Sabe-se que o medo é a mola propulsora da criatividade e que
esta também é fruto da necessidade. Por outro lado, também é paralisante
porque, diante dele, muitos paralisam e se deixam vencer pelo medo. O problema
é a atitude assumida.
A esperança, por sua vez, é a mola motora para o futuro. Ela
é a que provoca o dinamismo. Sem esperança morremos.
Estamos vivendo momentos em que o medo se mostra mais
presente que a esperança. Penso na infinidade de pessoas que saem todos os dias
para o trabalho com o medo estampado na face de que podem perder o emprego.
Ontem, em um banco, um jovem à minha frente comentou que estava entrando em
período de férias coletivas, ao que o outro disse: isto é pre-demissão. Foi a
instalação do medo no outro.
Ainda agora falava com uma pessoa de RH que ficou um mês em
casa, de férias, e deve voltar amanhã. Está sem dormir achando que vai perder o
emprego e se o perder, não terá como pagar as contas.
No Brasil de hoje estamos com medo do desemprego, das contas,
do zica, da dengue, da chikungunya, da impunidade, da corrupção, etc. Há também
o medo dos investigados pela PF e Justiça. Há quem desça da van mascando
chiclete, como para dizer que está tranquila, há o que desce dela sorrindo e há
os que cobrem a cabeça para não serem vistos. Há os que se negam a fazer
qualquer declaração e os que, a cada coisa que dizem, se enrolam ainda mais. É
o medo a trapacear a verdade que acaba se manifestando nos atos falhos e nas
meias verdades. Esperança de que, ao dizer meias verdades, se livre do que
sobre os ombros lhe pesa. É o medo que faz apresentar novas versões a cada
depoimento, que muda depoimentos e nega o que disse. Esperança de um habeas
corpus que não se concretiza no STF.
A esperança anda meio anêmica. Parece que, se há luz no fim
do túnel, o que se tem lá é uma vela e está ventando. A cada dia as novas
notícias parecem ser dose de veneno para a esperança. Haja visto a troca do
ministro da Justiça, na tentativa de aplacar as investidas da PF. Parece que a
esperança tem sucumbido à maciça dose de medo, passada pelos prognósticos
pessimistas dos economistas (os reis do chute), pelos desdobramentos da Lava
Jato que a cada dia nos mostra que o câncer é maior. Parece uma cirurgia em que
o médico abre a pessoa para ver o que tem lá dentro e descobre que o corpo todo
foi tomado pelo câncer. Sobra alguém?
Mas se o medo é a mãe da criatividade e a esperança a mola
propulsora para o amanhã, devemos ser criativos diante do medo e propor o
amanhã da esperança. Não uma luta por causa dos R$ 0,30 na passagem do ônibus e
nem pelo passe livre, mas pensar o amanhã, diferente dos ontens que tivemos.
Este é o desafio da sociedade brasileira. Um amanhã cheio de justiça, com
mecanismos reguladores que funcionam, com políticos que busquem o bem público e
não a propina própria, que a diferença entre ricos e pobres seja diminuída, que
a comida seja farta, que a mesa seja cheia, que se gaste mais com comida que
com farmácia, etc.
No dizer de Isaías, o profeta: que as armas sejam transformadas
em arados.
Marcos Inhauser