... E o verbo se fez
Liturgia e habitou entre nós, peregrinos, cheio de cantos, gestos, cores,
cheiros, saberes e sabores...
E vimos, em momentos
efêmeros e cheios de eternidade, a glória de QUEM tem um nome indizível, impronunciável...
Nesse “pleroma
extático”, arriscamos fazer preces, divinamente humanizadas, através de nosso
mantra ": Pai Nosso, de infinito carinho Maternal...”. Propusemo-nos a inventar celebrações que nos
trouxessem à terra o Deus da beleza celestial.
Fizemos coro com o Rubão: “Amo, na liturgia, tudo aquilo que saiu das
mãos dos artistas. Mas quando ouço as explicações dos teólogos e mestres, o
encanto quebra e eu desejo que eles tivessem falado em latim, para que eu não
tivesse entendido (...) Deixe que Beleza, sem palavras ou catecismos,
evangelize o mundo. Deus é beleza.”
Há uma história da
liturgia contextualizada, (en)cantada sob a inspiração dos versos e os reversos
da vida, desde a paixão de “Aleijadinho” até o trenzinho tupiniquim de Villa Lobos!
Em toda a sua plenitude! Vivenciando Paixão, Morte e Ressurreição de um povo
“maltrapilho e maltratado “!
Houve um tempo em que
se celebrou esta liturgia libertária! Houve um santuário devocional! Não nos
moldes dos soturnos templos, erguidos para tentar enclausurar o Criador.
Palpitava na alma de irmãos e irmãs a oração atribuída a Spinoza: “Para de ir a
esses templos lúgubres, obscuros e frios que tu mesmo construíste e que
acreditas ser a minha casa. Minha casa está nas montanhas, nos bosques, nos
rios, nos lagos, nas praias. Aí é onde Eu vivo e aí onde expresso meu amor por
ti".
Alguém há de
perguntar: quem eram, quem foram e quem são os peregrinos e peregrinas que para
lá faziam suas santas romarias? Seremos todos nós que diremos: “São gente refugiada
de comunidades regidas por Leis de Segurança Paroquial. Pastores, pastoras,
seminaristas, leigos e leigas que procuravam alternativas devocionais diante
daqueles manuais prescritos por técnicos da fé. São pretos, pobres e
profissionais da vida que ali se identificavam com a presença da Grande Face
Onipresente do Espírito!”
Ecos de Caetano
Veloso:
“A tua presença envolve meu tronco, meus braços
e minhas pernas
A tua presença é branca, verde, vermelha, azul
e amarela
A tua presença é negra (...)
A tua presença transborda pelas portas e pelas
janelas (...) “
A nossa Liturgia
começava quando, como líderes paroquiais, esperávamos, ansiosamente, cada
reunião deste Corpo Místico, macro-ecumênico, que se reunia em torno da mesa,
da celebração e da liberdade. Nunca foi tão atual o credo wesleyano: “O mundo é
nossa Paróquia“, ao qual poderíamos acrescentar: “O mundo é nossa Paróquia Litúrgica”!
Infere-se que essa
expectativa “pré Reino de Deus”, verdadeiro e caipiríssimo, “aperitivo do
Reino”, trazia-nos o cheiro primaveril de novos tempos. Expectativa que nos
segredava a certeza de novos tempos.
Assimilamos no corpo e
na alma, a festa de foliões latino-americanos, homenageando Atahualpa Yupanky,
bem como os nossos da nossa estirpe “T”: Tião, Tom, Tonico e Tinoco. Aprendemos
a gozar as delícias inspiradas num cancioneiro-de-vida cuja
"Satisfação" era ter um Cristo com o rosto de povo, de amor radical,
universal, incondicional!
Descartamos o
cartesianismo eclesiástico e seus dogmas excludentes, para corajosa e graciosamente,
incluir as razões de um “coração feito pele morena”. E sob as arrebatadoras utopias apocalípticas,
tivemos visões “do aqui e agora”. Revelações que nos livraram e ainda continuam
livrando-nos, mesmo que temporariamente, de um cenário carregado e intoxicado
pelas retas doutrinas de nossas paróquias, quase sempre neuróticas.
Libertamos
liturgicamente, como bem “kerigmatizou e didatequetizou” o poeta, profeta e
trovador ZÉ-das-palavras-LIMAdas, “ a pele, os pelos e os poros desta
paixão". Em vez de continuarmos cantando as "Quatro Leis
Espirituais", começamos a cantar a Espiritualidade de um Jesus nascido
neste "chão-menino-chão-preto-chão-do-coração”.
Nesta virtual Catedral
do Místico e Mesclado Corpo de Cristo redescobrimos novos sacramentos...
- O sacramento da viola
- O sacramento do pandeiro
- O sacramento do chimarrão
- O sacramento da saudosa maloca
E é sobre estas coisas
sacrossantíssimas que na sequência, cantaremos, sempre sob a batuta do
brincalhão Arcanjo Gabriel e seus Blue Caps...
Texto do meu amigo
Carlos Alberto Rodrigues Alves, poeta, violeiro, teólogo e corajoso, que me deu
a autorização para editar e aqui publicar.
Marcos Inhauser