Havia me proposto a não falar das Olimpíadas porque, diante da profusão de notícias, comentários e críticas, eu seria repetitivo. Mas, cedo à tentação. Li no site da UOL que cada medalha que o Brasil ganhou custou R$ 194 milhões. O levantamento considera os investimentos diretos feitos por estatais, isenção, loteria, Forças Armadas e Ministério dos Esportes no período compreendido entre Londres e Rio de Janeiro.
Será este o único investimento? Estive em Seul alguns anos depois da Olimpíada e visitei algumas das construções feitas para as Olimpíadas de 88, assim como visitei as instalações de Beijing. Uma das coisas que ouvi nas duas cidades de moradores delas é que os complexos olímpicos se tornaram elefantes brancos.
Penso também no que custa uma medalha em termos de sacrifício pessoal. Inúmeros foram os que salientaram o tempo que estiveram afastados de suas famílias, da privação de muitas coisas, para que pudessem chegar onde chegaram. Michael Phelps, Usain Bolt, as duplas Diego e Nory, Jader e Flavinha, Alison e Bruno e muitos outros falaram, alguns com lágrimas, o quanto se esforçaram e sofreram (literalmente) para conseguir algo.
Virou bordão (ao menos na Globo) que a dor é o uniforme do atleta olímpico. As marcas de ventosa no ombro do Phelps, os muitos esparadrapos para enganar músculos doloridos, as baixas por contusões, os acidentes (Annemiek van Vleuten, ciclista que capotou na curva; Samir Ait Said que quebrou a perna ao saltar, e outros) provam que não falavam irrealidades. De um total de 11.544 atletas que participaram, quase 10% deles tiveram lesões. Os relatórios médicos das 92 delegações nacionais, revela que a metade dos 1.055 atletas que se machucaram durante a Olimpíada tiveram problemas nas pernas ou nos pés e outros 100 sofreram com contusões na cabeça. O boxe, o futebol, handebol, o hóquei, o tae-kwon-do e o levantamento de peso foram os que mais lesionaram atletas.
Para os que “chegaram lá”, será que vale a pena, se se considera a quantidade de dores sofridas e que, na quase totalidade dos casos, os acompanhará pelo resto da vida? O prazer de mostrar uma medalha compensa o sofrimento atual e futuro?
Fico a pensar que um dos charmes das Olimpíadas é a quebra de recordes. No entanto, um dia eles acabarão. O ser humano chegará ao seu limite. Depois, o que se terá, será a manutenção do que já se conseguiu? Será que alguém, algum dia, pelo uso tão somente de suas forças e músculos, conseguirá baixar o que já se conseguiu nos 100 metros rasos, ou nos 200 metros. Será que o recorde mundial do Cielo poderá ser superado? Quando o for, sobrará qual motivação para os atletas? Se não há mais chance de quebrar recordes, para que servirão as Olimpíadas?
É verdade que os esportes promovem o congraçamento dos povos e que as Olimpíadas se constituem em evento ímpar para isto. No entanto, deve-se pensar que isto se faz em clima de competitividade, de subliminar mensagem de superioridade desta ou daquela nação. Não fosse isto, por que a Rússia teria investido tanto em dopar seus atletas? Por que o “quadro de medalhas” é tão cobiçado e divulgado? O que dizer da música, da poesia, da literatura? Seria o caso de se ter eventos mundiais para estes segmentos?
Marcos Inhauser
Professor, pastor, teólogo e educador corporativo Textos escritos para a coluna semanal no Correio Popular, da cidade de Campinas e texto escritos depois de 2021, que tratam de temas nacionais, internacionais, sobre igreja e teologia
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Há outros artigos e livros de Marcos e Suely Inhauser à sua disposição no site www.pastoralia.com.br . Vá até lá e confira
quarta-feira, 24 de agosto de 2016
quarta-feira, 17 de agosto de 2016
IGREJA É GENTE
Não entendo que seja
acidental o fato de que os evangelhos, as cartas e o Atos dos Apóstolos façam
qualquer menção a um edifício que abrigasse alguma comunidade cristã nos
primórdios da igreja. Sem espaço nesta coluna para me delongar na fundamentação
histórica e fática de tal afirmativa, relembro que Jesus pregou seus sermões no
monte, na praia, desde um barco, no interior de uma casa. Uma única vez o vemos
em uma sinagoga. Relembro ainda que quando ele foi a Jerusalém e ao templo pela
primeira vez, foi quando criança. Quando adulto, criticou o que ali se
praticava, tendo derrubado as mesas dos cambistas.
Por ter sido
perseguida, a igreja nascente teve que se esconder, fazer suas reuniões de
forma quase silenciosa, em Roma se reuniu nos subterrâneos (catacumbas), teve
seus líderes perseguidos, presos e martirizados.
Nos primeiros
trezentos anos da igreja não se falou em edifícios, templos ou coisa que o
valha. Tudo indica que isto começou a acontecer depois que o cristianismo foi considerado
a religião oficial do império romano, por obra e graça (para alguns, desgraça)
de Constantino. Porque agora era legal, oficial e abrigava o imperador, se
devia ter construções que abrigassem ao imperador e seu séquito. Ele mudou a
capital do império para Constantinopla (em homenagem a si mesmo) e ali
construiu um palácio eclesial que fosse digno de sua presença. Nascia assim a
catedral!
Esta associação do
templo com o palácio real também se deu nos tempos de Salomão que teve o seu
palácio ao lado do templo, com acesso privativo.
Esta associação levou
o cristianismo a um caminho desviante: confundir igreja com edifício. Igreja é
gente reunida em comunhão, nunca edifício. Igreja é feita de gente e não de
tijolos, telhas, bancos, púlpito e holofotes.
Igreja é gente reunida
em comunhão, que tem o compromisso de amar o próximo e ajudá-lo em suas
necessidades. Igreja é o compromisso de atender ao pobre, à viúva, ao exilado,
ao estrangeiro. Igreja é serviço, é doação, é lavar os pés.
Se olharmos para as
religiões templárias (as que se apresentam em função do edifício que têm), o
quanto arrecadam, o quanto gastam com a manutenção do patrimônio (limpeza,
conservação, água, luz, pintura, faxineiros, etc.), aliado ao uso semanal que o
elefante branco tem, constata-se que há um clamoroso desperdício de recursos na
construção e uso dos edifícios. E o pobre, a viúva e os demais necessitados
pouco ou nada tem de ajuda destas comunidades templárias.
Templos são locais
maravilhosos para os narcisos se exporem. Congregam centenas, milhares, todos
olhando à frente, para o iluminado pelos holofotes. Todos ouvem o que ele diz
porque um potente sistema de som irradia o que ele fala. Templo não é lugar de
conversa, diálogo, mútuo aprendizado, antes de exercício do monólogo do que
sabe, que “ instrui a horda que não sabe”. No templo não se exercita comunhão,
só a audição. No templo só ficamos sabendo das necessidades da organização:
precisamos de tantos mil para terminar a reforma disto, para pagar o programa
de rádio ou televisão, para reformar o telhado, etc.
No templo não se fala
do pobre, porque não são bem-vindos: precisam estar decentemente vestidos,
tomados banho e perfumados, como a maioria dos templários estão.
Igreja é gente, é
serviço de amor ao próximo, é comunhão íntima que se tem nos pequenos grupos.
Igreja é conhecer gente, é saber das suas histórias e necessidades, é
envolver-se com o outro. Igreja é ser família, a família da fé que é tão
família quanto pai, mãe e filhos.
Marcos Inhauser
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quarta-feira, 10 de agosto de 2016
NEYMAL E NEYMARTA
Sou leigo em futebol, mas sei quando um jogador está abaixo da média ou jogando mal. Não preciso de comentaristas esportivos para dar meu diagnóstico, ainda que os ouça e leia para me certificar da avaliação que faço. Assisti aos dois jogos da seleção olímpica e fiquei irritado. Ainda mais com as explicações dadas: “jogamos bem, só faltou a bola entrar”.
Há tempo venho atravessado com o Neymar. Ele me faz lembrar algo que ouvi no Peru sobre o Alan Garcia: “ele é pomada, só serve para uso externo”. Ele me dá a impressão de que só joga no Barcelona e aí me pergunto: será que joga porque tem bom meio de campo para lhe dar bolas açucaradas e companheiros como Messi e Suarez para azeitar as coisas? Porque, até hoje, e até onde minhas lembranças alcançam, ele não teve nenhuma atuação destacada e brilhante jogando pela seleção? A camisa amarela pesa?
Mais que isto: porque, de forma irresponsável, se envolveu em encrencas que o tiraram dos jogos da seleção. Não gostava do Dunga? Ou a seleção não faz parte dos seus planos? O seu descontrole ao final da última partida, na condição de capitão da seleção, é porque estava emocionalmente comprometido ou algo pensado e executado para cair fora dos jogos e do certame, tal como ocorreu na Copa América? Ainda não entendo como uma pessoa que teve uma vértebra fraturada com uma joelhada nas costas, pôde, poucos dias depois, estar à beira do campo pulando e torcendo pelos companheiros. Ele se livrou por sorte do 7 x 1 ou já sabia algo de antemão? Como não censurar quem deixou a seleção por expulsão e no mesmo dia estava em balada com os amigos?
Como um craque como ele, jogando pela seleção, erra tantos passes, perde tantas bolas e não dá um chute certeiro quando bate falta? Que tenha um dia de baixa, se entende. Mas ter 180 minutos e não fazer nada é suspeito.
Como dar a ele a condição de capitão se já mostrou que é esquentado e, de forma irresponsável, arruma confusão. Pode um capitão, no que pese a força de um contrato, sair sem dar uma palavra à imprensa, nem ao término da partida, nem depois do jogo?
Quando a torcida comparou Neymar à Marta não estava ironizando. Ela percebe a diferença de postura, atitude e comportamento entre ambos. Do lado da Marta sobra humildade, empenho, compromisso e qualidade. Os muitos memes, as muitas piadas e a repetição do coro pedindo a Marta na seleção masculina quando do jogo contra o Iraque, mostra que o Neymar está Neymal. Ela já foi escolhida cinco vezes como a melhor do mundo e com todos os méritos. Ele nunca o foi e se continuar assim nunca será.
O que a torcida espera é que o Neymar deixe de ser o incensado, badalado e alçado à condição de maior estrela do futebol brasileiro. Deixe de ser Neymal e passe a ser um Neymarta: aprenda com ela a jogar em equipe, ser sério, comprometido, humilde e menos baladeiro.
Marcos Inhauser
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quarta-feira, 3 de agosto de 2016
NUMEROLATRIA
Chama-me a atenção
como as igrejas e os membros delas estão obcecados pelos números. É só
perguntar a alguém qual a igreja que frequenta e, invariavelmente, dará o nome
da igreja e em seguida emendará alguns números: “temos um templo para 8.000
membros”, “nossa igreja tem 17 pastores”, “recebemos 154 pessoas por batismo no
domingo passado”, “a arrecadação da nossa igreja tem uma média de R$ 250.000
por mês”, “temos 345 grupos familiares”, “tivemos um culto abençoado e 87
pessoas foram à frente se decidindo por Jesus”, “nossa igreja sustenta 12
casais de missionários nos campos”, “estamos construindo um templo para 10.000
mil pessoas”, “fazemos a oração dos doze apóstolos”, “impetramos a benção dos
318 servos poderosos”, etc.
Cada qual quer impressionar
com a grandiosidade dos números apresentados, como se a pujança e o vigor de
uma comunidade estivessem nos números que apresenta. Eles avalizam a prática
ministerial, teológica, programática e doutrinária da igreja. É um tipo de “os
números validam a prática”. Quanto maiores forem eles, mais acertada estará a
comunidade no seu entendimento da vida religiosa.
Ao anunciar um
convidado especial, fazem 1questão de dizer que o mesmo é pastor de uma igreja
de tantos mil membros em algum local desconhecido, de preferência no exterior.
Dá mais autoridade ao convidado e a quem o convidou. Há pouco tempo fui buscar
um amigo que participava de uma convenção dos numerólatras. Com voz triunfante
anunciavam que há menos de 10 anos tinham começado com 55 pessoas reunidas e
que naquele momento estavam com 2.300 pessoas na atual convenção. E desafiavam
a todos para que, no próximo ano, chegassem a 5.000.
A busca dos números
superlativos para uma comunidade se transformou em uma idolatria. Eles são a
certeza da benção, da garantia do acerto da prática ministerial. Eles validam
qualquer prática, desde que os templos estejam cheios. Grupos pequenos são
sinônimo de fracasso.
Certa feita, convidado
a pregar em uma igreja que nunca tinha visitado, tive o pastor da Igreja
afirmando que a certeza de que Deus estava no meio deles era que havia gente
até do lado de fora do templo. Não aguentei. Mudei o sermão: “onde estiverem
dois ou três reunidos em meu nome, aí estarei”. Afirmei que só podia garantir a
presença de Deus, segundo as Escrituras, quando dois ou três estivessem
reunidos em Seu nome. Mais que isto era temerário. Não preciso dizer que nunca
mais me convidaram para pregar naquela igreja.
Arrecadação,
frequência, membresia, programas, festas, cultos especiais são o alvo maior
porque se pode contar e propagandear as façanhas. Comunhão, serviço ao próximo,
ajuda ao necessitado, visitas aos enfermos, apoio ao que sofreu perdas
significativas, não dão Ibope. Muitos frequentam esta ou aquela igreja porque
não precisam se envolver. Vão, assistem, e saem. Outros frequentam esta ou
aquela igreja e fazem questão de colocar um adesivo no carro, porque aquela
igreja tem grife, tem números!
Seria a ênfase nos
números uma necessidade para que uma comunidade se caracterize como igreja? É o
número dos que frequentam que validam a existência? É o tamanho do templo a
garantia de que se está em um local sagrado? São os 45 minutos de louvor que
fazem um culto ser uma benção? É o número de músicos à frente o que abençoa?
Se na antiguidade se
condenava o deus mamon e o da fertilidade, hoje se deve combater o deus da
grandiosidade e dos números.
Marcos Inhauser
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Marcos Inhauser
A NOBREZA DO ANONIMATO
Transcrevo aqui mais um texto do
meu amigo e colega Marcos Kopeska.
Acredito serem poucas as pessoas a
viver absolutamente satisfeitos com suas identidades e realizações. Parece que
temos a tendência de ambicionar ser o que não somos e vivemos insatisfeitos
como nossas conquistas e identidade. Ouvi a respeito de Julio Cesar, um dos
maiores estadistas da história que foi flagrado por um assessor em choro copioso
ante a estátua de Alexandre Magno. Quando perguntado da razão do choro,
respondeu em desconsolo: “Choro porque
não sou Alexandre, o Grande, que quando tinha mesma idade que tenho, conquistou
seu fabuloso império.” Cabe ressaltar que Alexandre Magno, da Macedônia, foi
o general mais vitorioso e de estratégias minuciosamente perfeitas, seguido por
Julio Cesar, imperador de Roma que veio quase quatro séculos depois.
Penso que em maior ou menor
escala, muitos de nós somos “Julio César”, chorando por não sermos quem gostaríamos de ser, comparando a idade que
temos com as idades que tinham nossos heróis quando dos seus grandes feitos. Acontece
que essa cobrança perversa nos impede de descansar naquilo que somos e nos tolhe
de sentirmo-nos dignos pelo que somos, no tempo em que chegamos onde chegamos.
Confesso que, em certa ocasião,
senti-me desnorteado sabendo que Charles H. Surgeon escreveu seu primeiro
tratado de teologia sistemática aos dezesseis anos de idade, enquanto aos
dezesseis eu nem ao menos falava em público. Senti-me inútil ao ler que Billy
Graham, aos trinta anos, já influenciava o mundo pregando sermões impactantes e
sendo conselheiro pessoal do presidente dos EUA, enquanto eu aos trinta, patinava
sofregamente no inglês e vivia enfurnado nos meus dilemas de pastor
interiorano. Senti-me inadequado quando olhava para quem tinha mais de cem
livros publicados, tinha doutorado em teologia, era conferencista, enquanto eu,
com quarenta e dois apenas administrava os caprichos de um grupo de líderes
nepotistas e confusos da igreja local. Confesso que demorei para fazer a oração
de Davi registrada no Saltério: “Senhor, não é soberbo o meu coração, nem
altivo o meu olhar; não
ando à procura de grandes coisas,
nem de coisas maravilhosas demais para mim.” (Sl 131:1). Cheguei
à conclusão que o que vale é a relevância
e não a importância. Descobri que,
por vezes, apenas o existir e cumprir fielmente nossa missão, é o maior legado
que podemos construir. Atinei-me de que, em muitas ocasiões, somos “João
Ninguém” aos nossos próprios olhos, vivendo na linha mediana da existência, não
obstante ao longo da história colocarmos em funcionamento importantes
engrenagens que farão parte do agir de Deus no tempo.
No presente não avaliamos os
desdobramentos que apenas se revelarão no futuro. Quando penso nisso, logo
lembro do discípulo de Damasco, Ananias, instrumento usado por Deus para orar
por Saulo de Tarso, quando da sua conversão e batismo do apóstolo. Ananias
batizou Saulo e desapareceu da história da igreja, enquanto Saulo se levantou
com inegável intrepidez para ser o maior teólogo e missionário da história. Ananias
foi uma destas engrenagens da história do cristianismo e o desdobramento foi a
evangelização do mundo de então. Ananias não foi importante, mas relevante.
Sendo assim, não sejamos afoitos
por holofotes, mas desejemos manifestar a soberania absoluta de Deus na cronologia
da vida, mesmo que você nunca venha a saber dos desdobramentos finais. Creia, nenhum
anonimato é pobre e desvalido, se Deus é soberano na história. Há nobreza em apenas
ser uma destas engrenagens da história quando o desfecho é a glória de Deus. Isso
nem sempre é importância, mas sempre será relevância.
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Marcos Kopeska
O AMOR NÃO É ...
O
amor não cobra. Quando se ama não há o direito de cobrança da pessoa amada pelo
fato de que o amor não pode exigir respostas positivas da parte da outra pessoa
receptora do meu amor. Ele é um ato incondicional da minha parte para com ela e
querer cobrar o outro pelo fato de eu o amar é uma desautorização do meu
sentimento, porque o ato da cobrança violenta o ato do amor e o transforma em
algo de significado zero.
O
amor não é proprietário. Amar alguém não confere o direito de propriedade. O
amor proprietário é um dos grandes problemas da humanidade e o é pelo fato de
que as pessoas, por amarem, se sentem donas do outro e no direito de controlar
a vida do outro, de estabelecer limites, seja para a roupa que veste, o cabelo
que pode ter, onde pode ir, com quem pode conversar. O amor não pode se sentir
dono do outro que só é o destinatário dos meus sentimentos e atos de amor. O
amor nunca toma posse. O amor possessivo, ciumento é doentio, é patológico.
O
amor não é investimento. Não se pode amar alguém hoje, fazer coisas em
benefício dele e amanhã cobrar alguma resposta, retribuição ou recompensa pelo
fato de eu o ter amado e o ter beneficiado. O ato do amor não exige pagamento.
O ato do amor é uma doação incondicional e gratuita.
Outra
característica do amor: ele é doação. Foi o que Deus fez. O texto diz: “porque
Deus amou o mundo, deu o seu filho”. Outro texto diz que Deus provou seu amor
para conosco no fato de ter Cristo morrido por nós, de ter se dado por nós.
Outro texto vai dizer que ninguém tem amor maior do que dar a sua vida em favor
do outro. Amar é entregar-se ao outro. Quando se dá não se espera nada em troca.
É
verdade que o ápice do amor é amar e ser amado por quem se ama. O clímax do
amor é ter o agradecimento do outro por ter recebido. Amar e ser amado por quem
se ama ou amar e receber a gratidão da pessoa amada não deve ser condicionante para
amar.
O
amor não precisa dar provas. Ele é a prova em si mesmo. O ato de amar, que é o
ato de fazer algo em benefício do outro é, em si mesmo, a prova inteira do amor
que se tem. O amor se vive e se faz presente no ato. Ainda que existam algumas
expressões, inclusive bíblicas, no sentido de dizer que Deus prova o seu amor
para conosco, o texto vai mostrar que a prova do amor está no próprio ato de amar.
Amar
não tem limites. Quando se ama, há entrega, doação completa. O amor não aceita
ou não impõe restrições. O amor libera as coisas positivas, os atos das pessoas
que amam e elas se sentem libertas, felizes. Ele também liberta as pessoas
amadas porque, ao receberem o amor, são por ele beneficiadas e libertas. O amor
não infelicita. O que infelicita é o ciúme, que mata ao controlar o objeto amado.
O
objetivo maior de quem ama é ver o amado sendo promovido, crescendo, florindo,
desabrochando para a vida. O amor coloca sorriso nos lábios de quem ama, lágrimas
de alegria na face de quem é amado. O amor promove a vida, perdoa, não se
ressente do mal e não busca o seu próprio interesse.
Marcos
Inhauser
quarta-feira, 13 de julho de 2016
GESTOS DE AMOR
A Igreja da Irmandade está há 106 anos na China. Começou com
um trabalho médico, teve algumas igrejas, com a revolução maoísta elas foram
fechadas e ficou o trabalho médico. Eles hoje têm uma casa de acolhimento de
doentes terminais, na quase totalidade com câncer, sendo uma das poucas
existentes no país.
Um dia receberam um doente muito mal. Não tinha parentes e
vivia completamente só. Acolhido, recebeu tratamento, carinho, atenção e aquilo
se tornou no seu lar. Um dia a cuidadora perguntou a ele qual o desejo que ele
tinha a ser realizado antes que morresse. Muito constrangido disse que queria
lavar os pés. Ela, seguindo a tradição anabatista do lava pés, tomou da bacia,
toalha e água e lavou os pés daquele moribundo. Ao terminar, ele segurou a mão
dela e disse: “há dezoito anos que não lavo os pés, porque não conseguia”. Ele
faleceu pouco depois.
A Igreja da Irmandade está há mais de vinte anos na
República Dominicana. Já tratei aqui, por três vezes, da surreal situação dos
filhos de casais haitianos, ou de um casal em que um deles é haitiano e que os
filhos nasceram na República Dominicana. Não podem ter certidão de nascimento,
e por isto não têm acesso ao sistema público de saúde e educação. São
indocumentados e apátridas. A igreja tem uma boa porcentagem de haitianos, tem
trabalho em Bateis (vilas isoladas onde vivem os indocumentados e que se dali
saírem podem ser presos), tem pastores haitianos e indocumentados.
Houve forte pressão internacional e o governo teve que abrir
um processo de arrolamento dos haitianos/dominicanos (HD), para dar a eles uma
cédula de identidade. Um dos pastores da igreja, HD, indocumentado, foi
encarregado de mobilizar as pessoas, levá-las para fazer o registro e ajudar
nas custas (verba da Igreja nos EUA foi dado para que este trabalho pudesse ser
feito). No meio do seu trabalho encontrou
um senhor HD, doente, sem família, sem moradia, aterrorizada pelo medo de ser
preso e deportado, sem consciência de que poderia ter a sua cédula de
identidade. O pastor o tomou pelas mãos, fez o que devia ser feito: levou-o ao
Departamento de Inscrição, testemunhou a seu favor, buscou descobrir onde tinha
nascido, nome dos pais, etc.
O problema se complica ainda mais porque, em muitos casos,
casais que iam ao hospital para o nascimento, de medo de serem presos e
deportados, davam nomes fictícios e muitos apresentavam identidades de
dominicanos que emprestavam seus documentos. Assim, encontrar o registro de
nascimento não é o suficiente, porque o nome do pai ou da mãe pode estar
adulterado.
No caso do velho senhor HD não conseguiram, mas pelo
testemunho da igreja e do pastor que gestionava a seu favor, ele conseguiu a
sua cédula de identidade. Mais: a igreja propiciou-lhe um local para morar.
Em uma de minhas viagens à RD estive em um Batei. Lá havia
uma escola só para crianças indocumentadas e impedidas de frequentar a escola
pública. Esta escola era fruto da dedicação de uma haitiana, legalizada na RD,
que decidiu abrir a escola e mantê-la com as ofertas que recebesse. Ela tinha
uma sala de aula, uma cozinha, um banheiro precário e um pátio para as crianças
brincarem. A professora morava em uma barraca, ao lado de um alicerce de uma
muito pequena casa que tentava construir. Perguntei a ela porque construiu
antes a escola e ela me disse: “lá eu beneficio muito mais gente que construir
uma coisa só para mim. Passo o dia na escola e só venho aqui para dormir. Minha
vida está lá e de lá vai sair gente que vai mudar esta situação, beneficiando
muito mais gente.”
Amar é simples. Não requer teologia, filosofia ou qualquer
outra “ia”. É ir e amar.
Marcos Inhauser
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A SIMPLICIDADE DO AMOR
Acabo de entrar em um restaurante na Times Square. Na entrada há
um cartaz que diz mais ou menos isto: "não sou nada inteligente, mas sei o
que o amor significa".
Durante uma semana participei, juntamente com minha esposa, de uma conferência
da Church of the Brethren, onde o tema central foi a luz, e vários dos
conferencistas estabeleceram a relação da luz com o amor. Um deles foi enfático
ao dizer: "se há amor há luz, se não há amor há trevas". A luz
explícita as oportunidades e os meios de se amar.
Se associo o que li na entrada do restaurante com o que ouvi nas conferências devo dizer que ninguém está isento de amar. Quem trabalha com pessoas carentes afirma que eles têm muita demonstração de amor, um tipo de demonstração espontânea e incondicional.
Se o resumo das leis do Antigo Testamento (amarás o Senhor teu Deus sobre todas as coisas) e do Novo Testamento (amar a Deus sobre todas as coisas, e ao próximo como a si mesmo), o amor é a essência da espiritualidade. Como diz Paulo, o apóstolo, sem amor nenhuma ação é válida.
Amar até os tolos conseguem. Os que se creem inteligentes racionalizam e inventam desvios e obstáculos para o amar simples e benéfico ao próximo. Amar não é questão de inteligência, mas de simplicidade, inocência e despojamento do eu e das barreiras.
Amor é doação do eu, do tempo, das habilidades, do carinho, do ouvir sem julgar, do que tenho e o outro necessita. A oração ensinada por Jesus coloca o pão como "nosso". O pão "meu" é pecado porque avarento e egoísta. No pão meu não há amor, mas racionalização impeditiva do que deve ser " nosso".
Para o amor não há contra-indicação, nem efeitos colaterais adversos. Só o benefício da felicidade de sentir útil e significativo.
Marcos Inhauser
Se associo o que li na entrada do restaurante com o que ouvi nas conferências devo dizer que ninguém está isento de amar. Quem trabalha com pessoas carentes afirma que eles têm muita demonstração de amor, um tipo de demonstração espontânea e incondicional.
Se o resumo das leis do Antigo Testamento (amarás o Senhor teu Deus sobre todas as coisas) e do Novo Testamento (amar a Deus sobre todas as coisas, e ao próximo como a si mesmo), o amor é a essência da espiritualidade. Como diz Paulo, o apóstolo, sem amor nenhuma ação é válida.
Amar até os tolos conseguem. Os que se creem inteligentes racionalizam e inventam desvios e obstáculos para o amar simples e benéfico ao próximo. Amar não é questão de inteligência, mas de simplicidade, inocência e despojamento do eu e das barreiras.
Amor é doação do eu, do tempo, das habilidades, do carinho, do ouvir sem julgar, do que tenho e o outro necessita. A oração ensinada por Jesus coloca o pão como "nosso". O pão "meu" é pecado porque avarento e egoísta. No pão meu não há amor, mas racionalização impeditiva do que deve ser " nosso".
Para o amor não há contra-indicação, nem efeitos colaterais adversos. Só o benefício da felicidade de sentir útil e significativo.
Marcos Inhauser
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A FÉ TEMPLARIA
Vivemos há séculos com
a vinculação estreita entre o templo e o culto, ao ponto de, para muitos, não
haver culto sem ser realizado no templo. As reuniões cúlticas fora dos templos
recebem nomes outros, mas não o de culto.
Esta herança a devemos
à religiosidade do antigo Israel onde, com a construção do tabernáculo e depois
do templo, se associou de tal forma as duas coisas que passou a fazer parte do
DNA das religiões. O mesmo se pode dizer do islamismo, onde as mesquitas são
elementos centrais na vida religiosa e há a preeminência de uma sobre as
demais: Meca. O mesmo se aplica ao catolicismo, com a centralidade da Basílica
de São Pedro na cidade do Vaticano.
Há, contudo, algumas
considerações que devem ser feitas quando isto ocorre. Não se imagina um
santuário sem sacerdotes ou uma casta de gente dedicada ao serviço religioso.
Por serem os “mediadores” entre a divindade e os humanos, estes recebem alta
consideração e respeito por parte dos adoradores. A palavra por eles proferida,
a instrução por eles dada, o ensino por eles ministrado, passam a ter a
chancela da superioridade, da infalibilidade, da inquestionabilidade. O que
falam, fazem ou ensinam estão acima de qualquer suspeita. As suas mensagens são
Vox Dei.
Esta concepção dos
“dedicados ao serviço religioso” (seja lá qual o título que se queira a eles
dar) facilita o surgimento de uma verticalização:
Deus-sacerdote/bispo/apóstolo/pastor-povo. O Supremo se comunica com os fiéis
pela intermediação de “vocacionados”. Estes, por gozar desta reverência e
funcionalidade, não raro, assume ares de ditador espiritual e deixam o seu lado
narcísico aflorar. Colocam fotos suas nas fachadas dos templos, sonham em ter
um horário na televisão para serem vistos por milhares, querem ouvir sua voz na
rádio. Sua visão teológica (quando as tem, o que é raro), suas doutrinas
(quando não são coleção de podes e não-podes, o que é o mais comum), sua
administração (quase sempre egóica), produz um ditador que invade a vida das
pessoas e, para espanto, até os mesmo os quartos de casal, ditando o permitido
e o pecado.
Porque vivem de manter
e incrementar seu poder, fabricam leis e multiplicam pecados, produzindo o
sentimento de culpa em massa. Passam a ter prazer quase orgásmico em ver os
fiéis se sentirem pecadores, indignos, merecedores do castigo divino. Oferecem
assim seus préstamos de mediadores da benção e da graça, sempre aliado à
contribuição do dízimo e das “ofertas de amor”. Empreendem programas
mirabolantes, alugam horários televisivos a peso de ouro e, quando chega a hora
de pagar a conta, ao invés de reconhecerem que exageram no sonho,
responsabilizam os fiéis pela manutenção de suas megalomanias narcísicas.
Para manter o poder e
dar asas ao narciso, os fiéis precisam ir ao templo. Se em Israel todo judeu
devia ir ao templo uma vez ao ano, se o muçulmano deve ir a Meca uma vez na
vida, nos modernos templos-gazofilácio os fiéis devem ir tantas vezes quantos
os dias da semana. Prestam a reverência ao ditador/espiritual, pedem orações,
recebem a benção e, infalivelmente, são constrangidos a deixar a “ben$ão para o
$ustento da obra do $enhor”.
Sem o templo não há
culto, sem o templo não há “vocacionados”, sem o templo não há salvação. Quanto
maior for o templo, mais benção há. Por isto, os narcisos/ditadores/arrecadadores,
precisam construir seus palácios: o templo de Salomão, o Santuário para quinze
mil pessoas, o maior templo do mundo, a Casa de Deus. Fora do templo não há fé,
milagre ou livramento.
Todos ao templo é o
lema. Quanto maior o templo, mais bonito você está na fita e mais gratificado
está o ditador/arrecadador.
A religiosidade
não-institucional, não mediatizada, de pequenos grupos caseiros não é expressão
de culto e fé. É subversão. Sem guru não há edificação.
Chegamos ao tempo em
que o Espírito Santo pode ser aposentado!
Marcos Inhauser
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quinta-feira, 16 de junho de 2016
SEMELHANÇAS NA INCOMPETÊNCIA
Os dois nomes começam
com a mesma letra.
Ambos têm cinco letras
em seus nomes e três delas são consoantes.
Ambos têm duas vogais
e terminam seus nomes com a mesma.
Ambos vêm do sul do
país. Ambos começaram suas carreiras por cima e tiveram suas funções por
apadrinhamento. Tiveram uma mão milagrosa para adentrar ao mundo dos
“iluminados”. Os dois tem seus assessores próximos com nomes que lembram
tempero: Cebola e Mantega. Ambos têm seus defensores gratuitos: Gilmar Rinaldi
e José Eduardo Cardoso.
Ambos têm a estranha
capacidade de sempre culpar os outros pelos seus infortúnios, de nunca
reconhecer seus erros, de não se enxergar. No que pese o descalabro de suas
atuações, ainda vendem a imagem de que tudo foi maravilhoso e que querem “bola
prá frente”. Ela quer voltar para fazer o mesmo que fazia. Ele quer continuar
para fazer o mesmo que sempre fez.
Quando falam e
discursam é necessário um intérprete para entender. Prolixos e com lógica
questionável, deixam os ouvintes aturdidos e se perguntando: o que foi que
queriam dizer?
Ambos são avessos a
qualquer mudança. Repetem ad nauseam
as mesmas frases e conceitos e, diante de uma situação que exige decisão
ousada, ficam catatônicos. Ela, diante da possibilidade concreta de ser afastada,
ao invés de tomar decisões que mudassem o curso dos fatos, preferiu se colocar
de vítima, chamando os que pediam mudanças (o que ela é incapaz de fazer) de
golpistas. Ele, diante da derrota iminente, trocou um jogador leve e talvez o
mais atuante em campo, por um pesado e que não ficava dentro da área como
referência para os lançamentos. Tendo ainda duas substituições para fazer,
olhava para o campo com cara de espanto, paralisado. Deixou de orientar a
equipe, não fez o que dele se esperava e criticou o juiz por validar um gol
irregular.
Ela estudou economia.
Quem estuda economia não é garantia que venha a ser economista, assim como quem
estuda filosofia ou teologia não é garantia de que venha a ser filósofo ou
teólogo. Há uma distância entre estudar a matéria e ser economista, filósofo ou
teólogo. Posso saber de economia, filosofia ou teologia e nada mais que isto.
Ela não percebeu isto e se arvorou economista e na sua gestão produziu um
déficit histórico, um desemprego na casa dos quase 12 milhões e a proliferação
de “vende-se” ou “aluga-se” em função dos milhões de negócios fechados.
Jogar futebol não
credencia a ser técnico de futebol. Uma coisa é jogar, outra é ser líder de uma
equipe que coloca as peças certas no lugar certo. Uma coisa é fazer um lançamento
em profundidade, outra é fazer uma substituição. Nem todos os bons jogadores
são técnicos e há os que, tendo sido bons jogadores, se aventuraram na carreira
e não tiveram sucesso ou tiveram que abandoná-la. Aí estão os exemplos de
Zetti, Mario Sérgio, Roque Júnior, entre outros. Ele conseguiu dar ao Brasil a
segunda maior vergonha no futebol: ser eliminado na primeira fase da Copa
América.
Um estudou economia e
não é economista. Outro jogou futebol e não é técnico. Os dois são
incompetentes nas “profissões” que abraçaram. Ambos são incompetentes. Nos dois
casos, quem pago o pato é o povo: com o desemprego, inflação alta, falta de
perspectiva e vergonha de, sendo pentacampeão mundial, amargar um 7 a 1 e a
gora a eliminação precoce.
Marcos Inhauser
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