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terça-feira, 28 de julho de 2009

SUPÉRFLUO ÀS ÁGUAS

www.inhauser.com.br / marcos@inhauser.com.br

Prática da antiga navegação era, diante de uma tempestade e risco iminente de afundar, atirar às águas o que era supérfluo, como forma de aliviar, salvar o barco e chegar ao destino. A prática não mais é adotada na navegação de grande calado e talvez o seja ainda em pequenas embarcações. De uma coisa sei: o Lula sabe disto e usa a técnica na sua viagem pelo mar revolto da política, com o objetivo de perpetuar-se no poder.

Ele já enfrentou algumas tempestades que grande porte. O seu barco, denominado PT, esteve à deriva várias vezes, no que pese o fato de que muitos que o escolheram criam que estavam elegendo um Titanic: sólido e resistente.

No porto de partida houve festa e esperanças de que a viagem seria tranqüila. Ao alcançar alto mar, pegou a tempestade do Mensalão. Balança daqui, balança dali, o barco PT estava fazendo água e o capitão disse que nada estava acontecendo. Quando a coisa complicou, elegeu o supérfluo e jogou ao mar o Dirceu. Com a tempestade da viagem à Argentina da Benedita, ela foi jogada aos tubarões.

Mais tarde, com a tempestadezinha inicial do caseiro, percebeu que a nuvem escura virava uma grande tempestade, e lá foi outro supérfluo: Palocci. Houve ainda a tempestade do churrasqueiro do guru-mór, dos compradores de dossiê para favorecer a candidatura de um barco do navio, e lá foi ele jogar supérfluos dizendo serem aloprados.

Quando outra tempestade Rondeau, jogou fora o Silas. Depois foi a ministra com gastos exagerados no cartão, e lá foi ao mar outro supérfluo, ainda que os gastos com a filha Lurian tenham sido iguais ou maiores.

Agora, quando depois de hesitação e cobrança pública, o Mercadante solta uma nota como líder do PT no Senado dizendo que apóia a licença e convocação antecipada do Conselho de Ética, o sindicalista-mór manda o pau mandado do Ministro Mucio desautorizar publicamente ao líder de seu partido. Mais um que ele joga ao mar.

O que chama a atenção é que ele não jogou ao mar o Renan e nem agora o Sarney, no que pese a gravidade das tormentas. E se não o fez, só posso concluir que eles são mais importantes que o Dirceu, Palocci, Benedita, Greenhalg e outros petistas históricos. Se o seu barco PT está fazendo água, melhor saltar para outro que já provou que resiste a qualquer onda: o PMDB, barco que tem a capacidade de navegar sempre na onda do poder.

O que o leva a agir assim? Estratégia política? Ou blindagem para quando deixar o governo e vieram pedir explicações mais detalhadas sobra a atuação do filho, sócio da Telemar? Ou suas constantes viagens ao redor do mundo? Ou a compra dos Rafale para equipar o exército? Ou as verbas nebulosas da Petrobrás para as ONGS e empresas devedoras para com a União? Ele talvez terá que se explicar muito e nada melhor do que se proteger protegendo hoje pessoas que poderão ajudá-lo a blindar-se. Não tenho respostas, só perguntas.

terça-feira, 21 de julho de 2009

CADÊ VOCÊ, SUPLICY?

Votei em você em todas as oportunidades que pude. Comecei em 90, depois em 98 e mais recentemente em 2006. Não só votei como, sem que você me pedisse, fiz campanha por você. Se encontrasse alguém indeciso quanto ao voto para senador, lá estava eu aconselhando a votar em você por considerá-lo combativo, independente e ético.
Acompanhei sua luta na CPI dos Anões. Lembro-me da suas argüições aos implicados e da viagem aos Estados Unidos para tentar achar uma mulher que poderia ser a esposa do cérebro da quadrilha dos anões. Acompanhei as suas intervenções na CPI do Narcotráfico e no Mensalão e admirei sua independência quanto ao partido que estava atolado até ao pescoço nas maracutaias do valérioduto. Lembro-me da sua investigação quase quixotesca em busca de evidências quanto à morte do Celso Daniel. Sempre o achei um determinado, especialmente no que se refere ao Bolsa Família, tema quase único nas suas conversas e falas no plenário.
Mas, confesso, estou desapontado com o seu sumiço nos recentes casos de corrupção no Senado. Até tenho a impressão que, ou você não é mais Senador, ou tirou férias. Não sou um investigador contumaz das suas atividades, mas não me lembro de uma única participação, fala, censura ou seja lá o que for diante dos recentes episódios. A única coisa que me lembro e que me causou espécie, foi a revelação da sua participação na farra das passagens aéreas, com explicação tímida e providência óbvia.
Fico a me perguntar se a sua concepção do Bolsa Família passa pelo nepotismo do emprego da família nas tetas do erário. Afinal é uma forma de Bolsa Família. Dinheiro público para parentes menos agraciados na vida, sem mandato parlamentar, que não merecem ficar vendo o iluminado eleito se lambusando e eles à deriva. Por que não vi, não li, nem soube, da sua posição quanto a isto?
Se você está no Senado desde 1990, como pôde passar todo este tempo sem nunca ouvir que algo de estranho acontecia nos subterrâneos do poder legislativo? Nunca ninguém lhe contou da casinha que o Agaciel tem? Nunca lhe passou pela cabeça que havia muito cacique para pouco índio nas diretorias do Senado? Nunca lhe passou pela cabeça perguntar como pode a Gráfica do Senado ter mais de mil funcionários e oitenta por cento deles na ociosidade?
Há algo de estranho neste seu silêncio, especialmente em quem já fui muito combativo e independente. Qual a sua posição diante do enquadramento do Lula, exigindo a sustentação do Senador do Amapá que mora em São Luís na presidência do Senado? Qual a tua posição quanto ao circo montado na composição do Conselho de Ética e especialmente na escolha do presidente?
Gostaria de ver você atuando como já fez. Mas, hoje por hoje, estou é decepcionado com você e meu voto você não recebe mais.
 
 

terça-feira, 14 de julho de 2009

CADÊ OS PROFETAS?

Não é de hoje que me preocupo com a dimensão profética da igreja. Não me refiro às profetadas, tão comum em centros que mais se parecem a adivinhações e chutes prognósticos, nem aos que se sentem porta-vozes de Deus para manipular a vida de incautos, mas à dimensão vetero-testamentária, de pessoas vocacionadas por Deus para diagnosticar o presente, para denunciar os pecados individuais, fossem eles cometidos por pessoas simples como pelos reis, e o pecado nacional (tão esquecido pelos púlpitos e animadores de auditório religioso). Falo do pro+phemi, do pro+phetai, dos Isaías, Jeremias, Amós, Habacuques modernos.
Lembro-me de um renomado pastor guatemalteco, diretor de seminário e aclamado como teólogo, em uma reunião de seminários dizia ser a Guatemala o país latino americano mais evangélico e evangelizado em todo o continente. Na hora das perguntas, lhe perguntei como explicava o fato de ser (era isto 1990) o país mais violento politicamente da América. Ele me disse que não estava ali para falar de política. Mas este homem, quando pastor de uma igreja que fica atrás do Palácio Nacional, permitiu que tropas do Exército se colocassem na torre da Igreja para vigiar e atirar nos manifestantes. E ele sabia que eu sabia disto, porque estive na sua igreja e constatei isto.
Mais recentemente fui visitar minha filha na China e fomos três vezes à Igreja que é permitido aos estrangeiros freqüentar. Ela me explicava que há relativa liberdade, que podem cantar, orar, convidar outros estrangeiros, podem pregar aos nacionais em suas casas e aos empregados, mas que não podem falar de política, nem falar “mal do governo”. A função profética está castrada.
Olho para a igreja brasileira e fico a procurar profetas no sentido bíblico e não os encontro. Conheci o Federico Pagura, argentino, metodista, mistura de profeta e poeta. Conheci Dom Pedro Casaldáliga. Li sobre o Helder Câmara e o respeitei e o respeito. E entre os evangélicos? Quem foi ou é profeta denunciando escândalos, os desmandos, a locupletação da coisa pública, as hienas do erário?
Que igreja é esta, a brasileira, muito mais conhecida pelos “louvores”, solicitação à exaustão de ofertas e dízimos, pelos escândalos de seus “pastores”, pela falta de ética generalizada em seus vereadores, deputados e senadores? Que igreja é esta que seus líderes mais gostam de holofotes, de palcos, multidões, loas, carrões, televisão, rádio que ter cara e coragem para denunciar os pecados nacionais? Onde estão os Jeremias, Amós, Habacuques, Isaías, Miquéias?
Esta é uma igreja manca, enferma. Falta-lhe coragem para o ministério que não dá holofotes, que mais leva às cavernas que aos palcos. Uma igreja que tem mais cantores e milagreiros que pastores e profetas. Uma igreja que tem mais animadores de auditório que doutrinadores, que tem mais excitação que adoração, mais embusteiros que mensageiros.

terça-feira, 7 de julho de 2009

OBRIGADO, DEUS, PELOS DOIDOS

Acabo de assistir à parte final da cerimônia de despedida de Michael Jackson. Chamou-me a atenção a insistência em a chamar de “celebração à vida”. Confesso que o estilo de música do Michael Jackson não faz meu estilo. Brinco dizendo que meu gosto musical parou nos Beatles e nem conseguiu chegar aos Rolling Stones. Não gosto de rock, pop ou o que veio depois disto.
Admirava a flexibilidade do corpo nas coreografias de suas danças e nunca entendi como ele podia fazer o “moon walk”. Nunca assisti a um videoclipe dele e sempre o considerei excêntrico, meio doido, meio varrido. Lá nos meus botões eu atribuía isto a uma necessidade de ficar em evidência na mídia e a traumas de infância, denunciados pelo Michael, tendo a seu pai como agressor. Sempre achei a família Jackson disfuncional e o Michael um doido.
Quando o acusaram de pedofilia, estava mais propenso a acreditar que a defender. Certa vez pensei que ele ainda havia escapado da acusação de ser viciado em drogas, e o que se sabe agora é que sim o era, mas em analgésicos. Hipocondríaco? Talvez. Neurótico? Talvez. Gênio? Com certeza.
Ao ouvir o testemunho da Brook Shields sobre as brincadeiras de criança que ambos tinham mesmo sendo adultos, das gargalhadas que davam, da alegria que sentiam ao estarem juntos, confesso que tive que repensar um monte de coisas.
Comecei a pensar na quantidade de coisas que hoje temos, de descobertas feitas por cientistas totalmente devotados às suas pesquisas, do médico que descobriu a bactéria estomacal e que ninguém nele cria até que ele mesmo se infectou com ela, do Einstein mostrando a língua, do Stephen Hawkins em sua cadeira de rodas pensando o universo e a noção de tempo, do Aleijadinho e sua obra, apesar da enfermidade. Muitos outros eu poderia citar.
Há algo em comum nesta gente toda: eram meio doidos, meio malucos. Se o mundo fosse depender dos “certinhos”, de gente que é igual a relógio suíço (todo dia fazendo a mesma coisa nas mesmas horas) o mundo não teria avançado como avançou. As descobertas, as invenções, as grandes esculturas, pinturas e arquiteturas nós as devemos às pessoas que ousaram quebrar paradigmas, que se devotaram de corpo e alma ao que se propuseram, que vararam noites e mais noites a perseguir seus ideais.
Outra característica de muitos deles é que eram pessoas sofridas, solitárias, incompreendidas, doentes. Talvez por isto tenham falado tanto à alma humana, esta também cheia de dores e desilusões. E não é por menos que os Salmos da Bíblia, poemas na sua grande maioria falam do sofrimento e perseguição, sejam tão lidos.
O mundo precisa dos doidos e sofridos para que haja mais alegria e melhor qualidade de vida. E Michael foi um deles que trouxe para muitos alegria e exemplo de determinação.


quarta-feira, 1 de julho de 2009

Tõ com dó dele

Ele não merece. Depois de tanto servir à pátria, depois de ser eleito por um Estado onde não vive, agora querem sangrá-lo em praça pública. Que culpa tem ele se, no melhor de sua avaliação, muito tempo atrás, nomeou o Agaciel para ser alguém e ele, só agora, se deu conta de que a criatura virou uma cobra a envenená-lo?

Que culpa tem ele se, no exercício de suas funções, o nomeado não publicou atos que deveriam sê-los no boletim oficial do Senado. Era o Sarney quem mandava publicar ou isso era função do nomeado? Que culpa tem ele se tem uma família das mais notáveis na vida pública brasileira, sendo ele o mais tradicional e longevo dos políticos brasileiros, tem uma filha que já foi e ainda é governadora do Estado do Maranhão (por decisão judicial, deve-se relembrar), foi senadora da República? Que culpa tem de ter um filho também político de primeira, eleito deputado federal? O que fazer se netos, sobrinhas e outros parentes, espelhando-se no exemplo do patriarca, quiseram servir à pátria via Senado e funções públicas? Que culpa tem ele se, por causa do seu peso político, um neto, sobrinho, cunhada ou seja lá o que for vai pedir um emprego a um senador qualquer e esse, em respeito ao patriarca, o emprega?

Que culpa tem ele que o motorista/mordomo, empregado há muito no Senado, faça coisas menores para atender coisas da família e para isso receba um salário nababesco? Que culpa pode ter uma pessoa que, imbuída dos mais altos valores cristãos da solidariedade e amor ao próximo, empresta um imóvel funcional a um ex-senador enfermo e autoriza uma viúva de um ex-empregado a morar em imóvel público?

Que culpa tem se nunca soube que seus netos eram empregados de senador, que os empregou porque devia favores ao avô? Que culpa tem se nunca deu ouvidos à rádio-corredor e nunca soube de “coisas” que aconteciam dentro da casa que administra? Que culpa tem se entendeu que seu mandato é para lidar com questões políticas e não para limpar as latas de lixo da cozinha, coisa que, a bem da verdade, não são para uma pessoa do seu naipe?

Que culpa tem se um neto que fez cursos em Harvard na área de economia, abre um negócio de gerenciamento de créditos consignados e consegue mediar tais negócios com funcionários da casa que o avô administra?

É muita “mídia marronzista” (que saudade do Odorico Paraguaçu). É trama insólita da oposição que não gosta do seu apoio ao presidente Lula. Se ele é culpado e deve renunciar, que renunciem também todos os outros senadores que nada sabiam tanto quanto ele, que também tiveram parentes empregados e viajaram de graça. Tadinho dele. Tô do teu lado Sarney...

Só peço um emprego de motorista/mordomo. Afinal, sou o único a defendê-lo nessas horas difíceis. Por favor, não se esqueça de mim, ainda que não seja parente...

terça-feira, 23 de junho de 2009

QUASE CHOREI

Nunca gostei do bigode do Maranhão. Desde os tempos de ditadura, ele na Arena, era um ser que me causava espécie. Junto com o falecido ACM, eu os classificava como coronéis, cabresteando votos por meios que não sabia explicitar, mas que, lá nas minhas entranhas eram convicções. Quando, por destino (castigo diria eu) ele foi guindado à Presidência e veio com o Plano Cruzado, botei minhas barbas de molho, esperando para ver como ficavam as coisas, mais por causa do Funaro que por alguma seriedade que ele me inspirasse.
Não preciso dizer que ele fraquejou na hora de ter pulso para tomar decisões que evitassem a tragédia que foram os últimos dias do seu governo, com inflação estratosférica. E não as tomou porque não sabe tomar e porque preferiu privilegiar a eleição dos candidatos do PMDB e não a nação.
Mais tarde, quando na presidência do Senado, minhas vísceras reclamavam feio cada vez que ele aparecia na TV. Fiquei insone quando a filha teve condições de sair candidata e se eleger. O episódio da Lunus e da dinheirama lá encontrada sempre ficou nebulosa para mim. O dono do Maranhão apressou-se em afirmar que foi armação, mas nunca explicou convincentemente a origem da grana.
Quando estive em São Luís constatei a profusão de ruas, prédios públicos, viadutos e quejandas com homenagens à família. Acreditei piamente nos que diziam ser o Maranhão a Sarneylândia. Nunca entendi como ele, notória e declaradamente originário e domiciliado no Maranhão, podia ser Senador pelo Amapá. Cada vez que pensava nisto, vinha-me à mente Orwell na “Revolução dos Bichos”: “todos somos iguais, mas alguns são mais iguais”. Perante a lei, somos todos iguais, os que não somos Senadores e donos do Maranhão e representantes do Amapá.
Agora, quando ele está às voltas com escândalos envolvendo familiares que estão mamando nas tetas do Senado, tive estômago para, desde a primeira à última palavra, prestar atenção devota ao seu discurso da semana passada e às afirmações feitas a posteriori. Confesso, quase fui às lágrimas. Este respeitável senhor está sendo injustiçado. Como é que o neto, a neta, a sobrinha e os outros parentes, que trabalhavam no mesmo local, nunca foram visitá-lo e informar que tinham sido premiados com a sorte grande de uma boquinha no Senado? Que família disfuncional esta! Como que o seu gerente geral, que ele nomeou, teve a infeliz imperícia de fazer todas as nomeações de parentes, sem publicar para que ele ficasse sabendo? E como poderia saber destas coisas feitas à sorrelfa se nem publicado foi? Como saber que lhe pagavam aluguel de uma moradia se ele não tinha que pagá-lo, pois mora em residência oficial? Como acusá-lo de ceder o apartamento funcional a um ex-senador enfermo e carente? Nem se pode mais fazer caridade?
Por favor, este senhor tem uma folha corrida bastante ampla de serviços. Há que respeitá-lo. Ele sabe lidar com a coisa pública. Só a imprensa elitista e golpista que não o entende nem o compreende!

Marcos Inhauser

terça-feira, 16 de junho de 2009

BOQUIRROTO

A sapiência humana já ensina há milênios que há mais sabedoria no silêncio que no muito falar. Os Provérbios bíblicos dizem que o falar é prata e o calar-se é ouro. Há ditado que diz que “quem muito fala, muito erra”.
Estes princípios me vieram à mente estes dias, e não pela primeira vez, por causa do nosso sindicalista-mór. Ele me dá a impressão que nunca desceu do caminhão de som do sindicato e que ainda não se deu conta de que não está na porta de indústria conclamando os companheiros.
Nesta semana o boquirroto veio a público dizer que a França iria indenizar as famílias dos acidentados no vôo. Imediatamente o governo francês emitiu nota negando e afirmando que o governo francês não tem nada a ver com isto (indenização) e que isto é coisa da empresa aérea.
Podia ter ficado quieto e não passaria por este vexame. O problema é que ele está fazendo escola. Semana antes, o ministro Jobim, sobre o mesmo assunto, disse o que não devia, afirmou o que não era verdade, e concluiu o que nem os mais renomados e reconhecidos peritos conseguiram.
A fala do guru-mór revela outra coisa, se não de forma consciente, mas por ato falho. Ao atribuir ao governo francês a responsabilidade que é da empresa aérea, ele revelou como vê a coisa pública e a separação dela com a privada. Não é de hoje que, no Brasil, a coisa pública é tomada como se privada fosse. Haja visto os recentes escândalos no Senado, Câmara, Petrobrás, etc... É o senador-presidente que tem neto e primas empregados no Senado por atos secretos e que “não sabia”, que empresta apartamento funcional em um gesto de caridade a um ex-senador doente, que recebe auxílio moradia sem ter pedido e sem ter notado que se lhe pagava tal benefício, é o outro que paga jatinho fretado com dinheiro nosso, que leva namorada para passear na Europa com passagens pagas com impostos, é o filho do homem que celebra contrato milionário com empresa telefônica para fazer não se sabe bem o quê, é o mensalão sustentado com verbas públicas segundo denúncia do Procurador Geral da República, e tantas outras coisas que vieram a público.
O cruzar da linha entre o público e o privado é a nossa história. E o partido de situação foi eleito pela bandeira que empunhou de moralidade no trato da coisa pública, mas o que se vê é o aparelhamento do estado e a transformação dele na república sindicalista. E o chefe falando o que não deve, falando mais do que deve e alegorizando como se a qualidade de um governo fosse proporcional à quantidade de metáforas produzidas. Lembrei do personagem do Jô Soares: “cala a boca, Batista”.

Marcos Inhauser

sexta-feira, 12 de junho de 2009

A QUESTÃO DA VIDA

Trago viva a lembrança vivida em minha infância. Minha avó materna e um tio viviam com a gente e em casa havia um fogão à lenha, centro da vida familiar. Certo dia apareceu a possibilidade de trocar o velho fogão por outro a gás. As conversas à mesa, na hora da janta (naquele se tempo ainda se jantava!) era acalorada com meu pai defendendo a novidade e os outros reticentes ou contrários. Lembro-me que um dos argumentos brandidos era que o café já não mais estaria à disposição sempre quente, pois não haveria fogo para mantê-lo aquecido.

Outro argumento era de que o feijão feito no fogão moderno não tinha o mesmo gosto do feito em fogão à lenha (até hoje ouço este argumento e não consigo entender, confesso, porque se é o calor que cozinha, qual a diferença ente os calores?).

Quando olho para trás, percebo que a questão não deveria ser se deviam ou não trocar, mas quando deveriam fazê-lo. Há mudanças que vem para ficar e não aceitá-las é ficar fora do mundo. Assim foi com a imprensa, quando muitos a acusaram de poder disseminar mentiras, imoralidades, etc. Foi assim com o cinema, a televisão, o telefone e o celular. Não é uma questão de saber se deviam ou não aceitar, mas quando deviam adotar as novidades.

A mesma questão vale para o computador e a internet. Muitos foram (e ainda são) críticos severos da modernidade, acusando tudo o que de mal está acontecendo com os filhos e casamentos. Mas parece que os críticos de então e de agora se esqueceram e se esquecem de olhar quanta coisa simplificou com as novidades. Minha avó não mais precisou rachar lenha, nós os netos não mais precisamos recolher a madeira, não mais havia panela pretejada para lavar. O café quente foi solucionado com a garrafa térmica que veio logo depois e não mais se tomou café requentado.

De igual maneira, os críticos da modernidade da internet se esquecem que ela é que possibilita uma série de comodidades. O banco online, os endereços à mão, a localização de amigos, o conversar com o mundo, o ter dados e informações na ponta dos dedos, são poucas das muitas coisas que mudou para melhor.

Toda mudança implica em riscos, em ajustes, em dores de parto até que a coisa venha à luz. Criticar a gravidez sem olhar o fruto por vir é burrice. Não há novidade, avanço, sem algumas dores.

Marcos Inhauser

quarta-feira, 3 de junho de 2009

COMPORTAMENTO RETRIBUTIVO

Há algo que tem caracterizado o comportamento humano ao longo dos séculos: a reciprocidade. Parece que é inato ao ser humano. Quando uma criança se machuca e chora, a outra que está próxima também começa a chorar, mesmo que nada lhe tenha acontecido.
Esta atitude também pode ser vista em certos comportamentos espontâneos que temos e que não conseguimos explicar: por que sorrimos em resposta ao sorriso de umdesconhecido? Por que temos a tendência de ficar alegres se estamos perto de alguém alegre, e triste em companhia de alguém triste?
Há quem diga que temos em nosso cérebro uma área dedicada ao “espelhamento”, que é esta capacidade de reagir em sintonia com os sentimentos dos outros. Lemos o estado de espírito da pessoa e nos amoldamos a ele, como forma de aceitação, mesmo porque, se chegamos alegre a alguém que teve uma perda significativa, não seremos bem aceitos e até criticados. Esta capacidade, ainda segundo estudiosos, se estende ao gestual e postural, pois, inconscientemente, assumimos posição corporal análoga à de nossa companhia, como forma de criar sintonia e empatia.
Há, no entanto, um tipo de comportamento que se dá na esfera consciente e que está em retribuir ou não a uma ação feita por alguém. É muito comum encontrarmos quem diga: “eu não o cumprimento porque ele nunca me cumprimentou”, “eu não o convido porque ele nunca me convidou”, “não falo com ele porque ele nunca falou comigo”, “só faço se ele tomar a iniciativa”.
Há três coisas neste comportamento que quero salientar. A primeira delas é a tentativa de colocar no outro a responsabilidade pela minha atitude. É um mecanismo de defesa iníquo, injusto, porque coloca além de mim a responsabilidade da iniciativa que vise à mudança. A segunda é que só faz perpetuar a situação. Se ambos usam da mesma argumentação, nunca se terá a mudança. Este comportamento é imaturo, ingênuo e infantil. A terceira é que a cadeia causa-efeito-que-se-torna-causa tem o condão de acentuar as diferenças e a rivalidade. É um cavar de poço, indo cada vez mais fundo.
Há nos ensinamentos de Jesus a máxima do “dar a outra face”, “do andar a segunda milha”, “do perdoar setenta vezes sete”, do pedir perdão a quem nos crucifica. É a lógica da graça, do agir sem que o outro mereça, do fazer o que não se espera que se faça, como forma de romper o círculo vicioso do comportamento retributivo.
A graça para com quem desgraça os relacionamentos é um gesto que, por mais engraçado que possa parecer, congraça os seres humanos, permitindo que a graça agracie a todos.

terça-feira, 26 de maio de 2009

COMIPÇÃO

Nos últimos meses tive a oportunidade de conversar com algumas pessoas que tem ou tiveram relações estreitas com os corredores do poder, tanto em nível federal, estadual, como municipal. Nas conversas, como é óbvio, não poderia deixar de tocar o tema da corrupção e os casos que vieram à tona, notadamente os relacionados ao Senado e a farra das passagens aéreas.

Nas considerações que ouvi, houve uma unanimidade: o que veio à tona é só a ponta do iceberg, só uma pequena ponta de tudo o que ocorre nos descaminhos do poder. Cheguei à conclusão de que se cobra comipção (neologismo formado de comissão e corrupção) até na compra de palito de dente.

Segundo estes, há muita coisa, como favores prestados a deputados e senadores que traficam influência, viciam licitações para que sejam vencidas por quem “financiou” suas campanhas, aceitam sobrepreços, pagamentos de pilares inexistentes em túneis e pontes, metragens descumpridas em estradas, capa asfáltica 50% menos espessa e largura de estradas mais estreitas do que está no contrato, o que dá ganhos exorbitantes às empreiteiras. Há os “pedágios” mensais em base a um porcentual sobre a arrecadação nos serviços “privatizados”.

Um deles me contou de uma farra financiada há mais de uma década por um empresário que levou de passeio a Mônaco mais de dez deputados e senadores e alugou um iate ao custo de US$ 120.000,00 dólares/dia.

O outro me perguntou se eu acreditava que a farra dos pedágios e o jardineiro fantasma eram os casos mais cabeludos da Câmara de Campinas. Ele me disse que a celeuma em cima da identificação dos carros usados pelo poder municipal é quase nada diante de outras coisas. Ele me pediu que prestasse mais atenção às mudanças nas leis de zoneamento, contratos sem licitação feitos em regime de urgência, custo do aluguel dos carros, a forma como certos “empregados” são pagos por agências de publicidade e locadores de veículos, como forma de camuflar gastos.

Na segunda-feira houve uma manifestação dos donos de postos de gasolina, vendendo o produto sem os impostos para que a população se conscientize do quanto há embutido no preço. Houve onde se vendeu o produto a R$ 1,27. Se remédio genérico paga 37% de imposto, se vacina para animal é isento, se escola paga mais tributo que lotérica, dá um mal estar danado. É um dinheiro que vai pelo ralo, falcatruas de ilustres “otoridades”.

Quando pergunto a estas pessoas se há esperança eles me afirmam que não vêem luz no final do túnel, que a cultura da comipção é arraigada no Brasil, que a população tem um comportamento bovino de passividade. De minha parte, não voto mais em ninguém que tenha mandato. É meu não à reeleição.