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quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

FESTIVAL DA MESMICE

Eu tentei! E o fiz várias vezes. Confesso que não consegui gastar muito tempo vendo televisão nestes dias de Carnaval. Mesmo para ler ou ver o jornal foi problemático.
Há um abuso na quantidade de notícias parecidas e sem importância nos destaques das coberturas. Coisas como: “fulana comeu um cachorro quente”, “é maravilhoso estar aqui”, “gastei dois carros nesta fantasia”, “aqui estão as celebridades....”, “como você se sentiu desfilando pela ...”.
Dias destes, com a televisão ligada e tentando me interessar pelo que apresentavam, cochilei e, quando acordei, pensei que não tinha dormido ou que a imagem tinha congelado. Era a mesma imagem. Comecei a prestar atenção. Estavam passando algo do Bloco Tal na Tijuca, aí o narrador/apresentador dizia: “agora vamos ver como estão as coisas no Recife” e a coisa era igual. Mudava a cor da roupa, a música era igual, o bando de gente com lata de cerveja na mão, levantando as mãos e “sambando”. Mudava a cidade, o apresentador, mas as frases descritivas do que se via eram as mesmas, numa enxurrada de obviedades.
Tentei, por várias vezes, ao longo dos últimos anos, ver os desfiles das escolas de samba. Ou sou um analfabeto completo ou não vejo diferenças entre uma ou outra. É verdade que os carros alegóricos são diferentes, mas, para mim, a música dos sambas-enredo é parecidíssima. Parecem ter a mesma toada, a mesma melodia e a mesma cansativa e repetitiva interpretação. São 65 a 75 minutos com a mesma música que se caracteriza pela repetição dos bordões.
Além do mais, ficar pendurado na TV para ouvir comentarista esportivo e apresentadora de beldades apresentando o que posso ver, falando óbvio e se embasbacando quando a Tuiuti fez a crítica à legislação trabalhista e ao presidente vampiro, para mim é perda de tempo. Parece que a escola não passou pela avenida dado o mutismo que imperou, com falas prá lá de óbvias. Ler o que está escrito e que eu podia ler, é me xingar de analfabeto.
Não fosse o destempero do Segóvia com a entrevista em que antecipou o não-indiciamento do Temer e as repercussões do fato, o final de semana teria sido terrível. Não haveria o que ler e pensar neste fim-de-semana prolongado. O diretor-geral da PF, o indicado pelo Sarney, nomeado no atropelo pelo Temer, sem a anuência do Ministro da Justiça, sob quem deve trabalhar, veio a público pagar a fatura da sua nomeação. Em fato que nunca antes ocorreu, o Segóvia antecipou o resultado de uma investigação que não é dele, de um delegado que é um desafeto seu, de algo ainda inconcluso. Deu no que deu.
Veio a público com a mesmice: culpa da imprensa que disse o que ele não disse, que o que disse não é o que foi dito, que .... blá... blá... blá. Neste episódio a celeridade do Ministro Barroso e pedir explicações e em ordenar o “fecha a boca” se contrapõe à demora do STF em julgar o que se espera há anos. Recordista em processos inconclusos o STF deve explicações sérias e honestas por que o Renan, Jucá, Sarney, Maia, Padilha, Franco e outros, ainda não foram julgados.

Se o Carnaval suspende a vida nacional por alguns dias, se tudo parece ser cor-de-rosa nestes dias (ao menos para os carnavalescos), o Segóvia entrou no ritmo de jogar confetes no Temer e suspender o inferno criminal que o mesmo vive. A coisa melou. Ainda bem!
Marcos Inhauser

quarta-feira, 15 de julho de 2015

POLITEIA

Os nomes dados às operações da Polícia Federal indicam que há gente que lê e estuda dentro da corporação. Os mais variados nomes já foram usados e a mais recente, deflagrada ontem, Politeia, remete ao texto de Platão, a República, onde o filósofo tece comentários negativos à democracia. Dizem os entendidos que, influenciado por uma postura intelectualista de Sócrates, Platão a incorpora em seu pensamento, dando-lhe amplitude política. Em a República demonstra que não é possível pensar a política como prática qualquer e corriqueira, destituída de orientação cognitiva e de pressupostos epistemológicos.  Assim, toda ação política correta depende da visão dada por um saber relacionado à organização da cidade.
Para ele, a pólis é um organismo moral e uma comunidade ética, cuja finalidade é a realização da justiça e da virtude e não somente a conquista de objetivos como a segurança,  bem-estar,  produção de riquezas etc. Para isto, é necessário se fundar a pólis com uma elite intelectual, a qual, possuindo a sabedoria, norteará o funcionamento da vida política.
Se o que temos no Brasil é uma democracia, certamente não o é nos termos mencionados por Platão. O que temos está mais para corruptocracia. Vale citar SHAPIRO (Os fundamentos morais da política. Trad. de Fernando Santos. São Paulo: Martins Fontes, 2006, p. 245): “Como existe o predomínio da democracia no mundo contemporâneo, qualquer investigação dos fundamentos morais da política tem, ... , que estar atenta ao papel desta na legitimação dos regimes políticos. O fato de que governos das mais diversas colorações ideológicas, ... , tentem se cobrir com o manto da democracia é uma prova a mais ... de que o compromisso com a democracia é um componente indispensável da legitimidade política [...] No mundo contemporâneo, ... , a aprovação à ideia de democracia é ... inegociável.”
Em outras palavras, há a necessidade inegociável de se chamar democracia aquilo que é corruptocracia.
Os eleitos não são os mais qualificados intelectualmente (os apedeutas eleitos nos mais variados níveis são prova disto), nem os mais bem preparados para a vida pública. Elegem-se os que têm visibilidade midiática, os que têm apelido jocoso, são filhos de políticos ou são conhecidos por atividade que nada ou pouco tem a ver com as habilidades para a vida política.
No sistema eleitoral brasileiro, onde a eleição é ganha com tempo de televisão e assessoria marqueteira, aliada ao fato de que os detentores de cargos eletivos dispõem de um caminhão de assessores ou contratados como comissionados, regiamente pagos com o erário, a renovação dos eternos políticos é tarefa hercúlea.
O financiamento das milionárias campanhas, se feitos com recursos próprios, só permite que ricos sejam eleitos. Se financiados pelo setor privado, o preço será cobrado, assim como se cobrará também o que foi gasto com recursos próprios.
Fala-se em reforma eleitoral e a Câmara está às voltas com ela. Do que se pode depreender naquilo que já foi votado e do que está por vir, as mudanças são cosméticas. Atacam-se alguns efeitos, mas não a causa: o custo das campanhas e a rigorosa fiscalização dos gastos e financiamentos. Pelo andar da carruagem, tudo indica que o poder fiscalizador da Justiça Eleitoral (que já era tênue e e-lento-ral) será ainda mais engessado pela redução dos prazos de investigação e sentenciamento. Acrescente-se a isto o fato de que há gente querendo que a destituição de prefeitos, vice, governadores, etc. só possa ser feito por órgão colegiado e não mais por sentença monocrática.
Ao que parece, ainda demoraremos algumas décadas para que a corruptocracia seja substituída pela democracia, pela eleição de agentes com sabedoria e não apelido, com conhecimento e não presença midiática, gente que não se orgulhe de não ter estudado e nem que afirme que ler dá sono.
Marcos Inhauser