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quinta-feira, 14 de abril de 2016

LAVANDERIA RELIGIOSA


Lembro-me como se tivesse acontecido ontem, mas lá se vão mais de 20 anos. Quando disse, pela primeira vez, a um grupo de pastores, que as igrejas poderiam se transformar em lavanderias de dinheiro sujo, seja da corrupção ou do narcotráfico, houve surpresa e indignação.
Perguntado como isto poderia acontecer, eu respondi que era reunir alguns bandidos e formar uma associação religiosa, sem fins lucrativos. Essas pessoas fariam ofertas ou doações com seus dinheiros sujos. Como não se exige identificar a fonte dos recursos, nem a identidade dos doadores, esses próprios meliantes se colocariam como pastores ou líderes da comunidade, recebendo salários vultuosos, declarando-os à Receita e assim teriam recursos limpos. Poderiam também ter carros, casa, despesas pagas pela "igreja". Sei de casos em que o “bispo”, apóstolo, pastor ou missionário exige que a igreja lhe dê um carro top (BMW ou Mercedes), que a casa seja no melhor condomínio da cidade e que seja uma mansão, que as férias sejam pagas pela igreja e nos melhores endereços do Brasil ou fora dele, que se pague viagem anuais para toda a família para algum evento religioso internacional, com direito a uma esticada para passeios, etc.
Quando levantei a questão, houve muita discussão e vários deles não concordaram comigo, dois ou três ficaram na dúvida e talvez um ou dois disseram que isso podia acontecer.
Isto me veio à mente agora com os recentes fatos do uso de igrejas para lavagem de dinheiro. Na minha memória vem a "oração da propina", depois o caso do Eduardo Cunha e a "oferta" para a Assembleia de Deus, e agora o caso do ex-senador Gim Argello e a oferta feita a uma paróquia católica.
As histórias ainda não estão bem explicadas.  Não se sabe como o dinheiro foi passado adiante de volta ao ofertante ou se usaram o esquema para benefício de outros. 
Os fatos revelam que a lavanderia não escolhe denominação. Um procurador disse que não é privilégio desta ou daquela denominação ser usada como lavanderia e eu tenho prá comigo de que estes dois episódios se repetirão mais frequentemente. Novas ofertas, novas lavagens, novos esquemas de transferência de dinheiro sujo via lavagem religiosa.
Seja lá o que for que apareça no futuro, tenho para comigo que algumas coisas mudarão. 
Quando fui pastor em igrejas nos Estados Unidos, descobri que lá a grande parte das ofertas é feita via cheque nominal. O tesoureiro emite um recibo ao ofertante e este recibo pode ser usado para abater o imposto de renda. Muito pouco se oferta em espécie e quando a oferta em espécie ultrapassa um valor pré-determinado, o tesoureiro deve comunicar isto à Receita Federal para que seja monitorada a possível fonte de contribuição não identificada.
No Brasil o senador Paim, certa feita, apresentou projeto de lei para que as ofertas nas igrejas passassem a ter o ofertante identificado, via depósito bancário. Este seu projeto de lei foi extremamente combatido por lideranças religiosas e, até onde eu sei, não foi levado adiante. Será que a resistência a esta identificação dos ofertantes não era uma tentativa de impedir que fossem rastreados aqueles que ofertam nas igrejas, especialmente algumas "igrejas" (ou emprejas?) porque vivem de ofertas espúrias que não podem ser declaradas?
Se estamos em pleno momento de combate à corrupção, não podemos deixar de considerar a possibilidade de que, em algumas “igrejas” e até mesmo Igrejas há corrupção na forma de pagar os pastores e de destinar os recursos levantados em nome da fé e que no fim servem para beneficiar alguns bandidos.
Marcos Inhauser