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quarta-feira, 31 de outubro de 2018

HÁ QUE SE TEMER O MESSIANISMO


Existiram vários movimentos messiânicos no Brasil, do norte ao sul do país. “O Reino Encantado”, (1836-1838, em Pernambuco), “Povo do Velho Pedro” (década de 1940, no interior da Bahia), “Guerra Santa do Contestado (1912-1916, Santa Catarina); Canudos (1893-1897, Bahia); “Beato do Caldeirão” (sucessor do Padre Cícero), para citar alguns. 
Estudiosos afirmam que os líderes messiânicos nascem em meio a uma desorganização social, especialmente demonstrada pela insatisfação com a situação reinante, onde se apresentam como salvadores pela instalação de um novo modelo social, político e econômico. A vinculação do novo ideário ao simbolismo religioso e sacro ajuda na formulação do agente messiânico, quase sempre com a promessa de melhores dias e a afirmativa de voltar a tempos mais “puros e perfeitos” vividos em algum tempo no passado. É a mítica dos velhos tempos.
Neste sentido, o messianismo de Jesus dever ser entendido em uma categoria separada, uma vez que sua aparição e pregação não se deveram a um retorno ao passado, mas à instauração de algo novo, uma nova aliança. Reza Aslam, no seu livro Zelotes, traz estas indicações. 
Outro elemento distintivo do messianismo jesuânico dos outros que surgiram é que, no mais das vezes, os messias utilizaram o uso de armas, da violência e da revolução como forma de alcançar os fins que propunham. Daí porque, a violência pregada ou disseminada pelos messias se afasta do modelo jesuânico, que pregou a paz, a pacificação e o amor ao próximo.
No período em que viajei pela América Latina pelo Conselho Latino Americano de Igrejas, me deparei com alguns autoproclamados ou denominados messias. Lembro-me de haver escrito sobre o messianismo de Augusto Pinochet, tomando por base dados do sociólogo chileno, Humberto Lagos. Pinochet cria que Deus o havia chamado para a missão de salvar o povo do comunismo. Também acompanhei de perto a ascensão do Ríos Mont na Guatemala, o presidente que se achava ungido de Deus e que tinha um programa em cadeia nacional de televisão, quando orava pela nação e, ao mesmo tempo, as tropas aniquilavam indígenas ao norte do país. Houve certos traços de messianidade no Lula presidente e no Temer, quem acreditou que sua ascensão se deveu à vontade de Deus para resgatar a nação do caos econômico. Messianismo pode se ver no venezuelano Maduro, em alguns comandantes sandinistas (em especial Ortega). Ainda que sem forte apelo religioso, o mesmo se pode dizer de Che Guevara.
Na perspectiva religiosa, os messias (exceção feita a Jesus) se caracterizam por soluções simplistas, teologia superficial e rasa, afirmações genéricas de cunho religioso, a identificação com o grupo pela participação em um rito e, no caso dos messianismos cristãos, pela interpretação fundamentalista e literalista das Escrituras, quase sempre expressas na frase: “obediência à Palavra de Deus”. Mostram com isto que a tomam como manual de conduta, onde a hermenêutica se ajusta à conveniência. No dizer de Vinhas de Queiroz, estudioso dos messianismos e especialmente do Condestado, a fundamentação religiosa, expressa uma “falsa consciência da realidade, alienada, autista e mórbida”.
Colocou-me na defensiva as duas primeiras aparições do presidente eleito. Na alocução feita aos seguidores, via rede social, afirmou que seu governo se pautará pela “caixa de ferramenta para consertar o homem e a mulher que é a Bíblia Sagrada” e “seguindo ensinamentos de Deus”. A segunda aparição, que me causou constrangimento e desconforto, foi a sessão pública de oração do Magno Malta, quem, sabe-se lá baseado em quê, afirmou que o presidente era o “ungido de Deus”!
Estão aí os elementos básicos para que o messianismo prospere. Só espero que ele não acredite no Messias do seu nome!
Marcos Inhauser

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

ACIMA DA LEI

Não é de hoje que tenho visto religiosos folgados. Lembro-me de que, certa feita em um restaurante rodízio em Limeira em companhia de alguns estrangeiros, vi parar uma van com vidros fumê, ar condicionado e descer alguém que veio falar com o dono do restaurante. Em seguida abriu-se a porta lateral e vi que estavam com a televisão ligada e um religioso, em trajes religiosos, entrou para também conversar com o dono. Depois de um tempo eles se foram. Perguntei mais tarde ao dono o que eles queriam e ele me contou que alegavam ser religiosos de uma irmandade que fez voto de pobreza e que queriam comer um rodízio, mas queriam que isto fosse uma oferta da casa. A cada pouco vejo na mídia reclamações de vizinhos de determinadas igrejas, sejam elas “evangélicas ou católicas”, reclamando do barulho que fazem, mesmo depois das dez da noite. Cansei de ouvir pastor dizer que estão querendo impedir o culto ao tentarem silenciar as igrejas. A lei do Psiu em São Paulo caiu por pressão da bancada evangélica. Para estes, as igrejas estão acima da lei. Ontem fomos noticiados que um grupo de dez membros de uma igreja batista estava saindo do Haití com um ônibus cheio de crianças, sem que houvesse qualquer autorização legal para fazê-lo, em ato mais próximo do seqüestro que da solidariedade. Dando a eles o benefício da dúvida, no mínimo foram imprudentes ao tentarem ajudar passando por cima das autoridades e do mínimo de organização que ainda há no país. Se o fizeram de boa fé, é porque acreditavam que a ação era eticamente aceitável e acima de qualquer lei ou procedimento. E, acima de tudo, se era uma igreja através de dez dos seus membros que estava promovendo a ação solidária, quem poderia impedir tal gesto de amor? Conheço a República Dominicana, conheço a fronteira com o Haití e, acima de tudo, conheço o drama dos haitianos ilegais, o que já mereceu comentários em uma de minhas colunas este ano (Sem poder ficar, nem sair). Não imagino que a situação delas seria muito diferente na vizinha república. Por outro lado, por se tratar de uma igreja fundamentalista dos EUA, não me estranharia se houvesse um sentido messiânico nesta empreitada. Estavam resgatando crianças das garras do demônio do vudu, prática amplamente aceita. E para isto, a guerra não era contra carne e sangue, mas contra principados e potestades celestiais. Pena que autoridades de carne e osso foram as que pararam a cruzada missionária, por desobedecerem leis ordinárias de uma nação em frangalhos. Não havia nada espiritual a impedi-los, mas leis que deviam ser observadas. Marcos Inhauser

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

JUDAS OU JESUS?

Causou furor a frase do guru sobre a sugerida aliança entre Jesus e Judas. Muito já se disse a este respeito e tinha para comigo que não deveria eu me meter nesta tresloucada metáfora do sindicalista-presidente. No entanto as lombrigas me remoeram as entranhas. Fiquei a analisar o comportamento do pronunciante e tenho cá com meus botões algumas conclusões muito pessoais, que as comparto, não para disseminar o joio, mas para tentar entender o trigo. Não é de hoje que tenho prestado atenção e catalogado a insistência do guru em usar metáforas. Não conheço na história recente e mesmo anterior, alguém que usasse de tantas metáforas e analogias e que o fizesse com tal espontaneidade quanto o viajante-com-o-dinheiro-dos-tributos. Ele usa a abusa das figuras, ora com propriedade ímpar, ora com imperícia também ímpar. Só conheço outro que o fazia como ele e que se notabilizou com seus ensinos via parábolas, que foi Jesus Cristo. O guru-mór gosta da frase “nunca antes na história”. Ele se julga um divisor de águas, um ser que veio para dividir a história brasileira e quiçasmente mundial,entre o antes e o depois. Nisto ele se julga igual a Jesus Cristo, quem, sim dividiu a história entre o antes e o depois. O sindicalista também gosta de alardear que na sua gestão os famintos passaram a ter o que comer, que mais gente foi atendida nos ambulatórios, que mais transplantes se faz, que mais uma infinidade de coisas. Certa feita, quando visitava uma sinagoga, perguntaram a Jesus se ele era o Messias ao que abriu o livro do profeta Isaías e leu que os coxos andam , os cegos vêem, aos cativos é proclamado o ano da libertação. O Lula, segundo o Lula, está fazendo a mesma coisa. Jesus foi anunciado por um João Batista, voz que clamava no deserto, comia gafanhotos e mel silvestre. O Lula é o próprio. Saiu do clamar no deserto, comeu buchada de bode, bebeu o que veio e lhe deram. Se Jesus teve um precursor, o Lula foi seu próprio precursor. Nisto ele é maior que o Messias. Outras similitudes eu poderia apontar para provar que Lula se julga o Messias, o predestinado, o escolhido de Deus. Nesta condição ele tem os seus Judas e não cabe apontar porque sabidos e conhecidos pelos brasileiros. O problema é que este simulacro de Messias, ao invés de ser vendido pelo Judas, ele próprio se vendeu e se entregou. Deixou-se ser tentado pelo poder, andou transformando pedra em pão, se aliou a outros Judas, traiu a confiança de quem o elegeu e acreditou no seu reino pregado e proclamado por anos a fio e que acabou se convertendo no reino dos banqueiros, dos donos de telefonia, das construtoras, das ONGs não auditadas, dos sem-terra-com-verbas-públicas-milionárias.