Há no Brasil a jabuticaba, que dizem só existir na terra brasilis, há os produtos
jabuticaba (aqueles que a gente só encontra nesta terra, como, por exemplo, as
novas tomadas elétricas), há as jabuticabas enxertadas, que são jabuticaba com
inspiração estrangeira.
O caso Cachoeira parece ser desta última geração. À medida
que os dados vêm à luz, percebe-se que a coisa é maior do que qualquer cidadão
brasileiro pudesse imaginar. Creio mesmo que até os que estiveram envolvidos
nas investigações se assustaram com os tentáculos desta hidra brasileira
(animal mitológico de muitas cabeças, que renasciam em maior número à medida
que se cortava uma delas). Desta hidra sabemos pouco, pois acredito que muito
mais há para ser revelado e descoberto.
O que até agora se sabe levanta a questão: é um caso de
corrupção ou um modelo mafioso que se instalou no governo de Goiás e de lá
lançou tentáculos a outras partes?
Note-se que define a máfia como organização criminosa que
tem suas atividades submetidas a uma direção oculta e que se infiltra na
sociedade civil e instituições, com o objetivo de ter e vender facilidades.
Dedicam-se às coisas ilícitas, seja no jogo, no tráfico, na corrupção, na venda
de armas, etc. Para tanto arregimentam funcionários públicos e policiais para
facilitar ou fazer vistas grossas às suas atividades. Sabe-se de políticos que
tiveram suas campanhas financiadas, que foram eleitos e trabalharam fazendo
lobby e defendendo os interesses dos financiadores.
A máfia não tinha escrúpulos em “ajuizar” os infiéis ou
inimigos. As execuções sumárias de delatores, apóstatas e inimigos se tornaram
prosaicas e renderam alguns filmes de boa bilheteria.
No caso tupiniquim, a coisa, ainda que pareça jabuticaba,
está com tempero mafioso. Policiais civis, militares e federais que recebiam um
mensalão para lubrificar os negócios ilegais dos caça-níqueis. Funcionários
públicos locupletados para direcionar licitações. Prefeitos, vereadores,
senadores e quiçá até governador que receberam financiamento para suas
campanhas e que trabalharam como lobistas do empresário boa pinta, que, na
fachada, era dono de uma empresa farmacêutica.
Acrescente-se a isto o laranjal que era utilizado para fazer
os pagamentos espúrios, a compra sub ou superfaturada de uma mansão até agora
não esclarecida devidamente, os quinze milhões de pagamento para que o
ex-ministro da Justiça seja o advogado defensor, a chantagem feita em cadeia
nacional de televisão dizendo que o marido não é bandido e que vai contar o que
sabe, fazem desta Cachoeira algo, que para mim, está mais para a máfia que
qualquer outro escândalo.
Não bastasse o enredo descrito, tem-se a morte do policial
Tapajós, que participou nas investigações,
o delegado Hylo Marques está sumido (que era informante do grupo mafioso) e um escrivão que trabalhou nas
investigações foi encontrado morto em casa. Era Fernando Sturi Lima, 34 anos,
teria se “suicidado” com um tiro na cabeça.
Ainda
vai rolar água desta Cachoeira!
Marcos Inhauser