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quarta-feira, 28 de agosto de 2013

A QUARTA ONDA

No livro "A terceira onda" Alvin Tofler defende a ideia de que a humanidade passou por uma primeira representada pela civilização agrária; a segunda que foi a civilização industrial; e a terceira, que é a cibernética. Se Tofler está certo ou não, não é o meu desejo discutir aqui.
No entanto, esta colocação levou-me a pensar na história da Igreja. Também nela pude perceber "ondas".
A primeira está ligada à fase inicial da história da Igreja, desde o Pentecoste até o reconhecimento do cristianismo pelo império romano. Nesta fase, os cristãos, perseguidos que eram, quando se reuniam, o faziam com o risco da própria vida. Não podiam, por razões óbvias, promover grandes concentrações, nem podiam promover barulho, quer através dos cânticos ou da pregação. O ponto alto das reuniões era o "ágape", refeição que constituía o fator de unidade e comunhão na Igreja primitiva. Durante o ágape, havia o compartilhar das experiências, o doutrinamento, a oração, os salmos, o louvor. Mas o ponto alto, o ponto básico, o principal era a refeição.
A segunda onda está relacionada com o período da legalidade da Igreja. As comunidades até então subterrâneas, vieram à luz. As reuniões que eram familiares, feitas nas casas, passam a ter mais de frequentadores. Surgem os templos. Edifícios majestosos foram construídos. Grandes catedrais, templos suntuosos, requinte arquitetônico, obras de artes valiosíssimas pintadas nos seus tetos e vitrôs. Foi a época áurea da arquitetura e da arte.
Os prédios e as artes passaram a ocupar o lugar do "ágape". Ia-se ao templo, lugar agradável e bonito, que convidava á meditação. Foi o apogeu da arte sacra, enquanto a teologia se perdia nos labirintos das especulações que a escolástica produziu. As construções, a arte, as esculturas passaram a funcionar como elemento catalisador da cristandade. Um afresco, um vitrô pintado, uma escultura, comunicavam uma mensagem. Atraíam os fiéis.
Veio a Reforma, que trouxe a terceira onda. Se até então as cerimônias religiosas estavam muito mais voltadas para o visual, o plástico, os reformadores, por sua volta às Escrituras, passaram a colocar a exposição delas como o ponto alto do culto cristão. Ainda que tenham inovado com a introdução do canto congregacional, a liturgia reformada elevou o púlpito ao cume.
Assim, na tradição reformada, não se concebe um culto sem a leitura e exposição da Palavra. Isto levou a Igreja a produzir grandes oradores, filólogos e gramáticos, mas quase nenhum artista plástico. Para os reformados, a única via de edificação espiritual é a da razão, pela compreensão lógica e sistemática das Escrituras Sagradas.
Esta terceira onda começou a ser abalada pela entrada da civilização televisiva. Os grandes oradores começaram a sofrer a concorrência da televisão, com seus personagens, sempre bonitos, bem vestidos, voz empostada, nunca falando alto ou gritando, nunca errando, com fundo musical, velocidade de ação e temas atraentes. Acresce-se a isto o fato que, para ouví-los, não havia a necessidade de sair de casa, nem colocar o sapato apertado, nem a indumentária alienígena do terno e gravata. Tampouco precisava ficar sentado imóvel durante hora e meia, ou mais. Poderia conversar durante a programação, levantar-se, comer ou outra coisa qualquer.
A geração criada pela babá-eletrônica, aprendeu a prestar atenção durante um tempo superior a 8-10 minutos, que é o período de programação entre um comercial e outro. Esta geração "videologizada" tem dificuldade de adaptar-se ao esquema litúrgico das igrejas. Tampouco está acostumada a prestar atenção durante 30-35 minutos, num amontoado de palavras que não fazem parte do seu universo vocabular: redenção, propiciação, reconciliação, justificação, infalibilidade, imutabilidade, onipresença, ubiquidade, certamente não foram ouvidos por ele, e soam estranhas, esotéricas, acadêmicas e estéreis.

Há um abismo entre a tradição litúrgica e a vida do jovem.
Marcos Inhauser