Existiram vários
movimentos messiânicos no
Brasil, do norte ao sul do país. “O Reino Encantado”, (1836-1838, em Pernambuco), “Povo do Velho Pedro” (década de 1940, no interior da Bahia), “Guerra Santa do
Contestado” (1912-1916,
Santa Catarina); “Canudos” (1893-1897, Bahia); “Beato do Caldeirão” (sucessor do Padre
Cícero), para citar alguns.
Estudiosos
afirmam que os líderes messiânicos nascem em meio a uma desorganização social, especialmente
demonstrada pela insatisfação com a situação reinante, onde se apresentam como
salvadores pela instalação de um novo modelo social, político e econômico. A
vinculação do novo ideário ao simbolismo religioso e sacro ajuda na formulação
do agente messiânico, quase sempre com a promessa de melhores dias e a afirmativa
de voltar a tempos mais “puros e perfeitos” vividos em algum tempo no passado.
É a mítica dos velhos tempos.
Neste
sentido, o messianismo de Jesus dever ser entendido em uma categoria separada,
uma vez que sua aparição e pregação não se deveram a um retorno ao passado, mas
à instauração de algo novo, uma nova aliança. Reza Aslam, no seu livro Zelotes,
traz estas indicações.
Outro elemento distintivo do messianismo jesuânico dos
outros que surgiram é que, no mais das vezes, os messias utilizaram o uso de armas,
da violência e da revolução como forma de alcançar os fins que propunham. Daí
porque, a violência pregada ou disseminada pelos messias se afasta do modelo jesuânico,
que pregou a paz, a pacificação e o amor ao próximo.
No período
em que viajei pela América Latina pelo Conselho Latino Americano de Igrejas, me
deparei com alguns autoproclamados ou denominados messias. Lembro-me de haver
escrito sobre o messianismo de Augusto Pinochet, tomando por base dados do
sociólogo chileno, Humberto Lagos. Pinochet cria que Deus o havia chamado para a
missão de salvar o povo do comunismo. Também acompanhei de perto a ascensão do
Ríos Mont na Guatemala, o presidente que se achava ungido de Deus e que tinha
um programa em cadeia nacional de televisão, quando orava pela nação e, ao
mesmo tempo, as tropas aniquilavam indígenas ao norte do país. Houve certos
traços de messianidade no Lula presidente e no Temer, quem acreditou que sua
ascensão se deveu à vontade de Deus para resgatar a nação do caos econômico.
Messianismo pode se ver no venezuelano Maduro, em alguns comandantes
sandinistas (em especial Ortega). Ainda que sem forte apelo religioso, o mesmo
se pode dizer de Che Guevara.
Na
perspectiva religiosa,
os messias (exceção feita a
Jesus) se caracterizam por soluções simplistas, teologia superficial e rasa,
afirmações genéricas de cunho religioso, a identificação com o grupo pela
participação em um rito e, no caso dos messianismos cristãos, pela interpretação
fundamentalista e literalista das Escrituras, quase sempre expressas na frase: “obediência
à Palavra de Deus”. Mostram com isto que a tomam como manual de conduta, onde a
hermenêutica se ajusta à conveniência. No dizer de Vinhas de Queiroz, estudioso dos messianismos e
especialmente do Condestado, a fundamentação religiosa, expressa uma
“falsa consciência da realidade, alienada, autista e mórbida”.
Colocou-me
na defensiva as duas primeiras aparições do presidente eleito. Na alocução
feita aos seguidores, via rede social, afirmou que seu governo se pautará pela “caixa
de ferramenta para consertar o homem e a mulher que é a Bíblia Sagrada” e “seguindo
ensinamentos de Deus”. A segunda aparição, que me causou constrangimento e
desconforto, foi a sessão pública de oração do Magno Malta, quem, sabe-se lá
baseado em quê, afirmou que o presidente era o “ungido de Deus”!
Estão aí os
elementos básicos para que o messianismo prospere. Só espero que ele não
acredite no Messias do seu nome!
Marcos
Inhauser