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quarta-feira, 25 de julho de 2018

A BENÇÃO DO SILÊNCIO


Há uma benção no silêncio!
Há sabedoria no silêncio!
Não me refiro ao silêncio do ficar sem falar, sem conversar, mas no silêncio do escutar.
Vivemos tempos de muitos ruídos, tempos de muita distração, tempos de foco em tudo e todos. O tempo todo estamos atentando para algo ou escutando algo. No trânsito, para as placas e os radares mil que os colocam em lugares traiçoeiros. Ao andar na rua, prestamos atenção a quem nos acompanha, quem anda atrás de nós, com medo de estarmos sendo seguidos e roubados. Entramos em casa e a primeira coisa que muitos de nós fazemos é ligar a televisão. Há quem durma de televisão ligada, porque o silêncio da noite incomoda. Onde estamos nos fazemos acompanhar do celular e a toda hora o olhamos para saber se alguém deixou recado, curtiu o que postamos ou se há alguma bomba no noticiário.
Vamos aos barzinhos e lá, não bastasse o barulho das conversas, precisa haver alguém tocando algo (muitas vezes de mal gosto e desafinado) ou há um “som ambiente”, maldita música que atrapalha a conversa, porque somos obrigados a gritar para sermos ouvidos.
Parece que não gostamos do silêncio. Ele nos incomoda. Ficar em silêncio e ouvir o silêncio (sim: ouvir o silêncio) é algo aterrador. Será mesmo?
Lembro-me da infância quando, por muitas vezes ia dormir na casa da minha tia, no sítio. Desde pequeno tive problemas para dormir sonos regulares. Muitas vezes, por demorar para dormir, ficava a ouvir o coaxar dos sapos ou o coral de grilos. Lembro-me que, muitas vezes em que estive a “ouvir o silêncio”, ficava prestando atenção nos sons, se eram da natureza ou produzidos. Aprendi a encontrar paz ao ouvir só o que a natureza produz de sons: vento, farfalhar das folhas, o canto dos pássaros, o piar das corujas, etc.
Também me assustei com o silêncio absoluto. Por pouco tempo morei em São Paulo, bem no centro de um quarteirão, cercado de prédios ao redor. À noite não se escutava nada, absolutamente nada. Foi quando fiquei com medo de escutar o sangue correndo pelo corpo. Nunca mais quis ter esta experiência. O silêncio absoluto me assustou.
Só no silêncio temos a oportunidade de olhar para nós, de prestar atenção em nós mesmos. Só no silêncio temos a oportunidade de olhar para dentro e descobrir quem somos. No silêncio estabelecemos uma conversa com o nosso “eu mais interior” e o eu que mostramos à sociedade. No silêncio estabelecemos um diálogo existencial: o nosso eu (o “eu mesmo”) critica o “eu social” porque o vê como ator que se ajusta à peça em que deve atuar. O “eu social” critica o “eu interior” dizendo que é intolerante, inflexível, imoral, inconsequente, e outra quantidade de palavras começadas com “in...”
No silêncio nos descobrimos, nos damos a conhecer a nós mesmos. Sem o silêncio, sem o diálogo interior que ele propicia, a identidade se perde no turbilhão dos modismos, somos o que os outros querem que sejamos.
Não sou médico nem psicólogo, mas acho que a avalanche de depressões que estamos vendo se deve a esta falta de tempo para ficar em silêncio. A depressão é o grito do corpo e da alma pedindo tempo para dialogar consigo mesmo. Lamentavelmente é um diálogo perturbado pelas exigências, pelo constante ouvir gente dizendo “levante a cabeça”, “você precisa reagir”, etc.
Preciso do meu tempo de silêncio. Eu o tenho com certa regularidade, ainda que o faça ouvindo música, o que tem o condão de me empurrar para dentro de mim mesmo. A música a sós é um solavanco que me derruba dentro de mim mesmo.
Marcos Inhauser

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

CULTO CIDADÃO

O culto é a prática que reúne e dá direção para tudo o que fazemos como cristãos. É a realização prática e visível da fé, de tal forma que não se pode separar o culto da experiência completa da vida cristã. Tenho lá minhas dificuldades quando se adjetiva os cultos e se segmenta a experiência com rótulos como: Culto da Família, Culto da Benção, Culto de Evangelização, Culto da Prosperidade, etc. O culto é completo e nunca pode ser segmentado.
O culto cristão é e deve sempre ser a expressão holística da vida, de tal forma que o culto é a apresentação de nossos atos diários de amor ao próximo e exemplo para os demais, incentivando-os a também terem vidas de adoração. Ainda que se possa entender o culto como adoração, onde se confere a Deus o valor que Ele tem por Sua natureza, precisamos estar cientes de que não somos nós que nos aproximamos dEle no culto, mas é Ele quem se aproxima de nós e nos fala pela Sua Palavra.
Sendo assim, não é culto o que não transforma o adorador. Ele entra em um culto e cultua, com a disposição de ouvir e mudar em sua vida com o que lhe é revelado neste momento por Deus, através da Sua palavra. No culto ele recebe as instruções de como viver no meio de um mundo profano.
O culto em si não tem o poder e a eficácia. Ele será eficaz na vida dos que, reconhecendo sua condição pecadora, reconhecem a santidade de Deus e se dispõem a mudar seus atos e vidas para que sejam vividas de forma harmônica com os ensinamentos da Palavra.
É neste sentido que o apóstolo Paulo pede que se preste culto agradável a Deus que é o culto racional, onde a pessoa se entrega a Ele em sacrifício vivo. Quando isto acontece, o culto se transforma em algo da mais alta importância e relevância na vida do ser humano.
A experiência cúltica é o encontro com o numinoso. O profeta Habacuque coloca este encontro em termos de silêncio: “... o Senhor está em seu santo templo; diante dele fique em silêncio toda a terra" (Hb 2:20); “Toda criatura esteja em silêncio diante do Senhor: ei-lo que surge de sua santa morada” (Zc 2:13). Creio que foi Karl Barth quem disse que o louvor verdadeiro se faz com o silêncio humano. Gritaria e barulheira não fazem parte do culto.
Assim entendido, não cabe no culto lugar para a magia, entendida como meio de manipular a divindade a fazer o que se quer, pelo uso de ritos, oferendas ou ofertas (em dinheiro). O culto não se presta a dar ordens a Deus, mas sim, para se receber dEle as orientações para a vida. O culto não muda a vontade de Deus, mas transforma a mente do adorador.
Quando esta transformação acontece, o adorador terá visão mais ampla e própria da realidade que o cerca, da polis onde vive e será movido a atuar no seu contexto de forma a vivenciar o que no culto lhe foi revelado. Assim, a fé se transforma em atos cívicos, a sua ação tem um componente político, uma vez que será pautada por valores outros que os dominantes na sociedade. O adorador viverá a contracultura da fé e sua vivência será sal na terra e luz no mundo. O culto se torna cidadão!

Marcos Inhauser

terça-feira, 21 de julho de 2009

CADÊ VOCÊ, SUPLICY?

Votei em você em todas as oportunidades que pude. Comecei em 90, depois em 98 e mais recentemente em 2006. Não só votei como, sem que você me pedisse, fiz campanha por você. Se encontrasse alguém indeciso quanto ao voto para senador, lá estava eu aconselhando a votar em você por considerá-lo combativo, independente e ético.
Acompanhei sua luta na CPI dos Anões. Lembro-me da suas argüições aos implicados e da viagem aos Estados Unidos para tentar achar uma mulher que poderia ser a esposa do cérebro da quadrilha dos anões. Acompanhei as suas intervenções na CPI do Narcotráfico e no Mensalão e admirei sua independência quanto ao partido que estava atolado até ao pescoço nas maracutaias do valérioduto. Lembro-me da sua investigação quase quixotesca em busca de evidências quanto à morte do Celso Daniel. Sempre o achei um determinado, especialmente no que se refere ao Bolsa Família, tema quase único nas suas conversas e falas no plenário.
Mas, confesso, estou desapontado com o seu sumiço nos recentes casos de corrupção no Senado. Até tenho a impressão que, ou você não é mais Senador, ou tirou férias. Não sou um investigador contumaz das suas atividades, mas não me lembro de uma única participação, fala, censura ou seja lá o que for diante dos recentes episódios. A única coisa que me lembro e que me causou espécie, foi a revelação da sua participação na farra das passagens aéreas, com explicação tímida e providência óbvia.
Fico a me perguntar se a sua concepção do Bolsa Família passa pelo nepotismo do emprego da família nas tetas do erário. Afinal é uma forma de Bolsa Família. Dinheiro público para parentes menos agraciados na vida, sem mandato parlamentar, que não merecem ficar vendo o iluminado eleito se lambusando e eles à deriva. Por que não vi, não li, nem soube, da sua posição quanto a isto?
Se você está no Senado desde 1990, como pôde passar todo este tempo sem nunca ouvir que algo de estranho acontecia nos subterrâneos do poder legislativo? Nunca ninguém lhe contou da casinha que o Agaciel tem? Nunca lhe passou pela cabeça que havia muito cacique para pouco índio nas diretorias do Senado? Nunca lhe passou pela cabeça perguntar como pode a Gráfica do Senado ter mais de mil funcionários e oitenta por cento deles na ociosidade?
Há algo de estranho neste seu silêncio, especialmente em quem já fui muito combativo e independente. Qual a sua posição diante do enquadramento do Lula, exigindo a sustentação do Senador do Amapá que mora em São Luís na presidência do Senado? Qual a tua posição quanto ao circo montado na composição do Conselho de Ética e especialmente na escolha do presidente?
Gostaria de ver você atuando como já fez. Mas, hoje por hoje, estou é decepcionado com você e meu voto você não recebe mais.