UM MISTO DE SENTIMENTOS
Pela primeira vez pude ter reunidos para as festas de final de ano a
todos os meus netos, um dos meus dois genros e minha nora. São catorze anos
desde que minha primeira filha se casou e depois deste tempo todo, poder
celebrar o Natal juntos, ver a criançada pulando, gritando, aprontando, foi uma
experiência indescritível. Ao mesmo tempo em que desfrutava, ouvia no
noticiário e constatava as mudanças climáticas e uma pergunta vinha à mente de
forma inevitável: que mundo vamos deixar para eles?
Vi a posse dos governadores e da Dilma. Ouvi parte dos discursos e me
bateu aquele ar de frustração por perceber que todos os candidatos que
prometeram o paraíso, acenavam com frituras na administração. Ouvi alguma coisa
do que os ministros disseram e, na expectativa de mudanças, o que vi foi a
perpetuação da mesmice.
Ouvi sobre as mudanças que se propõe para o Salário Desemprego e Auxilio
Doença e acreditei que haveria alguma seriedade na área econômica e mudanças
para evitar o Auxilio Preguiça que o Salário Desemprego se transformou. Mal
acabei de ouvir, veio a notícia de que a coisa não passa pelo Congresso, porque
a base aliada está descontente com as nomeações feitas pela presidente.
Ouvi o ministro Barbosa dizer que faria mudanças no cálculo do salário
mínimo. Vibrei porque, ainda que seja analfabeto em economia, sei que a fórmula
arrebenta os gastos públicos, uma das mazelas deste governo. No outro dia li
que o ministro veio a público dizer que não disse o que havia dito, pressionado
que fora pela presidente em férias. O príncipe virou sapo pela intervenção da
bruxa.
Tomou posse o mais antigo ministro não empossado, o Levy, aquele que foi
nomeado e nunca empossado para dar tempo ao ministro-das-eternas-desgraças
praticar a sua contabilidade criativa, feito Mandrake escondendo o descalabro
das contas públicas.
Olho na minha estante e vejo um livro que o tenho e o li há mais de 20
anos. Está em inglês e o título e "Para uma Esperança Melhor". O
autor, Hauerwas, trabalha a questão de manter acesa a esperança de dias
melhores e que isto e possível. Creio nisto, mas, com esta política que vejo,
com os Renans, Sarneys, Zés Dirceu, Delubios, Vacaris, Vacarezzas, Youssef,
Duque e aliados, parentes e clones, fico em dúvida se esperança melhor poderemos
ter.
Isto me leva a pensar que, nos tempos de Seminário, na minha formação
teológica, fui ensinado a ter e comunicar certezas, especialmente a de melhores
dias e a do Reino de Deus ao fim de tudo. No entanto, vejo que a vida é como
barco ao sabor das ondas, levado para todo lado. Como ter certezas neste mundo
de mudanças radicais a cada minuto? O mundo ficou liquido, volátil, multiforme.
Em meio às incertezas, viver é uma aventura. Viver com e pela fé é
loucura. Ao menos não posso dizer que não fui avisado: o apóstolo Paulo já
havia alertado que o evangelho é loucura.
Marcos Inhauser