O sentimento de
indignação com a corrupção está à flor da pele dos brasileiros. Não há dia que
algo novo não venha à tona, envolvendo os mais variados setores da economia, os
mais variados personagens, tanto na esfera pública como privada, tanto tubarões
como lambaris. A coisa transpareceu na Câmara, quando da votação da
admissibilidade de julgamento da presidente. Muitos (se não a maioria dos
deputados), ao explicitar seu voto no festival de babaquices que se viu, declarou
o desejo de colocar um fim à corrupção, ainda que o assunto não fosse o que
estava em pauta e nem era o que se votava.
Com isto, vejo que a
nomeação do ministério feita pelo presidente-interino Michel Temer foi uma Temer(idade).
Indicar sete ministros que estão sendo acusados pela Lava Jato é uma
temeridade. Sei que ninguém é culpado a priori, que só se torna culpado depois
de sentença transitada em julgado, que a pessoa é inocente até que se prove o
contrário. Ocorre que, salvo raríssimas exceções, os que tiveram seus nomes
citados pelos delatores premiados foram posteriormente investigados e se
comprovou o que diziam. Aí está o caso do Eduardo Cunha, do Delcídio Amaral, do
Argolo, do Pedro Henry e outros mais.
Ter o ministro Eliseu
Padilha é uma temeridade. Ele foi acusado de ser lobista, de ter atuado em
favor de empresas e de ter pago dois milhões de forma ilícita. A acusação foi
feita em 2003, a ação foi impetrada em 2013 (!!!) e até agora nada de
julgamento.
O Geddel Vieira Lima é
acusado de ter desviado mais de um milhão da corretora de valores do Baneb (1999),
o que lhe custou a demissão do cargo que ocupava. Ainda pesam sobre ele o fato
de ter mensagens interceptadas nas quais advogava a favor da OAS, o que lhe
garantiu recursos para sua candidatura ao Senado, graças à “generosidade” do Léo
Pinheiro.
O ministro Moreira Franco
teve um apartamento leiloado pela Justiça (1997) para que se devolvesse dinheiro
utilizado indevidamente para enaltecer as suas obras à frente do governo do
estado do Rio.
O ministro Henrique
Eduardo Alves, quando da sua eleição para a presidência da Câmara em 2013 teve
uma série de acusações feitas contra ele: de ter dinheiro não declarado no
exterior, contratar empresa laranja, beneficiar assessor, entre outras.
O ministro Blairo
Maggi ganhou o prêmio Motosserra de Ouro, já foi considerado como um dos mais
ferrenhos apoiadores do desmatamento, é conhecido como rei da soja (título que
perdeu para Eraí Maggi). O estado de Mato Grosso forma o "Arco do
Desmatamento" (a parte da Amazônia mais desflorestada) e o desmatamento do
estado dobrou no seu governo. Uma temeridade colocá-lo no Ministério da
Agricultura.
Temeridade foi a entrevista
do ministro da Justiça, falando o que não era hora de falar e dando cordas para
uma série de interpretações, inclusive a de que o novo governo interferiria na
Lava Jato. Na mesma linha, também a entrevista do ministro da Saúde (que
recebeu financiamento de campanha de planos de saúde), quem disse que o SUS
precisa ser readequado, o que provocou celeuma e ele teve que recuar no mesmo
dia.
Temeridade é chamar
sindicalistas para que proponham mudanças na Previdência. Pura perda de tempo,
porque nunca apresentaram nenhuma proposta concreta e não o farão agora.
Temeridade é ter um ministério
com doze ministros que receberam, contribuições de empresas que estão na Lava
Jato.
Temeridade é ter um
ministério sem mulheres e negros.
Temeridade é querer
mudar o Brasil nos seis meses que, porventura, estará em um governo interino,
ou até 2018, caso venha a assumir a presidência.
Marcos Inhauser