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terça-feira, 8 de setembro de 2009

ABDEUAMASSO

Segundo meus filhos, por corrigir quando tropeçavam em gramática, eu deveria ser professor de português. Não gosto da gramática, ainda que a considere importante, mas, sim, acho que gostaria de ser dicionarista.
Tenho certa obsessão pelo sentido exato das palavras, no que o estudo do grego e hebraico me ajudou. Mais teria me ajudado se tivesse estudado o Latim, mas fui da primeira turma que não mais precisou estudar as declinações.
Neste dias, por causa da celeuma levantada com o médico especialista em fertilização, passei a me preocupar outra vez com esta precisão quase que cirúrgica entre as palavras. Tenho para comigo que há vários termos que são, e neste caso específico estão, usados de forma indevida, vez que usado como ambivalência ou sinonimidade.
Não se pode colocar no mesmo balaio como se sinônimos fossem o assédio sexual, o abuso sexual, a violência sexual, o estupro e o bullying. Sem querer determinar o sentido preciso de cada expressão, trago aqui algumas reflexões.
O assédio é quando há investidas verbais, olhares lascivos, vigilância para flagrar. É algo que traz desconforto ao objeto da ação e prazer ao agente, talvez por patologia ou simples desvio de conduta. Não há no assédio o desejo de trazer dano à pessoa, mas de chegara ter um relacionamento. Não se trata das “cantadas” de um apaixonado. Nesta categoria, só que com mais intensidade está o bullying, que além de ter as conotações anteriores, tem também um desejo, confesso ou não, de trazer algum prejuízo ou dano à pessoa que é objeto de suas investidas.
No abuso sexual há, mais que olhares e frases, o toque fortuito ou explícito. É o passar a mão, o encostar-se provocativamente, é o ato de avançar para o campo físico a intenção manifesta, sem, contudo, haver consumação de ato sexual.
Na violência sexual há ação centrada em um desequilíbrio de poder entre o agente e a pessoa objeto, em que o primeiro, prevalecendo da sua força física ou circunstâncias, força a pessoa a atos sexuais, não genitais. O forçar ao sexo oral ou a masturbar entram nesta categoria.
No caso do estupro, no meu entender, há a conjunção, baseada em uma relação desiquilibrada de poder físico ou moral, em que a pessoa vítima é obrigada a uma relação genital ou anal.
No caso específico do médico em questão, ao ouvir depoimentos de vítimas e dos investigadores, confesso, não consegui ver caso de estupro, mas de violência e assédio sexuais. Não há nenhum relato, entre os que ouvi, de alguém que disse que foi forçada a manter relações sexuais, mas que ele, aproveitando-se da situação, as beijou, as acariciou ou as fez acariciá-lo.
Dito isto, salvo mais evidências que me façam mudar de opinião, ele é dado ao “amasso” e não ao estupro. Daí porque, melhor seria que mudasse seu nome para Roger Abdeuamasso.
Marcos Inhauser

terça-feira, 1 de setembro de 2009

FIQUE ESPERTO

A prática é sistemática e condenada pelos órgãos de defesa do consumidor. Inicialmente eram os cartões de crédito enviados a torto e direito e que geravam débitos e custos e uma pendenga enorme para se livrar deles.
Outra prática, mais relacionadas à empresas de listas telefônicas, era a de enviar boletos pela publicação de um suposto anúncio que não se contratou. Alguns traziam um aviso de que o pagamento era opcional, mas a maioria não e alguns até traziam a informação de que o título iria a protesto se não pago no prazo estipulado. Já recebi também boletos de hospedagem do meu site pelas mais diversas empresas, todos eles fajutos.
Mais recentemente venho sendo vítima de um novo golpe, pois não vejo outra palavra para definir o que vem acontecendo. Primeiro foi descobrir na minha fátua do celular da Vivo a contratação de serviços adicionais que eu não havia feito. Liguei pedi explicações pela cobrança nos últimos três meses e eles me disseram que eu havia autorizado o tal serviço de vantagem em chamadas roaming no dia tal. Afirmei que nunca havia sido contatado e muito menos feito tal opção. O que consegui foi o cancelamento do serviço a partir da data da minha reclamação, mas não a reversão dos pagamentos feitos. Comecei a ficar esperto com a Vivo. Mais de uma vez recebi SMS me parabenizando por ter aderido a este ou aquele adicional de serviço, coisa que não fiz, e que cada vez me tomou mais de vinte minutos em ligação tentando reverter o serviço.
Neste mês me enfiaram quase vinte reais em serviços adicionais que não contratei não autorizei e que me tomaram trinta e cinco minutos para reverter. E o pior é que a reversão foi parcial, pois, segundo a atendente, haveria ainda uma cobrança proporcional que eu deveria contestar quando chegasse a fatura. Lá se vai mais meia hora.
O mesmo está acontecendo com as famigeradas taxas dos bancos famintos por dinheiro fácil. A cada extrato aparece algo sendo cobrado. Neste dias descobri que meu banco que me “deu” um cartão de crédito sem anuidade, me cobrou para a renovação, e que o gerente do banco não pode estornar a cobrança, pois devo ligar para a central de atendimento ao cliente e tentar conseguir a devolução da taxa. Se eu cancelar, assim mesmo corro o risco de ter que pagar.
E o pior. Descobri que além dos juros exorbitantes que cobram no cheque espacial, ainda pago uma taxa de renovação do cadastro e a cada dois meses uma taxa de R$ 145,00 pelo uso do limite. Um roubo. Eu digo: um assalto a “banco armado”.
È muita esperteza. E para contrarrestar, temos que ficar espertos com estes assaltantes legalizados e jurisprudenciados.

Marcos Inhauser

terça-feira, 25 de agosto de 2009

SENADORANTE

Nunca colocaria em um filho este nome: Aloísio. Não gosto. E agora não gosto também de um que tem este nome: o Mercadante. Aliás, este sobrenome me faz pensar em outras coisas e nestes dias, não pude deixar de associá-lo, por rima, a comportamentos.

FRUSTRANTE: havia uma multidão de gente que acreditou nele e nele votou, transformando-o em campeão de votos ao Senado. Parecia ser uma pessoa séria, de convicções, firme, com idéias novas capazes de fazer a diferença em um cenário carcomido pelas velhas oligarquias políticas. Hoje, sem sombra de dúvidas, posso afirmar que há muita gente frustrada com ele.

TROPEÇANTE: no episódio da compra do dossiê e dos aloprados, ele veio com a esfarrapada e petista desculpa de que não sabia de nada. Santa inocência ou astuta esperteza, acreditando na imbecilidade coletiva. Tropeçou feio e nunca mais conseguiu firmar o passo diante da opinião pública.

VACILANTE: Mais recentemente apresentou comportamento e posturas vacilantes, ora apoiando, ora ficando em cima do muro e ora sendo mais assertivo quanto à situação do Sarney e do Senado. Foi difícil saber exatamente qual era a sua posição.

TITUBEANTE: Isto o fez titubear. Ora era isto, ora aquilo. O titubeio maior foi sua renúncia irrevogável e a revogação do irrevogável no dia seguinte. Mesmo com a carta do Lula, virou piada e merecidamente.

CLAUDICANTE: no episódio dos aloprados, do mensalão, e agora na crise do Senado, para mim ao menos, fica evidente de que ele claudicou na ética. Não afirmo por comissão, mas o claudicar pela omissão. Falhou ao não ser voz forte de denúncia como o foram Pedro Simon e Cristóvão, para não citar outros que evito mencionar nomes. A sua ausência foi patética quando do bate boca entre Pedro Simon e Collor, preferindo ficar no gabinete a estar presente em um momento histórico, em que éticos precisavam se manifestar contra “aquelle” que é até hoje, junto com um paulista, o símbolo máximo da corrupção.

MERCADEJANTE: o que está por detrás desta sua atitude? Um pragmatismo maquiavélico, em que o fim Dilma justifica todos os meios? O que há de negociação e negociatas por trás disto tudo? As fantasias correm a mil, haja visto que o Senado se mostrou ser a casa da mãe Joana e um balcão surtido de negócios os mais variados. Ou é a república sindicalista que o leva a tal comportamento? Não afirmo nada. Só pergunto perguntas inevitáveis diante disto tudo.


Marcos Inhauser

terça-feira, 11 de agosto de 2009

FUMOCÍDIO, MOTOCÍDIO E SUÍNA

Lembro-me de uma foto que via em uma agência dos Correios em São Paulo. Era um revolver apontado para a cabeça de uma pessoa, em atitude de suicídio. O cano da arma era um cigarro e a legenda dizia: “o cigarro é uma arma onde o tempo aperta o gatilho”.
Lembrei-me desta foto nestes dias com a celeuma montada pela lei antifumo do governo de São Paulo. A propaganda com o garçon medindo o ar nos pulmões antes e depois do serviço, mostra algo que há não muito passou a ser reconhecido e combatido, que é o fumante passivo. Entre os argumentos esgrimidos pelo governador está a melhoria da qualidade de vida, a diminuição dos AVCs e outros problemas coronários e pulmonares, a redução de gastos médicos pelo sistema público de saúde, etc.
Na mesma semana vem a notícia de que foi aprovada a lei que legaliza o mototáxi e que o prefeito de São Paulo, aliado do governador, pretende implantar tal serviço na cidade de São Paulo. E aí me veio o nó na cabeça: sabe-se por dados estatísticos e mesmo visuais para quem anda com certa freqüência pelas ruas e estradas, o crescente número de acidentes com motos. Quem não conhece alguém que morreu ou se acidentou gravemente pilotando uma moto? Quantas pessoas incapacitadas você conhece, fruto de acidente deste gênero?
Há ainda dados estatísticos e estudos mostrando que a poluição produzida pelas motos é muito maior que a feita por um carro. Mais: se se calcula a poluição por passageiro transportado e quilometragem rodada, as motos perdem feio. Adicione-se a isto o custo médico que a saúde pública dispende com os atendimentos dos acidentados e a natureza de tais cuidados, muitos deles com longos tratamentos e fisioterapias, tem-se que o custo ambiental e financeiro do uso generalizado das motos traz é igual ou superior ao dos cigarros.
E por que se cria lei para combater o fumo (o que eu aplaudo) e se libera outro instrumento urbano de suicídio e custos médicos? È a morte pelo cigarro mais morte que a das motos?
Mas para se entender a lógica destas coisas, passo alguns dados de um e-mail que acabo de receber. No mundo, por ano, morrem 2 milhões de crianças com diarréia que se poderia evitar com um simples soro que custa 25 centavos. O sarampo, pneumonia e enfermidades evitáveis com vacinas baratas, provocam a morte de 10 milhões de pessoas a cada ano. Há 10 anos, com a gripe das aves, os noticiários nos inundaram de informações e ela só causou a morte de 250 pessoas, em 10 anos. Vinte e cinco mortos por ano. A gripe comum mata meio milhão de pessoas por ano.
Será que por trás disto há só o interesse com a saúde ou há interesses econômicos por trás disto? Eu não tenho dúvida alguma.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

OUVIDORIA, SURDORIA OU DEFENSORIA?

www.inhauser.com.br / marcos@inhauser.com.br
Tal como inúmeros outros brasileiros, achei que o estabelecimento de ouvidorias em empresas privadas e do setor público fosse algo que tivesse vindo para funcionar. Acreditando nisto, nos últimos anos tomei do meu tempo e paciência para entrar em contato com esta gente e colher os resultados.
Desta minha crença devo dizer que tive mais aborrecimentos e decepções que resultados. Por três vezes acionei a Agencia Nacional de Transporte Terrestre – ANTT, duas delas com casos graves e nunca tive sequer uma resposta ou forma de acompanhar o andamento das coisas. Outra vez acionei a ARTESP – Agência de Transporte do Estado de São Paulo, recebi um protocolo, liguei várias vezes e nunca recebi uma informação precisa ou conclusiva sobre o meu pleito.
Quando saiu a lei que regulamentou o Serviço de Atendimento ao Cliente, estabelecendo prazos rígidos para o atendimento e multas para os infratores, liguei para a ANATEL e fiquei mais de 45 minutos esperando que me atendessem e nada. A mesma que regulamentou o serviço é a que descumpre as regras.
Estes dias, por causa de um problema com plano de saúde, e ainda acreditando na coisa, tentei a Agência Nacional de Saúde e fui informado que não tratam de questões particulares, mas só com a questão institucional do relacionamento cliente e empresas.
Alguém pode argumentar que todas são estatais e que não se pode esperar nada de um governo que está se lixando para as regras, haja visto que mudou as leis das concessões de telefonia para que houvesse a fusão Oi/BrasilTelecom, que politizou os cargos que deveriam ser ocupados por técnicos e colocou gente que não sabia de nada do setor, como é o caso do Milton Zuanazzi na ANAC – Agência Nacional de Aviação Civil. Estou citando um para não ficar listando sindicalistas e apaniguados lotados em cargos para os quais não estão habilitados.
A minha conclusão é que, no setor público tem-se Surdorias.
No setor privado, se não é uma Surdoria, é Defensoria. Cansei de ligar para o Omdundsman da Telefônica, ouvidoria da Net, ouvidoria da Vivo e me decepcionar. Estes até que dão certo seguimento e ligam de volta para relatar os procedimentos tomados. Invariavelmente defendem suas empresas e acabam jogando o problema para escanteio ou no colo da gente. O mesmo se deu com a Ouvidoria de um Plano de Saúde. O atendimento local mudou prazos, atendeu mal, disse que não tinha chegado o documento solicitado e quando liguei para a Ouvidoria o dito cujo milagrosamente apareceu, se negaram a carimbar um papel impresso por eles, e depois a Ouvidoria me liga para dizer que seguiram os procedimentos e o culpado era eu.

terça-feira, 28 de julho de 2009

SUPÉRFLUO ÀS ÁGUAS

www.inhauser.com.br / marcos@inhauser.com.br

Prática da antiga navegação era, diante de uma tempestade e risco iminente de afundar, atirar às águas o que era supérfluo, como forma de aliviar, salvar o barco e chegar ao destino. A prática não mais é adotada na navegação de grande calado e talvez o seja ainda em pequenas embarcações. De uma coisa sei: o Lula sabe disto e usa a técnica na sua viagem pelo mar revolto da política, com o objetivo de perpetuar-se no poder.

Ele já enfrentou algumas tempestades que grande porte. O seu barco, denominado PT, esteve à deriva várias vezes, no que pese o fato de que muitos que o escolheram criam que estavam elegendo um Titanic: sólido e resistente.

No porto de partida houve festa e esperanças de que a viagem seria tranqüila. Ao alcançar alto mar, pegou a tempestade do Mensalão. Balança daqui, balança dali, o barco PT estava fazendo água e o capitão disse que nada estava acontecendo. Quando a coisa complicou, elegeu o supérfluo e jogou ao mar o Dirceu. Com a tempestade da viagem à Argentina da Benedita, ela foi jogada aos tubarões.

Mais tarde, com a tempestadezinha inicial do caseiro, percebeu que a nuvem escura virava uma grande tempestade, e lá foi outro supérfluo: Palocci. Houve ainda a tempestade do churrasqueiro do guru-mór, dos compradores de dossiê para favorecer a candidatura de um barco do navio, e lá foi ele jogar supérfluos dizendo serem aloprados.

Quando outra tempestade Rondeau, jogou fora o Silas. Depois foi a ministra com gastos exagerados no cartão, e lá foi ao mar outro supérfluo, ainda que os gastos com a filha Lurian tenham sido iguais ou maiores.

Agora, quando depois de hesitação e cobrança pública, o Mercadante solta uma nota como líder do PT no Senado dizendo que apóia a licença e convocação antecipada do Conselho de Ética, o sindicalista-mór manda o pau mandado do Ministro Mucio desautorizar publicamente ao líder de seu partido. Mais um que ele joga ao mar.

O que chama a atenção é que ele não jogou ao mar o Renan e nem agora o Sarney, no que pese a gravidade das tormentas. E se não o fez, só posso concluir que eles são mais importantes que o Dirceu, Palocci, Benedita, Greenhalg e outros petistas históricos. Se o seu barco PT está fazendo água, melhor saltar para outro que já provou que resiste a qualquer onda: o PMDB, barco que tem a capacidade de navegar sempre na onda do poder.

O que o leva a agir assim? Estratégia política? Ou blindagem para quando deixar o governo e vieram pedir explicações mais detalhadas sobra a atuação do filho, sócio da Telemar? Ou suas constantes viagens ao redor do mundo? Ou a compra dos Rafale para equipar o exército? Ou as verbas nebulosas da Petrobrás para as ONGS e empresas devedoras para com a União? Ele talvez terá que se explicar muito e nada melhor do que se proteger protegendo hoje pessoas que poderão ajudá-lo a blindar-se. Não tenho respostas, só perguntas.

terça-feira, 21 de julho de 2009

CADÊ VOCÊ, SUPLICY?

Votei em você em todas as oportunidades que pude. Comecei em 90, depois em 98 e mais recentemente em 2006. Não só votei como, sem que você me pedisse, fiz campanha por você. Se encontrasse alguém indeciso quanto ao voto para senador, lá estava eu aconselhando a votar em você por considerá-lo combativo, independente e ético.
Acompanhei sua luta na CPI dos Anões. Lembro-me da suas argüições aos implicados e da viagem aos Estados Unidos para tentar achar uma mulher que poderia ser a esposa do cérebro da quadrilha dos anões. Acompanhei as suas intervenções na CPI do Narcotráfico e no Mensalão e admirei sua independência quanto ao partido que estava atolado até ao pescoço nas maracutaias do valérioduto. Lembro-me da sua investigação quase quixotesca em busca de evidências quanto à morte do Celso Daniel. Sempre o achei um determinado, especialmente no que se refere ao Bolsa Família, tema quase único nas suas conversas e falas no plenário.
Mas, confesso, estou desapontado com o seu sumiço nos recentes casos de corrupção no Senado. Até tenho a impressão que, ou você não é mais Senador, ou tirou férias. Não sou um investigador contumaz das suas atividades, mas não me lembro de uma única participação, fala, censura ou seja lá o que for diante dos recentes episódios. A única coisa que me lembro e que me causou espécie, foi a revelação da sua participação na farra das passagens aéreas, com explicação tímida e providência óbvia.
Fico a me perguntar se a sua concepção do Bolsa Família passa pelo nepotismo do emprego da família nas tetas do erário. Afinal é uma forma de Bolsa Família. Dinheiro público para parentes menos agraciados na vida, sem mandato parlamentar, que não merecem ficar vendo o iluminado eleito se lambusando e eles à deriva. Por que não vi, não li, nem soube, da sua posição quanto a isto?
Se você está no Senado desde 1990, como pôde passar todo este tempo sem nunca ouvir que algo de estranho acontecia nos subterrâneos do poder legislativo? Nunca ninguém lhe contou da casinha que o Agaciel tem? Nunca lhe passou pela cabeça que havia muito cacique para pouco índio nas diretorias do Senado? Nunca lhe passou pela cabeça perguntar como pode a Gráfica do Senado ter mais de mil funcionários e oitenta por cento deles na ociosidade?
Há algo de estranho neste seu silêncio, especialmente em quem já fui muito combativo e independente. Qual a sua posição diante do enquadramento do Lula, exigindo a sustentação do Senador do Amapá que mora em São Luís na presidência do Senado? Qual a tua posição quanto ao circo montado na composição do Conselho de Ética e especialmente na escolha do presidente?
Gostaria de ver você atuando como já fez. Mas, hoje por hoje, estou é decepcionado com você e meu voto você não recebe mais.
 
 

terça-feira, 14 de julho de 2009

CADÊ OS PROFETAS?

Não é de hoje que me preocupo com a dimensão profética da igreja. Não me refiro às profetadas, tão comum em centros que mais se parecem a adivinhações e chutes prognósticos, nem aos que se sentem porta-vozes de Deus para manipular a vida de incautos, mas à dimensão vetero-testamentária, de pessoas vocacionadas por Deus para diagnosticar o presente, para denunciar os pecados individuais, fossem eles cometidos por pessoas simples como pelos reis, e o pecado nacional (tão esquecido pelos púlpitos e animadores de auditório religioso). Falo do pro+phemi, do pro+phetai, dos Isaías, Jeremias, Amós, Habacuques modernos.
Lembro-me de um renomado pastor guatemalteco, diretor de seminário e aclamado como teólogo, em uma reunião de seminários dizia ser a Guatemala o país latino americano mais evangélico e evangelizado em todo o continente. Na hora das perguntas, lhe perguntei como explicava o fato de ser (era isto 1990) o país mais violento politicamente da América. Ele me disse que não estava ali para falar de política. Mas este homem, quando pastor de uma igreja que fica atrás do Palácio Nacional, permitiu que tropas do Exército se colocassem na torre da Igreja para vigiar e atirar nos manifestantes. E ele sabia que eu sabia disto, porque estive na sua igreja e constatei isto.
Mais recentemente fui visitar minha filha na China e fomos três vezes à Igreja que é permitido aos estrangeiros freqüentar. Ela me explicava que há relativa liberdade, que podem cantar, orar, convidar outros estrangeiros, podem pregar aos nacionais em suas casas e aos empregados, mas que não podem falar de política, nem falar “mal do governo”. A função profética está castrada.
Olho para a igreja brasileira e fico a procurar profetas no sentido bíblico e não os encontro. Conheci o Federico Pagura, argentino, metodista, mistura de profeta e poeta. Conheci Dom Pedro Casaldáliga. Li sobre o Helder Câmara e o respeitei e o respeito. E entre os evangélicos? Quem foi ou é profeta denunciando escândalos, os desmandos, a locupletação da coisa pública, as hienas do erário?
Que igreja é esta, a brasileira, muito mais conhecida pelos “louvores”, solicitação à exaustão de ofertas e dízimos, pelos escândalos de seus “pastores”, pela falta de ética generalizada em seus vereadores, deputados e senadores? Que igreja é esta que seus líderes mais gostam de holofotes, de palcos, multidões, loas, carrões, televisão, rádio que ter cara e coragem para denunciar os pecados nacionais? Onde estão os Jeremias, Amós, Habacuques, Isaías, Miquéias?
Esta é uma igreja manca, enferma. Falta-lhe coragem para o ministério que não dá holofotes, que mais leva às cavernas que aos palcos. Uma igreja que tem mais cantores e milagreiros que pastores e profetas. Uma igreja que tem mais animadores de auditório que doutrinadores, que tem mais excitação que adoração, mais embusteiros que mensageiros.

terça-feira, 7 de julho de 2009

OBRIGADO, DEUS, PELOS DOIDOS

Acabo de assistir à parte final da cerimônia de despedida de Michael Jackson. Chamou-me a atenção a insistência em a chamar de “celebração à vida”. Confesso que o estilo de música do Michael Jackson não faz meu estilo. Brinco dizendo que meu gosto musical parou nos Beatles e nem conseguiu chegar aos Rolling Stones. Não gosto de rock, pop ou o que veio depois disto.
Admirava a flexibilidade do corpo nas coreografias de suas danças e nunca entendi como ele podia fazer o “moon walk”. Nunca assisti a um videoclipe dele e sempre o considerei excêntrico, meio doido, meio varrido. Lá nos meus botões eu atribuía isto a uma necessidade de ficar em evidência na mídia e a traumas de infância, denunciados pelo Michael, tendo a seu pai como agressor. Sempre achei a família Jackson disfuncional e o Michael um doido.
Quando o acusaram de pedofilia, estava mais propenso a acreditar que a defender. Certa vez pensei que ele ainda havia escapado da acusação de ser viciado em drogas, e o que se sabe agora é que sim o era, mas em analgésicos. Hipocondríaco? Talvez. Neurótico? Talvez. Gênio? Com certeza.
Ao ouvir o testemunho da Brook Shields sobre as brincadeiras de criança que ambos tinham mesmo sendo adultos, das gargalhadas que davam, da alegria que sentiam ao estarem juntos, confesso que tive que repensar um monte de coisas.
Comecei a pensar na quantidade de coisas que hoje temos, de descobertas feitas por cientistas totalmente devotados às suas pesquisas, do médico que descobriu a bactéria estomacal e que ninguém nele cria até que ele mesmo se infectou com ela, do Einstein mostrando a língua, do Stephen Hawkins em sua cadeira de rodas pensando o universo e a noção de tempo, do Aleijadinho e sua obra, apesar da enfermidade. Muitos outros eu poderia citar.
Há algo em comum nesta gente toda: eram meio doidos, meio malucos. Se o mundo fosse depender dos “certinhos”, de gente que é igual a relógio suíço (todo dia fazendo a mesma coisa nas mesmas horas) o mundo não teria avançado como avançou. As descobertas, as invenções, as grandes esculturas, pinturas e arquiteturas nós as devemos às pessoas que ousaram quebrar paradigmas, que se devotaram de corpo e alma ao que se propuseram, que vararam noites e mais noites a perseguir seus ideais.
Outra característica de muitos deles é que eram pessoas sofridas, solitárias, incompreendidas, doentes. Talvez por isto tenham falado tanto à alma humana, esta também cheia de dores e desilusões. E não é por menos que os Salmos da Bíblia, poemas na sua grande maioria falam do sofrimento e perseguição, sejam tão lidos.
O mundo precisa dos doidos e sofridos para que haja mais alegria e melhor qualidade de vida. E Michael foi um deles que trouxe para muitos alegria e exemplo de determinação.


quarta-feira, 1 de julho de 2009

Tõ com dó dele

Ele não merece. Depois de tanto servir à pátria, depois de ser eleito por um Estado onde não vive, agora querem sangrá-lo em praça pública. Que culpa tem ele se, no melhor de sua avaliação, muito tempo atrás, nomeou o Agaciel para ser alguém e ele, só agora, se deu conta de que a criatura virou uma cobra a envenená-lo?

Que culpa tem ele se, no exercício de suas funções, o nomeado não publicou atos que deveriam sê-los no boletim oficial do Senado. Era o Sarney quem mandava publicar ou isso era função do nomeado? Que culpa tem ele se tem uma família das mais notáveis na vida pública brasileira, sendo ele o mais tradicional e longevo dos políticos brasileiros, tem uma filha que já foi e ainda é governadora do Estado do Maranhão (por decisão judicial, deve-se relembrar), foi senadora da República? Que culpa tem de ter um filho também político de primeira, eleito deputado federal? O que fazer se netos, sobrinhas e outros parentes, espelhando-se no exemplo do patriarca, quiseram servir à pátria via Senado e funções públicas? Que culpa tem ele se, por causa do seu peso político, um neto, sobrinho, cunhada ou seja lá o que for vai pedir um emprego a um senador qualquer e esse, em respeito ao patriarca, o emprega?

Que culpa tem ele que o motorista/mordomo, empregado há muito no Senado, faça coisas menores para atender coisas da família e para isso receba um salário nababesco? Que culpa pode ter uma pessoa que, imbuída dos mais altos valores cristãos da solidariedade e amor ao próximo, empresta um imóvel funcional a um ex-senador enfermo e autoriza uma viúva de um ex-empregado a morar em imóvel público?

Que culpa tem se nunca soube que seus netos eram empregados de senador, que os empregou porque devia favores ao avô? Que culpa tem se nunca deu ouvidos à rádio-corredor e nunca soube de “coisas” que aconteciam dentro da casa que administra? Que culpa tem se entendeu que seu mandato é para lidar com questões políticas e não para limpar as latas de lixo da cozinha, coisa que, a bem da verdade, não são para uma pessoa do seu naipe?

Que culpa tem se um neto que fez cursos em Harvard na área de economia, abre um negócio de gerenciamento de créditos consignados e consegue mediar tais negócios com funcionários da casa que o avô administra?

É muita “mídia marronzista” (que saudade do Odorico Paraguaçu). É trama insólita da oposição que não gosta do seu apoio ao presidente Lula. Se ele é culpado e deve renunciar, que renunciem também todos os outros senadores que nada sabiam tanto quanto ele, que também tiveram parentes empregados e viajaram de graça. Tadinho dele. Tô do teu lado Sarney...

Só peço um emprego de motorista/mordomo. Afinal, sou o único a defendê-lo nessas horas difíceis. Por favor, não se esqueça de mim, ainda que não seja parente...