era ficar trocando-as por ficarem todas as noites até tarde ligado.
Uns colegas diziam que eu tinha um rádio muito bom e que para leva-lo para todo lado eu colocava rodas. Assim foram meus carros. O advento do walkman foi o céu. Tive vários, todos trocados por quebrar ou por modelos menores. A fita cassete me deu a chance de levar minhas músicas preferidas por todo lado, ainda que tivesse que carregar uma caixa. O Discman foi outra coisa que usei aos montes. Tive mais de 200 CDs. Veio o MP3 e aí me arrumei como sempre sonhei. Leve, portátil, econômico, usa pouca pilha. Achei que tinha tudo, até que peguei o IPod.
Digo estas coisas porque entramos na estação que mais músicas maravilhosas tem a ela dedicado: o Natal. Fico impressionado com a quantidade e qualidade das músicas natalinas e fico a pensar que só pode ser por Deus que tanta gente compôs tanta maravilha para falar do evento maior da humanidade. Ontem fiquei horas no Youtube vendo corais cantando canções natalinas. Tenho que confessar que lágrimas rolaram mais de uma vez.
No universo das músicas natalinas só tenho um reparo: a composta pelo Beatle John Lennon. Ela é linda, mas conseguiu escrever e cantar algo sobre o Natal sem mencionar a Jesus Cristo. Ainda bem que existe o Messias de Haendel, o Surgem Anjos Proclamando e tantas outras.
Obrigado Deus pela graça da música, aperitivo do céu!!
Marcos Inhauser

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

ARGUMENTATIVO


Meu neto Thiago tem seis anos de idade. Ele é um formigão: adora doces. Há alguns meses, por recomendação médica, começou-se a controlar a quantidade de açúcar diária. A mãe dedicou-se à árdua tarefa, restringindo a dieta. Todos os dias ele pede bala e ela diz que não vai dar para o bem da saúde dele.
Dia destes ele perguntou à mãe:
̶ Quando eu crescer eu vou casar. E quando eu casar vou ter filho?
̶ Sim, você poderá casar e ter filho.
̶ Quando eu tiver filho eu vou dar duas balas todos os dias para ele!
A mãe percebeu a alfinetada do filho e retrucou:
̶ Quando você tiver seu filho você vai se preocupar com a saúde dele e também vai se preocupar com o que ele come e quanto come, especialmente em se tratando de doces.
̶ Mas eu vou dar duas balas para ele todos os dias!
̶ Aí você não estará preocupado com a saúde dele.
̶ Mas eu vou estar preocupado com a felicidade dele também, e por isto vou dar duas balas todos os dias.
Não é a primeira vez e nem sou o único a ser surpreendido com as afirmações dos filhos e netos. Isto faz parte da história da humanidade.
No entanto, tenho para comigo, no que penso sou secundado por muitos outros, as crianças de hoje estão mais “inteligentes”, mais rápidas no gatilho e mais argumentativas.
Há algumas possíveis explicações para isto. A própria expressão “dar à luz” tinha um significado original diferente daquele que hoje damos. Ela se referia ao dia em que a criança, depois da quarentena em quarto escuro no qual era mantida logo após o nascimento, era trazida à luz. Isto era, em alguns casos, quarenta dias depois do nascimento. A criança era confinada e, de certa forma, engessada nas fraldas, faixas e cueiros. Parece que era proibido se mexer, espernear, sentir a liberdade depois de meses encerrado na bolsa uterina. Justificava-se dizendo que devia ser enfaixado para que a coluna “endurecesse”.
As exposições aos estímulos externos eram mínimas. Seu mundo, no mais das vezes, era viver no “chiqueirinho”.
Houve uma mudança drástica no nascimento, cuidado, educação e oportunidades. Elas estão mais livres e soltas, seus pais saem a passear com elas logo nos primeiros dias de vida, ouvem música, veem televisão, vão às escolinhas, interagem com outras crianças, aboliu-se o chiqueirinho, acessam o celular, IPhone, Ipad, games.
Os brinquedos estimulam o raciocínio e a capacidade argumentativa. Mais que ordens verticais, os pais aprenderam a dialogar e a explicar aos filhos o por que das coisas. Eles aprendem e argumentam. E nós nos surpreendemos e ficamos de queixo caído.
Marcos Inhauser