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quarta-feira, 13 de novembro de 2019

EVANGÉLICOS NÃO-CRISTÃOS


Pode parecer uma incoerência, mas não o é. Há muitos que declaram ser evangélicos e negam em suas vidas e pregações o que os evangelhos ensinam. Mas, antes de mais ada, precisamos conceituar os termos. Evangélico vem de evangelho, palavra que tem sua origem no grego neotestamentário (euangelión) e que significa “boas novas”. Curiosamente, ela foi originalmente usada até para o anúncio da vitória militar trazida por um mensageiro. Também se sabe que a palavra era usada para se referir a qualquer boa nova, independentemente da natureza ou do contexto onde a mesma estava inserida. Só mais tarde é que os escritores do Novo Testamento, ao fazerem dela uso, começaram a restringir o seu significado para se referir a Jesus Cristo e ao anúncio da salvação.
Estrita e morfologicamente falando, qualquer boa nova é euangelión e, por conseguinte, anunciar boas novas é evangelizar, não importa o campo em que tal boa nova pertença. Também se refere ao conteúdo conhecido como evangelhos. E mais contemporaneamente, o termo “evangélico” se refere aos que “pautam suas vidas pelos ensinamentos dos evangelhos”. Uma denominação evangélica seria, portanto, aquela que tem nos evangelhos a sua Carta Magna e referência maior para os valores e práticas da vida. Ser evangélico é ter nos quatro escritos o parâmetro para avaliar todos os demais livros, até mesmo os que estão na Bíblia.
Os anabatistas mais radicais acreditam e ensinam que há uma gradação na revelação que está nas Escrituras: Palavra de Deus é o que Jesus falou, o que Ele ensinou e isto está nos evangelhos. Todos os demais escritos bíblicos são Palavra de Deus desde que concordem com os que Jesus falou e ensinou. Note-se que, nesta visão radical do evangélico, há coisas bíblicas que não são evangélicas, porque vão contra os ensinamentos de Jesus. Os textos que falam da guerra são informativos e não normativos. Seguir a Cristo é seguir ao que dEle se sabe e conhece e descartar o que contra Ele e seus ensinamento se colocam.
Ora, se um “evangélico” prega a ira, o racismo, a beligerância, o armamento, pode ele ser considerado um evangélico e cristão? Se um “evangélico” defende a tortura e cultua um torturador, pode ele ser considerado evangélico? Se o Sermão do Monte é parte central nos ensinos de Jesus, pode ser cristão quem os nega e ensina o que vai contra os ensinamentos do Sermão do Monte? Pode ser o guerreiro um pacificador? Pode ser cristão quem promove o armamento, se envolve sistematicamente em corrupção, desvia verbas da merenda e a saúde? É cristão quem tem a ira como a essência do viver? Como achar que é evangélico quem não aceita e nem pratica a recomendação de “amar os inimigos” e “dar a outra face a quem bateu”? Se o evangelho é o anúncio da graça, é evangélico quem vende bençãos?
Tudo o que não é amor a Deus, ao próximo e a si mesmo (não no sentido egoísta e narcísico, mas no sentido de zelar pela própria vida) não pode ser considerado cristão e nem evangélico. Esta foi a resposta de Jesus quando perguntado qual era o maior dos mandamentos. O verdadeiro cristão se conhece pela sua dedicação ao próximo e seu ministério para empoderá-lo, suprindo suas necessidades, aconselhando, dando agasalho, conforto e norte para a vida. Evangelizar é dar sentido a vida do outro, é dar a dimensão de eternidade para quem está na depressão, é ar a esperança de melhores dias pela solidariedade e justiça
Marcos Inhauser

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

ZILDA ARNS

Fui criado em uma igreja protestante, com forte presença familiar e de corte conservador e puritano. Nela, o ser protestante era um diferencial a ser ostentado com orgulhos das minorias, pois a presença católica era enorme. Na escola, quando havia aula de religião, era o único da classe a sair para não receber instrução católica. Aprendi que ser católico era ser idólatra. Mais tarde, quando fui ao primeiro seminário onde estudei, fundamentalista, outras características foram incorporadas para que eu execrasse a Igreja Católica e os católicos. Depois de uns dez anos no pastorado com esta visão maniqueísta (protestante igual a salvação, católico igual a perdição), tive meus primeiros contatos com o movimento ecumênico e comecei a perceber que os que antes eu demonizava não eram tão ruins quanto eu pensava e cria. Aprendi a admirar e respeitar a muitos sacerdotes e leigos católicos e aprendi muita coisa da vida cristã com eles. Foi nesta caminhada que percebi que mais importante que a afirmação doutrinária correta está a vida cristã de amor, que amar ao próximo e mais e melhor que as melhores afirmações. Aprendi que amar ao próximo não se faz falando ou abraçando, mas doando-se a quem precisa. Nesta caminhada aprendi a respeitar profundamente o trabalho da Dra. Zilda Arns. Nunca a conheci pessoalmente, nunca li algo que tivesse escrito, mas ouvi e vi muita gente que tinha sido alcançado pelas suas bênçãos, como a multimistura. Vi crianças que renasceram porque receberam a atenção e o amor de dedicadas voluntárias da Pastoral da Criança. Quando depois de vários anos fora do país voltei e decidimos trabalhar por um Natal Sem Fome, criamos uma Comissão Ecumênica que levantou algumas dezenas de toneladas em alimento e decidimos doar isto à Pastoral da Criança. Nós os pastores que fazíamos parte e que tomamos esta decisão, fomos duramente criticados: vocês estão pegando doações das igrejas “evangélicas” para fazer o trabalho e a promoção católicos. Nunca tive dúvida daquele ato, porque nunca duvidei da motivação cristã da Zilda Arns e dos que com ela trabalhavam. Ela, mais que qualquer outro cristão que tenha conhecido, soube amar ao próximo “de fato e de verdade”, sendo a benção da salvação para muitos. Ela, mas que ninguém que eu tenha conhecido, soube levar o Cristo Salvador a quem estava morrendo ou em desespero ao ver a desnutrição do filho. Vai-se Zilda, que se eternizou na vida dos que foram abençoados e certamente ressuscitará nas ações de quem a toma por exemplo. Milagre da vida e da ressurreição feitos concretos Marcos Inhauser