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quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

SETENTAREI

 Dios mediante, no próximo dia 14 completo 70 anos de vida. Com ele também tenho 48 anos de namoro e noivado, 47 de casamento, 48 de ministério como pastor. Certa feita, ouvindo a música do seriado Carga Pesada, fiquei a pensar na letra e como ela poderia ser adaptada para a minha vida: “Eu conheço muitos palmos de cada religião / é só me mostrar qual a direção. / Quantas idas e vindas, meu Deus, quantas voltas / viajar é preciso, é preciso / Com a teologia sobre as costas / vou testando a fé, cortando o estradão. / Eu conheço todos os sotaques / dessas igrejas, as miragens / dos “milagres” as verdades / das ovelhas as vontades / Eu conheço as minhas debilidades / pois o pensar não me cobra o frete. / Por onde andei fiquei com saudades / a poeira é minha doutrina / Nunca misturei cifrão com missão / mas não nego que tive meus apertos / Coisas da vocação e do meu jeito / sou profeta no caminho e acho muito bom! 

No tacógrafo da vida já registrei coisas que me arrepiaram por ter me maravilhado e emocionado, como também por ter ficado estarrecido ou decepcionado. O nascimento dos filhos, o crescer fazendo bagunça com eles e com o lema de ser sempre um pai e avô presentes. A perda de amigos queridos que se foram antes da hora, a perda do pai, mãe, sogra e sogro mexeram muito comigo.

Decidi que seria pai dos meus filhos e não pastor deles (daqueles que cobram comportamento exemplar dos filhos para não prejudicar o ministério do pai).  Quando acho que já vi tudo, fico pasmo com mais uma novidade. Alegria quíntupla foi acompanhar as gravidezes de cada neto e neta, e estar lá na hora do parto (exceção a um porque foi na China e ele decidiu vir um pouco antes da hora). Alegria permanente é poder acompanhar o desenvolvimento de cada um deles.

Chegar aos setenta não é mérito, nem opção. É uma contingência da vida e manifestação da graça de Deus. Foram mais de 25.500 vezes que a graça de Deus se renovou a cada manhã e me permitiu viver. A graça não só se manifestou a cada dia, ao me despertar. Ela se fez concreta na companheira que Deus me deu nestes anos todos. A Suely foi a coisa mais maravilhosa que Deus me deu e a cada dia me surpreendo com suas qualidades, dedicação a mim, aos filhos e netos. Juntos caminhamos e juntos estamos.

Por muitas vezes ela e eu conversamos relembrando o que já vivemos, experimentamos e viajamos e a constatação sempre aparece: não dá para explicar tudo o que na vida experimentamos. Só a graça de Deus.

Acredito que uma vida significativa se mede pela quantidade de vezes que ela foi benção na vida de outras pessoas. Tenho isto como lema de vida: ser graça na vida dos outros. Nem sempre consigo e avalio que poderia ter sido benção muito mais vezes.  Surpreendo-me quando alguém que há muito tempo não via ou não tinha notícia, me acha neste mundo das redes sociais e se comunica comigo relembrando algo que ensinei ou fiz. Cada vez que isto acontece me encho de coragem e digo para mim mesmo: valeu ter vivido! E valeu ter vivido a vida que vivi. E valerá a vida que Deus, na sua bondade, ainda me permitir viver!

Marcos Inhauser

 

quarta-feira, 13 de março de 2013

O SERMÃO DO BÊBADO


Estávamos em uma fase difícil na igreja. Problemas com o antigo pastor, um grupo de membros havia deixado a comunidade, éramos poucos questionando por que Deus estava permitindo tudo aquilo. Um domingo, quando éramos meia dúzia reunidos, com um sentimento de desânimo que pairava no ar, uma membro disse enfaticamente: “eu não sinto mais Deus no nosso meio. Tivemos tantos problemas e estou tão desmotivada que não sei o que fazer. Quando vinha para cá hoje tive esta certeza – Deus não está no nosso meio”.
Ficamos em estado de choque. Todos nos perguntávamos o que estava acontecendo e no nosso íntimo questionávamos se Deus era conosco. Ela teve a coragem de explicitar a pergunta que todos fazíamos no íntimo.
O pastor iniciou o culto. No meio dele escutamos um barulho dentro do salão onde nos reuníamos e uma voz reclamando. Era um bêbado que havia entrado de bicicleta e tudo e tinha caído. Fomos ajuda-lo a se levantar e ele perguntou se era uma reunião de igreja. Dissemos que sim e ele pediu para participar.
Mal o pastor retomou a palavra ele o interrompeu, querendo falar algo, sem nexo e com a voz empastada pela bebida. Outra vez o pastor tentou falar e ele interrompeu. O pastor perguntou se ele queria dizer algo à igreja e ele respondeu afirmativamente. Olhando para todos nós, como que para saber o que pensávamos, ele sentiu o apoio da comunidade e disse ao bêbado: “pode falar que vamos te ouvir. Depois de você eu vou falar e você vai me ouvir quietinho. Certo?”
Aquele homem se transfigurou. Não era mais o bêbado que havia entrado de bicicleta e caído. Parecia sóbrio. Sua história foi mais ou menos a seguinte:
“Desde pequeno minha mãe me ensinou as coisas sobre Deus. Um dia perguntei a ela onde Deus morava e por que nunca o tinha visto. Ela me disse que ele morava no céu e que não se podia ver a Deus por causa da sua glória. Na adolescência, intrigado com o fato de Deus existir ou não, raciocinei que, se Deus mora no céu, eu devia ir ao local mais alto que conhecesse e lá pediria que ele provasse para mim que ele existia. Subi ao monte mais alto que tinha na minha cidade e no alto dele clamei pedindo que Deus, se de fato existisse, se revelasse a mim. Nada aconteceu. Fiquei ali parado esperando. Acabei dormindo. Em certo momento, fui despertado por um vento que bateu e da árvore debaixo da qual eu estava caíram flores perfumadas e me cobriram de perfume e senti naquele momento que era Deus dizendo para mim: eu existo.
Nunca mais senti aquele perfume, mas nunca o esqueci. Mais de trinta anos se passaram e hoje, quando estava passando em frente deste templo, senti o mesmo perfume que me cobriu lá no alto da montanha. E eu entrei. E entrei para dizer para vocês que Deus está aqui no meio de vocês. Nunca duvidem disto”.
Aquilo caiu como bomba em nosso meio. Ficamos quietos e chorávamos. Depois de um longo tempo de silêncio, o pastor disse: “não há mais nada a dizer hoje. Já recebemos a Palavra de Deus”.
Estávamos mortos pelo desânimo. Sem pedir licença e da forma mais inesperada possível ele vem à comunidade. Entra atropelando, atropela o andamento do culto e pede a palavra. Em sã consciência ninguém daria a ele a oportunidade de falar. Fomos movidos a fazer uma loucura.
Descobrimos Deus se movendo entre nós, usando alguém que não tinha credenciais eclesiásticas. Ele foi o instrumento de Deus para nos trazer nova vida, nova esperança, novo começo. O bêbado foi usado por Deus para nos dar novo ânimo, ele frutificou em nosso meio, nos levou de volta a Deus e até hoje a igreja é edificada pela palavra que ele nos trouxe.
Marcos Inhauser