O verborrágico foi embora, mas deixou o herdeiro
no ministério: um ministro histriônico. A teatralidade, o exagero de gestos, as
hipérboles despropositais, fazem do ministro Lupi o histrião par excellence.
Para se entender melhor a figura histriônica
se pode relembrar de Odorico Paraguaçú, imortal personagem de Dias Gomes. Outro
foi Sinhozinho Malta. Na vida real pode-se mencionar o locutor Gil Gomes, o
vereador-cantor Aguinaldo Timóteo, a ex-senadora Heloísa Helena, o senador
Pedro Simon, o Datena, entre outros.
O histrião fala alto, exagera nos gestos
(gestos grandes e dramáticos), faz de uma fala simples uma peça de teatro,
emocionaliza tudo, chora por nada e gargalha por menos ainda. Nos tipos mais
característicos, ele é um comediante, a garantia de humor e risada.
Assim tem sido com o ministro Lupi. Cada vez
que aparecia para anunciar os índices de emprego (isto antes das denúncias) ele
conseguia fazer da apresentação de um relatório uma ópera bufa. Com os
episódios que envolvem a sua gestão no ministério, ele está ainda mais
histriônico.
A sua primeira defesa foi um show. Negou,
acusou, gesticulou, cacarejou e bravateou. Mais parecia um santo saído de
convento que ministro de governos nada santos. Passou a ideia de ser a reserva
moral dos ministérios. Chegou o final de semana e novas denúncias, inclusive
mostrando que havia mentido. Foi à Câmara dos Deputados e negou conhecer o
Adair Meira e ter viajado em um King Air. Disse que tinha sido um Sêneca, como
se o tamanho do avião diminuísse o deslize. Mais uns dias a aparece foto do
Lupi descendo do King Air e ao lado do Adair, que ele disse não conhecer. Logo
vem a público o Adair e diz que até jantar em homenagem ao ministro deu em sua
casa.
Lá foi o histrião ao Senado explicar o
inexplicável: não mentiu e nem poderia ter mentido porque quando lhe
perguntaram não tinha ainda saído a notícia do King Air. Ao mais característico
dos estilos dos governistas desta última década, a culpa é do assessor e ele
não sabia de nada.
Bravatão, disse que só seria abatido a bala.
Repreendido pelos palacianos, sai com a frase mais cômica de todas as suas
investidas: “Eu te amo, Dilma”. Flagrado com a questão das diárias, antecipou o
reembolso à espera de um parecer da CGU. Ele mistura fatos e versões, embola o
público, o partidário e o pessoal, explica cantiflinianamente, fala mais do que
deve, explica menos do que deve. Solta nota oficial negando que o avião da foto
fosse o King Air, fato que depois teve que reconsiderar.
Esta ópera bufa já está se estendendo em
demasia. Tal qual enredo de quinta categoria, não adiante esticar porque o fim
é previsível: ele vai “sair de cabeça erguida, para ter tempo de preparar sua
defesa”. Agradecerá a confiança depositada, acusará os acusadores, receberá o
discurso da chefa de que o governo perde um excelente quadro, e tudo volta a
ser como dantes e as ONGs continuarão a mamar nas tetas do Ministério.
Razão tem o Macaco Simão: “Fica Lupi, pelo
bem do humor nacional”.
Marcos Inhauser