Trago viva a lembrança vivida em minha infância. Minha avó materna e um tio viviam com a gente e em casa havia um fogão à lenha, centro da vida familiar. Certo dia apareceu a possibilidade de trocar o velho fogão por outro a gás. As conversas à mesa, na hora da janta (naquele se tempo ainda se jantava!) era acalorada com meu pai defendendo a novidade e os outros reticentes ou contrários. Lembro-me que um dos argumentos brandidos era que o café já não mais estaria à disposição sempre quente, pois não haveria fogo para mantê-lo aquecido.
Outro argumento era de que o feijão feito no fogão moderno não tinha o mesmo gosto do feito em fogão à lenha (até hoje ouço este argumento e não consigo entender, confesso, porque se é o calor que cozinha, qual a diferença ente os calores?).
Quando olho para trás, percebo que a questão não deveria ser se deviam ou não trocar, mas quando deveriam fazê-lo. Há mudanças que vem para ficar e não aceitá-las é ficar fora do mundo. Assim foi com a imprensa, quando muitos a acusaram de poder disseminar mentiras, imoralidades, etc. Foi assim com o cinema, a televisão, o telefone e o celular. Não é uma questão de saber se deviam ou não aceitar, mas quando deviam adotar as novidades.
A mesma questão vale para o computador e a internet. Muitos foram (e ainda são) críticos severos da modernidade, acusando tudo o que de mal está acontecendo com os filhos e casamentos. Mas parece que os críticos de então e de agora se esqueceram e se esquecem de olhar quanta coisa simplificou com as novidades. Minha avó não mais precisou rachar lenha, nós os netos não mais precisamos recolher a madeira, não mais havia panela pretejada para lavar. O café quente foi solucionado com a garrafa térmica que veio logo depois e não mais se tomou café requentado.
De igual maneira, os críticos da modernidade da internet se esquecem que ela é que possibilita uma série de comodidades. O banco online, os endereços à mão, a localização de amigos, o conversar com o mundo, o ter dados e informações na ponta dos dedos, são poucas das muitas coisas que mudou para melhor.
Toda mudança implica em riscos, em ajustes, em dores de parto até que a coisa venha à luz. Criticar a gravidez sem olhar o fruto por vir é burrice. Não há novidade, avanço, sem algumas dores.