Leia mais

Há outros artigos e livros de Marcos e Suely Inhauser à sua disposição no site www.pastoralia.com.br . Vá até lá e confira

quarta-feira, 7 de novembro de 2018

CAPITAL RELACIONAL


Há certo modismo em falar sobre o futuro das profissões, apontando para as que mais não existirão em pouco tempo. Entre elas são citadas todas as que fazem trabalho repetitivo: cartórarios, advogados, bancários, operadores de máquinas, etc.
Nesta esteira há estudos que apontam as habilidades profissionais que serão valorizadas: controle emocional, capacidade relacional e habilidade comunicacional. Privilegiar-se-á a capacidade de trabalhar em equipe multidisciplinar, com características inclusivas, onde o diálogo entre as diferenças e a busca do consenso será o objetivo.
A tomar-se estes dois elementos como norteadores (desaparecimento de profissões e ênfase em habilidades antes não tanto valorizadas), preocupa-me o futuro de muita gente, especialmente das gerações dos caras-pintadas, globalizados e colaborativos (tomo por empréstimo terminologia do Volney Faustini). Para eles, o tipo de relacionamento preferencial é o das redes sociais, onde o contato face-a-face é trocado pelo virtual, o diálogo é substituído pela discussão, o consenso pelo acirramento das posições pessoais. É um tempo em que as pessoas se medem pelos likes que recebe, onde o chamar a atenção, gerar comentários e ter seguidores é mais importante que ser ético. Um mundo onde o vocabulário é exíguo, as frases são clichês, a profundidade dos conceitos tem a profundidade de uma capa asfáltica feita por construtora da lava-jato.
A informação é feita pelos titulares das notícias e não pela leitura do conteúdo. O jornalismo sério é trocado pelas “notícias do Face, Instagram e Twiter”, a verdade é o que pensa e acredita. Os jornalismos opinativo e investigativo, as matérias de fundo, com substância e conceituais são desvalorizadas e ridicularizadas. Os conceitos cabem nos memes com frases feitas e de conteúdo questionável. Só leem o que cabe nos 140 caracteres do Twiter. Mais que isto dá nó nos neurônios! Quando veem alguém lendo um livro de 300 páginas, assustados, perguntam se vai ler tudo! Para prender a atenção deles por mais de 10 minutos o orador tem que usar palavras de baixo calão.
Porque não leem, não desenvolvem o vocabulário, não conhecem conceitos, não sabem se expressar, a fala deles é um interminável repetir de “tipo assim”, “veja bem”, “na verdade”, “mano”, ”realmente”, e quejandas. Não é para menos que, no recente exame do Enem, a redação tenha sido o bicho-papão. Ela exige mais que 140 caracteres!
Palavras menos comuns como consonância, sincronia, distonia, entropia, beneplácito são grego para eles (cito exemplos de coisas que já experienciei). Porque o vocabulário é curto, não conseguem acompanhar o raciocínio mais elaborado. Na terceira frase mais elaborada já se perderam e não há GPS para achar o caminho da rota a ser seguida. Eles não têm cabine pressurizada: se levantar o voo, têm dor de cabeça e falta de ar. A função da comunicação oral passou a ser digital: é melhor escrever que falar! Ao escrever não demonstram conhecimento de pontuação e escrevem à maneira antiga: scripto continua.
Para estas gerações, quem concorda é amigo. Quem discorda, ainda que seja de uma vírgula, é inimigo. Cria-se a atmosfera de beligerância. Equipe é o grupo de trabalho de gente que concorda com o que pensa. Qualquer dissonância é disruptiva e a equipe vai para o brejo. Mais vale o que pensa e crê que o que se pode fazer em conjunto. A equipe passa a ser “eu mais eu”. Isto redunda no muito falar e no pouco produzir. Talvez isto explique a alta rotatividade destas gerações em seus trabalhos, com níveis de permanência média de dois anos.
Parece que quem quiser se dá bem no futuro terá que se desconectar das redes e se conectar nas bibliotecas; terá que consultar dicionários mais que Instagram; terá que aumentar o vocabulário e praticar o diálogo; terá que perceber e concluir que há gente que pensa diferente e que é tão ou mais capacitada; terá que trocar o virtual pelo real; terá que aumentar o seu capital relacional. Mais vale 10 amigos reais que milhares virtuais!
Marcos Inhauser

Nenhum comentário:

Postar um comentário