Talvez você viva isto ou conhece alguém que o experimente: morar em um condomínio e não conhecer o vizinho. No máximo há um cumprimento formal de “bom dia” ou “boa noite”.
Aristóteles, em sua obra Política fez a declaração que se tornou célebre e paradigmática: somo seres políticos. Ele fez tal afirmação a partir da constatação de que a cidade é uma comunidade, formada com vistas ao bem-comum, onde as ações dos habitantes visam um bem. Portanto, todos participam da vida da polis (cidade) e a atuação deles na comunidade é política. Logo, esta atuação se dá no contexto social e comunitário, nunca na atuação isolada e solitária. Viver em sociedade exige interação e integração com os demais.
Isto era verdade nas sociedades rurais, onde o sistema cooperativo era fundamental para que se alcançassem os objetivos do grupo: boas colheitas ou cuidado excelente do rebanho. Adicione-se a isto a diminuta rede de contatos que a vida rural permitia. Os encontros nas festas ou aos domingos nos eventos religiosos eram a única forma de expandir os contatos, o que era valorizado.
Com a gradativa transferência para o ambiente urbano, os contatos extrafamiliares foram se intensificando e, inversamente, a qualidade deles foi sendo comprometida. Cada vez se conhece mais gente com as quais se têm um relacionamento formal. Trabalha-se em empresas e corporações, em um ambiente competitivo, onde cada qual precisa mostrar suas habilidades e talentos e onde o colega pode ser uma ameaça ao desenvolvimento ou crescimento profissionais. São as “amizades profissionais”. Evidência disto é o surgimento dos networks, redes de relacionamentos profissionais onde, na medida do possível e conveniência, há algum tipo de ajuda comunitária.
Os meios de comunicação tiveram sua contribuição. A mesma notícia é vista por milhões, a mesma piada ouvida por toda a rede de relacionamentos, os mesmos programas são assistidos por expressiva maioria dos conhecidos. Esta massificação torna as conversas problemáticas porque é difícil trazer algo novo ou diferente. No mais das vezes, as conversas acrescentam algo para alguém que não teve a oportunidade de ver o que as mídias trouxeram. Com a recente customização da programação, onde cada qual pode ver o que lhe interessa na hora em que está disponível, sem a necessidade de estar à frente do televisor no horário predeterminado pela emissora, se produz a massificação pela audiência do que interessa.
Este processo de tornar-se um entre milhões gerou, no meu entender, alguns comportamentos típicos da geração solidão. O primeiro deles é a necessidade de postar selfies todos os dias, forma um tanto patológica de pedir que as pessoas olhem para a pessoa. Isto me faz lembrar da Elaine, quando criança, que pedia: “tio, olha prá mim!” A cada post uma ansiedade para saber quantos likes teve.
Outro comportamento é a onda das tatuagens. Acho que isto é uma forma de busca de identidade pelo diferencial que os desenhos ou símbolos afixados ao corpo pode dar. É uma forma de dizer: olha como sou diferente! Quanto mais tatuagem, mais garantia de chamar a atenção e ser notado.
As competências da vida em sociedade, do relacionamento, do olhar no olho, das leituras facial e corporal estão caindo em desuso. O que vale são os ícones, carinhas das mais variadas formas que até dicionário já exigem para saber o que querem dizer. Não mais se precisa ter palavras: basta uma coleção de carinhas (emojis)!
Salvo engano de alguém que se coloca pessimista, estamos regredindo para os tempos da caverna quando, por falta de vocabulário, se sentavam à volta da fogueira para contemplar as labaredas.
Marcos Inhauser
Professor, pastor, teólogo e educador corporativo Textos escritos para a coluna semanal no Correio Popular, da cidade de Campinas e texto escritos depois de 2021, que tratam de temas nacionais, internacionais, sobre igreja e teologia
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Há outros artigos e livros de Marcos e Suely Inhauser à sua disposição no site www.pastoralia.com.br . Vá até lá e confira
quarta-feira, 14 de novembro de 2018
quarta-feira, 7 de novembro de 2018
CAPITAL RELACIONAL
Há certo modismo em falar sobre o futuro das profissões,
apontando para as que mais não existirão em pouco tempo. Entre elas são citadas
todas as que fazem trabalho repetitivo: cartórarios, advogados, bancários,
operadores de máquinas, etc.
Nesta esteira há estudos que apontam as habilidades
profissionais que serão valorizadas: controle emocional, capacidade relacional
e habilidade comunicacional. Privilegiar-se-á a capacidade de trabalhar em
equipe multidisciplinar, com características inclusivas, onde o diálogo entre
as diferenças e a busca do consenso será o objetivo.
A tomar-se estes dois elementos como norteadores (desaparecimento
de profissões e ênfase em habilidades antes não tanto valorizadas), preocupa-me
o futuro de muita gente, especialmente das gerações dos caras-pintadas,
globalizados e colaborativos (tomo por empréstimo terminologia do Volney
Faustini). Para eles, o tipo de relacionamento preferencial é o das redes
sociais, onde o contato face-a-face é trocado pelo virtual, o diálogo é
substituído pela discussão, o consenso pelo acirramento das posições pessoais.
É um tempo em que as pessoas se medem pelos likes que recebe, onde o chamar a
atenção, gerar comentários e ter seguidores é mais importante que ser ético. Um
mundo onde o vocabulário é exíguo, as frases são clichês, a profundidade dos
conceitos tem a profundidade de uma capa asfáltica feita por construtora da
lava-jato.
A informação é feita pelos titulares das notícias e não pela
leitura do conteúdo. O jornalismo sério é trocado pelas “notícias do Face, Instagram
e Twiter”, a verdade é o que pensa e acredita. Os jornalismos opinativo e
investigativo, as matérias de fundo, com substância e conceituais são
desvalorizadas e ridicularizadas. Os conceitos cabem nos memes com frases
feitas e de conteúdo questionável. Só leem o que cabe nos 140 caracteres do
Twiter. Mais que isto dá nó nos neurônios! Quando veem alguém lendo um livro de
300 páginas, assustados, perguntam se vai ler tudo! Para prender a atenção deles
por mais de 10 minutos o orador tem que usar palavras de baixo calão.
Porque não leem, não desenvolvem o vocabulário, não conhecem
conceitos, não sabem se expressar, a fala deles é um interminável repetir de
“tipo assim”, “veja bem”, “na verdade”, “mano”, ”realmente”, e quejandas. Não é
para menos que, no recente exame do Enem, a redação tenha sido o bicho-papão.
Ela exige mais que 140 caracteres!
Palavras menos comuns como consonância, sincronia, distonia,
entropia, beneplácito são grego para eles (cito exemplos de coisas que já
experienciei). Porque o vocabulário é curto, não conseguem acompanhar o
raciocínio mais elaborado. Na terceira frase mais elaborada já se perderam e
não há GPS para achar o caminho da rota a ser seguida. Eles não têm cabine
pressurizada: se levantar o voo, têm dor de cabeça e falta de ar. A função da
comunicação oral passou a ser digital: é melhor escrever que falar! Ao escrever
não demonstram conhecimento de pontuação e escrevem à maneira antiga: scripto continua.
Para estas gerações, quem concorda é amigo. Quem discorda,
ainda que seja de uma vírgula, é inimigo. Cria-se a atmosfera de beligerância.
Equipe é o grupo de trabalho de gente que concorda com o que pensa. Qualquer
dissonância é disruptiva e a equipe vai para o brejo. Mais vale o que pensa e
crê que o que se pode fazer em conjunto. A equipe passa a ser “eu mais eu”.
Isto redunda no muito falar e no pouco produzir. Talvez isto explique a alta
rotatividade destas gerações em seus trabalhos, com níveis de permanência média
de dois anos.
Parece que quem quiser se dá bem no futuro terá que se
desconectar das redes e se conectar nas bibliotecas; terá que consultar
dicionários mais que Instagram; terá que aumentar o vocabulário e praticar o
diálogo; terá que perceber e concluir que há gente que pensa diferente e que é
tão ou mais capacitada; terá que trocar o virtual pelo real; terá que aumentar
o seu capital relacional. Mais vale 10 amigos reais que milhares virtuais!
Marcos Inhauser
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relacionamento
quarta-feira, 31 de outubro de 2018
HÁ QUE SE TEMER O MESSIANISMO
Existiram vários
movimentos messiânicos no
Brasil, do norte ao sul do país. “O Reino Encantado”, (1836-1838, em Pernambuco), “Povo do Velho Pedro” (década de 1940, no interior da Bahia), “Guerra Santa do
Contestado” (1912-1916,
Santa Catarina); “Canudos” (1893-1897, Bahia); “Beato do Caldeirão” (sucessor do Padre
Cícero), para citar alguns.
Estudiosos
afirmam que os líderes messiânicos nascem em meio a uma desorganização social, especialmente
demonstrada pela insatisfação com a situação reinante, onde se apresentam como
salvadores pela instalação de um novo modelo social, político e econômico. A
vinculação do novo ideário ao simbolismo religioso e sacro ajuda na formulação
do agente messiânico, quase sempre com a promessa de melhores dias e a afirmativa
de voltar a tempos mais “puros e perfeitos” vividos em algum tempo no passado.
É a mítica dos velhos tempos.
Neste
sentido, o messianismo de Jesus dever ser entendido em uma categoria separada,
uma vez que sua aparição e pregação não se deveram a um retorno ao passado, mas
à instauração de algo novo, uma nova aliança. Reza Aslam, no seu livro Zelotes,
traz estas indicações.
Outro elemento distintivo do messianismo jesuânico dos
outros que surgiram é que, no mais das vezes, os messias utilizaram o uso de armas,
da violência e da revolução como forma de alcançar os fins que propunham. Daí
porque, a violência pregada ou disseminada pelos messias se afasta do modelo jesuânico,
que pregou a paz, a pacificação e o amor ao próximo.
No período
em que viajei pela América Latina pelo Conselho Latino Americano de Igrejas, me
deparei com alguns autoproclamados ou denominados messias. Lembro-me de haver
escrito sobre o messianismo de Augusto Pinochet, tomando por base dados do
sociólogo chileno, Humberto Lagos. Pinochet cria que Deus o havia chamado para a
missão de salvar o povo do comunismo. Também acompanhei de perto a ascensão do
Ríos Mont na Guatemala, o presidente que se achava ungido de Deus e que tinha
um programa em cadeia nacional de televisão, quando orava pela nação e, ao
mesmo tempo, as tropas aniquilavam indígenas ao norte do país. Houve certos
traços de messianidade no Lula presidente e no Temer, quem acreditou que sua
ascensão se deveu à vontade de Deus para resgatar a nação do caos econômico.
Messianismo pode se ver no venezuelano Maduro, em alguns comandantes
sandinistas (em especial Ortega). Ainda que sem forte apelo religioso, o mesmo
se pode dizer de Che Guevara.
Na
perspectiva religiosa,
os messias (exceção feita a
Jesus) se caracterizam por soluções simplistas, teologia superficial e rasa,
afirmações genéricas de cunho religioso, a identificação com o grupo pela
participação em um rito e, no caso dos messianismos cristãos, pela interpretação
fundamentalista e literalista das Escrituras, quase sempre expressas na frase: “obediência
à Palavra de Deus”. Mostram com isto que a tomam como manual de conduta, onde a
hermenêutica se ajusta à conveniência. No dizer de Vinhas de Queiroz, estudioso dos messianismos e
especialmente do Condestado, a fundamentação religiosa, expressa uma
“falsa consciência da realidade, alienada, autista e mórbida”.
Colocou-me
na defensiva as duas primeiras aparições do presidente eleito. Na alocução
feita aos seguidores, via rede social, afirmou que seu governo se pautará pela “caixa
de ferramenta para consertar o homem e a mulher que é a Bíblia Sagrada” e “seguindo
ensinamentos de Deus”. A segunda aparição, que me causou constrangimento e
desconforto, foi a sessão pública de oração do Magno Malta, quem, sabe-se lá
baseado em quê, afirmou que o presidente era o “ungido de Deus”!
Estão aí os
elementos básicos para que o messianismo prospere. Só espero que ele não
acredite no Messias do seu nome!
Marcos
Inhauser
quarta-feira, 24 de outubro de 2018
CRIME, CASTIGO E INJUSTIÇAS
Percebo que
há interrogações na cabeça de muita gente, inclusive na minha. Elas dizem
respeito ao judiciário e aos processos tramitados e julgados. A primeira e mais
comum é: a justiça precisa ser tão lenta para ser justa, ou a lentidão pode se
transformar em injustiça? Parece que há certo consenso de que a justiça célere
corre o risco de julgar mal. Os processos sumários estão aí para provar a
porcentagem de erros que foram cometidos quando não se deu devido tempo de
“decantação”. Processos acelerados tem cheiro de injustiça ou de impunidade. Se
há certa sabedoria em trâmites mais pausados, o mesmo não se pode dizer dos que
demoram décadas para serem concluídos. Há inúmeros casos que exemplificam que a
demora na proclamação da sentença gera injustiças, com gente que faleceu sem
nunca ter se beneficiado da causa pleiteada e finalmente ganha. Há outros, criminosos
notórios que se beneficiaram da prescrição da pena, muitas vezes pelo uso das
chicanas protelatórias. Crimes cometidos que tiveram a borracha do apagão, por
causa da demora na proclamação da sentença. Isto é injustiça.
Outra área
que percebo inquietação e perguntas é referente à conceituação da gravidade do
crime. Uma pessoa pega em flagrante roubando um frango em um supermercado é
preso. Um deputado ou secretário de governo, seja municipal, estadual ou
federal, que desviou milhões da merenda escolar, por não ser pego em flagrante,
responde em liberdade. Não seria a gravidade do crime proporcional ao número de
pessoas prejudicadas com os desvios ou crimes cometidos? Um ladrão de galinha
ofende o proprietário dela. Um corrupto que desvia verbas da saúde, educação ou
dos fundos de previdência deveria ter seu crime amplificado na proporção das
pessoas prejudicadas pelos seus atos. Se um assassino da namorada é julgado por
feminicídio, por que o que rouba da saúde, condenando inúmeras pessoas à morte
por falta de recursos no sistema de saúde, não tem sua pena classificada como
genocídio? O primeiro matou uma pessoa. A segunda matou dezenas, talvez
centenas ou milhares.
Causa
inquietação também a facilidade com que, notórias personalidades públicas,
acusadas de desvio, corrupção, peculato, seja lá o que for, tem seus processos
sumariamente encerrados por “falta de provas”. Neste quesito entram os Habeas
Corpus concedidos a granel, mesmo para gente notoriamente corrupta, criminosa, lavadores
de dinheiro, ao ponto de um ministro dizer, ironicamente, que há gabinete no
STF que dá senha para atender aos pedidos.
É justa a
progressão da pena para todos os tipos de crimes? Um pedófilo contumaz deve ter
o mesmo benefício de alguém preso por não pagar a pensão do filho por estar
desempregado? Uma pessoa esclarecida e ciente da gravidade do crime que comete
deveria ter a mesma regalia de alguém que cumpre pena por crime menor?
Se roubou,
desviou recursos públicos, fraudou a previdência de funcionários crédulos
quanto à idoneidade dos gestores, não se deve tirar deles até o último centavo?
Como pode um sujeito que tinha mais de dez milhões de dólares na Suiça, fazer
delação premiada, ser solto e ficar gozando na casa de praia as benesses que o
dinheiro desviado propicia? É pena ter prisão domiciliar em casa comprada e
sustentada com dinheiro do crime? É castigo poder sair o dia todo e só ter que
voltar para casa às 22:00 horas? É castigo ter que usar uma tornozeleira que
pode ser camuflada?
Tenho para
comigo que a justiça brasileira nem sempre é cega e imparcial. Acho mesmo que
muitos juízes e ministros julgam atentando para a capa dos autos, onde aparece
o nome do réu. Muitas vezes fico com a impressão de que, no Brasil, o crime
compensa.
Marcos Inhauser
quarta-feira, 17 de outubro de 2018
INTOLERÂNCIA
Segue mais um texto da minha amiga Maria Ruckert: “Os israelitas tiveram
a experiência do Êxodo, receberam os Dez Mandamentos, e estavam atravessando o
deserto, rumo à Terra Prometida. O povo então se rebelou contra a liderança de
Moisés, lembrando a comida que tinham no Egito, pois estavam saturados de comer
somente o maná. Moisés se queixou diante de Deus, alegando que essa liderança era
demasiadamente pesada.
Deus ordenou que Moisés separasse setenta homens dos anciãos do povo,
posicionando-os ao redor da Tenda. Deus tirou do Espírito que estava sobre
Moisés e o pôs sobre os setenta anciãos, os quais profetizaram.
No arraial permaneceram Eldade e Medade. Eles estavam entre os
inscritos, mas não saíram à Tenda. No entanto, o Espírito pousou também sobre
os dois e eles profetizaram. Um jovem correu e comunicou a Moisés que Eldade e
Medade estavam profetizando no arraial. Josué, ajudante de Moisés e o seu
futuro sucessor, disse: “Moisés, meu senhor, proíbe-os”. Moisés lhe respondeu:
“Tens tu ciúmes por mim? Tomara todo o povo do Senhor fosse profeta, que o
Senhor desse a todos o seu Espírito” (Nm 11).
A rebelião do povo é uma contestação à liderança de Moisés, mas também
significa uma afronta a Deus, pois o Senhor deu os Mandamentos, apresentando-se
como aquele que tirou os israelitas do Egito. Des queria ser reconhecido como o
Libertador do povo. Com sua revolta e com saudade da comida do Egito, o povo
não estava confiando nas promessas de Deus. Eles estavam se rebelando contra o
intermediário Moisés e rompendo a aliança com o Senhor. Moisés ora a Deus e
intercede pelo povo. É uma queixa audaz, pois ele não havia ambicionado esse
cargo. Deus responde: codornizes para o povo e colaboradores para Moisés. Para
liderar o povo, Moisés havia recebido o Espírito.
Dessa plenitude do Espírito, Deus retira uma parte proporcional à
responsabilidade dos colaboradores de Moisés. Os setenta anciãos também passam
a ter a responsabilidade de levar a carga do povo. Ao receberem o Espírito, os
anciãos passam a profetizar. O Espírito também pousou sobre Eldade e Medade,
que não estavam presentes na cerimônia. Esse detalhe mostra que o Espírito é
livre e não pode ser controlado por regras cerimoniais. Josué sente ciúmes. No
seu entender, Moisés precisa impor sua autoridade, ou seja, proibir a
manifestação dos dois que não participaram na cerimônia. Ele entende que a
atuação do Espírito deve permanecer restrita ao grupo que foi convocado por
Moisés. O Espírito deve estar sob o controle da consagração de Moisés.
A declaração de Josué é uma clara manifestação de intolerância. Moisés
responde com tolerância, manifestando o desejo de que todo o povo profetizasse.
A única maneira de enfrentar a intolerância é com a tolerância. A intolerância
não deve ser combatida com outra intolerância.
Outro episódio de intolerância foi protagonizado pelos discípulos de
Jesus. Disse-lhe João: “Mestre, vimos alguém que não nos segue, expulsando
demônios em teu nome, e o proibimos porque não nos seguia”. Jesus, porém,
disse: “Não o proibais, pois não há ninguém que faça milagre em meu nome e logo
depois possa falar mal de mim. Porque quem não é contra nós é por nós” (Mc 9:38-40).
Atuar em nome de Jesus não é monopólio dos que estão geograficamente próximos a
ele. Com sua proibição, os discípulos representam a autarquia eclesiástica que
pretende deter o monopólio da salvação. Eles falam como representantes de uma
igreja estabelecida, que se considera o coroamento da missão.
O olhar de Jesus vai mais longe: ele visa o Reino de Deus. Quando uma
igreja se considera um fim em si, ela se torna intolerante em relação às demais
entidades. Despontam então comportamentos de exclusão; os diferentes são
excluídos. Anunciando e realizando a proximidade do Reinado de Deus, Jesus
ensina a tolerância. A partir da tolerância de Jesus, nós podemos compreender o
que significa: “Sede misericordiosos como o vosso Pai celeste é
misericordioso”. O importante não é o monopólio e o controle da administração
da religiosidade humana, mas entender que o sábado (o valor sagrado) está em
função do ser humano. O que importa é a libertação da pessoa. Que o exorcista
continue libertando pessoas em nome de Jesus.”
Maria Ruckert, editado por Marcos Inhauser
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quarta-feira, 10 de outubro de 2018
REMANESCENTE FIEL
Quem me lê nesta coluna que escrevo há mais de 17 anos, já leu esta minha afirmação, feita mais de uma vez: “o senso comum é a expressão da idiotice, porque é a somatória das afirmações feitas pelos que não pensam, mas repetem o que ouviram sem refletir no que ouviram ou repetem”. Também já devem ter lido que tenho minhas dificuldades com acreditar naquilo que a maioria acredita, pois, aprendi muito cedo na minha vida, graças à professora Margot Proença, que devo sempre perguntar sobre tudo o que ouço. Acredito no efeito manada, que faz com que alguns touros saiam correndo e a manada toda, sem saber porque, também corre. É o processo de indução comportamental em grandes aglomerações, onde, sem razões, todos se apavoram e passam a ter comportamentos até autodestrutivos.
Decorre disto a minha dificuldade em ver filmes premiados com o Oscar, ler best-sellers, duvidar de pesquisas que dão uma grande margem de diferença entre o primeiro e o segundo e, em segunda opção, duvidar do que está melhor colocado nas pesquisas. A lição da Margot está sempre na minha mente: questione tudo! E é isto que procuro fazer.
Levando para o campo da teologia e da eclesiologia, tenho minhas dificuldades com as estrelas midiáticas do mundo gospel, com os aplaudidos e idolatrados cantores, com pregadores incensados, com igrejas monumentais onde a maior virtude é ser grande. Conheço muitas delas em alguns países da América e Ásia e constatei in loco a minha suspeita. Minha definição para igreja é: “qualquer comunidade que tenha alguém que os demais não sabem o nome e nem quem é, deixou de ser igreja”. Não acredito que uma reunião de 1.000 ou mais seja igreja. Pode ser plateia. O essencial do ser igreja é a comunhão e isto implica em “comum+união” e não é igreja onde as pessoas entram e saem e não conhecem e nem são conhecidas. Para mim, a promessa de Jesus de Ele estaria onde estivessem dois ou três é altamente significativa.
O conceito de remanescente fiel, presente no AT e o Apocalipse tem sido descartado porque atenta para a onda do tamanho, do gigantismo, do efeito manada onde todos correm e aplaudem as estrelas. Em várias ocasiões este conceito está presente. Veja-se o cântico de Débora (Jz 5), a família de Noé (Gn 5 em diante), Elias e os profetas de Baal (IRs 18 ss), o profeta Micaías que, chamado por Acabe, disse oi contrário de todos os outros profetas (IICr 18, ss), Jeremias quem foi o único e predizer a desgraça e orientou no sentido de se entregar. Saliente-se que Deus sempre manteve para si um remanescente fiel, formado por aqueles que não dobraram seus joelhos diante de Baal (1 Reis 19.18). Esse remanescente incluía Davi, Joás, Isaías e Daniel, Sara, Débora e Ana.
Tome-se esta promessa feita através do profeta Miqueias: “E da que coxeava farei um resto (remanescente) ... (Mq 4:7. Deve-se também considerar a explicação para a escolha de Israel: “Se Iahweh se afeiçoou a vós e vos escolheu, não é por serdes o mais numeroso de todos os povos – pelo contrário: sois o menor dentre os povos! – e sim por amor a vós e para manter a promessa que ele jurou aos vossos pais.” (Dt 7,7-8)
O compromisso de Deus é com o pequeno, o órfão, a viúva, o estrangeiro, o menor, o marginalizado, explorado, escravizado, violentado, abusado, etc. Prefiro estar deste lado da história que formando as grandes massas que apoiam e aplaudem sem critério.
Marcos Inhauser
Decorre disto a minha dificuldade em ver filmes premiados com o Oscar, ler best-sellers, duvidar de pesquisas que dão uma grande margem de diferença entre o primeiro e o segundo e, em segunda opção, duvidar do que está melhor colocado nas pesquisas. A lição da Margot está sempre na minha mente: questione tudo! E é isto que procuro fazer.
Levando para o campo da teologia e da eclesiologia, tenho minhas dificuldades com as estrelas midiáticas do mundo gospel, com os aplaudidos e idolatrados cantores, com pregadores incensados, com igrejas monumentais onde a maior virtude é ser grande. Conheço muitas delas em alguns países da América e Ásia e constatei in loco a minha suspeita. Minha definição para igreja é: “qualquer comunidade que tenha alguém que os demais não sabem o nome e nem quem é, deixou de ser igreja”. Não acredito que uma reunião de 1.000 ou mais seja igreja. Pode ser plateia. O essencial do ser igreja é a comunhão e isto implica em “comum+união” e não é igreja onde as pessoas entram e saem e não conhecem e nem são conhecidas. Para mim, a promessa de Jesus de Ele estaria onde estivessem dois ou três é altamente significativa.
O conceito de remanescente fiel, presente no AT e o Apocalipse tem sido descartado porque atenta para a onda do tamanho, do gigantismo, do efeito manada onde todos correm e aplaudem as estrelas. Em várias ocasiões este conceito está presente. Veja-se o cântico de Débora (Jz 5), a família de Noé (Gn 5 em diante), Elias e os profetas de Baal (IRs 18 ss), o profeta Micaías que, chamado por Acabe, disse oi contrário de todos os outros profetas (IICr 18, ss), Jeremias quem foi o único e predizer a desgraça e orientou no sentido de se entregar. Saliente-se que Deus sempre manteve para si um remanescente fiel, formado por aqueles que não dobraram seus joelhos diante de Baal (1 Reis 19.18). Esse remanescente incluía Davi, Joás, Isaías e Daniel, Sara, Débora e Ana.
Tome-se esta promessa feita através do profeta Miqueias: “E da que coxeava farei um resto (remanescente) ... (Mq 4:7. Deve-se também considerar a explicação para a escolha de Israel: “Se Iahweh se afeiçoou a vós e vos escolheu, não é por serdes o mais numeroso de todos os povos – pelo contrário: sois o menor dentre os povos! – e sim por amor a vós e para manter a promessa que ele jurou aos vossos pais.” (Dt 7,7-8)
O compromisso de Deus é com o pequeno, o órfão, a viúva, o estrangeiro, o menor, o marginalizado, explorado, escravizado, violentado, abusado, etc. Prefiro estar deste lado da história que formando as grandes massas que apoiam e aplaudem sem critério.
Marcos Inhauser
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quarta-feira, 3 de outubro de 2018
A SABEDORIA DA TEMPERANÇA
Já se disse que a sabedoria está no meio termo. Acho a
afirmação questionável porque as mudanças e o desenvolvimento, no mais das
vezes, exigem radicalidade, que implica em apegar-se a algo com unhas e dentes,
até que a coisa se concretize. Não fosse a radicalidade de Sócrates, Copérnico,
Thomas Edson, Einstein, Martin Luther King, Mandela, Steve Jobs e muitos
outros, não teríamos hoje os benefícios que a radicalidade deles trouxe à luz.
É verdade que a ela pode, em muitos casos, ser também chamada de obstinação que
é o foco em uma só coisa, deixando de lado a visão de coisas conexas ou
laterais.
Uma característica dos radicais mencionados, e outros, é que
a radicalidade/obstinação deles teve benefícios sociais por adesão. Suas
ideias, conquistas e invenções foram aceitas de forma espontâneas pelos que
assim quiseram. No caso específico do Mandela, a sua radicalidade contra o
apartheid o levou à prisão por quase três décadas. Como fruto disto houve a
abolição do sistema que separava negros e brancos e a eleição do próprio
Mandela. No cargo de presidente, a sua radicalidade foi substituída por um espírito
pacificador e conciliador, vividamente apresentados no filme “Invictus” que
trata da sua história.
A radicalidade dos governos Bush (pai e filho) deram lugar a
governos mais conciliadores como foram os dois mandatos de Clinton e de Obama.
A radicalidade estapafúrdia e inconsequente do Trump tem mostrado o perigo de alguém
que, imbuído de um cargo democrático, deixa de buscar o consenso e a
conciliação e parte para a radicalidade. O mesmo pode ser dito do ditador norte
coreano Kin Jong Un, do ditador venezuelano Maduro, do protoditador
nicaraguense Daniel Ortega, do facínora Bashar Al Assad. Se olharmos para o
passado, muitos exemplos podem ser dados de radicais investidos de poder que
foram tragédia, a começar por Hitler, Mao Tse Tung, Vargas, Idi Amin Dada, Papa
Doc, Médici, Geisel, etc.
Na Bíblia a temperança é um dom do Espírito Santo. Há várias
recomendações para o seu cultivo. Na orientação de Paulo, deve-se examinar de
tudo e reter o que é bom, quem pensa que está em pé deve tomar cuidado para que
não caia. Por outro lado, parece que há uma certa radicalidade em Jesus quando
ele diz que a nossa palavra deve ser sim, sim e não, não, o que passar disto é
de procedência maligna. Talvez por isto é que Paulo pede a Timóteo que, na
escolha dos líderes da igreja, atente para fatos relacionados ao seu passado, à
sua forma de viver e se posicionar na sociedade, a forma como se relaciona com
a família. Escolher um líder com autocontrole é tarefa que exige olhar para os
fatos anteriores. Ao fazer esta incursão na biografia do indivíduo perceber-se-á
se ele tem a temperança como atributo reconhecido.
O falastrão, o agressivo, o violento, o egoísta, o
narcísico, não têm autodomínio. A temperança é zero e, por isto, não devem ser
guinados a postos onde o espírito conciliador, pacificador, de busca do
consenso devem ser a tônica.
Nestes dias meus netos, por vez primeira, quiseram fazer
caranguejo para que eu experimentasse. Foi um baita trabalho. Mas eles erraram
no tempero: muito temperado com um tal de cajun. “Incomível” para o meu gosto. Depois
do segundo pedaço não aguentava mais. Eles mesmos reconheceram isto. O excesso
do tempero foi radical. Estragou o resultado.
Neste momento de escolha de líderes para a nação, nos mais
variados níveis, a busca de pessoas com a sabedoria da temperança, com espírito
pacificador e consensualista deve ser a tônica dos que se pautam pelo
evangelho.
Marcos Inhauser
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radicais,
radicalidade
quarta-feira, 26 de setembro de 2018
UM ATO DE CONSTRUÇÃO COLETIVA
Dos mais variados espectros teológicos (presbiterianos de
vários matizes, batistas de várias denominações, pentecostais, anabatistas e
episcopais), de diversas correntes políticas (esquerda, centro esquerda, centro,
centro direita e alguns que são rotulados como de direita), incluindo
democratas, republicanos, monarquista, semianárquico, se reuniram, muitos sem
mesmo se conhecer, para juntos pensar a realidade brasileira e produzir algo
que refletisse o evangelho e os valores do Reino Deus.
Depois de mais de três mil mensagens trocadas, muita
reflexão, contribuições as mais diversas, foi-se afunilando a redação e se
chegou à Carta Pastoral à Nação Brasileira (disponível no https://peticaopublica.com.br/pview.aspx?pi=cartapastoral2018).
Houve uma preocupação com a biblicidade das afirmativas, que não fosse
academicamente teológica, mas acessível ao povo, de caráter essencialmente
pastoral.
Lançada com uma centena de assinaturas e aberta para que,
quem quisesse, também a assinasse, para surpresa dos redatores, em pouco tempo
o número dos subscritores, entre os quais me incluo, cresceu exponencialmente.
Creio que, por vez primeira no Brasil, se produziu algo a
partir da contribuição e colaboração coletiva. A Carta é um trabalho de muitas
mãos e nenhum dono, nenhuma face, mas pretende ser as muitas faces de todos as
que a subscreveram.
Seria ingenuidade da parte dos que a escreveram pensar que
não haveria reação. Uma delas veio de quem se pretende e se arvora como
porta-voz das igrejas evangélicas. Com suas malafalas, por não ter como
criticar o conteúdo, passou a criticar os que a subscreveram, afirmando se
tratar de esquerdopatas, termo generalizado para todos os que dissentem ao que
o histriônico pensa.
Houve quem afirmou que o documento se tratava de algo para
trazer de volta um determinado partido ao poder. A resposta que lhe foi dada é
que, se atuar em favor dos pobres, viúvas e estrangeiros, isto é valor do Reino,
ensinado por Jesus. Se isto é ser de esquerda, ele era esquerdista. Outro, na
arrogância de ter mais de 200.00 seguidores no Face (quem me garante que não
são seguidores impulsionados, estratégia muito comum), se arvorava mais fiel
representante dos evangélicos que a meia dúzia que assinou (2.488 subscrições
no momento em que escrevo esta coluna).
O que mais me chama a atenção destes pretensos porta-vozes
dos evangélicos, enciumados com o surgimento de algo que teve repercussão na
mídia e que não passou pela “benção” destas estrelas midiáticas, é que não
criticam o conteúdo (será que porque é criticar a Bíblia), se preocupam em
descobrir o redator da Carta, como se fosse fruto de uma única mão. Acostumados
a serem os donos da verdade e únicos a dizer o que os outros devem pensar, não
creem na possibilidade de haver algo que seja uma construção coletiva. Incorrem
no grave erro de abandonar o conteúdo porque escrito por quem não gostam. Se
quem escreveu é de direita, centro ou esquerda e isto não é seu perfil
ideológico, não vão perder tempo lendo porque deve ser ruim.
Acabo de receber uma pesquisa do Ibope (fonte por mim
conferida) que afirma que rejeição da parte dos evangélicos ao líder saltou de
32% a 41%, que o segundo saltou 26% a 33% (entre 11/09 e 24/09). Seria isto um
indicativo de que os religiosos, sejam católicos, evangélicos ou outras
religiões, estão tomando consciência de que a eleição busca um presidente para
o Brasil e não um pastor para uma nação, que se quer seja uma democracia e não
uma teocracia comandado por um “iluminado”.
Marcos Inhauser
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quarta-feira, 19 de setembro de 2018
TEXTO MAGNO DO EVANGELHO
Filho de protestantes, fui criado na tradição calvinista,
estudei teologia em seminário arminiano, fiz complementação em seminário
calvinista. Tinha meus pruridos com algumas questões que me ensinavam sobre os
reformadores, especialmente o conceito de guerra justa e a justificação da
violência. Vários anos mais tarde, entrei em contato com o Anabatismo, ramo
pertencente à Reforma Radical (e por, isto, também reformado).
Nele via uma nova abordagem para as questões que me
intrigavam e enumero algumas delas. O Antigo Testamento apresenta a guerra como
sendo, muitas vezes, promovida por Deus. Daí que algumas guerras eram chamadas
de santas. Há uma condescendência com a violência e o menosprezo da mulher e da
criança como seres humanos. Além desta aparente divinização da guerra, há o uso
da violência da parte de Deus no castigo do seu povo. Estas abordagens me
faziam pensar e, por mais que tentasse, não encontrava respostas.
Ao ler os Anabatistas e tomar conhecimento de sua história
(ainda que não haja unanimidade entre eles), fui tomando conhecimento de
algumas posições que me chamaram a atenção e mudaram minha forma de ver as
coisas.
A primeira delas é a centralidade dos evangelhos e de Jesus
Cristo. Há uma certa hierarquia nas Escrituras: as palavras proferidas por
Jesus estão acima de todas as outras. Em seguida o que se conta sobre Jesus. Os
demais trechos da Bíblia são palavra de Deus na medida em que se harmonizam com
Jesus e o que Ele disse e ensinou. A fundamentação para isto está no fato de
ser Jesus a “Palavra de Deus encarnada”, a “expressão exata do ser de Deus”, ao
ponto de ser “Um com o Pai”. Esta hierarquia toma como Palavra de Deus, no caso
do Antigo Testamento, aquilo que concorda com os evangelhos. O que não concorda
pode ser texto de consolação, de instrução ou de informação de como foram ou
eram feitas as coisas. Perdem assim o caráter normativo, assumindo o
instrutivo.
Neste contexto, ganha relevância o Sermão do Monte,
proferido por Jesus e que é tomado por muitos Anabatistas como texto magno para
a vida cristã.
Bem-aventurados os humildes de
espírito, porque deles é o reino dos céus (fora estão os orgulhosos,
prepotentes e assemelhados)
Bem-aventurados os que choram, porque
eles serão consolados (fora estão os que fazem chorar, que provocam
lágrimas pela imposição da injustiça e da violência).
Bem-aventurados os mansos, porque eles
herdarão a terra (fora estão os violentos, os agressores, o que promovem a
violência, a guerra, que negam a virtude do diálogo)
Bem-aventurados os que têm fome e sede
de justiça porque eles serão fartos (fora estão os que fazem injustiça,
concedem habeas corpus a torto e a direito)
Bem-aventurados os misericordiosos,
porque eles alcançarão misericórdia. (fora estão os que massacram o próximo
ou tiram proveito dele em uma situação de dificuldade)
Bem-aventurados os
limpos de coração, porque eles verão a Deus (fora os que tem agenda oculta,
caixa dois, negam desconhecer o que praticaram, mentem, os cara-de-pau, os
pinóquios políticos).
Bem-aventurados os pacificadores,
porque eles serão chamados filhos de Deus (fora os promotores da violência,
do armamento, das guerras, da vingança, das fake News).
Bem-aventurados os que são perseguidos
por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus fora os que estão
perseguindo em nome da justiça e os que se julgam perseguidos porque a eles se
aplica a justiça).
Sei que vou
levar pedrada por causa deste texto. Termino com a última: Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguiram e,
mentindo, disserem todo mal contra vós por minha causa.
Marcos
Inhauser
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Sermão da Montanha
quarta-feira, 12 de setembro de 2018
O MEDO E A FÉ
Segue texto enviado por Maria Luiza Rücket,
autora do livro "Capelania hospitalar e ética
do cuidado", amiga, que me autorizou a fazer pequenas edições no exto para
que o mesmo coubesse no espaço desta coluna.
“Um dos chefes da sinagoga, chamado
Jairo, prostrou-se aos pés de Jesus, pois sua filha estava à beira da morte.
Com insistência, suplicou que Jesus impusesse as mãos sobre a menina, para que
ela fosse salva e continuasse viva. Jesus o acompanhou, mas enquanto caminhavam
veio a notícia de que a menina havia morrido. Jesus então falou ao pai: “Não
temas, crê somente” (Marcos 5,36).
Jesus contrapõe a fé ao temor: o medo
deve ser vencido pela fé.
O medo é uma força atuante. O médico
francês Frederic Leboyer, que se notabilizou com o livro Nascer
sorrindo, constatou que o medo nos acompanha do nascimento à morte. Reflexões
já foram elaboradas a respeito de medo, temor, angústia, ansiedade,
preocupação. Essas emoções negativas causam malefícios à saúde e às relações
interpessoais.
Até uma determinada intensidade, o
medo pode nos ajudar a evitar certos perigos. Ele se torna em profilaxia para
não nos expormos a riscos desnecessários. Mas, nós não temos o controle sobre
essa dosagem do medo e ele se torna uma força muito poderosa e prejudicial em
nossa vida.
Nos dias atuais despontou mais um
tipo de temor: é o medo do anonimato. Para se diferenciarem das demais, as
pessoas recorrem cada vez mais às tatuagens e às técnicas de modelar o corpo.
Mesmo sabendo dos riscos, muitas pessoas recorrem ao implante de silicone
industrial. Recorre-se a uma enormidade de recursos para se tornar
diferenciado. O risco é grande, mas o medo do anonimato fala mais alto.
É desse temor nocivo e até patológico
que Deus quer nos libertar. A exortação de não temer perpassa a Bíblia toda –
desde Gênesis 15,1 até Apocalipse 1,17.
Em nossa existência, nos defrontamos
com duas forças poderosas: o medo e a fé. O medo tem dominado muitas vidas,
causando infelicidade e desgraça. Mas a fé é mais forte do que o medo. E
somente a fé pode vencer o medo. A declaração de Jesus mostra isso.
Como devemos proceder para substituir
o medo pela fé?
Para o salmista, fé é sinônimo de
confiança. O salmista confiava na intervenção de Deus, capaz de socorrer em
meio às angústias e perigos. Também Jesus interpelava as pessoas apontando para
a confiança. Para acontecer a cura, a pessoa precisa se posicionar. Portanto, a
confiança em Deus é uma força mais poderosa do que o temor – diante de doenças,
do anonimato, da calúnia, da desonra, da morte.
Precisamos sempre, de novo,
redimensionar a nossa fé. Muitas pessoas entendem a fé como sendo a adesão a um
conjunto de doutrinas. E a fé torna-se sinônimo de “acreditar”. Esforçam-se
para acreditar, mesmo percebendo que a realidade não cabe dentro dessa
doutrina. Mas, com essa insistência, continuam com medo, muito medo. Inclusive com
o medo de que a doutrina venha a ser ameaçada pelo ateísmo.
A confiança é diferente, pois ela
resulta do reconhecimento de que nós não temos o controle dos acontecimentos.
Portanto, só nos resta entregar a nossa existência ao poder que controla toda a
realidade. Confiança é entrega. Ela precisa ser exercitada diante de cada
circunstância que se apresenta.
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