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quarta-feira, 26 de junho de 2013

O QUE ENVERGONHA O PAÍS

A presidente Dilma “Soucheff” veio a público, depois de um longo silêncio ante a gravidade das manifestações públicas, dizer mais do mesmo e fazer propaganda do seu governo. Depois de dez dias, ela gastou dez minutos para dizer nada. E no meio do nada tentou dar uma lição de moral: “a violência envergonha o Brasil”.
Acrescento coisas que, sim, envergonham o Brasil.
Envergonha o Brasil, dona Dilma, um governo com 37 ministérios incompetentes e um Ministro da Pesca que entende tanto disto quanto eu de física quântica.
Envergonha a prática de construir a base parlamentar na base de alianças com partidos, entregando ministérios de “porta fechada”.
Envergonha o Brasil um ministro da Economia que até o final de 2012 dizia que o PIB seria de 3% ou mais e deu 0,9%.
Envergonha o Brasil a quantidade de deputados e senadores, pagos a peso de ouro e com aposentadorias nababescas, para fazer quase nada.
Envergonha o ter coisas para serem votadas há anos, como é o caso do novo pacto federativo, que uma vez mais, no que pese o prazo dado pelo STF, não será votado.
Envergonha a depredação do patrimônio público seja por privatizações questionáveis, seja pelas licitações viciadas.
Envergonha o país a quantidade de dinheiro jogado fora em obras iniciadas e abandonadas.
Envergonha o dinheiro gasto com propaganda de governos federal, estaduais e municipais.
Envergonha a quantidade de escolas em péssimas condições.
Envergonha o salário de merreca dos professores.
Envergonha a qualidade do atendimento na saúde, a falta de médicos e de infraestrutura nos hospitais.
Envergonha o processo de aposentadoria e os salários pagos aos aposentados.
Envergonha a iqualidade dos orçamentos e contratos feitos com as empreiteiras, que sempre recebem aditivos aumentando significativamente os custos finais.
Envergonha que as obras de infraestrutura viária da Copa nunca tenham saído do papel.
Envergonha o despreparo deste governo da Dilma, que vem a público fazer um segundo discurso, orientada por marqueteiros, vendendo o seu programa de governo e propondo uma Constituinte restrita, coisa que, no dia seguinte, teve que voltar atrás, dizendo que não disse o que disse e que entenderam errado o que disse.
Envergonha a falta de estratégia em lidar com as manifestações públicas e as demandas populares. Dizer que o povo quer que as “reformas sejam mais rápidas” (sic). Quando se está parado, qualquer velocidade será mais rápida. E o governo da Dilma está parado há 30 meses.
Envergonha o eterno retorno da “reforma política” sem que nunca se faça nada de concreto desde o tempo do FHC.
Envergonha a classe de partidos políticos que temos, muitos comprados para dar sustentação política (sic) ao governo.
Envergonha que o partido da presidente tenha tentado, por várias vezes e diversas maneiras, cercear a livre expressão, a liberdade de imprensa, a autonomia de investigação do ministério público.
Envergonha ter mensaleiros condenados sendo parlamentares e recebendo como tais.
Envergonha ter o Maluf, condenado aqui e fora do país, como aliado deste governo.
Eu me envergonho do (des)governo que temos!!

 Marcos Inhauser

quinta-feira, 20 de junho de 2013

NÃO UMA QUESTÃO DE CENTAVOS, MAS DE DIREITOS

Este é um país sui generis. Não há igual. Já contei aqui que em uma visita que fazia à Guatemala, a capital estava em pé de guerra com pneus queimando, barricadas e manifestações porque haviam subido o preço do ônibus em alguns poucos centavos (algo em torno de R$ 0,05). No Equador, onde vivi, um aumento de centavos na gasolina fazia o país parar.
Durante bom tempo fiquei a me perguntar por que os brasileiros são lenientes e coniventes com a enorme quantidade de fatos que vêm à tona a toda hora, dando conta de sobrepreços, propina, desvios de recursos. Por que não há uma revolta social de magnitude com esta corrupção toda?
Hoje tenho que dizer que me dou por satisfeito. E mais que satisfeito: uma manifestação sem a comandância dos focos de podridão que são os partidos e os sindicatos.
Ademais, a mobilização foi possível por causa da terrível incapacidade da Polícia Militar em lidar com manifestações. Depois de vinte anos sem ter que fazer frente à mobilização das massas, a PM (talvez por herança do período da ditadura ou por nunca ter se afastado dos métodos de outrora), achou que acabaria com a coisa com gases lacrimogênio e pimenta, com cassetete e truculência. Deu no que deu. Mais gente saiu à rua e tudo indica que o movimento crescerá.
A repercussão internacional e as manifestações de solidariedade havidas em várias partes do mundo, com a imprensa internacional reverberando os fatos aqui ocorridos, colocou o governo central em alerta de que a coisa está feia e pode piorar. Como o lulo-petismo quer a todo custo a reeleição da sua camarilha, um movimento destes pode botar água no chopp.
Por outro lado, se a cada denúncia há uma convulsão nacional, qual o grau de maturidade do povo brasileiro? A pessoa e a nação maduras se conhecem pelo equilíbrio em lidar com as emoções e em dosar as reações diante dos fatos desagradáveis ou trágicos. Reações desproporcionais, emocionalizadas, são evidência de imaturidade. Ao ter uma reação de espera, de cobrar explicações via meios comunicação, ao usar a rede social para manifestar sua indignação e irritação, ao assistir aos telejornais com vívido interesse, ao ler os jornais e analisar os fatos, a nação mostra maturidade. Maturidade está na manifestação pacífica e ordeira. Imaturidade está na ação de uns poucos radicais que usam do momento para extrapolar.
Gostaria de ver incluída na pauta destas reivindicações a indignação do brasileiro com a tentativa de golpe que o petismo está pretendendo dar no Ministério Público, ao impedi-lo de investigar, uma vez que, na história recente, os deputados e senadores levados à barra dos tribunais o foram por obra do MP.
Marcos Inhauser


quarta-feira, 12 de junho de 2013

RUTE

Estava saindo de Rio Preto quando o celular tocou. Passei para minha esposa atender porque estava dirigindo. Percebi que ela falava com alguém que, no momento, não estava reconhecendo e eu também estava curioso para saber quem era. Depois soubemos se tratar de um grande amigo.
À medida que a conversa se desenrolava, percebi tratar-se de uma notícia triste e o nome que se falava era Rute. Rodei meu banco de dados mental e só encontrei uma Rute. E era dela que estavam falando. Falecera na sexta-feira e o enterro seria no domingo à tarde e a pessoa, gentilmente nos avisava da morte, pois sabia do carinho que tínhamos por ela e ela por nós.
No momento em que comecei a juntar as peças da conversa que ouvia e me certificava de que se tratava da Rute, uma profunda tristeza foi invadindo meu coração. Era como se estivesse perdendo alguém muito importante na vida
Rute era uma pessoa especial no duplo sentido do termo. Era especial porque sempre (e este sempre tem valor absoluto), quando me via, abria um sorriso e vinha me abraçar. Queria saber estava bem. Eu, do meu jeito, brincava com ela e também me interessava em saber como ela estava.
Rute era especial porque, Deus, na Sua vontade e soberania, permitiu que ela tivesse algumas necessidades especiais, que lhe obrigaram a terapias e doses maciças de remédio. No que pese as suas características, ela sempre foi um estímulo para meu ministério. Quando ela vinha à igreja, sentia-me amado e apoiado.
A notícia da Rute me fez revisar meu passado como pastor. Conclui que em quase todas as igrejas pelas quais passei e pastoreei, Deus me deu uma pessoa especial para, de maneira sincera e honesta, me dar as boas-vindas, me abraçar e se interessar por mim. Também conclui que estas pessoas especiais tem o dom divino de serem honestas e transparentes. Elas, quando gostam de alguém, realmente gostam. E se não gostam, não fazem esforço nenhum para passar a gostar. Percebi também que, em todos os casos, quando ia para a igreja, tinha o desejo consciente de encontrar a estas pessoas para ser cumprimentado, abraçado. Era como se precisasse de uma injeção da graça para iniciar os trabalhos.
Encontrei também estas pessoas especiais em quase todas as igrejas que já visitei. Na Church of the Brethren, nos Estados Unidos, há um jovem negro que faz questão de cumprimentar cada um dos mais de quatro mil participantes da Conferência Anual. Ele dá a mão e diz: Deus te abençoe e te dê a paz. Às vezes ela volta à mesma pessoa algumas vezes e quando se diz que ele já havia cumprimentado, ele repete a sua benção.
A Rute me ajudou no ministério e fez falta no tempo em que se ausentou e fará falta com a sua partida. Por tudo o que foi para mim, obrigado Deus e Rute.
Marcos Inhauser


quarta-feira, 29 de maio de 2013

É IXTRANHO!

Lembrei da frase do Zagalo, no seu peculiar jeito de falar, ao ouvir as lambanças ocorridas com a Caixa e o Bolsa Família: “é ixtranho, muito ixtranho.”
É estranho que um banco do porte da Caixa, que administra o Bolsa Família, que tem impacto sobre milhões de pessoas, decida fazer o depósito antecipado da parcela mensal. Que me perdoem os ingênuos, nunca vi banco favorecer a vida de ninguém, muito menos dar dinheiro antes da hora.
É estranho que o depósito tenha sido feito sem notificação aos interessados e sem que se prevesse a comoção que isto poderia causar.
É estranho que se diga que foi boato o fato de que beneficiários tenham acessado na sexta o seu extrato e tenham visto o depósito antecipado e não tenham acreditado em um “presente da Dilma”, pois certamente estavam acreditando que no dia determinado, uma nova parcela seria depositada. Lógica simplista de quem vive das migalhas do governo.
É estranho que uma ministra do governo tenha atribuído à oposição a onda de boatos, sem ter em mãos a mais mínima informação, sendo obrigada a desdizer o que disse, alegando que o que disse não queria dizer o que foi dito.
É estranho que o vice-presidente da Caixa tenha vindo a público dizer que havia determinado a antecipação das parcelas para fazer frente à onda de saques que houve, como forma de aliviar a tensão social que o fato gerou. Mais tarde veio com a história de que, quando determinou a antecipação, ele não tinha a informação de que ela já havia sido feita.
É estranho que o presidente da Caixa venha a público afirmar que não era do seu conhecimento a antecipação das parcelas e que, por isto, demorou uma semana para trazer explicações, uma vez que precisava levantar todas as informações necessárias para o esclarecimento.
É estranho que dois bilhões de reais (que é o total conhecido do Bolsa Família) seja antecipado, sem que o vice-presidente e o presidente da Caixa tomassem conhecimento do fato inusitado.
É estranho, muito estranho, que a razão para tal antecipação seja a atualização do sistema feita entre março e abril deste ano e que, de acordo com Hereda, a Caixa identificou 700 mil a 1 milhão de beneficiários portadores de mais de um Número de Identificação Social (NIS). Com a atualização, essas pessoas passaram a ter apenas o número mais antigo do NIS, o que poderia gerar confusão na hora do pagamento, segundo o presidente.
É estranho que ele não tenha explicado se a duplicidade do NIS implica e duplicidade de pagamentos. Se assim for, dizer que o Bolsa Família seria cortado não é boato. Por outro lado, como pode um banco que administra estas contas permitir que no mínimo 700 mil inscrições tenham sido feitas em duplicata?
É estranho que a presidente Dilma tenha dito que era “desumano e criminoso” o que estava acontecendo e que, agora, se sabe, foi gente do seu governo que aprontou a lambança.

É ixtranho, muito ixtranho.
Marcos Inhauser

quarta-feira, 22 de maio de 2013

NÃO UM ZÉ: O ZÉ


Eu o conheci há mais de 30 anos. Estávamos em um encontro e um dos preletores faltou. Foi quando ele disse que tinha um texto que poderia ser lido. Nunca me esqueço: O Primeiro De(s)maio, um trocadilho sobre as condições do trabalho e o dia primeiro de maio, dia do Trabalhador.
Depois disto nos encontramos incontáveis vezes, seja em reuniões, conferências, seminários ou tomando um chopp. Cada vez que eu o ouvia falar e compartilhar suas ideias minha admiração por ele crescia.
Por duas vezes eu tive a honra de apresenta-lo como conferencista. Falei o que pensava dele: uma cabeça brilhante, um poeta, um artista das palavras e dos conceitos, hábil no uso das metáforas, etc.
Certa feita eu o convidei para falar sobre a história do pensamento humano (não podia dizer que era história da filosofia porque o auditório religioso era extremamente conservador). No caminho para o salão encontramos uma senhora e eu o apresentei como Doutor José. Ela mal tinha se afastado ele me deu uma bronca: “Marcão, não quero mais que você me apresente do jeito que você faz. Quando você for me apresentar, diga que sou o Zé. Nada mais.” “Mas Zé...” tentei retrucar e ele foi enfático: “Só Zé. Nada mais. Entendido?”
Eu já tinha preparado o discurso de apresentação. Ia dizer que era autor do livro Corpoética, Cosquinhas no Umbigo da Filosofia, Papo de Boteco e outras coisas mais. Fiquei mudo. Fiz o que ele me pediu: “aqui está o Zé”.
O grupo cantou um hino que dizia: “é mui certo que a gente tropeça, por isso Senhor, eu preciso de ti./Bem sei que nas preces eu posso buscar-te / Jamais dessa bênção na vida eu descri, / Contudo, é possível que eu dela me aparte / Por isso Senhor eu preciso de ti.”
Ele começou dizendo: “este sou eu. Já tropecei, já me apartei. Peço a vocês para não acreditarem no que vou dizer, mas que examinem e só aceitem aquilo que entenderem ser certo.”
Começou com os pré-socráticos e veio desfilando até o existencialismo. Eu estava abismado porque o auditório, que eu tinha certeza teria resistências, estava participando, fazendo perguntas, etc.
No período da tarde veio o segundo preletor. Começou dizendo que queria fazer algumas observações sobre o que o Zé havia dito, porque podia dar lugar a interpretações heréticas. E começou a desfilar um rosário de certezas e jactância.
Uma hora de palestra do segundo orador, o presidente do grupo veio até mim e perguntou: “Não dá para fazer este cara calar e colocar o Zé no lugar dele?”
Perguntei ao Zé, depois, porque não queria que o apresentasse da forma como queria. Ele me disse duas coisas que me marcaram: “primeiro que você exagera. E quando você exagera as pessoas ficam esperando a fala de um gênio. E eu não o sou. Dizendo que sou o Zé, qualquer coisa que vier depois disto é lucro.”
Não vou dar o nome completo dele para não levar outra bronca. Mas quem quiser saber quem é, me escreva que eu conto. Isto o Zé não pode me proibir....... E o faço como gratidão pelo muito que com ele aprendi e tenho aprendido. 
Marcos Inhauser

quarta-feira, 15 de maio de 2013

PODER DIVINO?

Mal tinha enviado para a redação a coluna na semana passada, na qual fazia algumas reflexões sobre o poder, entre elas a de que “nada mais terrorista que o poder exercido em nome de Deus” e surge a notícia de que o “pastor” Marcos Pereira estava sendo preso por ter, supostamente, abusado sexualmente de fiéis da sua igreja. Segundo as notícias veiculadas, ele promovia cultos de exorcismo e dizia a algumas fiéis que o demônio só sairia delas se mantivessem relações com um homem santo, no caso, o próprio “pastor.”

O argumento, ao menos para mim, não é novo. Nos idos anos 80 ouvi de mais de uma testemunha, de uma profetisa na cidade de Jaú que revelava o tal “mandamento da carne”, onde fulano deveria transar com cicrana, porque esta era a vontade de Deus. A mesma coisa ouvi depois como prática em outros círculos “proféticos”, dando-me a sensação de ser algo usual em determinados círculos.
Já mencionei aqui há algum tempo (Desequilíbrio de Poder) que estudos feitos sobre os casos de violência sexual sempre mostram uma relação desigual de poder, onde os abusadores, no exercício de sua autoridade, impõe suas vontades sobre as partes mais fracas. Também afirmava que, no campo do religioso, esta desigualdade do poder se estabelece quando o religioso se apresenta como revestido de “autoridade espiritual”, o que facilita a investida sobre a presa de sua sanha sexual. Uma “cantada” de um religioso é mais efetiva que a de um cidadão normal. Há nisto a mística de estar se relacionando com o sagrado, com alguém mais próximo de Deus, uma elevação espiritual pelo sacrifício da entrega do corpo, de orgasmo mais pleno porque feito com a santidade. Há o caso (sem o mesmo destaque na mídia) de pastor que Deus revelou que as mulheres dos membros da Diretoria da Igreja deveriam ser acessíveis e acabou sendo flagrado no escritório pastoral com uma delas.
Neste contexto fica mais fácil entender como pais e familiares próximos são os maiores violadores das crianças e como a pedofilia ganhou níveis epidêmicos no seio da religião. Atendi certa feita uma pessoa que foi abusada pelo pai evangélico que usava o mandamento do “honra teu pai” e o texto “filhos, em tudo obedecei vossos pais, porque isto é justo” como forma de obrigar a família a ceder aos seus impulsos.
Há que lembrar-se que o agora acusado teve seus momentos de glória midiática quando apareceu no Fantástico, que lhe deu longos minutos de reportagem, apresentando-o como recuperador de viciados, negociador de rebeliões e salvador de pessoas condenadas à morte pelo tráfico. Talvez por causa disto, ele tenha conseguido as verbas públicas milionárias para seu “trabalho”.
Marcos Inhauser

quarta-feira, 8 de maio de 2013

O PODER

Somo seres quer buscamos incessantemente o poder. Em todas nossas relações estabelecemos “nosso território” e buscamos ampliá-lo com negociações e artimanhas. A busca pelo poder é inerente ao ser humano e o altruísmo, quando acontece, pode ser que seja um investimento no longo prazo.
Há certas circunstâncias em que cedemos certo espaço de poder. Há povos que, vivendo em liberdade, quiseram ver a ordem estabelecida e esta superou e a liberdade e poder de exercê-la foi parcialmente suplantado.
Ninguém consegue viver sem um espaço de poder. A autonomia é necessária para que haja a individualidade. A ausência total do poder pessoal é a completa despersonalização. No entanto, como seres humanos, somos a somatória das obediências que prestamos a quem não podíamos e não podemos desobedecer. No fundo, sobrevivemos porque cedemos algo do nosso poder para figuras ditatoriais patriarcais, matriarcais, avunculares, professores, chefes, etiqueta, moda, etc.
Neste contexto deve-se ver a política. O império político tem o objetivo de manter a massa no limite mínimo da satisfação e abafar o clamor dos pobres e sofridos. Deputados, senadores, vereadores, governadores e quejandas não são deserdados. São eleitos porque têm cacife, tem poder anterior para lá chegar. E quando lá chegam buscam ampliar o seu espaço de poder.
A política existe para congelar o status quo. Daí porque, as Câmaras Municipais mais concedem honrarias que legislam mudanças. E quando elas ocorrem são cosméticas. Um governo sem atribulações, azeitado, sem greves, sem reclamações é o que todo governo quer. Ele busca manter e aumentar seu poder, usando de todos os artifícios disponíveis, não importa se éticos. E para legitimar esta sua ânsia, usa do processo educativo e da propaganda oficial para persuadir os dominados a aceitar a dominação, via consenso ideológico. É um processo de acomodação e domesticação das classes, especialmente as emergentes. Talvez com isto se possa entender porque no Brasil não se permite a “educação em casa” (home schooling). Seria ter gente pensando fora do consenso ideológico.
Nada mais terrorista que o poder exercido em nome de Deus. O fanatismo religioso, na história da humanidade, é o responsável pela maioria das mortes violentas. Se o poder do monarca vem de Deus, nada nem ninguém irá suplantá-lo ou diminui-lo. O “poder divino” cria messias, iluminados, fazedores de milagres e ladrões do povo via ofertas religiosas e dízimos. Cobra vidas como é o caso dos fanáticos muçulmanos. Quem tem olhar crítico sobre estes “poderosos divinos” é tachado, até mesmo pelos domesticados, de herege.
No âmbito da sociedade são tachados de revolucionários, antissociais, guerrilheiros, esquerdistas. Usam dos meios de comunicação (que está nas mão dos poderosos) para vender esta ideia aos dominados que, consensualmente, aceitarão a versão oficial e a outra como subversão.
Marcos Inhauser

FERVENDO
As relações entre os poderes da República não andam nada harmônicas e estão ferevendo. Soube-se, dias antes do início do julgamento do mensalão, que o ex-presidente da República tentou chantagear um dos integrantes do STF. Mais tarde, soube-se também do périplo do ministro Fux em suas visitas a autoridades, no objetivo de conseguir a sua indicação para o Supremo e que o fizeram na esperança de que seu voto fosse favorável aos mensaleiros. Não sendo, foi xingado e execrado pelos filiados ao partido governante. Os votos do Toffoli não convenceram ninguém da imparcialidade que um juiz deve ter.
O Planalto andou tendo algumas derrotas no Congresso e a sua base de articulação, qual centroavante irregular, tem errado o gol na hora agá. Em outras, jogo com o rolo compressor e arranca vitórias que evidenciam interesses nada republicanos. Nos últimos dias vimos esta máquina de votação passar o rodo e levar ao plenário a limitação (ou a criação de obstáculos mil) para a criação de novos partidos, naquilo que se pode definir como animus legendi, quando uma lei é feita com o objetivo de alcançar alguém específico, no caso a Marina da Silva e sua Rede de Sustentabilidade. Também limita as articulações do Eduardo Campos, provável candidato do PSB à presidência.
O PSDB bateu às portas do STF e conseguiu liminar para suspender a tramitação do projeto, por entender ser inconstitucional. O Gilmar Mendes (que deve ganhar por liminares e habeas corpus que expede), concedeu e a grita no legislativo foi grande: o judiciário está se metendo nas atribuições do legislativo. Veio a desforra: o legislativo propôs que algumas questões votadas pelo STF, mesmo pelo seu pleno, sejam referendadas pelo Congresso. Em outras palavras, o STF estaria sub judice do legislativo. A grita foi geral pois, inclusive assim acho também, isto cheira a golpe.
Agora vêm os impolutos Calheiros e Alves com a conversa iniciada pelo Maia quando presidente da Câmara, de que o que se quer é delimitar com precisão as atribuições de cada poder, para que as relações sejam mais harmônicas e a coisa pública ande com mais celeridade. Isto me cheira raposa se candidatando a xerife do galinheiro. A continuar assim, vão propor a extinção da Procuradoria Geral da República, dos Tribunais de Contas e a Controladoria Geral da União porque andam “criando problemas”para a aplicação das verbas parlamentares.
Aliado a isto está a proposta da votação em listas feita pelo partido e não mais em candidatos. Só vamos poder votar no bloco! Não me assustaria que um iluminado viesse com a proposta de acabar com as eleições em função dos altos níveis de popularidade do Lula e Dilma, o que evidencia a aceitação popular e a efetividade de seus governos.
Seria a realização do sonho do companheiro Zé Dirceu e seus aspones.
Marcos Inhauser

quarta-feira, 24 de abril de 2013

CONSERVADORISMO

Uma das características das igrejas é a confessionalidade, determinada pelo conjunto de doutrinas que a denominação ou religião estabelece como sendo a verdade. Esta doutrina teórica é ensinada através de Catecismos que são ensinados e que os aprendizes devem memorizar, repetir e recordar. Ora, ao fazer isto, a igreja conserva o mesmo, as mesmas verdades que foram pronunciadas há séculos por algum iluminado, seja Agostinho, Aquino, Lutero, Calvino, Zwinglio, Wesley ou qualquer outro.
A preeminência desta Confissão é tão grande que o Código de Disciplina da Igreja Presbiteriana do Brasil, no Capítulo II, quando trata das faltas, no Art.4º, Parágrafo Único – “Nenhum tribunal eclesiástico poderá considerar como falta, ou admitir como matéria de acusação aquilo que não possa ser provado como tal pela Escritura, segundo a interpretação dos Símbolos da Igreja”. Percebe-se assim que só é falta (pecado) aquilo que é previsto nos Símbolos da Igreja (Confissão de Fé, Catecismos Maior e Menor).
A memória, a recordação preservam o passado e este é imutável. Não se muda o que já aconteceu. Ao fazer esta retro-oculatra, as igrejas perdem o sentido de uma resposta ao presente, preferindo a saudade de tempos idos. A recordação tem algo de opressora: ela não permite a novidade, a descoberta, a criatividade. Ela congela o pensamento e nega o diferente. Ao assim proceder, entroniza o passado como verdade absoluta e demoniza o presente e os sonhos de futuro melhor como demoníacos.
Não é para menos que os profetas tenham sido mortos, torturados, serrados ao meio. No dizer do escritor de Hebreus: “Todos esses morreram cheios de fé. Não receberam as coisas que Deus tinha prometido, mas as viram de longe e ficaram contentes por causa delas, declararam que eram estrangeiros e refugiados, de passagem por este mundo. E aqueles que dizem isso mostram bem claro que estão procurando uma ... Não ficaram pensando em voltar para a terra de onde tinham saído. Se quisessem, teriam a oportunidade de voltar. Mas, pelo contrário, estavam procurando uma pátria melhor, a pátria celestial. E Deus não se envergonha de ser chamado de o Deus deles, porque ele mesmo preparou uma cidade para eles.” (Hb 13:12-16).
Para a religiosidade ortodoxa, ciosa das verdades que sustenta há séculos, os pregadores de alternativas, os promotores de perguntas, os questionadores devem ser liquidados, taxados de hereges, queimados no fogo da Inquisição.
Nada mais fácil que taxar alguém que pensa de herege, apóstata. Não há lugar para os profetas! A função do ministério profético é manter juntos o espírito crítico e a ação. É na dialética entre crítica e ação que nos tornamos fiéis a Deus. Optar por um ou outro é cair nas armadilhas do progressismo e do conservadorismo.
Marcos Inhauser

quarta-feira, 17 de abril de 2013

PROVA CABAL


A lentidão da justiça brasileira tem nesta semana sua prova mais cabal: vinte anos para que os indiciados no massacre do Carandiru sejam julgados! No que pese a comoção nacional e internacional com o caso, o processo andou a passos de tartaruga.
Já se falou e se falará sobre a quantidade de pessoas envolvidas, seja como acusados ou como testemunhas, tentando com isto justificar a demora no julgamento.
Não há como colocar de lado o sentimento de impunidade que grassa na população. Tamanha crueldade e barbárie ficam para as calendas. A percepção popular é que não vai dar em nada, mesmo porque, o comandante do massacre já morreu e os demais implicados de alto escalão (governador e outros), têm poder de fogo (entenda-se bons advogados).
Os testemunhos prestados até agora neste julgamento são estarrecedores. O ex-detento Marco Antônio de Moura, afirmou que atiravam em direção à cadeia de dentro de um helicóptero: "Tinha um helicóptero com uma metralhadora atirando ...  tinha presos que estavam no telhado, tentando fugir. Todos foram atingidos por essas balas e morreram".
Ele ainda testemunhou que “na minha cela, entraram uns 30. Fechamos a porta. Um policial chegou, colocou o cano da metralhadora pela janela que fica na porta e atirou. Uns dez foram atingidos, oito morreram ... No momento em que os presos eram levados para o pátio, os presos ouviam os policiais gritando: ´Deus cria, a Rota mata´ ... Tive um amigo que estava com um furo no pé, pisou no sangue e pegou HIV. Morreu por causa da doença há uns cinco anos".
Outro ex-presidiário, Antônio Carlos Dias, disse em seu testemunho acreditar que o número de mortos no massacre foi o dobro dos 111 divulgados oficialmente.
Há ainda quem coloque o massacre como o ponto de partida da criação da facção criminosa PCC. Promotoria e defesa concordam que o massacre ocorrido em 1992 e o surgimento da facção em 93 estão relacionados. A advogada de defesa dos policiais, Ieda Ribeiro de Souza, atribui o surgimento da facção às reações críticas à atuação policial no episódio. Para ela “deram carta branca aos bandidos quando restringiram a PM de entrar nos presídios. Por isso, estamos na situação que estamos hoje". O PCC reivindicava o fim da linha dura e dos maus-tratos contra os presos. 
O que me intriga é que o julgamento não tenha comovido a população para acompanhar e exigir lisura e justiça. Talvez isto se explique pelo fato de que apenas 10% das pessoas acreditam que eles serão condenados e presos.
Os dados são de pesquisa realizada entre 4 e 5 de abril, com 1.072 entrevistados com mais de 16 anos. Estou entre os descrentes, até prova em contrário.
Marcos Inhauser