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quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

FAÇA AS PAZES COM A IMPERFEIÇÃO

O senso comum diz que ninguém é perfeito. Isto é verdade! Há no ser humano um DNA que tem o gene de imperfeição.
Se for verdadeira a história de que Adão e Eva tiveram dois filhos, um bonzinho e outro que matou o irmão, todos somos descendência de um assassino, de um fraticida. Depois dele teve um Jacó que vivia brigando com o Esaú, um Esaú meio desligado que não pensou duas vezes em trocar o direito de primogenitura por um prato de lentilha, o Saul que mandou matar o melhor amigo do filho, o Davi que mandou matar o marido da amante, o Salomão que gostava da pompa e da circunstância, tanto que arrumou uma coleção de esposas. Isto para ficar nos mais conhecidos.
A imperfeição é um toque da graça da Deus. Porque não acertamos sempre (ou quase nunca), buscamos a ajuda de Deus para vencer as coisas que sabemos não ter a capacidade para fazer certo. Porque erramos e fazemos mal feito, voltamos e temos a benção de refazer e recomeçar. Se nunca acertássemos nada, seríamos depressivos por nascimento. Se sempre acertássemos, seríamos arrogantes, nos achando os “reis da cocada”. A imperfeição nos coloca em nosso devido lugar: seres humanos. Se Deus nos tivesse feito perfeitos, teria concorrência.
O problema não é ser imperfeito. Há algumas atitudes em relação à imperfeição que podemos ter. Ceder a ela e sempre fazer as coisas mal feitas. São as pessoas conformistas e as derrotistas. Valem-se do fato de não sermos perfeitos para fazer pela metade. É ser derrotado de enttrada na guerra com a imperfeição.
A outra atitude é a de não se enxergar e achar que tudo o que faz, faz bem feito. Esta classe de pessoas se coloca como exemplo para tudo e todos, são professores da universidade (porque sabem de tudo e para tudo tem o “jeito certo de fazer”). Estas têm a tendência de se julgarem fortes, que se conhecem, que são bem resolvidas, que tem o controle da situação e do entorno. É achar que pode ganhar a guerra com a imperfeição.
As primeiras são cansativas de se relacionar porque tem a tendência à murmuração, ao azedume. As segundas são difíceis de se relacionar porque são arrogantes e prepotentes.
Estes dois grupos têm o problema de não se enxergar. O primeiro porque não consegue ver que pode fazer algo bem feito. O segundo porque acha que tudo que faz, está bem feito. Ela é o padrão de conduta, comunicação, relacionamentos. Estão mais para peças de museu que para vidas reais.
Uma terceira atitude é a das pessoas que se conhecem imperfeitas, que mesmo no que são bons sabem que podem falhar. Estas, no que pese a possibilidade de falhar, fazem o melhor que podem, ficam frustradas com o que não saiu como queriam, mas depois dão risada da coisa que não funcionou do jeito que esperava ou queria. Entendem que o fizeram ontem e o fizeram bem feito, não é garantia de que, se fizerem hoje, terão o mesmo resultado. Veem a vida com variáveis múltiplas e não como relação de causa e efeito simples.
Assumir a imperfeição é sinal de maturidade. Trabalhar pela perfeição é depender da graça de Deus. Aceitar os tropeços e desacertos é perdoar-se. É fazer as pazes com a imperfeição.

Marcos Inhauser

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

GERAÇÃO Y UMA OVA!

Andava bronqueado com o senso comum de chamar os jovens de “Geração Y”, mas não sabia por quê. Ouvi muita gente “intindida” discursando sobre as características e senso de urgência desta geração. O meu nariz anda torcido há tempos, desde que comecei a ouvir no Brasil a réplica daquilo que existe nos Estados Unidos, categorizando gerações (founders, boomers, busters, Y, Z, etc..). Detesto transplante de conceitos que servem para o império e que se quer aplicar aqui como se fôssemos iguais aos de lá.
No sábado passado, ouvi o Dr. Volney Faustini, Administrador de Empresas, Escritor, Preletor, Consultor nas áreas de Marketing, Vendas e Inovação Empresarial. Foi Presidente da ABT – Associação Brasileira de Telesserviços de 1991 a 1995. Realizou centenas de seminários, workshops e treinamentos nas áreas de Telemarketing, Vendas, Motivação, Inovação Empresarial e Planejamento Estratégico. São de sua autoria, os livros: A Arte do Telemarketing (1992) e A Inovação Vencedora do Varejo (1999).
Ele, tal como eu, andava irritado com a coisa. Só que ele passou da irritação à pesquisa. Leu 2.000 biografias de líderes brasileiros desde o império.
Estudou a fundo a nossa história e a dividiu em períodos de Apogeu e Crise; descobriu fatores comuns (Ascensão, Apogeu, Queda e Crise), bem assim o encadeamento entre elas.
Na sua categorização temos as seguintes eras: Exploradores (1683-1707; Indignados (1708-1730; Inconfidentes (1731-1752); Realeza (1753-1775); Novo Brasil (1776-1796); Monárquicos (1797-1818) - Unificadores (1819-1840); Abolicionistas (1841-1861); Transformadores (1882-1904); Modernidade (1905-1927); Revolucionários (1928-1947); Bossa Nova (1948-1966); Caras Pintadas (1967-1984); Globalizados (1985-2006) e Colaborativa (2007-2028?).
Na correlação entre as gerações estadunidenses e as brasileiras tem-se o seguinte: Os Baby Boomers (nascidos entre 43-60) tem a geração Bossa Nova (nascidos entre 48-66); a geração X (61-81) tem a geração brasileira dos Cara Pintadas (67-84); a geração Y (82-04) encontra no Brasil a geração Globalizados (85-06) e a geração que tem os mais variados nomes nos EUA (05-??) encontra a Colaborativa no Brasil (07-??).
Como exemplos típicos da Geração Bossa Nova tem-se a FHC, Joaquim Barbosa, Alckmin, Aécio, Marina Silva, Eduardo Campos, Ayrton Senna. Na Geração Caras-Pintadas tem-se a Lindberg Farias, Luciana Genro, ACM Neto, Manuela D´Ávila, Gisele Bundchen, Luciano Hulk, Barrichelo e Felipe Massa. Na Geração Globalizados pode-se citar René Silva, João Montanaro, Gabriel Medina, Gergório Duvivier, Paulinho, Neymar, Lucas Piazon, Luan Santana, Maisa da Silva Andrade.
Já a Geração Colaborativa é a que está por vir, que tem seus poucos anos de vida e ainda não se tem a possibilidade de caracterizá-la, mas de uma coisa se sabe: não mais aceitarão as coisas feitas. Eles terão que participar, colaborar, construir junto.
Sei que vai ter gente que vai torcer o nariz para esta nova descrição geracional. O que posso fazer? É mais fácil ir com a onda e pegar o bonde andando e falar as abobrinhas que todos falam. O que dizem pode ser verdade lá, mas não aqui.
Eu, de minha parte, porque acho que senso comum é a somatória das afirmações feitas pelos que não pensam, tô fora de chamar de Geração Y.

Marcos Inhauser

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

AS MULHERES NA IGREJA

O apóstolo Paulo, a certa altura, disse que “não há judeu nem grego, não há servo nem livre, não há macho nem fêmea; porque todos são um em Cristo Jesus.” (Gl 3:28). Esta passagem é a mais citada para apoiar a visão de que se deve permitir mulheres na liderança da Igreja. Conservadores não dão importância a ela, apontando conflito com outras passagens paulinas ou dizendo que se deve abordá-la à luz da ordem hierárquica da criação onde, segundo eles, o homem tem primazia por direito natural e divino.
Fatores históricos, bíblicos e teológicos convergem no sentido de dar às mulheres a liberdade para usarem os dons dados por Deus em qualquer posição de liderança na Igreja. Mulheres e homens foram igualmente criados por Deus e a queda não afetou mais a um que ao outro. Embora o pecado tenha destruído o relacionamento inicial, a redenção em Cristo restaurou a ambos e os colocou em pé de igualdade dentro da comunidade de fé.
A controvertida passagem retro-mencionada não foi escrita no vazio, em momento de alucinação paulina ou em função de alguma pressão que tenha sofrido. Antes, traz uma longa e rica história a respaldá-la e com um contexto específico ao seu redor que inclui perspectivas sobre a criação, o modelo e ensinamentos de Jesus.
Há pouca controvérsia sobre o fato de Jesus ter revolucionado o modo de tratar as mulheres. Elas foram curadas, tocadas, permitidas a se sentar a seus pés e ungi-lo, foram partícipes de Seu ministério e tiveram a primazia de ser as primeiras a ver o túmulo vazio e a Jesus ressuscitado. Ele resgatou as mulheres de serem primariamente seres de procriação e objetos sexuais, e restaurou seu status como seres humanos, criadas à imagem de Deus.
Pelo fato de ter sido Paulo quem disse que não há distinção entre macho e fêmea, torna a frase ainda mais significativa. Judeu e cidadão de Roma, cresceu repetindo as orações tradicionais de ação de graças judaicas: “Bendito seja Deus por não ter-me feito um gentio; ... um camponês ignorante ou escravo; ... ou uma mulher.”  No mundo greco-romano fórmula semelhante era usada pelos gregos: “Por ter nascido humano e não animal, por ter nascido homem e não mulher, por ter nascido grego e não bárbaro.” 
Há que se observar o paralelo das três frases nestas duas orações e a tríplice exortação de Paulo na frase citada.  Paulo era um homem bem educado, e pode-se facilmente imaginar que o paralelo não é mera coincidência: “não há judeu nem grego, não há servo nem livre, não há macho nem fêmea”. Parece querer desdizer o que as orações judaicas e greco-romanas diziam.
Por outro lado, percebe-se a orientação batismal presente, pois lembra seus leitores que são “revestidos” em Cristo (v. 27), têm uma nova identidade e um relacionamento, não só vertical com Deus através de Cristo, mas também horizontal, com a comunidade. Eles “são um em Cristo” (v. 28), independentemente de raça, classe ou sexo.  A salvação do judeu e do gentio, do escravo ou livre, dos homens ou mulheres já está resolvida pelo sacrifício de Cristo e ambos podem e devem usar seus dons no serviço ao próximo e nos ministérios da igreja.

Chega de discriminação feita por quem deve proclamar a igualdade de gêneros feita por Cristo na cruz!
Marcos Inhauser

CRISTOFOBIA: ÓDIO ASSASSINO

No Peru houve um movimento guerrilheiro/terrorista chamado Sendero Luminoso. Ele era “metralhadora giratória” porque suas ações eram desprovidas de qualquer lógica. Lembrei-me deles nestes dias em que o terrorismo ganhou outra vez os noticiários. Mas não quero falar do Charlie Hebdo, mas do Boko Haram, a “metralhadora giratória” que atua na Nigéria.
A Igreja da Irmandade tem um trabalho naquele país que se iniciou em 1923 com missionários que para lá foram. Em 1955, o primeiro pastor nigeriano foi ordenado. A igreja focou seus trabalhos em educação, saúde e agricultura. Escolas foram criadas, serviços médicos oferecidos e projetos agrícolas foram desenvolvidos. A igreja cresceu ao ponto de ser hoje quase o dobro em tamanho que a igreja-mãe, a Church of the Brethren.
Conheci a vários dos pastores desta igreja (EYN - Igreja da Irmandade na Nigéria) no tempo em que estudei e dei aulas no Bethany Theological Seminary. A partir de 2000 comecei a ouvir destes irmãos nigerianos referências ao Boko Haram. As menções se intensificaram e as práticas começaram a ser selvagens: matavam indiscriminadamente, às vezes centenas, outras vezes milhares.
Se se quer resumir as intenções deste grupo, pode-se dizer que pretendem instalar um califado islâmico que tenha a lei da Sharia como fundamento e a erradicação de qualquer vestígio de educação ocidental e cristianismo. Eles não pensam duas vezes para aniquilar quem se coloca como obstáculo às suas pretensões.
A EYN teve vários dos seus pastores e membros assassinados, templos queimados, lavouras destruídas, escolas fechadas. Muitas das moças sequestradas em 2014 pertencem à EYN. 96 mil membros da EYN foram obrigados a se mudar por causa da violência e necessitam de abrigos, comida e água. Dos 50 Distritos que a EYN tem (grupos de igrejas de uma mesma região geográfica que se coordenam em suas atividades), 37 foram fortemente impactados e 18 foram fechados. 280 pastores e evangelistas tiveram que se mudar e deixar seus templos. Mais de 3 mil membros da EYN já foram mortos.
 Mais informações podem ser obtidas no http://www.brethren.org/partners/nigeria/crisis.html e nohttp://www.brethren.org/partners/nigeria/documents/fact-sheet.pdf
Esta é uma crise que não acabará em breve. Talvez demore décadas!
O Boko Haram é movido por uma “cristofobia” (termo emprestado do Reinaldo Azevedo). A EYN, tem suas raízes históricas e teológicas alicerçadas no pacifismo (assim como as demais igrejas da paz/anabatistas: Irmandade, Menonitas e Quáqueros). Têm ensinado e praticado a não-violência, mesmo diante das barbáries sofridas. Ser pacifista em meio a esta crise e tanta barbárie gratuita tem sido um grande desafio para os cristãos nigerianos.
Apoio maciço e massivo tem sido prestado aos refugiados que sobrevivem aos extermínios.
A Church of the Brethren já mandou este ano mais de 2,8 milhões de dólares para ajudar nesta crise e decidiu colocar um prédio histórico da denominação à venda para levantar fundos para ajudar os nigerianos.
Jovens voluntários, membros da Church of the Brethren estão sendo enviados para ajudar aos refugiados, fugitivos e famintos. Movimentos de oração e jejum têm sido promovidos clamando a Deus pela Nigéria e pelos cristãos que lá vivem.
A Igreja da Irmandade no Brasil, ainda que pequena, tem se solidarizado e orado por esta grave situação que a EYN e a Nigéria vivem.
Marcos Inhauser

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

CRISTOFOBIA: O ÓDIO ASSASSINO

CRISTOFOBIA: ÓDIO ASSASSINO
No Peru houve um movimento guerrilheiro/terrorista chamado Sendero Luminoso. Ele era “metralhadora giratória” porque suas ações eram desprovistas de qualquer lógica.
Lembrei-me deles nestes dias em que o terrorismo ganhou outra vez os noticiários. Mas não quero falar do Charlie Hebdo, mas do Boko Haram, a “metralhadora giratória” que atua na Nigéria.
A Igreja da Irmandade tem um trabalho naquele país que se iniciou em 1923 com missionários que para lá foram. Em 1955 o primeiro pastor nigeriano foi ordenado. A igreja focou seus trabalhos em educação, saúde e agricultura. Escolas foram criadas, serviços médicos oferecidos e projetos agrícolas foram desenvolvidos. A igreja cresceu ao ponto de ser hoje quase o dobro em tamanho que a igreja-mãe, a Church of the Brethren.
Conheci a vários dos pastores desta igreja (EYN - Igreja da Irmandade na Nigéria) no tempo em que estudei e dei aulas no Bethany Theological Seminary. A partir de 2000 comecei a ouvir destes irmãos nigerianos referências ao Boko Haram. As menções se intensificaram e as práticas começaram a ser selvagens: matavam indiscriminadamente, às vezes centenas, outras vezes milhares. Se se quer resumir as intenções deste grupo, pode-se dizer que pretendem instalar um califado islâmico que tenha a lei da Sharia como fundamento e a erradicação de qualquer vestígio de educação ocidental e cristianismo. Eles não pensam duas vezes para aniquilar quem se coloca como obstáculo às suas pretensões.
A EYN teve vários dos seus pastores e membros assassinados, templos queimados, lavouras destruídas, escolas fechadas. Muitas das moças sequestradas em 2014 pertencem à EYN. 96.000 membros da EYN foram obrigados se mudar por causa da violência e necessitam de abrigos, comida e água. Dos 50 Distritos que a EYN tem (grupos de igrejas de uma mesma região geográfica que se coordenam em suas atividades), 37 foram fortemente impactados e 18 foram fechados. 280 pastores e evangelistas tiveram que se mudar e deixar seus templos. Mais de 3.000 membros da EYN já foram mortos. Maiores informações podem ser obtidas no http://www.brethren.org/partners/nigeria/crisis.html e no http://www.brethren.org/partners/nigeria/documents/fact-sheet.pdf.
Esta é uma crise que não acabará em breve. Talvez demore décadas!
O Boko Haram é movido por uma “cristofobia” (termo emprestado do Reinaldo Azevedo). A EYN, tem suas raízes históricas e teológicas alicerçadas no pacifismo (assim como as demais igrejas da paz/anabatistas: Irmandade, Menonitas e Quáqueros). Têm ensinado e praticado a não-violência, mesmo diante das barbáries sofridas. Ser pacifista em meio a esta crise e tanta barbárie gratuita tem sido um grande desafio para os cristãos nigerianos.
Apoio maciço e massivo tem sido prestado aos refugiados que sobrevivem aos extermínios. A Church of the Brethren já mandou este ano mais de 2,8 milhões de dólares para ajudar nesta crise e decidiu colocar um prédio histórico da denominação à venda para levantar fundos para ajudar os nigerianos. Jovens voluntários, membros da Church of the Brethren estão sendo enviados para ajudar aos refugiados, fugitivos e famintos. Movimentos de oração e jejum têm sido promovidos clamando a Deus pela Nigéria e pelos cristãos que lá vivem.

A Igreja da Irmandade no Brasil, ainda que pequena, tem se solidarizado e orado por esta grave situação que a EYN e a Nigéria vivem.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

UM MISTO DE SENTIMENTOS

Pela primeira vez pude ter reunidos para as festas de final de ano a todos os meus netos, um dos meus dois genros e minha nora. São catorze anos desde que minha primeira filha se casou e depois deste tempo todo, poder celebrar o Natal juntos, ver a criançada pulando, gritando, aprontando, foi uma experiência indescritível. Ao mesmo tempo em que desfrutava, ouvia no noticiário e constatava as mudanças climáticas e uma pergunta vinha à mente de forma inevitável: que mundo vamos deixar para eles?
Vi a posse dos governadores e da Dilma. Ouvi parte dos discursos e me bateu aquele ar de frustração por perceber que todos os candidatos que prometeram o paraíso, acenavam com frituras na administração. Ouvi alguma coisa do que os ministros disseram e, na expectativa de mudanças, o que vi foi a perpetuação da mesmice.
Ouvi sobre as mudanças que se propõe para o Salário Desemprego e Auxilio Doença e acreditei que haveria alguma seriedade na área econômica e mudanças para evitar o Auxilio Preguiça que o Salário Desemprego se transformou. Mal acabei de ouvir, veio a notícia de que a coisa não passa pelo Congresso, porque a base aliada está descontente com as nomeações feitas pela presidente.
Ouvi o ministro Barbosa dizer que faria mudanças no cálculo do salário mínimo. Vibrei porque, ainda que seja analfabeto em economia, sei que a fórmula arrebenta os gastos públicos, uma das mazelas deste governo. No outro dia li que o ministro veio a público dizer que não disse o que havia dito, pressionado que fora pela presidente em férias. O príncipe virou sapo pela intervenção da bruxa.
Tomou posse o mais antigo ministro não empossado, o Levy, aquele que foi nomeado e nunca empossado para dar tempo ao ministro-das-eternas-desgraças praticar a sua contabilidade criativa, feito Mandrake escondendo o descalabro das contas públicas.
Olho na minha estante e vejo um livro que o tenho e o li há mais de 20 anos. Está em inglês e o título e "Para uma Esperança Melhor". O autor, Hauerwas, trabalha a questão de manter acesa a esperança de dias melhores e que isto e possível. Creio nisto, mas, com esta política que vejo, com os Renans, Sarneys, Zés Dirceu, Delubios, Vacaris, Vacarezzas, Youssef, Duque e aliados, parentes e clones, fico em dúvida se esperança melhor poderemos ter.
Isto me leva a pensar que, nos tempos de Seminário, na minha formação teológica, fui ensinado a ter e comunicar certezas, especialmente a de melhores dias e a do Reino de Deus ao fim de tudo. No entanto, vejo que a vida é como barco ao sabor das ondas, levado para todo lado. Como ter certezas neste mundo de mudanças radicais a cada minuto? O mundo ficou liquido, volátil, multiforme.
Em meio às incertezas, viver é uma aventura. Viver com e pela fé é loucura. Ao menos não posso dizer que não fui avisado: o apóstolo Paulo já havia alertado que o evangelho é loucura.
Marcos Inhauser

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

OS SAGRADOS TRABALHO E DESCANSO

Se o trabalho é um direito, o descanso também o é. Vivemos tempos em que o trabalho tem sido escasso em muitas partes, onde taxas de desemprego são altas, como ocorre na Europa, especialmente na Grécia, Espanha e Portugal. O desemprego dos jovens é ainda mais alto, o que impede a realização pessoal, mata os sonhos e cria frustrações.
O Estado reconhece o trabalho como fonte de riqueza, como direito e dever social. Ele deve promover as condições que eliminem a pobreza e assegurem por igual aos habitantes a oportunidade de uma ocupação.
Na relação de trabalho fica proibida qualquer condição que impeça o exercício dos direitos trabalhadores, que desconheça ou rebaixe sua dignidade. O trabalho obrigatório (sem o consentimento do trabalhador) caracteriza-se como trabalho escravo e deve ser condenado.
Depois que inventaram o notebook e o celular, o trabalhado passou a ser de tempo integral. Não são poucos os que vivem conectados, fazendo extensas jornadas, algumas delas feitas sem o consentimento do trabalhador. Há muitos que, trabalhando como escravos, o fazem pensando na promoção que poderá vir caso se mostrem comprometidos.
Aliado a isto está a globalização que permite e requer contatos com todas as partes do mundo. Quem tem que se contatar com a China ou Coréia, não poucas vezes, tem que fazê-lo de madrugada.
Se trabalhar é necessário, o repouso também o é. A instituição de um descanso depois de seis dias de trabalho é algo milenar. Esse descanso é algo tão divino e necessário, que a Bíblia afirma que o próprio Deus descansou. Ele, na Bíblia, estava determinado não só para os seres humanos, mas também para toda a criação (os animais e os campos). O dia de descanso, mais que uma questão religiosa e cúltica, é uma questão de justiça social e de valorização da vida e do trabalho.
Levíticos determina que durante seis anos semear-se-ia a terra e se recolheria seu fruto. Mas durante o sétimo ano, se deixaria descansar, sem cultivar, para que comessem os pobres, as viúvas e os órfãos. Idêntico procedimento teria com o vinhedo e as oliveiras. Aqui se trabalha o conceito do descanso para a terra e para o ser humano. Entendo que no sistema capitalista, se aperfeiçoou a exploração de tal maneira que temos, em alguns setores, o descanso que é aproveitado para outra atividade como forma de se aumentar a renda.
O descanso vem como tempo de contemplação da obra realizada. Trabalhar, produzir, sem poder olhar e gozar do que se produziu, é escravidão. Trabalhar sem ter sábado é morrer. Trabalhar sem descansar é morte. O trabalho tem limites. O gozar a vida é parte do próprio viver."
Quem paralisa o trabalho e descansa, participa do ser e do atuar de Deus. Negar-se ao trabalho, ao menos em um dia, é corresponder ao criador. E "se Deus é por nós, quem será contra nós" (Rm 8.31). Quem, pois, obedece aos babilônicos, quem ceda às pressões e trabalha o sábado, abandona a Javeh. Assume a idolatria. Aqui, trabalho nos dias sábados e idolatria são sinônimos, como o veremos mais adiante com uma precisão maior.

É o descanso para as mãos, para o corpo. É espaço no qual caem as cadeias. 
Marcos Inhauser

SÓ NA BENÇA!!!

Há não muitos dias fui a um supermercado da periferia, pois precisa de dois itens para levar ao grupo de estudo. Acerquei-me à banca de frutas para pegar alguns limões e ouvi o seguinte diálogo:
Boa tarde irmã!
— Oh! irmão. Boa tarde. Como vai o irmão?
— Tô na bença. Só na bença. E a irmã?
— Eu também. Bença pura!
— A irmã ainda congrega naquela igreja?
— Sim irmão, mas tô pensando em ir prá outra igreja.
— Por que, irmã?
— O “obrero” de lá é muito pidão. Todo dia pedindo dinheiro prá alguma coisa. É prá pagar a luz, a água, a gasolina, o aluguel, o “pograma” de rádio. Se a gente for dar “toda veis” que ele pede, a gente passava fome. Não ia sobrar prá nada!
— Tem “obrero” que só pensa no “dinheiro”.
Demorei para me afastar porque a senhora me impedia o acesso aos limões e eu estava interessado na conversa. Depois de mais algumas perguntas e respostas, ele perguntou:
— A irmã tem notícia do irmão Antonio? Nunca mais soube nada dele.
— Não, não tenho sabido de nada. E o irmão sabe do irmão Geraldo que andava com ele? Ele também sumiu. Fiquei sabendo que ele foi mandado embora do trabalho. Ele tinha muito tempo de empresa.
— Pois é, irmã. O Geraldo foi mandado embora, pegou uma bolada e decidiu abrir um ministério só prá ele. Alugou um salão, abriu uma igreja e a coisa tá indo bem.
— Verdade irmão?
— Ele tá com o ministério dele não faz um ano. Ele já conseguiu comprar uma casa prá ele, só com o trabalho na igreja. Ele montou uma loja de CDs evangélicos na igreja, vende Bíblias, adesivos de geladeira.
— O irmão Geraldo é um homem espiritual, de oração. Ele fala “bunito” e prega só na Bíblia. Deus tá abençoando ele!
— É verdade irmã! Mas tem gente que tá fazendo muito dinheiro sendo pastor.
— O da minha igreja já deve estar rico, ao menos pelo que ele pede e o povo dá. Só que ele não mostra o que tem. É sabido! Anda com o mesmo carrinho velho, mora na mesma casa. De repente a riqueza aparece!
— Tenho que ir, irmã! Fica na bença!
— O irmão também. Vai na bença. Um dia vou lá ver o ministério do irmão Geraldo. Capaz até de mudar prá igreja dele.
Não preciso fazer comentários. A conversa é autoexplicativa e revela o grau de comercialização que a fé se transformou em segmentos bem identificados.
Foi-se o tempo em que igreja era coisa séria, dirigida por gente capacitada, formada em teologia sob a supervisão de um tutor, período experiencial e só então era ordenado.
 Marcos Inhauser

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

UM FILHO EXEMPLAR

Filho de um casal que, assim como tantos outros, teve seus problemas financeiros e de relacionamento, ele tinha tudo para ter uma adolescência rebelde e ser um filho problema. Mas desde cedo mostrou que tinha objetivos para a sua vida e os perseguiu.
Alistou-se na Aeronáutica pois queria fazer a carreira militar e ser piloto. Assim fez e assim aconteceu. Seus pais se separaram e ele sempre teve um carinho muito grande pelos dois. Por causa da carreira militar, mudou-se muitas vezes. Casou-se, teve uma filha.
A mãe não tinha uma casa para morar e ele e a esposa decidiram ajudá-la na construção de uma. Mais tarde, para que a mesma pudesse ter uma renda para sua aposentadoria, eles a ajudaram a construir dois pequenos apartamentos para aluguel.
Seu pai foi morar no extremo oeste do país. Quando soube que ele estava doente, saiu de sua base e foi para lá. Havia problemas para que ele recebesse atendimento médico, providenciou para que fosse atendido da melhor maneira possível. Ficou com ele alguns dias. Dias depois o pai faleceu e novamente foi para lá para ter certeza de que teria um sepultamento digno.
Quando tiveram a filha, o casal decidiu que adotaria um filho. Fizeram a inscrição na lista de adoção e ficaram na fila de espera. Nada de chamarem.
Estavam morando no extremo sul do país e foram removidos para o norte. Um dia, tocou o telefone e era o pessoal do sul dizendo que tinham uma criança para ser adotada. O coração deles saltou. A pessoa que ligou disse: “Só que há um problema. A criança tem um ano e meio e é aidética. Setenta e cinco pessoas que estavam na lista de espera para adoção se recusaram a adotá-la.”
Imediatamente eles responderam que sim, que queriam adotar a criança mesmo sendo aidética. Saíram do norte do país, foram ao sul para ver a criança e iniciar o trabalho de familiarização para ver se a criança se adaptava com a família. O encontro foi mágico. Ao ver a Juliana, a criança estendeu os braços e se atirou, como se ela fosse a verdadeira mãe.
Dias depois, permitiram que o casal levasse a criança para casa, ainda no sul, para ampliar o processo. No processo de saída do orfanato o Bruno pergunto quais eram os remédios que le tomava e que deveria continuar tomando. Para seu espanto e da Juliana, eles lhe disseram que a criança estava há dois sem medicamentos porque o Estado não os entregava.
Ele saiu dali, foi ao consultório de uma médica amiga do casal, fez a consulta, pegou a receita e foi à farmácia comprá-los. O casal assumiu o compromisso de que, desse certo ou não o processo, aquela criança nunca mais teria a falta dos remédios.
Ainda não sei se a adoção deu certo. O processo está correndo esta semana. Decidi compartilhar a história para que que se saiba que há gente decente, bondosa e filhos exemplares. Há casais dispostos ao sacrifício para que uma criança tenha um lar, mesmo depois de ter sido recusada por setenta e cinco outros casais.

P.S. Depois de haver escrito e publicado esta coluna, recebi a notícia de que o casal conseguiu a adoção do menino aidético. Mas a história não para aí. No dia seguinte à adoção sacramentada descobriram que a Juliana está grávida do seu segundo/a filho/a.

Marcos Inhauser

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

IMAGINE SE...

Estamos às voltas do imbróglio armado pelas revelações do Snowden sobre o amplo e, ao que tudo indica irrestrito, sistema de espionagem montado pelos Estados Unidos para bisbilhotar a vida de cidadãos comuns, governos e empresas.
Por trazer à luz parte do que fizeram (e ainda fazem), o antigo funcionário da Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos, foi considerado traidor e sua cabeça está a prêmio. Quando pediu e recebeu asilo político na Rússia, a concessão estremeceu as relações entre os dois países, pois agora, não só o Snowden era traidor, como também a Rússia traíra a confiança dos Estados Unidos.
Por causa dele, e baseado em “leve suspeita”, bloquearam o espaço aéreo da Europa para o avião presidencial da Bolívia, pois imaginavam que Evo Morales tinha ido à Rússia para trazer para sua terra o “traidor”.
O mesmo fizeram com o Assange, quem, em um ato de coragem e serviço público, publicou milhares de documentos secretos dos Estados Unidos. Para tentar colocar a mão nele até arrumaram uma prostitua sueca que alega que foi abusada por ele. Asilado na Embaixada Equatoriana na Inglaterra, não recebe o salvo-conduto para sair da Embaixada e ir ao aeroporto e assim chegar ao seu destino de asilado.
O soldado estadounidense, Bradley Manning que entregou os documentos foi identificado, julgado como traidor e pegou 35 anos de prisão.
Agora, imagine o reverso.
Imagine que um brasileiro tivesse conseguido entrar nos e-mails do Barack Obama e bisbilhotado a correspondência dele. Imagine que outro tivesse entrado nos computadores da IBM e roubado segredos industriais. Ou que uma Agência Brasileira ligada à Petrobrás tivesse entrado e obtido dados estratégicos sobre as reservas de petróleo dos Estados Unidos. Qual seria a reação deles?
Seria a de mandar um comunicado abominando as invasões cibernéticas? Mandariam um subchefe de alguma coisa para dizer que não gostaram? Esperariam uma semana para ter os esclarecimentos por escrito? Mandariam o Secretário de Estado para conversar e receber explicações de uma “sub alguma” coisa relacionada à inteligência?
Que nada!
De forma veemente e violenta retaliariam nas relações comerciais com o Brasil, sobretaxariam nossos produtos para o mercado estadounidense, fariam um auê dos infernos!
Mas, o lulo-dilmismo-petismo esbravejou para o público externo e mandou o Ministro das Relações Exteriores para Washington para ter uma conversa com a sub alguma coisa, e voltarão dizendo que as explicações dadas foram satisfatórias e que elas, por razões de segurança não podem ser explicitadas para o grande público.
E lá vamos nós. Engolindo sapos e arrotando presunto!

Marcos Inhauser