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quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

A ORAÇÃO QUE NÃO FIZ



Pastor em São Carlos, recebi a ligação de uma jovem para que fosse visitá-la em sua residência. Ela alegava ter problemas de mobilidade. Lá chegando, confesso, tive meu estômago embrulhado. Não tenho dom para enfermeiro e nem cirurgião. Ela tinha um afundamento craniano que me pareceu que lhe faltava metade do cérebro, com o consequente problema de paralisia acentuada em um dos lados do corpo.
Ela me recebeu com sorriso e alegria contagiantes. Para disfarçar meu embaraço, puxei da algibeira meu lado humorístico e tivemos uma excelente conversa. Ela me disse que queria frequentar a igreja. Afirmei que providenciaria para que isto acontecesse. Havia na igreja um jovem com o dom de serviço, forte e alto que, tendo carro, poderia fazer o trabalho. Acertei com ele e no domingo ele entrou com ela, carregada. Assim aconteceu nas vezes seguintes.
Um dia fui visitá-la e ela me pediu que orasse pedindo que Deus desse a ela um marido: ela queria casar-se! Fiquei pasmo e não sei se consegui disfarçar o meu espanto, pois considerava o pedido impossível. Na saída orei por ela e não mencionei na oração o seu pedido de um marido. Terminada a oração ela me disse: “pastor, o senhor não pediu o marido para mim”. Sem graça e sem jeito, e de maneira um tanto irônica, disse: “Oh! Deus! Arruma um marido para ela!” Não era uma oração, era uma evasiva, quase uma piada!
Sai de São Carlos e morei fora do país. Alguns anos mais tarde me contaram a história dela. Um amigo do pai que morava a uns 200 km de distância veio visitá-lo e pediu a um jovem da igreja que fosse dirigindo o carro para ele. Ele conheceu a Izilda, conversaram animadamente pelo tempo em que o amigo lá esteve. Alguns dias depois ele voltou à casa sozinho e pediu ao pai que queria casar-se com ela. O pai lhe expôs as dificuldades e o que significaria casar-se com uma mulher com tal grau de deficiência. Ele insistiu e prometeu que cuidaria dela com todo o carinho. Diante da determinação do jovem e do sonho da filha, o casamento foi permitido.
Casaram-se, mudaram para a cidade em que ele morava. Soube que ele cuidou dela como princesa até o dia da sua morte e que eles tiveram uma filha.
Perdi o contato com a família dela e nunca soube quem foi o marido, qual seu nome ou de onde era. Talvez nunca tenha sabido porque anjo não precisa de nome e endereço para atuar. Não sei onde mora a filha (ou filho, não tenho certeza!). Mas desta história sobraram algumas certezas para mim.
Quando soube do que havia acontecido, pensei: Deus responde até oração que não fazemos. Engano meu: achei que Deus tinha respondido a uma oração que não tinha feito. Hoje vejo as coisas de forma diferente. Deus tem uma predileção toda especial pelas viúvas, órfãos, deficientes! Deus não respondeu à minha oração não feita, antes à suplica dela. Ele deu um marido a ela no que pese a minha descrença.
De uma coisa sei e o sei por dura experiência: Deus pode responder até mesmo as orações não feitas! Deus pode fazer aquilo que é impossível! Deus pode dar um marido e uma filha a quem eu nunca teria dado!
É a graça de Deus!
Marcos Inhauser

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

MILAGREIROS, UNI-VOS!



Convoco-vos, ó milagreiros religiosos deste meu Brasil, especialmente os da linhagem evangélica, a unir-vos em uma “Cruzada Nacional de Erradicação da Praga” ou na “Cruzada Nacional de Expulsão do Demônio do Aedes Aegyti”. Convoco-vos pastores, pastoras, profetas, profetisas, bispos, bispas (sic), apóstolos, apóstolas (sic), missionários, missionárias, apocalipsistas e outras classes de agraciados por Deus com o poder da realização de coisas sobrenaturais.
Como vós sabeis, a nação brasileira está infestada por esta praga demoníaca que traz consigo os demônios da dengue, chikungunya e zika. Como vós sois eleitos por Deus para trazer a cura a toda sorte de doenças, a prosperidade e o sucesso em todas as empreitadas de seus seguidores, é hora de, numa demonstração de força e poder espiritual, fazer a conclamada Cruzada para, através da oração, acabar com todos os criadouros e larvas do mosquito endemoninhado!
E para que a glória seja ainda maior, sugiro aos midiáticos Edir Macedo, Silas Malafaia, R.R Soares, Valdemiro Santiago e outros tantos assíduos frequentadores das telas televisivas para que vos apresenteis em rede nacional de televisão, orando com a imposição de vossas mãos sobre um tanque de água com uma multidão de larvas, e peçais em oração, súplica ou clamor (não me importa o nome que venhais a dar), a morte de todas as larvas ali presentes e que esta bênção seja aplicada a todos os demais criadouros espalhados pelo Brasil e, por que não, ao redor do mundo. Desafio-vos ainda a orar pedindo a morte instantânea de todos os mosquitos endemoninhados! Se não for pedir muito, desafio-vos também a orar pela cura de todas as crianças nascidas com microcefalia!
Para maior credibilidade a tal ato de fé por vós praticado, solicito-vos a presença de observadores, preferencialmente da Polícia Federal.
Na remota possibilidade de que esta minha convocatória não seja acolhida por vós, fico por vós autorizado a continuar afirmando que é charlatanice os milagres que alardeais, mesmo porque, orar pela morte de um mosquito é muito mais simples e requer muito menos fé que fazer um paralítico andar, curar um câncer, eliminar uma desidrose, libertar da dependência química, do alcoolismo, do homossexualismo ou outras curas.
Marcos Inhauser

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

ABALADO POR UM BIGODE



Mais que isto! Estou emocionalmente abalado por um bigode!
Não me lembro de ter alguma vez achado o bigode de alguém bonito. Antes, ainda que tenha o meu há mais de 44 anos, acho que há muitos que são filtro de comida. Quando li sobre a quantidade de ácaros e bactérias que vivem nos bigodes, tive vontade de raspar o meu. Fui proibido pela esposa. A partir daí passei a higienizar o meu com muito mais cuidado.
Já vi fotos de concurso de bigodes, eleitos por tamanho, estilo, corte, etc. Acho ridículo. E na política brasileira sempre detestei o “bigode do Piauí”.
Mas o bigode que mexeu comigo não teria condições de entrar em um concurso. Alguns até teriam dificuldade em chamar de bigode, uma vez que é ralo, mais parecendo penugem (deveria dizer “pelugem”), projeto de algo que um dia será um bigode. Por agora é um “quase-bigode”, mas mesmo assim mexeu profundamente com minhas emoções.
No final da semana passada recebi a foto de meu neto mais velho, que mora na China. Hoje ele está com 14 anos e lá estava ele com seu “quase-bigode”. Demorei para reagir, paralisado que fiquei com o que via. Depois de um tempo para me recuperar do knockout, olhei com mais atenção e ampliei a foto. De início pensei se tratar de brincadeira dele, uma vez que gosta de editar fotos e vídeos. Mas quem me mandava a foto era minha filha e em seguida dizia: estou ficando velha! Foi o golpe de misericórdia. Eu já tenho um neto com bigode!
Os sociólogos falam dos ritos de passagem, cerimônias religiosas (no mais das vezes) que vão marcando as etapas da vida. Eu prefiro falar de “eventos de passagem” ou “fatos de passagem”. Um deles foi o dia em que minha filha veio nos visitar. Ela morava em Taiwan e estava grávida. Lembro-me com a clareza de algo que acaba de acontecer. Assim que ela entrou na nossa casa, fui ao seu encontro e, ao invés de abraçá-la, me ajoelhei diante dela, coloquei minha cabeça na sua barriga e orei agradecendo a Deus pelo filho que estava gerando e pelo neto que estávamos esperando. Lembro-me de ter orado para que ela fosse uma mãe abençoada e abençoadora e eu o meu neto fosse uma benção na nossa vida!
Estávamos em Beijing quando ele nasceu. Quando o tomei pela primeira vez no colo, não consegui segurar as lágrimas. No meu coração orei: faça desta criança uma benção e permita que eu seja uma benção na vida dele.
Cada vez que nos encontrávamos aqui ou na China, era uma celebração. Juntos inventamos coisas, brincamos de trem com cadeiras deitadas no chão, imaginamos pesca de tubarão, eu o vi deslumbrados com os barcos, navios e ônibus. Juntos fizemos um robô, berramos feito loucos em um show de acrobacia em Shangai, corremos e quase morri de canseira na Grande Muralha, fui ao campo de golfe vê-lo treinar e jogar. Qual moleque travesso, gargalhei aos montes quando arrumei para ele uma partida de golfe com a revelação brasileira. Quando o menino da mesma idade dele apareceu e tinha o dobro do tamanho do meu neto, ele olhou para mim pasmo e me perguntou: “vô, o senhor tem certeza de que ele só tem 13 anos?” Vibrei quando, depois de estar perdendo nos nove primeiros buracos ele ganhou a partida nos buracos seguintes.
Obrigado Deus! Eu já tenho um neto com bigode. Nos meus botões acho que tenho sido uma benção para ele. Ele, sim, tem sido uma benção na minha vida! 
Marcos Inhauser