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quarta-feira, 28 de março de 2012

DOENÇAS: CASUALIDADE OU CASTIGO DIVINO?


O Rev. Kopeska, amigo e irmão por afeição, escreve coisas que gosto: Aqui vai mais uma (com edições para caber aqui).
Epícuro, filósofo grego, tentou entender Deus a partir do sofrimento humano: Deus, ou quer impedir os males e não pode, ou pode e não quer, ou não quer nem pode, ou quer e pode. Se quer e não pode, é impotente: o que é impossível em Deus. Se pode e não quer, é invejoso: o que, do mesmo modo, é contrário a Deus. Se nem quer nem pode, é invejoso e impotente: portanto nem sequer é Deus. Se pode e quer, que é a única coisa compatível com Deus, donde provém então existência dos males? Por que razão é que não os impede? A filosofia epicurista ... reflete ... o egocentrismo infantil e utópico do ser humano em querer passar pela vida sem ... ônus, perda ou pesar. Algo impossível para ... (humanos). Não somente Epícuro e os amigos de Jó interpretaram a doença a partir da existência ou justiça de Deus. Há um livro (“Teorias Sobre as Doenças”) que traz a pesquisa feita em 139 culturas, das quais 135 interpretam as enfermidades como castigo divino. Trata-se da mistificação das doenças, as quais nossos antepassados a julgavam como fenômeno "sobrenatural", ... além da compreensão do mundo, superada, depois, pela teoria de que a doença é decorrente das alterações ambientais ... que o homem vive. ... saúde e doença são estados de um mesmo processo, ... Uma avó ligou para a neta. O bisneto atendeu e ela perguntou por que ele estava em casa e não no colégio. Ele respondeu: "Vó, estou descansando no Senhor". Ele estava doente, mas por causa da convicção religiosa, não podia admitir a doença, pois significava pecado na vida. Enfermidades não são castigos divinos, reflexo da falta de fé, sinais de pecados ou indicativos de negligência na comunhão com Deus. São fatos inerentes da nossa humanidade ... Os que confiamos na soberania de Deus ... cremos que as enfermidades podem ser instrumentos de Deus para a sedimentação emocional e espiritual. Assim é o carvalho, usado por geólogos e botânicos como medidor de catástrofes naturais. Quando querem saber o índice de temporais e tempestades ocorridas numa determinada floresta, eles observam o carvalho, que é a árvore que mais absorve as consequências de temporais. Quanto mais tempestades ele enfrenta, mais forte fica. Suas raízes se aprofundam e o caule se robustece, sendo quase impossível arrancar ou derrubar. Não é necessário fazer análises para saber. Basta olhar. Para absorver as tempestades, o carvalho assume aparência disforme, como se tivesse feito muita força, pode ter aparência triste. A tempestade para o carvalho é desafio e não ameaça. Assim somos nós. Devemos tirar proveito das situações contrárias à nossa vida e ficar mais fortes. Com a aparência abatida, mas fortes! Raízes profundas! O apóstolo Paulo escrevendo aos cristãos, na antessala do martírio em Roma, anima-os: ... nos gloriemos nas próprias tribulações, sabendo que a tribulação produz perseverança; e a perseverança, experiência; e a experiência, esperança.
Marcos Inhauser e Marcos Kopeska

quarta-feira, 21 de março de 2012

ABENSUADO


Não errei na grafia, não!
O que quero afirmar é que a benção vem acompanhada de suor, a inspiração tem muito de transpiração, o sucesso de dedicação. Não há atalhos para as coisas e os atalhos que nos são oferecidos são fraudes.
Milhões jogam todas as semanas na loteria, uns poucos acertam e os que levam a bolada, via de regra, passam a viver um inferno. Ou perdem o que ganharam ou precisam administrar os “amigos”. Chove na minha caixa postal e-mails me prometendo ganhar mundos e fundos sem sair de casa e quando os olho com mais cuidado, vejo que tenho que pagar e fico a pensar e concluir, a partir de experiências anteriores e de outros que as viveram, que o único ganho garantido é de quem recebe.
Quem ainda não recebeu uma carta ou e-mail do tipo corrente? Você conhece alguém que já ganhou dinheiro com isto a não ser quem iniciou a corrente?
Já li a biografia de muita gente que se tornou famosa por “a” ou por “b”. Pegue-se o exemplo de Thomas Edison que fez mais de dez mil experiências até que conseguisse inventar a lâmpada, que durava não mais de 48 horas. Ele teria afirmado que “Não errei dez mil vezes, apenas descobri dez mil coisas que não funcionam.” Li também a história de Ernest Henry Shackelton, definido como o maior líder que a humanidade conheceu. Tentou chegar ao polo sul e nunca conseguiu chegar lá, mas deixou lições preciosas sobre a obstinação, persistência e lealdade aos comandados.
Neste contexto preocupa-me a maciça e massiva pregação religiosa que tem assolado as televisões e templos que abrigam empreendimentos religiosos. Trata-se da pregação que diz que a pessoa pode se tornar rica, próspera, do dia para noite, bastando para tanto obedecer a Deus (obediência nas ofertas e dízimos!). Inúmeros são os relatos de gente que aparece dando seu “testemunho” de como foram abençoados porque deram o dízimo ou ofertaram generosamente. Já se questionou a autenticidade de tais testemunhos, visto que se sabe hoje que vários deles são pagos, de gente que ganha uns trocados para falar o que interessa ao dono do programa.
Esta semana surgiu a notícia de que a Uniesp (União das Instituições Educacionais do Estado de São Paulo) firmou convênios com igrejas comprometendo-se a pagar dízimo pela indicação e matricula de fiéis em seus cursos universitários. Haja criatividade! Aposto que ofereceram à Uniesp que receberiam de volta dez vezes mais do que dizimariam! Os espertalhões por trás de tal negociata querem o bem$ão sem suar a camisa. Usam o nome de Deus para o seu enriquecimento.
Eu, orientado pelo sábio Cirino (boia fria, negro, dos meus tempos de infância que me ensinou algumas lições preciosas) vou botar minhas barbas de molho. Acredito que o que comemos deve vir do suor do rosto. Querer a benção sem suar é comer do suor dos outros, que vão trabalhar mais do que devem e precisam para sustentar a opulência de espertalhões travestidos de sacerdotes, pastores, bispos e apóstolos.
Marcos Inhauser

quarta-feira, 14 de março de 2012

AMOR TERCEIRIZADO


Ela tinha certa capacidade financeira. Dona de um próspero negócio e metida a madame, frequentava uma das igrejas que pastoreei. Cada vez que tínhamos algum evento na igreja, fosse ele hospedando alguma reunião ou congresso, ou mesmo para angariar fundos para alguma instituição social, as mulheres e homens da igreja se cotizavam para ajudar. Uma vez era um churrasco beneficente, outra um jantar para angariar fundos, ou uma simples confraternização entre membros da igreja. Todos se cotizavam e se dispunham, menos a madame. Ela vinha para mim e dizia: arruma alguém para fazer em meu lugar que eu pago.
Um dia eu estava meio atravessado e disse a ela que não queria gente que pagasse a outros para amar no lugar dela. Ou ela viria ou então não precisávamos do seu amor terceirizado. Ela nunca mais apareceu na igreja.
No tempo em que estive indo quase diariamente à casa de repouso para visitar meu sogro e depois meu pai, revi esta cena muitas vezes. Vi nestas casas gente que ali foi colocada pelos filhos que nunca voltaram para fazer uma visita ao pai ou mãe. Era gente que acreditava que pagando a mensalidade já cumpriam com sua missão. Ouvia história de um homem que foi colocado, pagaram três meses adiantados e nunca mais deram o ar da graça, nem para pagar o restante, nem para levar o pai a outro local. Um deles me contou que tinha seis “tranqueiras na família” e que só uma sobrinha era quem tinha algum cuidado com ele.
É mais fácil terceirizar que sentar-se ao lado e ouvir a mesma história quatro ou cinco vezes em uma hora de convivência. É mais fácil saber que há alguém para cuidar e que se paga para fazer isto.
É verdade que há situações em que a situação de saúde da pessoa exige cuidados especiais e locais apropriados. No entanto, isto não exime os familiares de visitar, se fazer presente, ouvir as histórias.
Há gente que não demonstra amor nas relações pessoais, mas contribui com organizações que representam causas nobres, e estas então amam por elas e assim se sentem isentas de culpa.
Apesar de ser nosso dever contribuir para estas organizações que se propõem a aliviar miséria e sofrimentos humanos, estamos cometendo grave erro se acreditamos que estas contribuições nos livram de nossas responsabilidades pessoais de demonstrar amor ao próximo.
Um filho ou filha, que recebeu dos pais os cuidados na infância, que noites mal dormidas por eles foram por causa do cuidado que deram em momentos de enfermidade, não tem o direito de se ausentar ou mesmo de pagar para que outros amem no seu lugar.
O mesmo se pode dizer de pais que contratam babás para amar em seus lugares, ou mandam para a escolinhas para que lá sejam abraçadas e reconhecidas.
O amor ao próximo é intransferível. Não há como passar procuração. É uma responsabilidade individual, intransferível, inalienável. Amar é altamente recompensador e tem a capacidade de dar significado à vida.
Marcos Inhauser

quarta-feira, 7 de março de 2012

A VOZ FEMININA CALADA PELA INQUISIÇÃO


Não é de hoje que conheço e admiro o trabalho de pesquisa histórica que a professora Rute Salviano Almeida desenvolve, recuperando vozes femininas caladas pela Igreja. Ela traz a público mais um trabalho de sua lavra e pesquisa.
Lança amanhã seu livro “Uma voz feminina calada pela Inquisição”, no qual apresenta o contexto do final da Idade Média, o papel feminino e a vida das beguinas, mulheres que se dedicaram ao cuidado dos menos favorecidos, tornando-se mestras da vida e artesãs da alma.
A personagem central de seu livro é Margarida Porete, beguina itinerante que foi a primeira mulher queimada pela Inquisição francesa, em 1310. Ela ousou escrever e divulgar suas ideias na língua do povo, quando a permitida era somente o latim, considerada língua sacra. O livro apresenta o Tribunal da Inquisição, com textos da época, bulas condenatórias e o processo que levou Margarida à morte.
Como em seu primeiro livro “Uma voz feminina na Reforma”, a escritora destaca o silêncio das mulheres na História e o alto preço pago pela ousadia de falar, pois o discurso público da mulher equivalia a uma perversão no cenário da Idade Média.
No livro são apresentadas as mulheres como mães, esposas e “escravas da moda”, mostrando como o sexo feminino sempre sofreu em nome da beleza. As mulheres medievais depilavam os cabelos da testa com cal, devido à moda do penteado alto, no qual tinham que mostrar uma testa exageradamente grande.
Na conclusão, a autora reflete sobre as diferenças e semelhanças entre aquela época e a atual. Mais que isto, há que considerar-se que no meio religioso (tanto cristão, como muçulmano e judeu) a mulher continua calada. Poucos são os espaços em que ela pode expressar o que sente e pensa. Ao negar-lhe o acesso ao sacerdócio e à ordenação pastoral, calam suas vozes, mesmo quando elas representam, em média, 67% de todas as igrejas cristãs e religiões.
Na Idade Média, apesar de enfrentar pestes, inundações, guerras e crer que Deus era juiz vingativo e cruel, não queriam ser afastadas da fé, pois ela lhe dava segurança em meio à vida cheia de temores. Nesta pós-modernidade, por seu turno, acha-se vergonhoso crer nas doutrinas, preferindo “desconstruir” dogmas. Ao fazer isso, não conseguem colocar nada no lugar e acabam vivendo perdendo a esperança. Talvez isto explique a falta de empolgação, de brilho nos olhos da nossa geração, gente disposta a levar às últimas consequências seus ideais.
Se a Idade Média foi uma época de temores, hoje o sofrimento é a pobreza, violência, corrupção e desemprego. A fé continua a ser o único esteio da humanidade; se dava esperança ao homem medieval, continua a dar ao homem de hoje.
Uma pessoa que dedicou a vida a recuperar a voz das mulheres silenciadas, merece o apoio até dos homens. O livro pode ser encontrado no site da Hagnos (www.hagnos.com.br)
Marcos Inhauser

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

HÁ FUNCIONÁRIO E FUNCIONÁRIO


Quando da internação do meu pai no PS São José, escrevi dois textos. Em uma destas vezes recebi um e-mail de um funcionário do PS, que segue abaixo, com algumas edições:
“Provavelmente o senhor não se lembra de mim, mas fiz Raio-X do senhor Milton quando ele estava internado no São Jose. Meu nome é Wagner, sou técnico de Raio-X no PS há 11 anos. Muitas coisas já presenciei naquele local, histórias tristes e alegres, de perda e dor, de superação e humanidade.
Tenho orgulho do meu trabalho naquele local. Inúmeras vezes, depois de um plantão exaustivo, saí de lá jurando que na primeira oportunidade pediria transferência, mas até hoje, sempre que uma vaga em outro lugar aparece, acabo dispensando e continuo no bom e insano PS São Jose. Não estamos acostumados com elogios e reconhecimentos. Geralmente levamos apenas pedradas como o senhor mesmo presenciou enquanto cuidava do seu pai. Quantos xingamentos, quantas escarradas no rosto já levei naqueles plantões! Não estou falando no sentido figurado, mas literal. Já fui pra casa levando o DNA de pacientes nervosos, drogados, exaltados, que não se contentaram em ofender...rsrsrsrs. Não tem jeito.
Aquele lugar realmente nos mostra que temos uma missão a cumprir, que precisamos estar ali, mesmo que for para passar por essas agruras.
Quando vemos uma criança chegando toda roxa sem ar e depois saindo de lá sorrindo,  bem de saúde, não tem dinheiro que pague”.
Há aqui algumas coisas. A primeira é o senso de dever para com o próximo que o Wagner tem (e muitos outros). Já escrevi aqui sobre “Um Exército de Anjas” para falar de quem trabalha no Cândido Ferreira e “Mario Gatti da Graça” para reconhecer o cuidado que meu pai ali teve quando foi operado.
A segunda é que este pessoal trabalha sem recursos e há os que colocam dinheiro e equipamentos pessoais para poder atender à população.
A terceira é que os profissionais de saúde estão expostos à violência. Ela tem duas fontes: os que chegam alterados pelo álcool ou pela droga e os que, achando-se com algum direito superior aos demais, ofendem, xingam e agridem. São comportamentos insanos, como relata o Wagner.
Quarto é que causa revolta ver profissionais dedicados lutando com a falta de recursos e o dotô e quadrilha levando os milhões que o Ministério Público está dizendo que levou. Vi gente virando plantão para poder ganhar uns trocados a mais e porque não havia profissionais suficientes. Outros, sem nada fazer além das tramoias, levam malas do nosso dinheiro.
Quinto: o governo central, no ensejo de pagar os juros para os agiotas internacionais, decidiu fazer cortes no orçamento. Não cortaram verbas do Senado ou Congresso, nem das emendas parlamentares. Mas da Saúde. E o ministro tem a cara de pau de vir a público dizendo que os cortes não vão representar queda na qualidade do atendimento. São 5,5 bilhões a menos.
Pensando bem, acho que o Ministro não mentiu: é impossível piorar o atendimento médico público. Se algo funciona é pelo denodo de funcionários como o Wagner e outros que conheço.
Marcos Inhauser


terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

FICHA LIMPA SEM CINZAS


O calendário litúrgico coloca esta quarta como sendo de “cinzas”, a raiz da prática semítica de mostrar o arrependimento usando sacos e se cobrindo de cinzas. Exemplo mais emblemático e conhecido desta prática é Jó, o personagem bíblico que suportou tamanha provação e privação. Diz o texto que “Jó tomou um caco para se raspar com ele; e estava assentado no meio da cinza” (Jó 2:8).
Ela era o sinal externo de um arrependimento interno, de uma prática de devoção que implicava na mudança de hábitos de vida. Na prática cristã a inclusão de uma data no calendário para que se faça esta contrição e arrependimento tem uma longa história, que não cabe aqui recontá-la.
O que quero é mostrar a relação entre a Ficha Limpa, lei recentemente considerada constitucional pelo STJ e a quarta-feira de cinzas. A lei nasceu do desejo e anseio populares de dar um basta aos larápios do erário, que se reelegiam e assim davam continuidade a seus atos de rapina no carnaval da política nacional. E a lei entra em vigor nestes dias.
Havia um carnaval na política brasileira. Escolas de samba com gente fantasiada de senador, deputado, governador, prefeito, vereador, que desfilavam seus brilhos, pumas e paetês na passarela da política nacional. Era a escola dos políticos doidos, que acreditavam que o Carnaval não tinha fim. A plateia, do alto das arquibancadas do sambódromo político, decidiu que o Carnaval da corrupção tinha que ter fim.
Houve mobilização, abaixo assinado, coordenação e a coisa foi parar na presidência da Escola de Samba do Planalto. Pressionados pelo calor das vaias que ouviam, decidiram dar um tempo no samba, crendo que era questão momentânea. Acharam que as vaias para a performance grotesca de suas alegorias e samba seriam, como sempre foram, relegadas a um segundo plano. Ledo engano. O coro e as vaias cresceram.
Decidiram pedir ajuda a outra escola de samba para que interferisse e dissesse se a coisa valia ou não. Os togados, também pressionados por vaias para a desafinação de alguns integrantes que estavam movimentando mais grana do que a ética, a decência e os salários permitiam, decidiram que o Carnaval das propinas estava levando um tranco e que o samba teria que ser outro.
Os foliões que estavam atravessando na harmonia, foram cirurgicamente impedidos de renovar suas participações no sambódromo político nacional.
Ocorre que estes foliões atravessados e bêbados pelo sangue do povo não conhecem o que é contrição e arrependimento. Nunca se vestiram de pano de saco, nem se cobriram de cinza. Ainda querem passar a ideia de são vítimas das notas de jurados incompetentes que não lhes dão notas dignas de sua ilibada performance. Eles perderam nos itens harmonia, comissão de frente, samba enredo. Podem ter alguns pontos em criatividade, fantasias, hipocrisia, evolução patrimonial.
Não esperemos que venham a público vestidos de saco e cobertos de cinza, por mais cristãos que afirmem ser. Fazer isto seria devolver ao erário o que roubaram. Nisto o Zaqueu, chefe dos publicanos era mais cristão que estes. Decidiu devolver o que havia tomado indevidamente. 
Marcos Inhauser

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

O SUCESSO É SUICIDA


Elvis, Elis Regina, Kurt Cobain, Amy Winehouse, Ray Charles, John Nash, Nelson Gonçalves, Jimmy Hendrix, Lindsay Lohan, Michael Jackson, Marilyn Monroe, Nick Nolte, George Michael, Charlie Sheen, Maysa, Bob Marley, Fábio Assunção, Marcelo Antoni, Kate Moss, Stuart Cable, Heath Ledger, Jim Morrison, Janis Joplin, Billie Holiday, Mike Tyson, etc.
O que há em comum com todos eles? Foram ou são famosos e tiveram envolvimento com drogas e álcool. Muitos dos citados morreram por overdose ou por complicações advindas do uso prolongado delas ou do álcool.
A lista não é completa. Nesta semana fomos informados de mais uma celebridade que se envolveu com drogas e álcool e teve morte prematura. Ainda que a causa mortis não tenha sido oficialmente declarada, ninguém nega que o uso de drogas e álcool acabou com a vida da Whitney Houston.
As perguntas que muitos se fazem nesta hora e que a fizeram nas outras vezes em que isto aconteceu é: como uma pessoa tão bem de vida e tão reconhecida pelo público, faz uma besteira destas? Porque há tanta gente do meio artístico envolvido com drogas?
Respostas já foram dadas às centenas e não pretendo trazer nenhuma novidade. Quero apenas trazer um paradigma bíblico para talvez colocar alguma luz neste assunto. A Bíblia relata que houve um paraíso, o Éden, que nele estavam Adão e Eva, e que no paraíso havia duas árvores: a da vida e a da ciência do bem e do mal. Tentados a serem mais do que eram, querendo ser iguais a Deus, tomaram do fruto proibido e foram expulsos do paraíso e morreram.
Todos estamos todos os dias tendo que decidir entre a árvore da vida e a da morte. No mundo artístico e das celebridades parece que o fruto da morte está mais tentador e mais facilmente ao alcance. Usam e abusam da árvore da morte e morrem por overdose.
Mas há no paradigma bíblico outro aspecto: querer ser mais do que são. Tenho para comigo que o ser humano foi feito para viver na relação de amor com o próximo e ser celebridade lhe dá um status que altera esta relação de igualdade.  Não fomos criados por Deus para o estrelato, para o sucesso, para a exposição midiática. Ele nos fez para a convivência fraternal, para o desfrute das pequenas coisas, para a humildade, para o serviço ao próximo. O sucesso parece que tira dos famosos e celebridades o sentido da vida. Morrem prematuros porque a vida perdeu seu significado maior: o outro, o próximo.
A alegria dos fãs, a música enlevante, as declarações de amor de muitos, o assédio, não eram satisfatórios. Para muitos, os aplausos entorpecem, anestesiam, mudam o foco da vida. Fama é carreira de cocaína: cada vez precisa ser mais recheada, mais longa, mais constante, até matar. Aí está o BBB e a busca desvairada pelos cinco minutos de fama, a qualquer preço. A internet está cheia de vídeos de pessoas querendo ser famosas.
A fama que consagra é a da Madre Teresa de Calcutá, Francisco de Assis, Ghandi, Mandela, Luther King, Betinho, Zilda Arns, Monsenhor Romero, e tantos outros que comeram do fruto da árvore da vida que é o amor ao próximo em ações concretas de ajuda.
Marcos Inhauser

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

DESLUMBRADO


A fritura que o ex-ministro das Cidades, Mário Negromonte, foi submetido, teve elementos interessantes de serem analisados. Ele foi fritado por causa da sua incúria administrativa.  Sua gestão era considerada sofrível, pois algumas das bandeiras da gestão Roussef estavam sob a responsabilidade do Negromonte, como é o caso da Minha Casa, Minha Vida e que parcela ínfima de recursos havia sido destinada e usada. Dos R$ 22,2 bilhões autorizados pela presidente o órgão gastou R$ 2,3 bilhões, ou seja, pouco mais que 10%. E isto em uma pasta que deveria dar visibilidade e fazer propaganda para o Governo. O Programa de Aceleração do Crescimento na Mobilidade Urbana ficou na promessa.
A segunda razão é que ele não conseguiu fazer a articulação política, pois não unificou a sua base de sustentação e foi alvo do fogo amigo da própria bancada. Ruim de gestão e de negociação.
A terceira razão é que distribuiu benesses a amigos e parentes. O caso do superfaturamento do TAV de Campo Grande é exemplo.
A quarta razão é o desejo do líder da bancada de ser o Ministro das Cidades. O deputado Aguinaldo Ribeiro, também do PP. Era seu sonho de infância ser ministro de alguma coisa. Ele tem em comum com o antecessor, não só pertencerem ao mesmo partido, mas serem alvos de denúncias várias. O novo ministro é dono de construtoras não declaradas ao Tribunal Eleitoral. Ele aumentou seu patrimônio em 2,5 vezes entre 2006, quando se elegeu deputado estadual na Paraíba, e 2010, quando foi eleito para o primeiro mandato na Câmara dos Deputados. As declarações de bens que entregou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) teve uma variação patrimonial de 164,6%: saltando de R$ 1.350.998,50 para R$ 3.575.093,38. Só para comparar, a média de valorização do patrimônio dos deputados federais entre 2006 e 2010 foi de 5,2%. Nesse período em que esteve na Assembleia Legislativa de seu estado comprou dois imóveis, entre eles uma casa de R$ 410 mil, além de dois terrenos e três carros de luxo. No mesmo período também investiu em cabeças de gado, ações e aplicações em renda fixa.
Tamanha capacidade administrativa agora é dedicada ao gerenciamento do Ministério das Cidades!!
Mas o que mais me chamou a atenção neste episódio foi a cara de deslumbramento do Aguinaldo quando chegava ao Palácio do Planalto para aceitar o convite depois da sua autoindicação. Quem teve a oportunidade de vê-lo diante das câmaras de televisão pôde perceber a cara deslumbrada do novel ministro, com um sorriso maroto nos lábios, como que querendo dizer: “agora eu sou o cara”. Mais que isto, sua fala logo após a audiência foi de tal arrogância e prepotência, consolidada pelo nariz empinado e palavras de que no fundo queriam dizer: “agora vou arrasar e fazer o que o Negromonte não fez”.
Eu, de minha parte, vou sentar a arquibancada e ver quanto tempo dura. Mas acredito mais no versículo bíblico: “a arrogância precede a queda”. Chegou de salto alto, vai quebrar o tornozelo!
Marcos Inhauser


terça-feira, 31 de janeiro de 2012

NÃO SE DISCUTE?


Recebi do meu amigo Rev. Marcos Kopeska, o seguinte texto que reproduzo na íntegra: “Por muitos anos ouvi o jargão: ´religião, política e futebol não se discute.´ Acontece que por não discutirmos religião deixamos uma lacuna enorme de omissão numa sociedade tão carente de orientação espiritual. Esta vacuidade passou a ser preenchida por crendices cegas com o nome de devoção, manias e histerias espiritualistas com o nome de avivamento, religiões que aparecem e desaparecem com nome de evangelização, mercenários da fé que adoram resultados e cifras com o nome de apóstolos e pedófilos embebidos de fantasias com o nome de sacerdotes.
Quando deixamos de discutir deixamos de refletir. Henri Paincore, filósofo, dizia: “Duvidar de tudo ou crer em tudo. São duas soluções igualmente cômodas, que nos dispensam, ambas, de refletir.” Não discutir é cômodo, mas é trágico.
Dizem que discutir religião leva as pessoas à intolerância e fanatismo. Discordo! A falta de reflexão aberta leva ao ostracismo e o ostracismo ao radicalismo. E discutir política? Nem me fale! Por falta de discussões amplas com as bases é que continuamos a eleger os mesmos “ratos do Congresso” que a cada mês nos surpreendem com novos escândalos, que pagam toda a dívida externa e emprestam para o FMI às custas da maior carga tributária já imposta, que dão uma nova roupagem ao velho e vergonhoso passado a cada quatro anos.
Não discutir política leva a sociedade a crer na mídia tendenciosa e achar que os projetos assistencialistas eleitoreiros são prioritários, enquanto nos hospitais faltam leitos e médicos. Por não discutirmos política a massa é omissa e aceita o ópio do BBB, carnaval; e espera pelo bolsa família que os brasileiros que trabalham pagam com seus suados impostos.
E discutir futebol? Ah sim! Temos 180 milhões de técnicos falando das decepções que os mega contratos trouxeram. Temos 180 milhões de administradores preocupadíssimos com os atrasos nos cronogramas de construção e reforma dos estágios para a Copa. Acontece que poucos destes 180 milhões sabem que este atraso está custando próximo a 6 bilhões de reais, quase o triplo dos R$ 1,95 bilhão, estimativa quando da candidatura do Brasil junto a Fifa.
Nunca antes foi tão importante discutir religião, política e futebol. Não se esqueça: O verdadeiro cristianismo passa pelo viés da cidadania.” (Marcos Kopeska)
Assino o que ele diz. E porque me sobra um pouco de espaço, acrescento que o cristianismo brasileiro viveu e vive uma marginalização alienante, onde temas corriqueiros são proibidos. Áreas onde a mensagem evangelizadora precisa dar sua palavra, a igreja se cala, como é o caso da sexualidade, do modelo econômico, dos salários, dos direitos humanos, da corrupção, etc. Vamos trabalhar estes temas!
 Marcos Inhauser

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

FÁCIL, SUPERFICIAL E RÁPIDO


Quero compartilhar uma constatação que faço, depois de muitos anos dando aulas. Tenho mais de 35 anos como professor em vários níveis e em diferentes locais. Como trabalho com uma área que envolve abstração (conceitos teológicos e filosóficos), venho percebendo, ao longo dos anos, uma acentuada deterioração na capacidade dos alunos em conseguir trabalhar conceitos e certa aversão pelo aprofundamento de temas.
Expressão como “isto é baboseira”, “estudar estas coisas é perda de tempo”, “o que eu ganho sabendo isto”, “estou cansado de teologia, quero vida cristã”, “não preciso de teologia, preciso de poder para expulsar demônios e curar”, “de que adianta um sermão bem estudado se a igreja não enche de gente?”, “para encher a igreja de gente não é necessário saber teologia” são por mim ouvidas com frequência cada vez maior.
Confesso que me arrepiam estas afirmações (e outras mais que não elenquei por falta de espaço). Estamos vivendo, não só no campo teológico, mas em todas as áreas, um processo de superficialização do saber. Cada vez mais sabemos menos sobre menos coisas. O que interessa é o fácil, o intuitivo, aquilo que dá para fazer sem precisar ler nenhum manual de instrução. Os celulares, smaRtphones, tablets, Ipods e Ipads são os queridinhos porque podem ser usados sem grandes conhecimentos. É tudo intuitivo e mesmo uma criança pega e em poucos minutos já está sabendo as funções básicas.
Da mesma forma devem ser os livros didáticos: intuitivos. Os cursinhos preparatórios para concursos e vestibulares, no mais das vezes, ensinam o “pulo do gato” na hora de responder. Os cursos precisam formar em menos tempo. Querem uma graduação em dois anos ou menos. O que interessa é o diploma na parede e no currículo. O saber, isto é outra coisa.
A predileção pelo fácil, superficial e rápido passou a ser a característica destes tempos. Tudo tem que ser intuitivo, sem trabalho. O arroz que você cozinha dentro de um saquinho e que não queima, fica molinho e soltinho, mesmo sem saber cozinhar. A lasanha que é só colocar no micro-ondas. A pipoca que não suja panela com óleo da fritura. Verduras e legumes que já vêm cortados. Carne que se compra temperada. Frango assado pronto. Jornais que só tem os titulares (quem tem tempo para ler a notícia toda?). Os feeds de notícias estão aí para provar isto.
Gasta-se mais tempo nos games que nos processos de aprendizado. Livrarias se fecham, mas lojas de jogos se proliferam. Os livros perderam espaço para os aparelhos eletrônicos. O saber aprofundado vai sendo substituído pelas soluções mágicas dos avatares. Há muita tinta gasta com fofocas de celebridades. Ibope para BBB é exemplo desta opção pelo fácil, superficial e rápido: para ganhar um milhão e meio em poucos dias sem fazer nada, vale qualquer coisa. Para aumentar o Ibope vale até a simulação de um estupro, providencialmente ocorrido ou marketeiramente planejado.
Há horas que bate uma desesperança tão grande!
Marcos Inhauser