Filho de um casal que, assim como tantos outros, teve seus problemas financeiros e de relacionamento, ele tinha tudo para ter uma adolescência rebelde e ser um filho problema. Mas desde cedo mostrou que tinha objetivos para a sua vida e os perseguiu.
Alistou-se na Aeronáutica pois queria fazer a carreira militar e ser piloto. Assim fez e assim aconteceu. Seus pais se separaram e ele sempre teve um carinho muito grande pelos dois. Por causa da carreira militar, mudou-se muitas vezes. Casou-se, teve uma filha.
A mãe não tinha uma casa para morar e ele e a esposa decidiram ajudá-la na construção de uma. Mais tarde, para que a mesma pudesse ter uma renda para sua aposentadoria, eles a ajudaram a construir dois pequenos apartamentos para aluguel.
Seu pai foi morar no extremo oeste do país. Quando soube que ele estava doente, saiu de sua base e foi para lá. Havia problemas para que ele recebesse atendimento médico, providenciou para que fosse atendido da melhor maneira possível. Ficou com ele alguns dias. Dias depois o pai faleceu e novamente foi para lá para ter certeza de que teria um sepultamento digno.
Quando tiveram a filha, o casal decidiu que adotaria um filho. Fizeram a inscrição na lista de adoção e ficaram na fila de espera. Nada de chamarem.
Estavam morando no extremo sul do país e foram removidos para o norte. Um dia, tocou o telefone e era o pessoal do sul dizendo que tinham uma criança para ser adotada. O coração deles saltou. A pessoa que ligou disse: “Só que há um problema. A criança tem um ano e meio e é aidética. Setenta e cinco pessoas que estavam na lista de espera para adoção se recusaram a adotá-la.”
Imediatamente eles responderam que sim, que queriam adotar a criança mesmo sendo aidética. Saíram do norte do país, foram ao sul para ver a criança e iniciar o trabalho de familiarização para ver se a criança se adaptava com a família. O encontro foi mágico. Ao ver a Juliana, a criança estendeu os braços e se atirou, como se ela fosse a verdadeira mãe.
Dias depois, permitiram que o casal levasse a criança para casa, ainda no sul, para ampliar o processo. No processo de saída do orfanato o Bruno pergunto quais eram os remédios que le tomava e que deveria continuar tomando. Para seu espanto e da Juliana, eles lhe disseram que a criança estava há dois sem medicamentos porque o Estado não os entregava.
Ele saiu dali, foi ao consultório de uma médica amiga do casal, fez a consulta, pegou a receita e foi à farmácia comprá-los. O casal assumiu o compromisso de que, desse certo ou não o processo, aquela criança nunca mais teria a falta dos remédios.
Ainda não sei se a adoção deu certo. O processo está correndo esta semana. Decidi compartilhar a história para que que se saiba que há gente decente, bondosa e filhos exemplares. Há casais dispostos ao sacrifício para que uma criança tenha um lar, mesmo depois de ter sido recusada por setenta e cinco outros casais.
P.S. Depois de haver escrito e publicado esta coluna, recebi a notícia de que o casal conseguiu a adoção do menino aidético. Mas a história não para aí. No dia seguinte à adoção sacramentada descobriram que a Juliana está grávida do seu segundo/a filho/a.
Marcos Inhauser
Professor, pastor, teólogo e educador corporativo Textos escritos para a coluna semanal no Correio Popular, da cidade de Campinas e texto escritos depois de 2021, que tratam de temas nacionais, internacionais, sobre igreja e teologia
Leia mais
Há outros artigos e livros de Marcos e Suely Inhauser à sua disposição no site www.pastoralia.com.br . Vá até lá e confira
quinta-feira, 19 de setembro de 2013
quarta-feira, 11 de setembro de 2013
IMAGINE SE...
Estamos às voltas do imbróglio armado pelas revelações do
Snowden sobre o amplo e, ao que tudo indica irrestrito, sistema de espionagem
montado pelos Estados Unidos para bisbilhotar a vida de cidadãos comuns,
governos e empresas.
Por trazer à luz parte do que fizeram (e ainda fazem), o
antigo funcionário da Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos, foi
considerado traidor e sua cabeça está a prêmio. Quando pediu e recebeu asilo
político na Rússia, a concessão estremeceu as relações entre os dois países,
pois agora, não só o Snowden era traidor, como também a Rússia traíra a
confiança dos Estados Unidos.
Por causa dele, e baseado em “leve suspeita”, bloquearam o
espaço aéreo da Europa para o avião presidencial da Bolívia, pois imaginavam
que Evo Morales tinha ido à Rússia para trazer para sua terra o “traidor”.
O mesmo fizeram com o Assange, quem, em um ato de coragem e
serviço público, publicou milhares de documentos secretos dos Estados Unidos.
Para tentar colocar a mão nele até arrumaram uma prostitua sueca que alega que
foi abusada por ele. Asilado na Embaixada Equatoriana na Inglaterra, não recebe
o salvo-conduto para sair da Embaixada e ir ao aeroporto e assim chegar ao seu
destino de asilado.
O soldado estadounidense, Bradley Manning que entregou os
documentos foi identificado, julgado como traidor e pegou 35 anos de prisão.
Agora, imagine o reverso.
Imagine que um brasileiro tivesse conseguido entrar nos
e-mails do Barack Obama e bisbilhotado a correspondência dele. Imagine que
outro tivesse entrado nos computadores da IBM e roubado segredos industriais.
Ou que uma Agência Brasileira ligada à Petrobrás tivesse entrado e obtido dados
estratégicos sobre as reservas de petróleo dos Estados Unidos. Qual seria a
reação deles?
Seria a de mandar um comunicado abominando as invasões
cibernéticas? Mandariam um subchefe de alguma coisa para dizer que não
gostaram? Esperariam uma semana para ter os esclarecimentos por escrito?
Mandariam o Secretário de Estado para conversar e receber explicações de uma
“sub alguma” coisa relacionada à inteligência?
Que nada!
De forma veemente e violenta retaliariam nas relações
comerciais com o Brasil, sobretaxariam nossos produtos para o mercado
estadounidense, fariam um auê dos infernos!
Mas, o lulo-dilmismo-petismo esbravejou para o público
externo e mandou o Ministro das Relações Exteriores para Washington para ter
uma conversa com a sub alguma coisa, e voltarão dizendo que as explicações
dadas foram satisfatórias e que elas, por razões de segurança não podem ser
explicitadas para o grande público.
E lá vamos nós. Engolindo sapos e arrotando presunto!
Marcos Inhauser
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quarta-feira, 4 de setembro de 2013
INTELIGÊNCIA E DIPLOMACIA BRASILEIRAS
Não é de hoje que me pergunto
sobre o serviço de inteligência do governo brasileiro. Desde os tempos do
mensalão eu me perguntava, diante das sucessivas e repetidas afirmativas do
Lula dizendo que nunca soube nada e que não sabia de nada, para que serve um
serviço de inteligência e, existindo um (regiamente pago), o que anda fazendo o
pessoal dele encarregado.
A pergunta mais uma vez me veio à
mente diante dos episódios de espionagem cibernética e telefônica desenvolvido
pelos Estados Unidos (e não acredito que sejam os únicos a se dedicar a tais
práticas). A cara de surpresa e o discurso do “nem desconfiávamos” que os
ministros vêm apresentando, me fazem pensar que o serviço de inteligência só
tem inteligência no nome. Será que não passou pela cabeça dos oficiais da
inteligência que o grampo poderia atingir autoridades, mesmo com o aviso que o
jornalista que tem os documentos fez meses atrás?
Veja também o episódio do senador
boliviano que foi trazido ao Brasil por um funcionário de segundo escalão. Será
que este funcionário nunca comunicou, falou com alguém, planejou o que faria?
Se ele conseguiu mobilizar um senador brasileiro, uma empresa de jatos
executivos que lhe “emprestou” um jatinho, se conseguiu ter dois guardas
escoltando, se usou carro oficial, como não sabiam?
Quando um ministro é pego com a
mão na botija, ou alguém é indicado para um cargo e vem a imprensa mostrar os
descalabros já cometidos, será que a inteligência não vasculha a vida pregressa
das pessoas a serem nomeadas e avisa o primeiro escalão que vão entrar em fria?
Nos casos Renan, Padilha, o Romero Jucá, o Edison Lobão e tantos outros.
Por outro lado, parece que a
diplomacia brasileira usa o mesmo serviço de inteligência. O imbróglio em que o
lulo-petismo se envolveu no caso do Zelaya, em Honduras, no apoio ao Mahmoud
Ahmadinejad (o analfabeto histórico que negava a existência do holocausto), o
apoio incondicional ao Hugo Bolivariano Chaves, a interferência no processo
político dando apoio à eleição do filhote do Chavez, o Maduro (só no nome), as
relações obscuras com a ditadura da ilha, a contratação de médicos cubanos e a
criação ex-tempore do Mais Médicos
para justificar este acordo com a ditadura da ilha, são alguns poucos exemplos
do muito que se poderia citar e da infinidade que deve haver por baixo dos
panos. Como pode ter uma complacência bovina com o Evo e a Cristina, e entrar no
radicalismo de uma sanção ao Paraguai no Mercosul? Se o Paraguai não podia por
questões políticas, por que a Venezuela podia?
Passo qui meu atestado de abestalhamento diante de tanta
inteligência.
Marcos Inhauser
quarta-feira, 28 de agosto de 2013
A QUARTA ONDA
No livro "A
terceira onda" Alvin Tofler defende a ideia de que a humanidade passou por
uma primeira representada pela civilização agrária; a segunda que foi a
civilização industrial; e a terceira, que é a cibernética. Se Tofler está certo
ou não, não é o meu desejo discutir aqui.
No entanto, esta
colocação levou-me a pensar na história da Igreja. Também nela pude perceber
"ondas".
A primeira está
ligada à fase inicial da história da Igreja, desde o Pentecoste até o
reconhecimento do cristianismo pelo império romano. Nesta fase, os cristãos,
perseguidos que eram, quando se reuniam, o faziam com o risco da própria vida.
Não podiam, por razões óbvias, promover grandes concentrações, nem podiam
promover barulho, quer através dos cânticos ou da pregação. O ponto alto das
reuniões era o "ágape", refeição que constituía o fator de unidade e
comunhão na Igreja primitiva. Durante o ágape, havia o compartilhar das
experiências, o doutrinamento, a oração, os salmos, o louvor. Mas o ponto alto,
o ponto básico, o principal era a refeição.
A segunda onda
está relacionada com o período da legalidade da Igreja. As comunidades até
então subterrâneas, vieram à luz. As reuniões que eram familiares, feitas nas
casas, passam a ter mais de frequentadores. Surgem os templos. Edifícios
majestosos foram construídos. Grandes catedrais, templos suntuosos, requinte
arquitetônico, obras de artes valiosíssimas pintadas nos seus tetos e vitrôs.
Foi a época áurea da arquitetura e da arte.
Os prédios e as
artes passaram a ocupar o lugar do "ágape". Ia-se ao templo, lugar
agradável e bonito, que convidava á meditação. Foi o apogeu da arte sacra,
enquanto a teologia se perdia nos labirintos das especulações que a escolástica
produziu. As construções, a arte, as esculturas passaram a funcionar como
elemento catalisador da cristandade. Um afresco, um vitrô pintado, uma
escultura, comunicavam uma mensagem. Atraíam os fiéis.
Veio a Reforma,
que trouxe a terceira onda. Se até então as cerimônias religiosas estavam muito
mais voltadas para o visual, o plástico, os reformadores, por sua volta às
Escrituras, passaram a colocar a exposição delas como o ponto alto do culto
cristão. Ainda que tenham inovado com a introdução do canto congregacional, a
liturgia reformada elevou o púlpito ao cume.
Assim, na
tradição reformada, não se concebe um culto sem a leitura e exposição da
Palavra. Isto levou a Igreja a produzir grandes oradores, filólogos e
gramáticos, mas quase nenhum artista plástico. Para os reformados, a única via
de edificação espiritual é a da razão, pela compreensão lógica e sistemática
das Escrituras Sagradas.
Esta terceira
onda começou a ser abalada pela entrada da civilização televisiva. Os grandes
oradores começaram a sofrer a concorrência da televisão, com seus personagens,
sempre bonitos, bem vestidos, voz empostada, nunca falando alto ou gritando,
nunca errando, com fundo musical, velocidade de ação e temas atraentes.
Acresce-se a isto o fato que, para ouví-los, não havia a necessidade de sair de
casa, nem colocar o sapato apertado, nem a indumentária alienígena do terno e
gravata. Tampouco precisava ficar sentado imóvel durante hora e meia, ou mais.
Poderia conversar durante a programação, levantar-se, comer ou outra coisa
qualquer.
A geração criada
pela babá-eletrônica, aprendeu a prestar atenção durante um tempo superior a
8-10 minutos, que é o período de programação entre um comercial e outro. Esta
geração "videologizada" tem dificuldade de adaptar-se ao esquema
litúrgico das igrejas. Tampouco está acostumada a prestar atenção durante 30-35
minutos, num amontoado de palavras que não fazem parte do seu universo
vocabular: redenção, propiciação, reconciliação, justificação, infalibilidade,
imutabilidade, onipresença, ubiquidade, certamente não foram ouvidos por ele, e
soam estranhas, esotéricas, acadêmicas e estéreis.
Há um
abismo entre a tradição litúrgica e a vida do jovem.
Marcos Inhauser
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quarta-feira, 14 de agosto de 2013
VOU ORAR!
Tinha acabado de assumir o pastorado e, por orientação da
Diretoria da Igreja, comecei a visitar as pessoas que, por enfermidade ou
idade, estavam impossibilitadas de vir ao templo para os cultos. Uma das
primeiras foi Dona Amélia. Logo que entrei no seu quarto, acamada que estava há
bom tempo, ela me recebeu com sorriso e elogio e logo percebi que se tratava de
uma pessoa alegre, de riso fácil, bastante comunicativa e brincalhona.
Disse a ela que tinha vindo para convidá-la para um jantar
de recepção e que queria que ela dançasse a valsa comigo. Foi uma gargalhada
só! De brincadeira em brincadeira o tempo foi passando e com ela estivemos, eu
e minha esposa, mais de uma hora. Ao final deste tempo, pedi licença para ler um
trecho bíblico, fiz uma oração e celebrei com ela a Ceia do Senhor, coisa que
ela não participava há bom tempo, dada as suas circunstâncias. Lágrimas
discretas rolaram pela sua face. Ela estava visivelmente emocionada quando me
despedi.
Estava saindo do quarto quando ela me chamou e pediu que me
acercasse. Tomou minha mão, olho nos meus olhos e disse: “quero pedir uma
coisa, que faça uma promessa para mim”.
“Qual?”, perguntei. “Que não deixe o pastorado desta igreja
antes que eu morra, porque quero que você faça o meu sepultamento”. Eu respondi
que não podia prometer isto porque a minha permanência na igreja não dependia
só de mim, mas era uma decisão colegiada, mas que eu sim prometeria que, não
importa onde estivesse, eu viria para o seu sepultamento. Ela abaixou os olhos
por alguns segundos, como que pensando, voltou a me olhar e disse: “eu vou orar
pedindo a Deus que você não deixe a igreja antes de me enterrar”.
Fiquei emocionado.
Depois de um ano na igreja, tive problemas com um grupo que
queria que eu deixasse o pastorado. Não conseguiram me tirar. Depois de três
anos fui convidado para outra igreja, aceitei o convite e não deu certo. Outra
igreja me chamou para uma visita, fizeram um convite formal, pedi tempo para
pensar, respondi afirmativamente depois de alguns dias e eles nunca mais
entraram em contato.
Eu tinha esquecido da oração da Dona Amélia!
Estava no final do meu sexto ano na igreja quando ela
faleceu. Fiz a cerimônia fúnebre tal como havia prometido. Neste tempo a igreja
havia renovado meu convite para mais três anos, estava na fase final de uma
grande reforma e tinha planos mil.
Uns vinte dias depois do falecimento da Dona Amélia recebi
um recado que estavam querendo falar comigo e que era uma ligação
internacional. Atendi e era um convite para eu ir para o Equador assumir uma
secretaria do Conselho Latino Americano de Igrejas. Eu não queria ir. Conversei
com alguns amigos e todos me aconselharam a aceitar. No domingo em que meu
compromisso de renovação por mais três anos era celebrado, eu comunicava à
igreja que estava deixando o pastorado.
Mudei para Quito. Uma noite acordei e foi como se estivesse
escutando a Dona Amélia: “eu orei e você ficou até o meu sepultamento; agora
você está liberado da promessa”.
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quarta-feira, 7 de agosto de 2013
PAPÁ, PAPÁ!
Depois de 22 anos regressei a San Salvador, América Central, onde tinha vivido por um ano na minha adolescência. As lembranças daqueles tempos pululavam na minha mente e estava ansioso por rever certas coisas.
Uma pessoa me pegou no aeroporto e me levou à cidade, me deixou no hotel com a recomendação expressa de que não saísse do hotel sob nenhum pretexto, que fizesse minhas refeições no próprio hotel e que no outro dia cedo passariam para me pegar para algumas entrevistas e reuniões.
Perguntei à recepcionista se ela sabia onde ficava o Ginásio Nacional e do Parque Cuzcatlán (tinha morado em uma rua perto) ao que me informou que ficava a três quadras. Fiquei empolgado com a possibilidade de rever áreas que tantas recordações me traziam. Mal dormi. Bem cedo desci ao refeitório, tomei meu café e sai para rever coisas, no que pese a orientação expressa que me havia sido dada. Primeiro fui rever a casa. Desci até o Parque e fui surpreendido por mais de uma centena de soldados sentados na mureta que separava o Parque da avenida. Todos eles tinham uma de suas pernas amputadas, vítimas das minas quita-pié (arranca-pé). Era desfile de muletas, pernas com curativos, jovens com suas vidas limitadas por uma guerra estúpida. Estavam ali para curativos no Hospital Militar. Aquilo me embrulhou o estômago!. Voltei ao hotel sem rever o Parque e a ele não mais voltei.
À tarde tive uma reunião com um grupo de pessoas que trabalhavam com Direitos Humanos, entre elas uma senhora que me contou que havia conhecido uma família brasileira que vivera ali e que tinha o mesmo sobrenome e me perguntava se eu os conhecia. Disse eu era daquela família, o filho mais velho. Lágrimas rolaram pela sua face. Ela me contou quem era e dela recordei por ser a mãe de uma paquera que tivera e que ambas, mãe e filha vieram à nossa casa muitas vezes.
Ela era a Diretora de um Orfanato que recebia órfãos da guerra. Ela insistiu para que eu fosse conhecer o trabalho. Marcamos um dia de manhã. Para lá fui. Era uma pequena chácara fora da cidade. Mal o jipe parou, um bando de crianças veio correndo e gritando e tive que dar a mão e cumprimentar a todas elas. Uma delas, de uns três anos de idade, estava meio longe, meio desligada e não tinha vindo como as demais.
Em um certo momento ela olhou para mim, veio correndo, abraçou minha perna e começou a dizer: “papá, papá, papá”. A Diretora me explicou que ela era a mais recente, que seus pais haviam sido executados. Eu lhe perguntei por que a criança me chamava de papá e ela me disse: você tem uma aparência muito parecida ao pai dela e ela está achando que é o pai que voltou. Carreguei-a no colo por mais de uma hora. A cada pouco ela me acariciava o rosto e me puxava a face para olhar para ela. Voltei ao pátio, brinquei com ela. Não sabia como ir embora.
A despedida foi terrível. Sai dali em lágrimas. Pela segunda vez aquele criança perdia o seu “papá”. Naquele dia decidi que, com todas as minhas forças e inteligência iria combater a violência e a guerra. Por isto, entre outros motivos, estou em uma igreja pacifista!
Marcos Inhauser
Uma pessoa me pegou no aeroporto e me levou à cidade, me deixou no hotel com a recomendação expressa de que não saísse do hotel sob nenhum pretexto, que fizesse minhas refeições no próprio hotel e que no outro dia cedo passariam para me pegar para algumas entrevistas e reuniões.
Perguntei à recepcionista se ela sabia onde ficava o Ginásio Nacional e do Parque Cuzcatlán (tinha morado em uma rua perto) ao que me informou que ficava a três quadras. Fiquei empolgado com a possibilidade de rever áreas que tantas recordações me traziam. Mal dormi. Bem cedo desci ao refeitório, tomei meu café e sai para rever coisas, no que pese a orientação expressa que me havia sido dada. Primeiro fui rever a casa. Desci até o Parque e fui surpreendido por mais de uma centena de soldados sentados na mureta que separava o Parque da avenida. Todos eles tinham uma de suas pernas amputadas, vítimas das minas quita-pié (arranca-pé). Era desfile de muletas, pernas com curativos, jovens com suas vidas limitadas por uma guerra estúpida. Estavam ali para curativos no Hospital Militar. Aquilo me embrulhou o estômago!. Voltei ao hotel sem rever o Parque e a ele não mais voltei.
À tarde tive uma reunião com um grupo de pessoas que trabalhavam com Direitos Humanos, entre elas uma senhora que me contou que havia conhecido uma família brasileira que vivera ali e que tinha o mesmo sobrenome e me perguntava se eu os conhecia. Disse eu era daquela família, o filho mais velho. Lágrimas rolaram pela sua face. Ela me contou quem era e dela recordei por ser a mãe de uma paquera que tivera e que ambas, mãe e filha vieram à nossa casa muitas vezes.
Ela era a Diretora de um Orfanato que recebia órfãos da guerra. Ela insistiu para que eu fosse conhecer o trabalho. Marcamos um dia de manhã. Para lá fui. Era uma pequena chácara fora da cidade. Mal o jipe parou, um bando de crianças veio correndo e gritando e tive que dar a mão e cumprimentar a todas elas. Uma delas, de uns três anos de idade, estava meio longe, meio desligada e não tinha vindo como as demais.
Em um certo momento ela olhou para mim, veio correndo, abraçou minha perna e começou a dizer: “papá, papá, papá”. A Diretora me explicou que ela era a mais recente, que seus pais haviam sido executados. Eu lhe perguntei por que a criança me chamava de papá e ela me disse: você tem uma aparência muito parecida ao pai dela e ela está achando que é o pai que voltou. Carreguei-a no colo por mais de uma hora. A cada pouco ela me acariciava o rosto e me puxava a face para olhar para ela. Voltei ao pátio, brinquei com ela. Não sabia como ir embora.
A despedida foi terrível. Sai dali em lágrimas. Pela segunda vez aquele criança perdia o seu “papá”. Naquele dia decidi que, com todas as minhas forças e inteligência iria combater a violência e a guerra. Por isto, entre outros motivos, estou em uma igreja pacifista!
Marcos Inhauser
quarta-feira, 31 de julho de 2013
PROVIDENCIAL
Ainda seminarista, fui convidado para pregar em uma igreja
na Vila Maria em São Paulo. Vivia numa pindaiúba de dar dó. Para lá fomos eu e
um meu irmão, o Miltinho.
Tínhamos no bolso a passagem do ônibus para a ida e uns
trocos a mais. Ele me perguntou como seria a volta e eu disse que, normalmente,
as igrejas fazem uma pequena oferta que seria suficiente para comermos algo e
para voltar.
Terminado o culto as pessoas vieram até nós, nos
cumprimentaram e um a um foram embora e nada de alguém aparecer para entregar a
esperada e necessária oferta. Fomos os últimos a sair, juntamente com um casal.
Já na rua, o mano me perguntou: “e agora? O que fazemos?”. O
dinheiro que tínhamos não dava para comer algo e para voltar de ônibus. Disse
isto a ele e ele me disse que estava morrendo de fome. Eu também estava. E
quando chegássemos em casa não teríamos nada para comer. Naquela hora havia que
tomar uma decisão: comer e voltar a pé para casa, em uma caminhada de uns 15
quilômetros ou pegar um ônibus e passar a noite com fome.
Conversamos, estudamos a situação e decidimos que iríamos
comer algo e depois sair em caminhada até o centro da cidade. Sentamos em uma
padaria, pedimos algo que os trocados podiam pagar e, terminada a “refeição”,
criamos coragem para sair caminhando.
Mal havíamos saído da padaria, escutamos alguém nos chamar.
Era a pessoa que me havia convidado para pregar que estava à nossa procura
porque havia se esquecido de dar a oferta que o tesoureiro havia destinado.
Preocupadíssima, nos pediu mil perdões, sem saber que
estávamos era gratos e surpresos com os fatos. Como ele tinha nos achado? Como
sabia que podíamos ter parado em algum lugar para comer algo?
Um amigo que vive nos Estados Unidos, o Manelão, que me
hospedava quando ia para as aulas do doutorado, me contou como sempre via a mão
de Deus suprir suas necessidades, muitas vezes depois de vencer o prazo de
pagar uma conta. Ele, um dia, meio
desesperado, pediu a Deus que Ele adiantasse a provisão para que viesse no dia
que deveria pagar suas contas. Em lágrimas ele me confidenciou que desde aquele
dia nunca mais havia atrasado uma conta.
Experiências de ver a mão de Deus suprindo cada necessidade,
mesmo quando penso que nada mais ocorreriam. São muitas na minha vida e na vida
de muitos que me contaram suas experiências de ser abençoados de maneira toda
especial e inusitada.
Não gosto de transformar experiências pessoais em normas
para outros. Esta eu vivi e o Manelão experienciou. De uma coisa tenho certeza:
a providência de Deus vem quando necessitamos e da forma mais inesperada
possível.
E Ele assim faz por pura graça, não por mérito que
porventura tenhamos. Não é questão de fé. É questão de favor imerecido da parte
de Deus.
Marcos Inhauser
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quarta-feira, 24 de julho de 2013
CÂNDIDO VAGGAREZA
O PT não tem
sido muito feliz na composição dos seus quadros. Um partido que teve Delúbio,
Zé Dirceu, Genoíno, José Mentor, João Paulo, Silvio Pereira, entre outros de
menor expressão, tem agora uma figura emblemática: Cândido Vaccareza, que
melhor seria identificado como Vaggareza.
Ele é
um ginecologista, filiado ao PT, eleito suplente de deputado estadual em São Paulo (1998). Reelegeu-se em
2002 e em 2006 elegeu-se deputado
federal. Foi líder do partido de fevereiro de 2009 a 2012. Neste período protagonizou alguns
episódios de fidelidade canina ao Lula e à Dilma.
Mas,
desde que deixou a liderança, algo mudou nele. Indicado a fórceps como líder da
comissão encarregada de apresentar proposta de reforma política, ele honrou seu
nome: deu uma de vagareza.
No
que pese o fato de que a Dilma, atabalhoada com as manifestações de rua, ter
acelerado propostas e derrapado nas curvas da política, ela nunca deixou de
afirmar que queria a reforma política para as eleições de 2014. O deputado, não
lendo as manifestações contrárias à sua indicação pelo presidente da Câmara,
nem atento aos anseios da sua bancada que queria outro deputado na condução dos
trabalhos, insistiu em continuar. Sua renúncia foi pedida e ele se fez de
ouvidos moucos.
Ele quer flexibilizar a utilização das redes sociais pelos
candidatos. Para ele as “redes sociais são extensão do escritório. Só me aceita
quem quer e só aceito quem eu quero. Portanto, está 100% liberado. Posso entrar
na minha rede social e dizer que vou ser candidato e pedir que vote em mim. Não
posso ser punido por isso”, alegou.
Também quer modificar dispositivo da Lei da Ficha Limpa que beneficiaria gestores reprovados pelos tribunais. Vaggareza afirmou que a proposta de lei complementar estava pronta e seria levada ao colégio de líderes. Depois de muitas críticas, deu uma recuada estratégica.
Algumas das propostas são: para a quitação eleitoral, o candidato precisará apenas comprovar que votou; havendo cassação, ocorrerá uma nova eleição para decidir quem assume a vaga; o político poderá dizer que é candidato a qualquer momento; poderá usar as redes sociais para fazer campanha.
Também quer modificar dispositivo da Lei da Ficha Limpa que beneficiaria gestores reprovados pelos tribunais. Vaggareza afirmou que a proposta de lei complementar estava pronta e seria levada ao colégio de líderes. Depois de muitas críticas, deu uma recuada estratégica.
Algumas das propostas são: para a quitação eleitoral, o candidato precisará apenas comprovar que votou; havendo cassação, ocorrerá uma nova eleição para decidir quem assume a vaga; o político poderá dizer que é candidato a qualquer momento; poderá usar as redes sociais para fazer campanha.
O mais preocupante é que ele quer deixar a reforma política,
tal como ocorreu em tantas outras oportunidades, para sabe Deus quando. Ao afirmar
que não há tempo hábil para uma reforma, plebiscito, referendo ou consulta
popular, ele dá marcha de vaggareza ao processo que as ruas pedem urgência.
A depender de um líder de comissão como ele, que não consegue
se afinar com o seu partido, com os colegas, com a Dilma e com o povo, que
reforma política pode vir?
Marcos Inhauser
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Reforma política
quarta-feira, 17 de julho de 2013
ACUSAÇÕES LEVIANAS
Um amigo pastor, residente de em uma pequena cidade do
interior paulista, muito dinâmico e carismático, em pouco tempo ganhou respeito
e notoriedade. Como a cidade enfrentava sérios problemas de corrupção,
especialmente na Câmara Municipal, convidado e instado por cidadãos e
políticos, decidiu lançar-se candidato, crendo que poderia ter uma atuação
ética e que contribuiria para uma mudança na política local.
Tão logo seu nome apareceu como candidato, começou a receber
uma saraivada de críticas, especialmente de pessoas evangélicas e membros de
sua própria igreja. Diziam que ele estava se vendendo, que tinha cedido à
corrupção, que o que buscava era ficar rico, assim como os demais. Assustado
com a reação pensou em abandonar, mas também pensou que seus atos, caso fosse
eleito, mudariam a opinião dos seus detratores.
Foi eleito com expressiva votação, sendo o segundo mais
votado na cidade. As críticas não diminuíram. Já no primeiro ano estourou um
escândalo no qual ele não estava envolvido e isto estava fartamente demonstrado.
As críticas se acentuaram, com pessoas dizendo que ele era muito esperto e por
isto não o haviam flagrado. Tantas foram as críticas e denúncias infundadas
que, mesmo tendo amplas chances de ser reeleito ou até mesmo concorrer para
prefeito, desistiu da política.
Conheço outra pessoa, também pastor, que uma noite recebeu
uma chamada telefônica de pessoa de sua relação, que lhe pedia/exigia que ele
desse algumas informações, que o mesmo, naquele momento, estava impossibilitado
de dar. Para sua surpresa, a pessoa começou a acusá-lo de coisas absurdas.
Ele confessava que a pessoa detratora nunca o havia ouvido
pregar, nunca havia participado de sua comunidade e, talvez, nunca tivesse lido
qualquer coisa que ele tivesse escrito. Mesmo assim se sentia no direito e em
condições de emitir juízos severos sobre seu ministério e a coerência dele. Com
lágrimas ele confidenciava: “como posso ser acusado por alguém que mal me
conhece? E meus anos de ministério? E os frutos que já tive foram parar onde?”
A coisa não é nova. Em estudos que estamos fazendo em Atos
dos Apóstolos, Paulo também foi vítima de acusações levianas. Tantas foram as
críticas que ele escreveu algumas cartas à igreja de Corinto para se defender e
defender seu ministério.
Ninguém há que seja inculpável. Paulo, escrevendo aos
Gálatas disse “que se uma pessoa chegar a ser surpreendida em algum delito, os
que são espirituais o corrijam com espírito de mansidão, olhando para si
mesmos, para que também não sejam tentados.” O mesmo, escrevendo aos Corintos
que o acusavam disse: “Aquele, pois, que pensa estar em pé, veja que não caia”.
Estas considerações me fazem recordar o saudoso Rev. Joás
Dias de Araújo em uma frase que costumava repetir: “o ministério pastoral é um
mistério”. A partir dela cunhei outra: “o pastorado é a arte de levar pancadas
e distribuir sorrisos”.
Agostinho disse que a vocação é irresistível. Calvino disse
que a vocação é eficaz. Jeremias disse: “Não ... falarei mais no seu nome; mas
isso foi no meu coração como fogo ardente, encerrado nos meus ossos; e estou
fatigado de sofrer, e não posso mais” (Jr 20:9).
Só a graça de Deus nos mantém no ministério.
Marcos Inhauser
quarta-feira, 3 de julho de 2013
O QUE SOBE DESCE NA MESMA VELOCIDADE!
Já escrevi aqui
mais de uma vez, sobre o sábio Cirilo. Negro, bóia fria, trabalhou com famílias
alemãs na área de Indaiatuba e acabou aprendendo alemão. Sua maior virtude era
a forma como via a vida e a julgava a partir de coisas corriqueiras.
Um dia, na porta
da casa de sítio onde passávamos férias, ele me ensinou uma coisa que a levei
por toda a vida: as coisas caem na mesma velocidade que sobem. Se subir muito
rápido, a queda vai ser rápida também. Fui revisitado pelas lembranças do sábio
nestes dias ao ler e sentir no bolso as consequências de um destes fenômenos.
Falo do Eike
Batista, filho de Eliezer Batista da Silva, ex-presidente da Vale do Rio Doce
(61-64; 79-86), ex-ministro de Minas e Energia. Depois de passar a infância no
Brasil, foi morar na Suíça, Alemanha e Bélgica. Nunca terminou o curso de
Engenharia Metalúrgica na Universidade Técnica de Aachen.
Com 18 anos,
voltou ao Brasil e vendeu apólices de seguro de porta em porta.
No início dos
80, se dedicou ao comércio de ouro e diamantes. Fluente em cinco idiomas (português,
alemão, inglês, francês e espanhol). Com 21 anos montou uma empresa de compra e
venda de ouro e em um ano e meio, acumulou US$ 6 milhões. Aos 29 anos tornou-se
o executivo da TVX Gold. De 1980 a 2000, criou US$ 20 bilhões com a operação de
8 minas de ouro no Brasil e Canadá e uma de prata no Chile. Entre 91 e 96, o
valor da empresa triplicou. Em 2001, a TVX Gold foi vendida por 875 milhões de
dólares canadenses.
Considerado o
homem mais rico do Brasil, hoje amarga o fundo do poço. Eike está negociando com os bancos uma dívida de curto prazo de R$ 7,9
bilhões. A OGX (petróleo), MMX (minério), LLX (logística), OSX (estaleiro), MPX
(energia) e CCX (carvão) precisam pagar ou renegociar R$ 7,9 bi até março de
2014. A LLX renovou com o Bradesco um empréstimo de quase R$ 590 milhões que
venceu em abril.
As
ações do grupo estão se esfarelando na Bolsa. No último ano caíram entre 24,6%
(MPX) e 85% (OSX). Só na segunda-feira houve queda de 27%.
Vendeu
sonhos e não entregou um centavo aos investidores: "São projetos de longa
maturação, que exigem altos investimentos e não estão produzindo o que se
imaginava" disse um analista.
A
crise de confiança do grupo começou há um ano, quando um campo de petróleo da
OGX frustrou as expectativas de produção. A partir daí, os investidores
começaram a questionar a capacidade do empresário de "entregar".
Pelo
jeito ele vai entregar uma manada de bezerros para a “vaca leiteira do
governo”. E vamos virar sócios na dívida!!!.
Marcos Inhauser
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