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quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

MÁXIMAS NÃO OBSERVADAS

Na política (e também no mundo corporativo) há a máxima de que não se nomeia quem não se pode, depois, demitir. Este foi o erro do Lula ao nomear o José Alencar, vice-presidente, como ministro das Forças Armadas. Ele teve a sorte de que nada de esquisito ou fora do eixo aconteceu e não se viu na saia justa de ter que removê-lo.
O mesmo se deu com a Rosinha Mateus ao nomear o marido, ex-governador, como Secretário da Segurança Pública do Rio. Deu no que deu. Um desastre e nada de solução efetiva. Muita pirotecnia, pouca realização. O mesmo ocorre agora com o Temer que nomeou o Segóvia como Diretor da Polícia Federal. O Segóvia subiu no salto alto, já na primeira declaração pública falou abobrinha e se agora se consolidou como abobrinhologista na entrevista que deu à Reuters. Indicado pelo Sarney (ele tinha um agradecimento ao Segóvia pelo trabalho de obstrução às investigações quando era investigado), foi nomeado sem consultar e à revelia do Ministro da Justiça. Agora está aí o abacaxi para ser descascado.
Nesta mesma linha de raciocínio está a malfadada nomeação do Lula como ministro pela então presidente, quem, caso a nomeação tivesse se consumado, teria um ministro politicamente maior que ela. Seria um absurdo. Graças a Deus, fomos liberados desta excrecência.
Tenho para comigo que o Padilha e o Moreira Franco se enquadram no mesmo quadro. O Temer não tem cacife político para demiti-los, seja pela “gratidão”, seja pelas inúmeras acusações que tem que responder e que os dois o blindam. No mesmo raciocínio está a nomeação do nunca empossada Ministra do Trabalho, cuja folha corrida é maior que a biografia para ocupar a pasta.
Como desgraça pouca é bobagem e os sucessivos erros e recuos são a marca registrado do governo (??) Temer, depois de ver a Reforma da Previdência ir água abaixo (nunca entendi qual o ganho que o Temer tinha/teria em aprovar tal legislação), vem ele oferecer uma solução para os problemas que há décadas aflige o Rio. Joga o Exército na fogueira, nomeia um general como “semi-interventor”, deixa o Pezão no governo, anuncia a intervenção, mas ainda não tem planos, não sabe quanto vai custar, nem como tais operações se darão. É uma operação caída de paraquedas.
Se o Exército resolvesse em algo, alguma coisa teria mudado no Rio desde que vem atuando na cidade. Que nada! O roubo de carga continua solto, os confrontos entre as fações têm feito vítimas civis, muitas delas crianças, o tráfico rola solto, os arrastões continuam e o saque em plena área nobre acontece.
Eu me pergunto: e o serviço de inteligência serve para que? Não conseguiram descobrir onde o segundo homem da facção paulista estava? Não sabem por onde e quem está por trás do tráfico de armas? Apreenderam alguns fuzis no Rio há um ano, mas foi fruto de denúncia anônima. Pegaram dois caminhões carregados com cigarro contrabandeado, também com denúncia anônima. Será a inteligência policial brasileira a que funciona por denúncia anônima?
A solução da intervenção é irreversível para o Temer. Diferentemente do que costuma fazer, nesta não dá para voltar atrás. OU assume de vez, ou se ferra. Acho que vai se ferrar porque o homem não tem pulsos (e isto está demonstrado nos inúmeros recuos que já deu) para aguentar o tranco.
Marcos Inhauser



quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

FESTIVAL DA MESMICE

Eu tentei! E o fiz várias vezes. Confesso que não consegui gastar muito tempo vendo televisão nestes dias de Carnaval. Mesmo para ler ou ver o jornal foi problemático.
Há um abuso na quantidade de notícias parecidas e sem importância nos destaques das coberturas. Coisas como: “fulana comeu um cachorro quente”, “é maravilhoso estar aqui”, “gastei dois carros nesta fantasia”, “aqui estão as celebridades....”, “como você se sentiu desfilando pela ...”.
Dias destes, com a televisão ligada e tentando me interessar pelo que apresentavam, cochilei e, quando acordei, pensei que não tinha dormido ou que a imagem tinha congelado. Era a mesma imagem. Comecei a prestar atenção. Estavam passando algo do Bloco Tal na Tijuca, aí o narrador/apresentador dizia: “agora vamos ver como estão as coisas no Recife” e a coisa era igual. Mudava a cor da roupa, a música era igual, o bando de gente com lata de cerveja na mão, levantando as mãos e “sambando”. Mudava a cidade, o apresentador, mas as frases descritivas do que se via eram as mesmas, numa enxurrada de obviedades.
Tentei, por várias vezes, ao longo dos últimos anos, ver os desfiles das escolas de samba. Ou sou um analfabeto completo ou não vejo diferenças entre uma ou outra. É verdade que os carros alegóricos são diferentes, mas, para mim, a música dos sambas-enredo é parecidíssima. Parecem ter a mesma toada, a mesma melodia e a mesma cansativa e repetitiva interpretação. São 65 a 75 minutos com a mesma música que se caracteriza pela repetição dos bordões.
Além do mais, ficar pendurado na TV para ouvir comentarista esportivo e apresentadora de beldades apresentando o que posso ver, falando óbvio e se embasbacando quando a Tuiuti fez a crítica à legislação trabalhista e ao presidente vampiro, para mim é perda de tempo. Parece que a escola não passou pela avenida dado o mutismo que imperou, com falas prá lá de óbvias. Ler o que está escrito e que eu podia ler, é me xingar de analfabeto.
Não fosse o destempero do Segóvia com a entrevista em que antecipou o não-indiciamento do Temer e as repercussões do fato, o final de semana teria sido terrível. Não haveria o que ler e pensar neste fim-de-semana prolongado. O diretor-geral da PF, o indicado pelo Sarney, nomeado no atropelo pelo Temer, sem a anuência do Ministro da Justiça, sob quem deve trabalhar, veio a público pagar a fatura da sua nomeação. Em fato que nunca antes ocorreu, o Segóvia antecipou o resultado de uma investigação que não é dele, de um delegado que é um desafeto seu, de algo ainda inconcluso. Deu no que deu.
Veio a público com a mesmice: culpa da imprensa que disse o que ele não disse, que o que disse não é o que foi dito, que .... blá... blá... blá. Neste episódio a celeridade do Ministro Barroso e pedir explicações e em ordenar o “fecha a boca” se contrapõe à demora do STF em julgar o que se espera há anos. Recordista em processos inconclusos o STF deve explicações sérias e honestas por que o Renan, Jucá, Sarney, Maia, Padilha, Franco e outros, ainda não foram julgados.

Se o Carnaval suspende a vida nacional por alguns dias, se tudo parece ser cor-de-rosa nestes dias (ao menos para os carnavalescos), o Segóvia entrou no ritmo de jogar confetes no Temer e suspender o inferno criminal que o mesmo vive. A coisa melou. Ainda bem!
Marcos Inhauser

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

SILÊNCIO LUCRATIVO

Acabei de ler a notícia do UOL de que as empresas de transporte de valores não informam os valores roubados em seus carros-fortes. Nunca vi também um banco vindo a público e afirmando que foram levados tantos mil reais. Pensar nos centavos é utopia.
Como pode um carro de transporte de valores ser roubado e a empresa não ter condições de dizer o quanto foi roubado? Não têm eles controle sobre a quantia que carregam? Não assinam um documento de recebimento de valores na hora que os pegam no comércio ou nos bancos? Custa fazer a soma o cálculo e dar cifras exatas?
Não sabem os bancos o quanto de dinheiro havia no caixa eletrônico explodido? Que controle eles tem sobre os valores que guardam se, a cada assalto ou roubo, a notícia vem com a sempre presente afirmação: “os valores roubados não foram informados”.
Conheço uma pessoa que foi contratada para trabalhar no setor de controle de fraudes de um dos grandes bancos, isto lá no final dos anos 70. Era a época em que começavam a ser utilizados os primeiros cartões magnéticos que possibilitavam retirar dinheiro no caixa. Esta pessoa, que estava encarregada de descobrir as fraudes, percebeu que o que acontecia era algo que só se explicava se alguém de dentro do banco estivesse fazendo a falcatrua. Juntou as evidências e foi a seu chefe, mostro o que havia coletado, o que estes dados indicavam e pedia autorização para seguir adiante na investigação, uma vez que se tratava de coisa interna corporis.
Para surpresa, sua, dois dias depois foi demitido. A tentar saber a razão teve a resposta clássica dos modelos hierárquicos: “ordem superior”. Ele saiu de lá com a certeza de que a coisa era fabricada pelo próprio banco para acobertar alguma coisa, ou para diminuir o lucro fiscal ou para abastecer algum caixa dois.
Desde então tenho minhas barbas de molho. Acho que a não publicação dos números, a não cobrança da polícia em saber com exatidão os valores roubados, tem alguma coisa que cheira lona queimada.
Porque o Palocci não teve, até agora, a sua delação premiada homologada? Nas entrelinhas das notícias, li que ele estava disposto a relatar o papel dos bancos no propinoduto. Como pode ter acontecido o que aconteceu e não ter um só banco envolvido até agora? O banco do mensalão teve seus dirigentes penalizados, mas o banco mesmo passou incólume. Será que o setor que mais liberdade teve para atuar, que ganhou fortunas cobrando o que quer de taxas e juros, não irrigou campanhas políticas? Por que, toda vez que se fala em fiscalizar mais profundamente o setor, vem a lenga-lenga do risco sistêmico?
Como podem a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil ter diretores envolvidos em esquemas, ao ponto de, sob pressão o governo ter demitido quatro deles, e nenhum dos bancos privados ter algo a “contribuir”?
Quem está por trás das transportadoras de valores? Alguém já leu, alguma informação dando conta quem são, quanto cobram pelo transporte, quanto pagam de seguro, se vale a pena transportar todo este dinheiro, quem paga a conta destes brucutus de ar-condicionado rodando ruas e estradas?
Há algo de podre nesta salada de negócios. É daquelas coisas que você cheira que há algo fedendo em casa, e vai para todos os cantos buscando descobrir onde está. Às vezes, a melhor coisa e esperar para que a apodreça de vez, para então eliminar. Outras, pela persistência, se logra eliminar com o trabalho investigativo correto.
Marcos Inhauser

quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

JULGAMENTOS

Há vários tipos de julgamento. Dizem os entendidos que, ao conhecer uma pessoa, em prazo de segundos, já fazemos um julgamento baseado nas informações internalizadas que temos. O pessoal da Relação Objetal vai dizer que os valores para estes julgamentos são os modelos/vivências internalizados pelas figuras de pai e mãe. Este primeiro e instantâneo julgamento é corroborado ou modificado pelas informações posteriores, que, no mais das vezes, porque já estamos “viciados” pelo julgamento primevo, tendem a corroborar o que antes já foi sentenciado. Talvez na esteira do Kant, deva-se dizer que não há imparcialidade em nenhum julgamento, nem mesmo nos que são feitos pelo júri, porque seus membros vêm a ele com informações prévias do noticiário, suas experiências de vida e seus valores internalizados.
Disto decorre que os julgamentos sempre são controversos. Desde a atuação de um juiz em campo de futebol (cuja mãe é homenageada a cada partida), até os feitos pelas mais altas cortes, sejam elas nacionais ou transnacionais, são criticados. Raríssimas vezes os condenados e seus amigos/seguidores disseram que os juízes foram justos no seu julgamento.
No que se refere aos governantes, há certo consenso no julgamento dos piores da história (parece que há mais consenso nas avaliações negativas que nas positivas!). A começar por Nero, Herodes e Átila e outros imperadores romanos, passando por Napoleão, Hitler, Idi Amin Dada, Muamar al Kaddafi, Franco, Pinochet, Videla, Slobodan Milosevic e outros tantos mais.
Os Estados Unidos também são pródigos na galeria dos horrores presidenciáveis: Os Bush (pai e filho), Andrew Johnson, James Buchanan, Nixon, Lindon Johnson e outros mais.
Como não poderia deixar de ser, o Brasil também sua contribuição nesta galeria: Marechal Deodoro da Fonseca, Hermes da Fonseca, Washington Luis, Sarney, Collor e Dilma. Esta lista, com certeza, será questionada por muitos que incluirão a outros e defenderão a alguns.
Estamos em momento intenso de julgamentos. Para usar a expressão de um dos que refuto como péssimo governante, “nunca na história destepais” houve tanta gente sendo julgada. A grande maioria alega inocência, algumas fizeram delação premiada, outras esperneiam até não mais poder, usando do direito do “jus esperneandi”. Alguns, com advogados que recebem seu peso em ouro, adotam a linha de mostrar inconsistências nas investigações, outros adotam a linha do confronto direto e desrespeitoso, preferindo acusar os julgadores que apresentar provas de inocência. A tática de desmerecer a acusação é tão antiga quanto a humanidade e poucas vezes se mostrou eficaz.
Hoje entramos na segunda etapa de um julgamento controverso, O judiciário brasileiro que, por várias vezes claudicou na sua missão de estabelecer a justiça, tem a chance histórica e pode mostrar para que existe que porque custa o que custa. Não basta ter uma capa sobre os ombros e falar palavras ininteligíveis para a grande parte da massa, não basta saber umas tantas quantas frases latinas. É mister que faça justiça e esta baseada nos autos do processo e nas investigações, sem se deixar levar por pressões de políticos, da mídia, ou por narcísicos que possam ser.
Há um clamor na sociedade, tanto para um lado possível do julgamento, quanto para o outro. Dependendo do resultado, parte da população estará satisfeita e parte dirá que houve injustiça, parte dirá que o Judiciário foi valente e se posicionou, parte dirá que o Judiciária se curvou. Nunca um juiz saiu de campo depois de um jogo sem críticas!
A sentença nunca será final! Sempre haverá controvérsia. Há até mesmo os que, mesmo com tudo o que se sabe, defendem Hitler!

Marcos Inhauser

quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

RANKING DOS CHATOS

Achei que era implicância minha em função da idade. Sabe como é: a gente vai envelhecendo e a flexibilidade vai diminuindo.
Ocorre que, conversando com algumas pessoas mais jovens que eu, percebi que compartilhamos algumas das mesmas percepções, pelo que decidi colocar meu ranking das pessoas chatas e esperar a reação dos leitores.
“Eu-por-exemplo”: é a pessoa que se sente padrão para o mundo. Ela ouve algo e em seguida tem que dizer o que ela pensa ou como agiria em determinada situação. Quase sempre começa com a frase que a caracteriza.
“Isso-não-é-nada”: a pessoa ouve de uma dor ou algo estranho ou engraçado que aconteceu e em seguida vem com sua história, sempre precedida do “isto-não-é-nada”, porque ela acha que sua história ou foi mais engraçada, inusitada ou sua dor é mais forte que a do outro.
“Sabe o que penso?”: tem a necessidade compulsiva de fazer conhecida a sua opinião sobre tudo e todos. Ninguém quer saber o que eu ela pensa, mas, mesmo assim, discorre, quase sempre, alongada e cansativamente, sem profundidade de conhecedora do assunto.
“O-que-você-deve-fazer” ou “eu-no-seu-lugar”: elas não conseguem ouvir que alguém tem um problema, tem uma dor, está em alguma dificuldade que, sem que se peça, se prestam a enumerar soluções não solicitadas.
“Sempre-eu” ou “tudo-eu”: pessoas que tem o DNA da vítima. Fazem tormenta em copo d’água, acham que para elas tudo é difícil, todo mundo conspira contra ela, tudo de ruim acontece com ela, suas dores são maiores do que a dos outros, ninguém entende o seu sofrimento, etc. São poços de lamúria, desdita e depressão. Depressivas, promovem a depressão em quem com elas convive.
Ao lado destas que são identificáveis pelas frases que usam, há as pessoas chatas que se identificam pelo comportamento. A primeira delas é que começa a falar e não para mais. Falam pelos cotovelos. Seguida a elas estão as que interrompem quando você está falando ou antecipam o que você iria dizer e se tornam senhoras da conversação.
Há as pessoas que não podem ouvir uma crítica ou algo com o qual não concordem. Elas se sentem compulsivamente orientadas a dar uma resposta ou a passar um sermão ao que teve a ousadia de criticá-la. Dão a impressão de serem bem resolvidas, mas balançam ao menor vento.
Outra classe de chatos é formada pelos hipocondríacos: só falam de doença, de remédios, de descoberta feita pelo Dr. Fulano da Universidade Sei Lá. Se você diz que tem um dor, logo vão sugerir para fazer um exame para saber se não está com câncer.
Há, dentro do universo dos hipocondríacos as “formadas pela leitura de bulas”. Sabem de todos os efeitos colaterais dos remédios, o que se pode comer e o que não se deve beber quando da ministração do remédio. São rápido para sugerir novas medicações que são as mais recentes descobertas.
Há os chatos nutricionistas. Vivem ensinando o que é bom para saúde, o que se deve beber ou comer (quase sempre em jejum e com sabor horrível). O pior deles são os veganos. Não comem quase nada e ainda querem impor a dieta deles a todo mundo. Quando você diz que come carne, olham para você com cara de nojo.
O campeão é o politicamente correto. Todo o cuidado é pouco ao se falar ou comentar algo. Para tudo elas têm uma “visão diferente”, tudo ela vê pelo ângulo do direito das minorias, tudo merece “ser problematizado”. A conversa com elas vira um exercício de pisar em ovos, onde, quase sempre, por mais cuidado que eu se tome, acaba quebrando algum.
Perdão por ter si do chato, mas falei o que estava engasgado!
Marcos Inhauser

quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

REPETICIOSO

Há uma coisa que tem me irritado e que não entendo como, estudantes da Bíblia, cometem o mesmo erro dia após dia. Há uma recomendação de Jesus no sentido de não usar de “vãs repetições ... porque pensam que pelo seu muito falar serão ouvidos” (Mateus 6:7).
Tenho notado o exercício da repetição nos cânticos (os chamados “corinhos”), especialmente os de louvor, onde frases de senso comum e jargões são repetidos à exaustão. “Eu te louvo, Oh! Deus”, “glorificado seja o teu nome”, “Tu és grande”, “Tu és digno de ser louvado”, “Tu és eterno”, “Tu és santo”, etc. Poderia citar uma quantidade enorme de exemplos destas “pérolas”.
Ocorre que elas não estão só nas letras dos cânticos, boa parte deles de pobreza ímpar no conteúdo. Os cantores e líderes de louvor se sentem na liberdade/obrigatoriedade de rechear os intervalos entre um cântico e outro com sermonetes que nada mais são do que a repetição da mesmice acima descrita. Na prática, a liturgia, ramo de estudos e prática ligados ao culto, foram depauperados e, em muitos lugares, totalmente desprezados ou ridicularizados.
A escolha dos cânticos se dá, não por critério de mensagem e unidade temática, mas pelo nível de entusiasmo e empolgação que a música e seu ritmo provocam. O que vale é a animação e não a mensagem. Sendo assim, não estranha que a mesmice não aborreça, como a mim o faz.
O problema é que se fossem só os cânticos, talvez se perdoasse porque os músicos e cantores não estudaram Bíblia e teologia com profundidade. O que também me molesta são os sermões que repetem a mesmice. Há um certo rebuscamento nas frases, nas ilustrações, mas a essência é sempre a mesma. Mudam o texto, mudam as histórias, mas o ensino se resume a uns poucos conceitos, repetidos em outras palavras, sermão após sermão. Variações do mesmo tema.
Outra mesmice são os vídeos que circulam a granel na internet e que entopem nossos celulares. São os que transferem as prédicas e os púlpitos para uma tela. Pregam a mesmice, com a diferença de que o fazem no vídeo e buscam alcançar o maior número de pessoas. Recebo destas mensagens aos montes e, quando tenho paciência de escutar, percebo a dificuldade em encontrar gente falando seus próprios pensamentos, algo que seja fruto da sua experiência. Falam banalidades e repetem o que outros disseram. Já ouvi a mesma história contado por quatro pregadores diferentes, cada qual com o ar de que estava contando uma novidade.
Posso parecer pedante ao dizer estas coisas, passando a impressão de que sou diferente. Nada disto. Quantas vezes eu me peguei no círculo vicioso da mesmice, quantas vezes fiquei com vergonha de um sermão, aula ou algo que escrevi. Não tenho o dom de trazer a novidade todas as vezes que falo, prego, ensino ou escrevo. Tenho consciência disto. Eu me policio, e busco novas fontes de informação. Nos últimos anos tenho lido coisas fora do mundo bíblico e teológico, buscando refletir sobre o diálogo que pode existir entre os mundos, às vezes díspares. O problema não é repetir algo algumas vezes. O problema é não perceber que está falando a mesmice e achado que descobriu a quadratura do círculo.
Marcos Inhauser

quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

O ÓBVIO EM 2018

Não precisamos de muito esforço para saber que algumas coisas vão acontecer em 2018. São coisas óbvias. A primeira delas é que, durante o ano, presidente Temer vai mudar de opinião muitas vezes e vai voltar atrás em várias decisões. Ele é especialista em marcha à ré. Deu inúmeros exemplo disto em 2017 e deixou algumas coisas já engatilhadas para 2018, especialmente no que se refere à reforma da Previdência. Não duvido que até possa voltar atrás na sua decisão de não concorrer nas próximas eleições. Seria ótimo: seria sepultado pelos votos ínfimos que teria.
A segunda obviedade serão os Habeas Corpus que o Gilmar Mendes dará, liberando corruptos e corruptores. Em sua cruzada quixotesca, está brigando com moinhos de vento e dedicando suas façanhas à Dulcinéia, mulher fictícia, que ele crê, admira sua beleza, impostação vocal e atos de “bravura”. No masculino ela se chama Narciso. Também se pode ter a certeza pristina de que atacará os ministros Barroso e o Fux e se aliará ao Toffoli, próximo presidente do STF. De igual maneira, é óbvio que criticará a condução do ministro Fux à frente do Tribunal Supremo Eleitoral, pela simples razão de que não permitirá que o mesmo tenha todos os holofotes do processo eleitoral sobre ele.
A terceira obviedade está na atuação do Congresso. Pode-se esperar ausências múltiplas, sessões vazias, votações mínimas e de nada que os comprometa (se é que algum dia votaram pensando no povo). Deste Congresso pode-se esperar também que surjam manobras e maracutaias visando o indulto pelos crimes praticados, cujo balão de ensaio foi colocado no indulto presidencial, revisto pela iniciativa da PGR, Raquel Dodge.
A quarta obviedade serão os discursos repetitivos, já conhecidos à exaustão, dos candidatos aos cargos eletivos. Os temas que serão óbvios: educação, saúde, segurança pública, combate à corrupção, enxugamento da máquina estatal. Os candidatos, até onde se pode ver, são os óbvios e já conhecidos, que nada de novo trarão à instituição, seja do Congresso ou da presidência. O óbvio é que teremos mais do mesmo.
A quinta obviedade serão as notícias sobre a precariedade dos sistemas de saúde e educação, a falta de verba para segurança pública, a quebradeira dos estados em um processo de plágio do modelo fluminense e gaúcho. A isto acrescente-se as notícias sobre o déficit público e a liberação descabida de verbas por parte da presidência para safar-se de uma agenda tóxica que ele tem sobre si, criada por ele mesmo.
A sexta obviedade, e esta bem-vinda, serão as notícias sobre novas prisões julgamentos de pessoas envolvidas em escândalos de corrupção. Que sejam muitos os presos, investigados e condenados, mesmo porque, à luz do que já se sabe, ainda há muita sujeira debaixo dos porões dos desgovernos.
Minhas esperanças óbvias e, creio, as mesmas de muitos brasileiros: que a Lava Jata continue com força e vigor, que a Lava Jato do Rio seja tão ou mais eficiente que a de Curitiba, que os casos enviados para as varas do DF sejam julgados segundo os padrões estabelecidos nos casos anteriores já julgados, que a prisão em sentença confirmada por segunda instância seja confirmada como normativa, que os intocáveis Jucá, Renan, Maia, Padilha, Moreira Franco, Eunício e outros sejam alcançados pelos braços da Justiça, que haja sangue novo e novidade na forma de se fazer política.
Marcos Inhauser

quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

GILMAR TOFFOLI NATALINOS

A tradição brasileira, tanto no legislativo como no judiciário, é que as decisões mais importantes são tomadas ou na calada da noite, ou nos estertores do ano legislativo ou judiciário. Assim foi a aprovação da “censura na internet”, votada no dia último 05 de outubro. O mesmo se deu com o pacote contra a corrupção que foi mutilado pelas muitas emendas e alterações.

A poucos dias outro fato pitoresco e grotesco: o Presidente da comissão, Caio Narcio (PSDB), anunciou votação e proclamou aprovação de projeto sobre cursos de saúde à distância! A desfaçatez está no fato de que não havia ninguém na hora da votação. Só ele!

Mas o que me choca é o sentimento natalino que se bate sobre alguns ministros do STF nos finais de ano. O mais afetado pelo espírito cristão é o Gilmar Mendes, a quem já dediquei uma coluna, pelo mesmo motivo, com o título Gilmar Noel Mendes. Nele escrevi: “no exercício do sagrado dom da misericórdia, o judiciário que ele representa e que por ele assinou, deu habeas corpus ao médico Abdelmassih (tantas vezes negado anteriormente), anulou a sentença do juiz De Sanctis condenando Daniel Dantas no caso da empresa Kroll, paralisou a ação da operação Satiagraha. Neste espírito natalino, a esposa do traficante Juan Carlos Abadía, a Jéssica Paola Morales, também recebeu a permissão para sair da prisão e ficar com a mãe que a visitaria”.

A coisa se repetiu neste final de ano. Ele e seu colega Toffoli, contagiado pelo dom da misericórdia e perdão do Gilmar, avalizou as decisões tomadas. Suspendeu o inquérito contra o governador Beto Richa, deu prisão domiciliar para a Adriana Ancelmo,  livrou da ação o senador Benedito de Lira e o deputado Arthur Lira, ambos do PP que teriam recebido R$ 2,6 milhões de propina entre 2010 e 2011; também inocentaram o deputado José Guimarães, do PT, denunciado por corrupção e lavagem de dinheiro, acusado de ter recebido de R$ 97 mil em troca da liberação de empréstimo para a construtora Engevix. Novamente, o deputado Eduardo da Fonte, do PP, também foi salvo, sob a alegação de que a denúncia não era substancial.

Parece que, para a dupla, para ser considerada denúncia substancial, precisa haver recibo com firma reconhecida e duas testemunhas. Vídeo com quinhentos mil, áudio com provas, não são “substanciais”.
Para selar com chave de ouro o seu período natalino e de papai Noel, o Gilmar proíbe a “condução coercitiva”. Agora corrupto, ladrão, engravatado, dono de mandato, pode escolher a hora e local onde prestar depoimento. Nada de ser levado sob convite!
O Toffoli, expert em pedir vistas, tem usado do recurso como instrumento político protelatório. Causas já definidas com a maioria dos votos proferidos é paralisado pelo ministro cego que pede vistas. Tenho para comigo que um pedido de vista é uma afirmação de incompetência. O assunto está no tribunal há tempos e ele vem dizer que precisa de tempo para estudar a matéria. O que fez antes?
Se eu fosse o Eduardo Cunha, Geddel, Delcídio, Eduardo, Henrique Alves, Lula, Cabral, ou algum outro que recebeu alguns votos na vida e “tem ou teve foro privilegiado”, clamaria aos céus para que meu recurso ao STF caísse para o Gilmar julgar. Seria livramento garantido.

Este espírito natalino me envergonha, assim como boa parte da nação brasileira. Não precisamos destes Papai Noeis!
Marcos Inhauser

quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

ANJO COM CÂNCER

Esta coluna eu a tenho na mente há alguns anos. Não vou colocar nome na pessoa por algumas razões: levaria uma baita bronca dela (quem detesta holofote), quem a conhece sabe que estou falando dela e quem não a conhece o que importa saber é que há anjos de carne e osso.
Por várias vezes e sempre pela mesma razão tive que adiar a publicação, porque, em vista da saúde dela, poderia parecer que o que escrevo é comiseração. Queria escrever o que vou dizer em um contexto de saúde. Não consegui e se o faço é porque quero dar a ela uma palavra de alento.
Eu a conheço há uns 46 anos. Ainda na pré-adolescência, foi daminha de honra do meu casamento. Desde então venho acompanhando sua vida e sempre a admirei por sua atitude positiva frente à vida e seus percalços. Acompanhei sua juventude, casamento, filhas e desenvolvimento profissional. Sempre admirei seu compromisso com a fé e a maneira como vive de maneira prática e significativa a vida cristã abençoando todos quantos a conhecem.
Há algumas coisas que nela me edificam e me fazem admirar. A sua disponibilidade constante em ajudar aos outros. Enumerar as vezes e os fatos em que ela esteve envolvida fazendo algo em benefício de alguém é trabalho sem fim. Seu coração alegre e generoso tem sido benção. Dizer do seu trabalho maravilhoso na igreja como pianista é falar o óbvio.
Filha de um pai abençoado e abençoador e de uma mãe que se entrega de alma ao ministério de oração, ela pegou o DNA dos dois: abençoadora com palavras, ajuda e orações. Leva a sério a recomendação bíblica de que a mão esquerda não deve saber o que a direita faz. Assim, o que dela sei foi por testemunho de outros e nunca porque ela tenha me contado.
No auge de sua vida descobriu-se com um câncer no seio. Encarou-o com serenidade, fez o que devia ser feito, levantou a cabeça e continuou sendo o mesmo anjo que sempre foi. Alguns anos mais tarde descobriu um câncer no fígado. A mesma determinação e enfrentamento. Daí veio o do pâncreas e depois, outra vez, o do fígado. Continua sendo o anjo que sempre foi.
Dia destes conversávamos e ela contava o quanto tem tido a oportunidade de ajudar pessoas que estão na mesma condição, quando das aplicações que deve fazer. Abatida pelo tratamento prolongado, tem mostrado uma fé abençoadora. Assim são os anjos!
Não entendo por que Deus faz estas coisas. Por que Ele bota de molho alguém que fez da sua vida uma benção para muitos? Por que ele deixa familiares, amigos e abençoados por ela no estresse de acompanhar a evolução do seu tratamento? Porque alguém cheio de vida precisa ficar de molho até recuperar as forças para continuar fazendo o que sabe fazer: abençoar? Por que Deus permite que anjos adoeçam e ainda mais de câncer?
Ela é a negação da teologia do mérito. Ela não merece o que está passando porque, se Deus é verdade que abençoa os retos e castiga os injustos, ela nunca deveria ficar doente.
Tô brigando com Deus por causa dela. Sei que vou perder a briga, mas sou honesto em dizer a Deus o que penso: Ele está errando com este anjo! Já passou da hora de curar este anjo!
Marcos Inhauser


quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

A ESSÊNCIA DA IGREJA

Estou dando um curso à distância para alunos que são hispanos nos Estados Unidos. O curso, por causa da modalidade, é experiência nova para mim que sempre dei cursos presenciais e podia “ler a classe” e acertar o caminhar do conteúdo com a linguagem corporal dos alunos. As aulas versam sobre a história da igreja, especialmente voltadas para os movimentos anabatistas e petistas.
Para que houvesse certo consenso no que os alunos entendem como sendo igreja, dada a diversidade de opiniões e conceitos, trabalhei dois elementos: a essência e a forma da igreja. Por essência se deve entender aquilo que, se retirado ou inexistente, deixa de ser igreja. É o mínimo necessário para que um agrupamento religioso possa ser considerado como tal.
Por forma se entende tudo o que “enfeita”, “adorna” a essência. Neste quesito está a cultura, o idioma, as músicas, a liturgia, os cânticos, as vestimentas, os horários e dias de reunião, a estrutura organizacional, os cargos e ofícios, as celebrações, etc. A essência não pode mudar. É a mesma em qualquer lugar, mas a forma deve mudar para que o grupo se adeque ao seu contexto e às pessoas que dele participam.
Ainda que possam parecer simples, estes dois elementos encontram dificuldade em ser definidos, especialmente no que à essência se refere. Em um dos testes, pedi que me listassem cinco elementos essenciais da igreja e tive tantas respostas quanto alunos. A variedade do que entendem como essência me causou espécie, e me fez refletir sobre o que se entendem como sendo igreja, o que eu entendo como essencial e o que, histórica e teologicamente devem ser considerados como elementos essenciais.
Um elemento foi comum a todos eles: a centralidade de Cristo, ou o cristocentrismo. Na avaliação das respostas dadas surpreendi-me em perceber que eu mesmo não saberia dar os elementos essenciais que fossem consenso com outros colegas. No refletir sobre o assunto, percebi que há um elemento que eu nunca havia incluído. É sabido e ensinado que Jesus deixou a lei magna, pela qual toda a lei de Deus é cumprida: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Esta tríplice dimensão do amor (Deus, próximo e mim mesmo) deve estar na essência da igreja. Ela deve promover o amor a Deus e isto, de uma forma ou outra, questionável ou não, todas se declaram como imbuídas desta missão.
O problema surge no exercício do amor ao próximo porque muitas segregam, discriminam condenam ao diferente ou ao que não pertence ao grupo ou dele diverge nos ensinamentos. Não é raro ver ou escutar de pessoas que foram condenadas ao inferno porque não pertencem a esta ou aquela denominação ou “seita cristã”, de igrejas que mandam ao inferno ao diferente por sua opção sexual, por ter roubado, ou assassinado. Por se verem como “santos e santificados”, entendem que pertencem a uma classe especial de seres humanos porque agraciados com a benção da justificação e, pela presença e ação do Espírito Santo, se comprometem com a santificação que os “tira do mundo”.
Mais ainda: não há um compromisso sério de promover o amor a si mesmo, com medo de estar promovendo o egoísmo. Antes, a pregação é culpabilizante, tripudiando a pessoa com a ideia de uma velha criatura, qual cadáver insepulto que está a atormentar o crente, levando-o à tentação e pecado. O ser humano convertido não é portador de virtudes, mas de erros e pecados potenciais. Assim, as igrejas se transformam em demolidoras de autoestima.

Marcos Inhauser