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quinta-feira, 19 de setembro de 2013

UM FILHO EXEMPLAR

Filho de um casal que, assim como tantos outros, teve seus problemas financeiros e de relacionamento, ele tinha tudo para ter uma adolescência rebelde e ser um filho problema. Mas desde cedo mostrou que tinha objetivos para a sua vida e os perseguiu.
Alistou-se na Aeronáutica pois queria fazer a carreira militar e ser piloto. Assim fez e assim aconteceu. Seus pais se separaram e ele sempre teve um carinho muito grande pelos dois. Por causa da carreira militar, mudou-se muitas vezes. Casou-se, teve uma filha.
A mãe não tinha uma casa para morar e ele e a esposa decidiram ajudá-la na construção de uma. Mais tarde, para que a mesma pudesse ter uma renda para sua aposentadoria, eles a ajudaram a construir dois pequenos apartamentos para aluguel.
Seu pai foi morar no extremo oeste do país. Quando soube que ele estava doente, saiu de sua base e foi para lá. Havia problemas para que ele recebesse atendimento médico, providenciou para que fosse atendido da melhor maneira possível. Ficou com ele alguns dias. Dias depois o pai faleceu e novamente foi para lá para ter certeza de que teria um sepultamento digno.
Quando tiveram a filha, o casal decidiu que adotaria um filho. Fizeram a inscrição na lista de adoção e ficaram na fila de espera. Nada de chamarem.
Estavam morando no extremo sul do país e foram removidos para o norte. Um dia, tocou o telefone e era o pessoal do sul dizendo que tinham uma criança para ser adotada. O coração deles saltou. A pessoa que ligou disse: “Só que há um problema. A criança tem um ano e meio e é aidética. Setenta e cinco pessoas que estavam na lista de espera para adoção se recusaram a adotá-la.”
Imediatamente eles responderam que sim, que queriam adotar a criança mesmo sendo aidética. Saíram do norte do país, foram ao sul para ver a criança e iniciar o trabalho de familiarização para ver se a criança se adaptava com a família. O encontro foi mágico. Ao ver a Juliana, a criança estendeu os braços e se atirou, como se ela fosse a verdadeira mãe.
Dias depois, permitiram que o casal levasse a criança para casa, ainda no sul, para ampliar o processo. No processo de saída do orfanato o Bruno pergunto quais eram os remédios que le tomava e que deveria continuar tomando. Para seu espanto e da Juliana, eles lhe disseram que a criança estava há dois sem medicamentos porque o Estado não os entregava.
Ele saiu dali, foi ao consultório de uma médica amiga do casal, fez a consulta, pegou a receita e foi à farmácia comprá-los. O casal assumiu o compromisso de que, desse certo ou não o processo, aquela criança nunca mais teria a falta dos remédios.
Ainda não sei se a adoção deu certo. O processo está correndo esta semana. Decidi compartilhar a história para que que se saiba que há gente decente, bondosa e filhos exemplares. Há casais dispostos ao sacrifício para que uma criança tenha um lar, mesmo depois de ter sido recusada por setenta e cinco outros casais.

P.S. Depois de haver escrito e publicado esta coluna, recebi a notícia de que o casal conseguiu a adoção do menino aidético. Mas a história não para aí. No dia seguinte à adoção sacramentada descobriram que a Juliana está grávida do seu segundo/a filho/a.

Marcos Inhauser

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

IMAGINE SE...

Estamos às voltas do imbróglio armado pelas revelações do Snowden sobre o amplo e, ao que tudo indica irrestrito, sistema de espionagem montado pelos Estados Unidos para bisbilhotar a vida de cidadãos comuns, governos e empresas.
Por trazer à luz parte do que fizeram (e ainda fazem), o antigo funcionário da Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos, foi considerado traidor e sua cabeça está a prêmio. Quando pediu e recebeu asilo político na Rússia, a concessão estremeceu as relações entre os dois países, pois agora, não só o Snowden era traidor, como também a Rússia traíra a confiança dos Estados Unidos.
Por causa dele, e baseado em “leve suspeita”, bloquearam o espaço aéreo da Europa para o avião presidencial da Bolívia, pois imaginavam que Evo Morales tinha ido à Rússia para trazer para sua terra o “traidor”.
O mesmo fizeram com o Assange, quem, em um ato de coragem e serviço público, publicou milhares de documentos secretos dos Estados Unidos. Para tentar colocar a mão nele até arrumaram uma prostitua sueca que alega que foi abusada por ele. Asilado na Embaixada Equatoriana na Inglaterra, não recebe o salvo-conduto para sair da Embaixada e ir ao aeroporto e assim chegar ao seu destino de asilado.
O soldado estadounidense, Bradley Manning que entregou os documentos foi identificado, julgado como traidor e pegou 35 anos de prisão.
Agora, imagine o reverso.
Imagine que um brasileiro tivesse conseguido entrar nos e-mails do Barack Obama e bisbilhotado a correspondência dele. Imagine que outro tivesse entrado nos computadores da IBM e roubado segredos industriais. Ou que uma Agência Brasileira ligada à Petrobrás tivesse entrado e obtido dados estratégicos sobre as reservas de petróleo dos Estados Unidos. Qual seria a reação deles?
Seria a de mandar um comunicado abominando as invasões cibernéticas? Mandariam um subchefe de alguma coisa para dizer que não gostaram? Esperariam uma semana para ter os esclarecimentos por escrito? Mandariam o Secretário de Estado para conversar e receber explicações de uma “sub alguma” coisa relacionada à inteligência?
Que nada!
De forma veemente e violenta retaliariam nas relações comerciais com o Brasil, sobretaxariam nossos produtos para o mercado estadounidense, fariam um auê dos infernos!
Mas, o lulo-dilmismo-petismo esbravejou para o público externo e mandou o Ministro das Relações Exteriores para Washington para ter uma conversa com a sub alguma coisa, e voltarão dizendo que as explicações dadas foram satisfatórias e que elas, por razões de segurança não podem ser explicitadas para o grande público.
E lá vamos nós. Engolindo sapos e arrotando presunto!

Marcos Inhauser

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

INTELIGÊNCIA E DIPLOMACIA BRASILEIRAS

Não é de hoje que me pergunto sobre o serviço de inteligência do governo brasileiro. Desde os tempos do mensalão eu me perguntava, diante das sucessivas e repetidas afirmativas do Lula dizendo que nunca soube nada e que não sabia de nada, para que serve um serviço de inteligência e, existindo um (regiamente pago), o que anda fazendo o pessoal dele encarregado.
A pergunta mais uma vez me veio à mente diante dos episódios de espionagem cibernética e telefônica desenvolvido pelos Estados Unidos (e não acredito que sejam os únicos a se dedicar a tais práticas). A cara de surpresa e o discurso do “nem desconfiávamos” que os ministros vêm apresentando, me fazem pensar que o serviço de inteligência só tem inteligência no nome. Será que não passou pela cabeça dos oficiais da inteligência que o grampo poderia atingir autoridades, mesmo com o aviso que o jornalista que tem os documentos fez meses atrás?
Veja também o episódio do senador boliviano que foi trazido ao Brasil por um funcionário de segundo escalão. Será que este funcionário nunca comunicou, falou com alguém, planejou o que faria? Se ele conseguiu mobilizar um senador brasileiro, uma empresa de jatos executivos que lhe “emprestou” um jatinho, se conseguiu ter dois guardas escoltando, se usou carro oficial, como não sabiam?
Quando um ministro é pego com a mão na botija, ou alguém é indicado para um cargo e vem a imprensa mostrar os descalabros já cometidos, será que a inteligência não vasculha a vida pregressa das pessoas a serem nomeadas e avisa o primeiro escalão que vão entrar em fria? Nos casos Renan, Padilha, o Romero Jucá, o Edison Lobão e tantos outros.
Por outro lado, parece que a diplomacia brasileira usa o mesmo serviço de inteligência. O imbróglio em que o lulo-petismo se envolveu no caso do Zelaya, em Honduras, no apoio ao Mahmoud Ahmadinejad (o analfabeto histórico que negava a existência do holocausto), o apoio incondicional ao Hugo Bolivariano Chaves, a interferência no processo político dando apoio à eleição do filhote do Chavez, o Maduro (só no nome), as relações obscuras com a ditadura da ilha, a contratação de médicos cubanos e a criação ex-tempore do Mais Médicos para justificar este acordo com a ditadura da ilha, são alguns poucos exemplos do muito que se poderia citar e da infinidade que deve haver por baixo dos panos. Como pode ter uma complacência bovina com o Evo e a Cristina, e entrar no radicalismo de uma sanção ao Paraguai no Mercosul? Se o Paraguai não podia por questões políticas, por que a Venezuela podia?
Passo qui meu atestado de abestalhamento diante de tanta inteligência.
Marcos Inhauser


quarta-feira, 28 de agosto de 2013

A QUARTA ONDA

No livro "A terceira onda" Alvin Tofler defende a ideia de que a humanidade passou por uma primeira representada pela civilização agrária; a segunda que foi a civilização industrial; e a terceira, que é a cibernética. Se Tofler está certo ou não, não é o meu desejo discutir aqui.
No entanto, esta colocação levou-me a pensar na história da Igreja. Também nela pude perceber "ondas".
A primeira está ligada à fase inicial da história da Igreja, desde o Pentecoste até o reconhecimento do cristianismo pelo império romano. Nesta fase, os cristãos, perseguidos que eram, quando se reuniam, o faziam com o risco da própria vida. Não podiam, por razões óbvias, promover grandes concentrações, nem podiam promover barulho, quer através dos cânticos ou da pregação. O ponto alto das reuniões era o "ágape", refeição que constituía o fator de unidade e comunhão na Igreja primitiva. Durante o ágape, havia o compartilhar das experiências, o doutrinamento, a oração, os salmos, o louvor. Mas o ponto alto, o ponto básico, o principal era a refeição.
A segunda onda está relacionada com o período da legalidade da Igreja. As comunidades até então subterrâneas, vieram à luz. As reuniões que eram familiares, feitas nas casas, passam a ter mais de frequentadores. Surgem os templos. Edifícios majestosos foram construídos. Grandes catedrais, templos suntuosos, requinte arquitetônico, obras de artes valiosíssimas pintadas nos seus tetos e vitrôs. Foi a época áurea da arquitetura e da arte.
Os prédios e as artes passaram a ocupar o lugar do "ágape". Ia-se ao templo, lugar agradável e bonito, que convidava á meditação. Foi o apogeu da arte sacra, enquanto a teologia se perdia nos labirintos das especulações que a escolástica produziu. As construções, a arte, as esculturas passaram a funcionar como elemento catalisador da cristandade. Um afresco, um vitrô pintado, uma escultura, comunicavam uma mensagem. Atraíam os fiéis.
Veio a Reforma, que trouxe a terceira onda. Se até então as cerimônias religiosas estavam muito mais voltadas para o visual, o plástico, os reformadores, por sua volta às Escrituras, passaram a colocar a exposição delas como o ponto alto do culto cristão. Ainda que tenham inovado com a introdução do canto congregacional, a liturgia reformada elevou o púlpito ao cume.
Assim, na tradição reformada, não se concebe um culto sem a leitura e exposição da Palavra. Isto levou a Igreja a produzir grandes oradores, filólogos e gramáticos, mas quase nenhum artista plástico. Para os reformados, a única via de edificação espiritual é a da razão, pela compreensão lógica e sistemática das Escrituras Sagradas.
Esta terceira onda começou a ser abalada pela entrada da civilização televisiva. Os grandes oradores começaram a sofrer a concorrência da televisão, com seus personagens, sempre bonitos, bem vestidos, voz empostada, nunca falando alto ou gritando, nunca errando, com fundo musical, velocidade de ação e temas atraentes. Acresce-se a isto o fato que, para ouví-los, não havia a necessidade de sair de casa, nem colocar o sapato apertado, nem a indumentária alienígena do terno e gravata. Tampouco precisava ficar sentado imóvel durante hora e meia, ou mais. Poderia conversar durante a programação, levantar-se, comer ou outra coisa qualquer.
A geração criada pela babá-eletrônica, aprendeu a prestar atenção durante um tempo superior a 8-10 minutos, que é o período de programação entre um comercial e outro. Esta geração "videologizada" tem dificuldade de adaptar-se ao esquema litúrgico das igrejas. Tampouco está acostumada a prestar atenção durante 30-35 minutos, num amontoado de palavras que não fazem parte do seu universo vocabular: redenção, propiciação, reconciliação, justificação, infalibilidade, imutabilidade, onipresença, ubiquidade, certamente não foram ouvidos por ele, e soam estranhas, esotéricas, acadêmicas e estéreis.

Há um abismo entre a tradição litúrgica e a vida do jovem.
Marcos Inhauser

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

VOU ORAR!



Tinha acabado de assumir o pastorado e, por orientação da Diretoria da Igreja, comecei a visitar as pessoas que, por enfermidade ou idade, estavam impossibilitadas de vir ao templo para os cultos. Uma das primeiras foi Dona Amélia. Logo que entrei no seu quarto, acamada que estava há bom tempo, ela me recebeu com sorriso e elogio e logo percebi que se tratava de uma pessoa alegre, de riso fácil, bastante comunicativa e brincalhona.
Disse a ela que tinha vindo para convidá-la para um jantar de recepção e que queria que ela dançasse a valsa comigo. Foi uma gargalhada só! De brincadeira em brincadeira o tempo foi passando e com ela estivemos, eu e minha esposa, mais de uma hora. Ao final deste tempo, pedi licença para ler um trecho bíblico, fiz uma oração e celebrei com ela a Ceia do Senhor, coisa que ela não participava há bom tempo, dada as suas circunstâncias. Lágrimas discretas rolaram pela sua face. Ela estava visivelmente emocionada quando me despedi.
Estava saindo do quarto quando ela me chamou e pediu que me acercasse. Tomou minha mão, olho nos meus olhos e disse: “quero pedir uma coisa, que faça uma promessa para mim”.
“Qual?”, perguntei. “Que não deixe o pastorado desta igreja antes que eu morra, porque quero que você faça o meu sepultamento”. Eu respondi que não podia prometer isto porque a minha permanência na igreja não dependia só de mim, mas era uma decisão colegiada, mas que eu sim prometeria que, não importa onde estivesse, eu viria para o seu sepultamento. Ela abaixou os olhos por alguns segundos, como que pensando, voltou a me olhar e disse: “eu vou orar pedindo a Deus que você não deixe a igreja antes de me enterrar”.
Fiquei emocionado.
Depois de um ano na igreja, tive problemas com um grupo que queria que eu deixasse o pastorado. Não conseguiram me tirar. Depois de três anos fui convidado para outra igreja, aceitei o convite e não deu certo. Outra igreja me chamou para uma visita, fizeram um convite formal, pedi tempo para pensar, respondi afirmativamente depois de alguns dias e eles nunca mais entraram em contato.
Eu tinha esquecido da oração da Dona Amélia!
Estava no final do meu sexto ano na igreja quando ela faleceu. Fiz a cerimônia fúnebre tal como havia prometido. Neste tempo a igreja havia renovado meu convite para mais três anos, estava na fase final de uma grande reforma e tinha planos mil.
Uns vinte dias depois do falecimento da Dona Amélia recebi um recado que estavam querendo falar comigo e que era uma ligação internacional. Atendi e era um convite para eu ir para o Equador assumir uma secretaria do Conselho Latino Americano de Igrejas. Eu não queria ir. Conversei com alguns amigos e todos me aconselharam a aceitar. No domingo em que meu compromisso de renovação por mais três anos era celebrado, eu comunicava à igreja que estava deixando o pastorado.
Mudei para Quito. Uma noite acordei e foi como se estivesse escutando a Dona Amélia: “eu orei e você ficou até o meu sepultamento; agora você está liberado da promessa”.


quarta-feira, 7 de agosto de 2013

PAPÁ, PAPÁ!

Depois de 22 anos regressei a San Salvador, América Central, onde tinha vivido por um ano na minha adolescência. As lembranças daqueles tempos pululavam na minha mente e estava ansioso por rever certas coisas.
Uma pessoa me pegou no aeroporto e me levou à cidade, me deixou no hotel com a recomendação expressa de que não saísse do hotel sob nenhum pretexto, que fizesse minhas refeições no próprio hotel e que no outro dia cedo passariam para me pegar para algumas entrevistas e reuniões.
Perguntei à recepcionista se ela sabia onde ficava o Ginásio Nacional e do Parque Cuzcatlán (tinha morado em uma rua perto) ao que me informou que ficava a três quadras. Fiquei empolgado com a possibilidade de rever áreas que tantas recordações me traziam. Mal dormi. Bem cedo desci ao refeitório, tomei meu café e sai para rever coisas, no que pese a orientação expressa que me havia sido dada. Primeiro fui rever a casa. Desci até o Parque e fui surpreendido por mais de uma centena de soldados sentados na mureta que separava o Parque da avenida. Todos eles tinham uma de suas pernas amputadas, vítimas das minas quita-pié (arranca-pé). Era desfile de muletas, pernas com curativos, jovens com suas vidas limitadas por uma guerra estúpida. Estavam ali para curativos no Hospital Militar. Aquilo me embrulhou o estômago!. Voltei ao hotel sem rever o Parque e a ele não mais voltei.
À tarde tive uma reunião com um grupo de pessoas que trabalhavam com Direitos Humanos, entre elas uma senhora que me contou que havia conhecido uma família brasileira que vivera ali e que tinha o mesmo sobrenome e me perguntava se eu os conhecia. Disse eu era daquela família, o filho mais velho. Lágrimas rolaram pela sua face. Ela me contou quem era e dela recordei por ser a mãe de uma paquera que tivera e que ambas, mãe e filha vieram à nossa casa muitas vezes.
Ela era a Diretora de um Orfanato que recebia órfãos da guerra. Ela insistiu para que eu fosse conhecer o trabalho. Marcamos um dia de manhã. Para lá fui. Era uma pequena chácara fora da cidade. Mal o jipe parou, um bando de crianças veio correndo e gritando e tive que dar a mão e cumprimentar a todas elas. Uma delas, de uns três anos de idade, estava meio longe, meio desligada e não tinha vindo como as demais.
Em um certo momento ela olhou para mim, veio correndo, abraçou minha perna e começou a dizer: “papá, papá, papá”. A Diretora me explicou que ela era a mais recente, que seus pais haviam sido executados. Eu lhe perguntei por que a criança me chamava de papá e ela me disse: você tem uma aparência muito parecida ao pai dela e ela está achando que é o pai que voltou. Carreguei-a no colo por mais de uma hora. A cada pouco ela me acariciava o rosto e me puxava a face para olhar para ela. Voltei ao pátio, brinquei com ela. Não sabia como ir embora.
A despedida foi terrível. Sai dali em lágrimas. Pela segunda vez aquele criança perdia o seu “papá”. Naquele dia decidi que, com todas as minhas forças e inteligência iria combater a violência e a guerra. Por isto, entre outros motivos, estou em uma igreja pacifista!
Marcos Inhauser

quarta-feira, 31 de julho de 2013

PROVIDENCIAL

Ainda seminarista, fui convidado para pregar em uma igreja na Vila Maria em São Paulo. Vivia numa pindaiúba de dar dó. Para lá fomos eu e um meu irmão, o Miltinho.
Tínhamos no bolso a passagem do ônibus para a ida e uns trocos a mais. Ele me perguntou como seria a volta e eu disse que, normalmente, as igrejas fazem uma pequena oferta que seria suficiente para comermos algo e para voltar.
Terminado o culto as pessoas vieram até nós, nos cumprimentaram e um a um foram embora e nada de alguém aparecer para entregar a esperada e necessária oferta. Fomos os últimos a sair, juntamente com um casal.
Já na rua, o mano me perguntou: “e agora? O que fazemos?”. O dinheiro que tínhamos não dava para comer algo e para voltar de ônibus. Disse isto a ele e ele me disse que estava morrendo de fome. Eu também estava. E quando chegássemos em casa não teríamos nada para comer. Naquela hora havia que tomar uma decisão: comer e voltar a pé para casa, em uma caminhada de uns 15 quilômetros ou pegar um ônibus e passar a noite com fome.
Conversamos, estudamos a situação e decidimos que iríamos comer algo e depois sair em caminhada até o centro da cidade. Sentamos em uma padaria, pedimos algo que os trocados podiam pagar e, terminada a “refeição”, criamos coragem para sair caminhando.
Mal havíamos saído da padaria, escutamos alguém nos chamar. Era a pessoa que me havia convidado para pregar que estava à nossa procura porque havia se esquecido de dar a oferta que o tesoureiro havia destinado.
Preocupadíssima, nos pediu mil perdões, sem saber que estávamos era gratos e surpresos com os fatos. Como ele tinha nos achado? Como sabia que podíamos ter parado em algum lugar para comer algo?
Um amigo que vive nos Estados Unidos, o Manelão, que me hospedava quando ia para as aulas do doutorado, me contou como sempre via a mão de Deus suprir suas necessidades, muitas vezes depois de vencer o prazo de pagar uma conta.  Ele, um dia, meio desesperado, pediu a Deus que Ele adiantasse a provisão para que viesse no dia que deveria pagar suas contas. Em lágrimas ele me confidenciou que desde aquele dia nunca mais havia atrasado uma conta.
Experiências de ver a mão de Deus suprindo cada necessidade, mesmo quando penso que nada mais ocorreriam. São muitas na minha vida e na vida de muitos que me contaram suas experiências de ser abençoados de maneira toda especial e inusitada.
Não gosto de transformar experiências pessoais em normas para outros. Esta eu vivi e o Manelão experienciou. De uma coisa tenho certeza: a providência de Deus vem quando necessitamos e da forma mais inesperada possível.

E Ele assim faz por pura graça, não por mérito que porventura tenhamos. Não é questão de fé. É questão de favor imerecido da parte de Deus.
Marcos Inhauser

quarta-feira, 24 de julho de 2013

CÂNDIDO VAGGAREZA

O PT não tem sido muito feliz na composição dos seus quadros. Um partido que teve Delúbio, Zé Dirceu, Genoíno, José Mentor, João Paulo, Silvio Pereira, entre outros de menor expressão, tem agora uma figura emblemática: Cândido Vaccareza, que melhor seria identificado como Vaggareza.
Ele é um  ginecologista, filiado ao PT, eleito suplente de deputado estadual em São Paulo (1998). Reelegeu-se em 2002 e em 2006 elegeu-se deputado federal. Foi líder do partido de fevereiro de 2009 a 2012. Neste período protagonizou alguns episódios de fidelidade canina ao Lula e à Dilma.
Mas, desde que deixou a liderança, algo mudou nele. Indicado a fórceps como líder da comissão encarregada de apresentar proposta de reforma política, ele honrou seu nome: deu uma de vagareza.
No que pese o fato de que a Dilma, atabalhoada com as manifestações de rua, ter acelerado propostas e derrapado nas curvas da política, ela nunca deixou de afirmar que queria a reforma política para as eleições de 2014. O deputado, não lendo as manifestações contrárias à sua indicação pelo presidente da Câmara, nem atento aos anseios da sua bancada que queria outro deputado na condução dos trabalhos, insistiu em continuar. Sua renúncia foi pedida e ele se fez de ouvidos moucos.
Ele quer flexibilizar a utilização das redes sociais pelos candidatos. Para ele as “redes sociais são extensão do escritório. Só me aceita quem quer e só aceito quem eu quero. Portanto, está 100% liberado. Posso entrar na minha rede social e dizer que vou ser candidato e pedir que vote em mim. Não posso ser punido por isso”, alegou.
Também quer modificar dispositivo da Lei da Ficha Limpa que beneficiaria gestores reprovados pelos tribunais. Vaggareza afirmou que a proposta de lei complementar estava pronta e seria levada ao colégio de líderes. Depois de muitas críticas, deu uma recuada estratégica.
Algumas das propostas são: para a quitação eleitoral, o candidato precisará apenas comprovar que votou; havendo cassação, ocorrerá uma nova eleição para decidir quem assume a vaga; o político poderá dizer que é candidato a qualquer momento; poderá usar as redes sociais para fazer campanha.
O mais preocupante é que ele quer deixar a reforma política, tal como ocorreu em tantas outras oportunidades, para sabe Deus quando. Ao afirmar que não há tempo hábil para uma reforma, plebiscito, referendo ou consulta popular, ele dá marcha de vaggareza ao processo que as ruas pedem urgência.
A depender de um líder de comissão como ele, que não consegue se afinar com o seu partido, com os colegas, com a Dilma e com o povo, que reforma política pode vir?

Marcos Inhauser

quarta-feira, 17 de julho de 2013

ACUSAÇÕES LEVIANAS

Um amigo pastor, residente de em uma pequena cidade do interior paulista, muito dinâmico e carismático, em pouco tempo ganhou respeito e notoriedade. Como a cidade enfrentava sérios problemas de corrupção, especialmente na Câmara Municipal, convidado e instado por cidadãos e políticos, decidiu lançar-se candidato, crendo que poderia ter uma atuação ética e que contribuiria para uma mudança na política local.
Tão logo seu nome apareceu como candidato, começou a receber uma saraivada de críticas, especialmente de pessoas evangélicas e membros de sua própria igreja. Diziam que ele estava se vendendo, que tinha cedido à corrupção, que o que buscava era ficar rico, assim como os demais. Assustado com a reação pensou em abandonar, mas também pensou que seus atos, caso fosse eleito, mudariam a opinião dos seus detratores.
Foi eleito com expressiva votação, sendo o segundo mais votado na cidade. As críticas não diminuíram. Já no primeiro ano estourou um escândalo no qual ele não estava envolvido e isto estava fartamente demonstrado. As críticas se acentuaram, com pessoas dizendo que ele era muito esperto e por isto não o haviam flagrado. Tantas foram as críticas e denúncias infundadas que, mesmo tendo amplas chances de ser reeleito ou até mesmo concorrer para prefeito, desistiu da política.
Conheço outra pessoa, também pastor, que uma noite recebeu uma chamada telefônica de pessoa de sua relação, que lhe pedia/exigia que ele desse algumas informações, que o mesmo, naquele momento, estava impossibilitado de dar. Para sua surpresa, a pessoa começou a acusá-lo de coisas absurdas.
Ele confessava que a pessoa detratora nunca o havia ouvido pregar, nunca havia participado de sua comunidade e, talvez, nunca tivesse lido qualquer coisa que ele tivesse escrito. Mesmo assim se sentia no direito e em condições de emitir juízos severos sobre seu ministério e a coerência dele. Com lágrimas ele confidenciava: “como posso ser acusado por alguém que mal me conhece? E meus anos de ministério? E os frutos que já tive foram parar onde?”
A coisa não é nova. Em estudos que estamos fazendo em Atos dos Apóstolos, Paulo também foi vítima de acusações levianas. Tantas foram as críticas que ele escreveu algumas cartas à igreja de Corinto para se defender e defender seu ministério.
Ninguém há que seja inculpável. Paulo, escrevendo aos Gálatas disse “que se uma pessoa chegar a ser surpreendida em algum delito, os que são espirituais o corrijam com espírito de mansidão, olhando para si mesmos, para que também não sejam tentados.” O mesmo, escrevendo aos Corintos que o acusavam disse: “Aquele, pois, que pensa estar em pé, veja que não caia”.
Estas considerações me fazem recordar o saudoso Rev. Joás Dias de Araújo em uma frase que costumava repetir: “o ministério pastoral é um mistério”. A partir dela cunhei outra: “o pastorado é a arte de levar pancadas e distribuir sorrisos”.
Agostinho disse que a vocação é irresistível. Calvino disse que a vocação é eficaz. Jeremias disse: “Não ... falarei mais no seu nome; mas isso foi no meu coração como fogo ardente, encerrado nos meus ossos; e estou fatigado de sofrer, e não posso mais” (Jr 20:9).
Só a graça de Deus nos mantém no ministério.

Marcos Inhauser

quarta-feira, 3 de julho de 2013

O QUE SOBE DESCE NA MESMA VELOCIDADE!

Já escrevi aqui mais de uma vez, sobre o sábio Cirilo. Negro, bóia fria, trabalhou com famílias alemãs na área de Indaiatuba e acabou aprendendo alemão. Sua maior virtude era a forma como via a vida e a julgava a partir de coisas corriqueiras.
Um dia, na porta da casa de sítio onde passávamos férias, ele me ensinou uma coisa que a levei por toda a vida: as coisas caem na mesma velocidade que sobem. Se subir muito rápido, a queda vai ser rápida também. Fui revisitado pelas lembranças do sábio nestes dias ao ler e sentir no bolso as consequências de um destes fenômenos.
Falo do Eike Batista, filho de Eliezer Batista da Silva, ex-presidente da Vale do Rio Doce (61-64; 79-86), ex-ministro de Minas e Energia. Depois de passar a infância no Brasil, foi morar na Suíça, Alemanha e Bélgica. Nunca terminou o curso de Engenharia Metalúrgica na Universidade Técnica de Aachen.
Com 18 anos, voltou ao Brasil e vendeu apólices de seguro de porta em porta.
No início dos 80, se dedicou ao comércio de ouro e diamantes. Fluente em cinco idiomas (português, alemão, inglês, francês e espanhol). Com 21 anos montou uma empresa de compra e venda de ouro e em um ano e meio, acumulou US$ 6 milhões. Aos 29 anos tornou-se o executivo da TVX Gold. De 1980 a 2000, criou US$ 20 bilhões com a operação de 8 minas de ouro no Brasil e Canadá e uma de prata no Chile. Entre 91 e 96, o valor da empresa triplicou. Em 2001, a TVX Gold foi vendida por 875 milhões de dólares canadenses.
Considerado o homem mais rico do Brasil, hoje amarga o fundo do poço. Eike está negociando com os bancos uma dívida de curto prazo de R$ 7,9 bilhões. A OGX (petróleo), MMX (minério), LLX (logística), OSX (estaleiro), MPX (energia) e CCX (carvão) precisam pagar ou renegociar R$ 7,9 bi até março de 2014. A LLX renovou com o Bradesco um empréstimo de quase R$ 590 milhões que venceu em abril.
As ações do grupo estão se esfarelando na Bolsa. No último ano caíram entre 24,6% (MPX) e 85% (OSX). Só na segunda-feira houve queda de 27%.
Vendeu sonhos e não entregou um centavo aos investidores: "São projetos de longa maturação, que exigem altos investimentos e não estão produzindo o que se imaginava" disse um analista.
A crise de confiança do grupo começou há um ano, quando um campo de petróleo da OGX frustrou as expectativas de produção. A partir daí, os investidores começaram a questionar a capacidade do empresário de "entregar".

Pelo jeito ele vai entregar uma manada de bezerros para a “vaca leiteira do governo”. E vamos virar sócios na dívida!!!.

Marcos Inhauser