Uma das características do culto ancestral relatado no Antigo Testamento é que ele era baseado numa teologia da história, os seus fundamentos são os fatos históricos onde o teólogo vê a mão de Javé que modela, interfere, muda e faz na história os seus desígnios.
Oscar Cullman, Otto Piper, G. Ernest Wright, Gerhard Von Rad, Edward Schillebeeckx, H. H. Rowley, Martin Noth são alguns dos que mostraram este aspecto fundamental do culto veterotestamentário. Para o teólogo veterotestamentário a revelação feita através da história é feita mediante pessoas interdependentes umas das outras e vinculadas entre si, o que possibilita a mútua confirmação.
No entanto, há quem faça uma diferenciação entre a História como relato verdadeiro de fatos e a Geschichtlische (que é a história interpretada pelos olhos da fé). Esta última não é não-história, uma vez que se baseia em fatos reais e não em invenções. No mais das vezes, esta Geschichtlische relata uma série de experiências históricas avaliadas e relatadas à luz da fé do povo. É o fato com sentido espiritual que penetra inteiramente no sentido histórico, muitas vezes tomando a liberdade, perfeitamente natural, de lhe dar um esplendor que transcende o que realmente passou.
Ela tem uma conotação confessional, porque é o relato de alguém que se envolve apaixonadamente com os fatos, por ver neles a mão de Deus. É o querigma que ascende ao teológico! Não é uma afirmação feita por uma crônica histórica, mas a declaração de fé em Deus, pois é Ele quem dirige os acontecimentos. É um passado que se presentifica pela profissão de fé.
Não se deve esperar de um povo antigo que tivesse a acuidade historiográfica que hoje se espera da historiografia moderna, que exige a correspondência racional e objetiva entre os fatos e a sua descrição.
Ao trazer os olhos para a vida e pregação de Jesus, percebe-se que ele, especialmente com suas parábolas, olhava ao seu dia-a-dia, aos fatos cotidianos e corriqueiros e os tomava como exemplos para o Reino. Ao fazer isto, trazia para o cotidiano o que os teólogos de sua época esperavam para um futuro glorioso com a chegada do Messias. Achavam que o Messias iria irromper na história e dar um fim a ela. É o que modernos apocalipsistas pregam e esperam.
O manual de vida cristã ensinado por Jesus (As bem-aventuranças) não trata de coisas a-históricas ou anti-históricas, mas de atos concretos a serem perpetrados no contexto histórico onde vivemos. Os cultos e missas, na maioria das vezes, falam do céu, do inferno, da vitória sobre a hostes inimigas, da expulsão de Satanás, da cura miraculosa de enfermidades, mas pecam ao não olhar para o chão, para o seu redor para ver o desemprego, a fome, o problema educacional, a crise da saúde, a corrupção, os ataques aos ecossistemas, etc.
Neste universo a-histórico o profeta que fala do cotidiano, que acusa governantes de corrupção e mal gerenciamento da coisa pública, que desmascara as mentiras proferidas pelos políticos é visto como “perturbador da ordem”. Parece que a moderna religiosidade é avessa à denúncia. Quando se denuncia um político de direita vem a turba dizer que se deve orar pelos dirigentes porque foram escolhidos de Deus. Quando o governante é de esquerda, nunca vi pedir que orassem pela Dilma ou Lula, nem mesmo pelo FHC.
São cristãos, aceitam as bem-aventuranças, mas apoiam o armamento da população e o porte de armas, a matança de bandidos, a pena de morte. E dane-se o Deus da história!
Marcos Inhauser
Professor, pastor, teólogo e educador corporativo Textos escritos para a coluna semanal no Correio Popular, da cidade de Campinas e texto escritos depois de 2021, que tratam de temas nacionais, internacionais, sobre igreja e teologia
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Há outros artigos e livros de Marcos e Suely Inhauser à sua disposição no site www.pastoralia.com.br . Vá até lá e confira
quarta-feira, 12 de junho de 2019
O COLEGIADO DOS DIFERENTES
Há os que, no fundo, criticam o fato de Ele ter escolhido
doze, de cepas tão diferentes, comportamentos variados e visões de mundo
incongruentes. Por que Ele escolheu do revolucionário (Judas, o Iscariote) ao
meloso João, passando pelo odiado publicano, coletor de impostos?
Para a empreitada que tinha em mente não teria sido mais
lógico e prudente escolher uma elite de estudiosos, oradores, teólogos e
renomados religiosos? Não teria sido melhor começar seu ministério a partir da
capital nacional e religiosa, Jerusalém? Não teria sido estratégico fazer
aliança com os sacerdotes?
A opção periférica do ministério de Jesus é acessória ou é
essencial? Ainda que os evangelhos mostrem enfoques diferentes sobre a obra e
ministério de Jesus, todos concordam com sua origem a partir de uma família
simples, morando em lugares sem expressão, iniciando o seu ministério com
alguns também sem expressão social, fazendo curas e milagres em lugares
pequenos e sem capacidade de grande repercussão.
Estas considerações me vêm à mente por causa de uma plêiade
de coisas. Vejo uma fascinação de certos líderes religioso pelo grandioso, pelo
poder, pela exposição midiática, pelas construções faraônicas. A vitalidade de
uma igreja se mede pela quantidade de horas de televisão que tem, pelos metros
quadrados de construção, pela quantidade de gente reunida, pela arrecadação.
Parece que o exemplo que Jesus deixou da bacia e da toalha,
lavando os pés aos discípulos, não tem lugar neste universo de pompa e
circunstâncias. O amor ao próximo na sua necessidade deu lugar ao amor à
estrela do momento. Gastam-se fortunas para ir ver o “cantor gospel do momento”,
para produzir Marchas para Jesus. A vida cristã é feita de empolgação e nada de
instrução. Vale o que se sente e não o que se pensa e crê.
Há quem creia que a igreja está bombando porque tem uma
esposa do presidente que é membro de uma igreja batista, porque um dos
deputados mais próximos é o Marcos Feliciano, o Silas Malafaia é amigo, que o
presidente mencionou que deve haver um evangélico no STF, que a bancada
evangélica é composta por mais de 90 deputados e senadores, que há chances de
que o novo presidente seja evangélico, etc.
O cerne do evangelho que é amar a Deus e ao próximo como a
si mesmo. Isto está, há muito, na berlinda da prática cristã. Busca-se a homogeneização
das práticas “litúrgicas” (ainda que eu tenha meus pruridos em dizer que o que
se faz é algo parecido à liturgia), uma busca acelerada por algo que seja
“diferente” na concepção da “doutrina”. A máxima é a do surfista: o que importa
é estar na crista da onda.
O recente episódio em que um pastor esfaqueou o outro por
desavenças quanto a posições bíblicas divergentes, no que pese ser um ato
isolado, é sintomático da dificuldade em conviver com o diferente. Se pudessem
interfeririam na escolha feita por Jesus de apóstolos tão diferentes. O certo
seria ter um grupo coeso, unido, marchando ao passo marcado pelos princípios
bíblicos.
A ortodoxia deve ser buscada, entendida como todos afirmando
as mesmas coisas e se reunindo nos mesmos horários e nos mesmos locais. Para o
diferente, o inferno!
Marcos Inhauser
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quarta-feira, 29 de maio de 2019
SOU IDEOLÓGICO!
Nas caminhadas da vida e pelas bibliotecas e livros, aprendi algo sobre ideologia que gostaria de compartilhar. Reconheço que é difícil dar uma definição exata. Para se ter uma ideia, um dos estudiosos de Karl Marx encontrou mais de trinta significados diferentes para a ideologia apenas nos escritos de Marx. Como já disse alguém, não há nada mais ideológico do que falar de ideologia. Existe um universo tão grande de afirmações sobre o que se refere ao ideológico que, por razões didáticas, quero levantar alguns níveis de ideologia.
A primeira delas é a ideologia do pressuposto, que é o conjunto de conhecimentos que se tem e que é determinado e condicionado histórica, política e socialmente e que serve como ferramenta para interpretar coisas e eventos. Ninguém analisa nada, nem conclui nada, se não fizer parte de determinada informação prévia. Eles são os "pressupostos". O que eu suponho determinará o que concluo, porque, dependendo dos instrumentos com os quais trabalho para revelar, compreender, julgar, tenho o resultado do meu julgamento. Esta ideologia é formada pelo conjunto de valores que se tem, fruto de interações com o meio ambiente, seja ele educacional (prioritariamente) ou não. Só não tem ideologia o sujeito totalmente imbecil e idiota.
Há outra ideologia: a ideologia da visão de mundo. É sobre o conjunto de conhecimentos que temos, as ideias, julgamentos e valores que determinam o nosso modo de ser, de agir. A ideologia do "pressuposto" determina a "ideologia da visão de mundo". Somos o que somos baseados no que temos como instrumentos de análise, como um produto histórico por pertencermos a uma sociedade histórica e geograficamente situada. Pensamos e atuamos de acordo com este momento e a cultura da qual dependemos. A ideologia de pressuposição, determinada pelo momento em que vivemos, determina nossa ideologia de visão de mundo, que se adapta em termos gerais à ideologia dominante do contexto em que nos situamos.
Outro tipo de ideologia é a da imposição. É o que aceitamos e que queremos impor aos outros. Essa "imposição aos outros" deve-se ao fato de que acreditamos que nossas verdades são melhores que as do outros, ou que nossas verdades, quando aceitas pelos outros, determinam que temos mais espaço de poder, de gestão, ou queremos manter o espaço que já temos.
Assim, a ideologia é um conjunto de verdades relativas: é a verdade de alguém. A burguesia tem sua ideologia de pressuposto, visão de mundo e imposição e é uma verdade para eles. É uma verdade a tal ponto que eles querem impor isso a todas as pessoas, porque isso as leva a consolidar suas pressuposições, que eles acham que deveriam ser mantidas. O imperialismo, marxismo, liberalismo ou seja o que for, têm sua ideologia de imposição na medida em que querem ter e manter o poder, segundo a verdade que sustentam.
É impossível alguém ser a-ideológico e nada mais ideológico que ser anti-ideológico. Descobri que mentes analfabetas de conceitos, chamam de ideológico tudo aquilo que o outro pensa e que é diferente do que o imbecil “pensa” (se é que pensa).
A diferença é ideológica e, no fundo dever ser. A diferença é a contraposição de duas visões de mundo, duas ideologias. O problema está quando uma das partes, pela ingenuidade, falta de conhecimento ou imbecilidade, acha que o que ele pensa não é ideológico e só o que o diferente pensa é que está eivado de ideologia. Para estes se deve aplicar outro significado de ideologia: o discurso que busca esconder uma ideologia, ocultar intenções.
Por isto sou e assumo que sou ideológico: penso e argumento!
Marcos Inhauser
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quarta-feira, 22 de maio de 2019
RELACIONAL OU CONCEITUAL?
Estou no mundo da teologia há 47 anos. Estudei em alguns
seminários, dei aulas em outros, li um bocado, viajei e conheci as mais
diversas igrejas. Com tudo isto devo dizer com toda a sinceridade: sei quase
nada da teologia. Tem gente, especialmente um leitor que tenho, que nunca
estudou e que sabe mil vezes mais que eu e vive me espinafrando!
Confesso minha ignorância e minha incapacidade de ter
opiniões dogmáticas sobre assuntos pertinentes. Como diz um meme que recebi,
não estudei matérias filosóficas ou sociológicas: estudei as divinas. E quando
se estuda as divinas, se faz o trabalho de Sísifo, um personagem da mitologia
grega condenado a repetir ad eternum
a tarefa de empurrar uma pedra até o topo da montanha. Toda vez que quase
alcançava o topo, ela rolava montanha abaixo invalidando o esforço despendido.
Neste caminhar, durante muito tempo, acreditei que a vida
cristã consistia no entendimento, compreensão e ensino das verdades teológicas,
tal como expressada pelos grandes teólogos da Igreja. Estudei Agostinho, Erasmo,
Aquino, Lutero, Calvino, Zwinglio, Bultmann, Barth y outros. Quanto mais eu
lia, mais me confundia. Um diz uma coisa, outro diz outra, eles se contradizem
e eu me perco. Não achei um Waze ou GPS para o mundo da teologia! Quando achava
que estava chegando ao topo com minha pedra, lá ia ela, morro abaixo.
De “dono-das-certezas-bíblicas” passei a ser o “eterno-interrogante”
ou a “eterna-interrogação”. O jargão “a-Bíblia-diz” foi substituído pelo “eu-hoje-acho-que-a-Bíblia-diz”.
A verdade universal e absoluta cedeu para a posição subjetiva. O “impositor de verdades”
sobre os outros, pela autoridade da verdade que cria e ensinava, foi ocupada
pelo “professor do talvez”.
Você pode estar pensando: ele se perdeu, apostatou, está em
surto, ou qualquer outro diagnóstico teológico ou psiquiátrico que me queira
rotular. Olhando para trás e avaliando minha caminhada, digo com a sinceridade
que a natureza humana me permite: nunca estive tão bem.
Aprendi com os anabatistas que mais vale uma vida obediente
ao que entende da Palavra de Deus, do que a mil afirmações ortodoxas. Mais vale
poucos em comunhão que muitos em reunião. Mais vale alguns reunidos em nome de
Jesus que uma multidão reunida para ver uma estrela gospel. Mais vale poucos
obedientes que muitos contentes. Mais vale a instrução que o louvorzão. Mais
vale o serviço ao próximo que a confissão de fé.
Aprendi que a igreja se faz com relacionamentos e não com
doutrinas inflexíveis e descontextualizadas. Aprendi que a igreja deixa de ser
igreja quando houver alguém que a frequenta e que eu não sei o nome. O púlpito
vira palco quando há holofotes sobre ele, quando é necessário um telão para o
pessoal de longe ver o “iluminado” quem está pregando. A igreja deixa de ser
igreja quando ela gasta mais com manutenção, eletricidade, equipamentos de som
e vídeo do que com as necessidades do próximo. Quando ela ensina o amor ao
pastor e à denominação, quando o ensino enfatiza o amor a Deus e esquece do
amor ao próximo, quando exige compromisso total com o custo do amor próprio e à
família. Pede e perde mais tempo nas atividades da igreja que na atenção à
família.
Igreja é relação, comunhão, serviço, amor a Deus e ao
próximo. O que foge disto, seja anátema!
Marcos Inhauser
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quarta-feira, 15 de maio de 2019
FUI ELOGIADO!
“Virtude abjeta, ladra desaforos. Ela me insuflou reativamente.
Babaquices à latrina, bobas, incertas, inomináveis, obscuras.”
Este é o preço de escrever uma coluna e ser “lido” por quem não
sabe ler e se julga “o juiz d universo”. Seguem dois e-mails que recebi, de um
“leitor”. Publico-os na íntegra, sem revisões e edições. Não cito o nome para
não dar visibilidade. Faço-o para exemplificar o clima de polarização a que
chegamos.
Coluna “ARROGÂNCIA DO AUTODITATA”: “Também não conheço nenhum
autodidata humilde, mas conheço muitos autodidatas; os comunistas, assim como o
sr.º. Defino os comunistas
em dois adjetivos; preguiçosos e invejosos. O comunismo no mundo
matou mais de cem milhões de pessoas, o que é pior, mataram-se entre
si em nome desta doentia ideologia, que não deu certo em lugar nenhum do
mundo. E ainda pessoas como o sr.º defende o comunismo. Ora, o Papa Pio
XII excomungou o comunismo e o sr.º ainda o defende? O sr.º não é pastor? Não
deve seguir a doutrina cristã? Não deve seguir as decisões do seu mestre
maior na terra que é o Papa? Então por que defender o comunismo, se este foi
excomungado pelo citado Papa? Os comunistas, todos, sem exceção, são
preguiçosos, não querem trabalhar, escondem seu ativismo atrás do
argumento de que pretendem acabar com as injustiças sociais, quando na verdade,
não gostam mesmo é da labuta, de pegar no batente, não gostam de levantar
cedo, pegar ônibus lotado, etc.
Os comunistas são invejosos. Eu sou pobre, sempre fui, continuo
sendo, mas nunca precisei de ninguém falar por mim, nuca tive inveja dos
americanos por isto, pelo contrário desejo que todos se de bem na vida, porque
se eles se derem bem na vida eu também me darei.
Me explique, hoje tenho inveja dos ricos, e amanhã se em me
tornar rico, com o meu trabalho, é justo os outros terem inveja de mim e
quererem me destruir? Porque vocês comunistas tem raiva dos ricos? Vocês são
incapazes?
Sr.º marcos não seja invejoso, coisa feia, seja trabalhador,
honesto, ético, o sol nasce para todos.
Se o sr.º defende o comunismo, também é contra as ordens do
Papa Pio XII, por conseguinte, é excomungado, por ser excomungado, não pode
ministrar palestras sobre o temo bíblico.
O sr.º defende o comunismo, então vá morar na China, Coréia do
Norte, Cuba, Venezuela, isto o sr.º não quer, não é mesmo.
Sabe o nome deste comportamento, esquerda caviar.
Fala mal de Olavo de Carvalho que já escreveu vários
livros, e o sr.º qual livros já escreveu, qual a moral que o sr.º tem
parra falar mal dele? É mais um sentimento de inveja não é mesmo?
Este país nunca mais voltará as mãos desta esquerda maldita,
corrupta, que destruiu o país que em sua maioria é formado por pessoas de bem,
trabalhadoras, honestas.”
Coluna PALAVRÃO FILOSÓFICO: “Um teólogo que não é formado em
filosofia, muito estranho! Ainda, educador corporativo, tenho dó de seus
alunos.
Um teólogo que critica um verdadeiro filósofo e um presidente, que
incoerência.
Mas é melhor não ser formado em filosofia porque nestas
instituições públicas UNICAMP, USP, UFF... somente
há doutrinação comunista, aberrações doentias que somente quem
acompanha o dia a dia nestas universidades sabe.
O senhor certamente se corromperia.
Antes ouvir palavrões acompanhados de verdades em prol de um país
melhor, do que ler baboseiras de um pseudo 'teologo' que nem mesmo cursou
filosofia, nem mesmo escreveu um livro sequer.
Quanta mediocridade.”
Autor que o torno anônimo para não dar publicidade a tamanha
incompetência.
Marcos Inhauser
quarta-feira, 8 de maio de 2019
PALAVRÃO FILOSÓFICO
Não sou formado em filosofia. Mas os estudos me obrigaram,
por interesse ou requisito acadêmico, a ler vários. Li um monte deles, desde os
clássicos até Foucault. Entendi alguns, outros me perdi na leitura e não achei
o sentido, nem que relesse duas ou três vezes. Os dialéticos, para mim, falam
grego! E não achei tradução!
Tentei ler Marx. Desisti na segunda página. Sabia que ia
perder tempo. Depois tive um professor de História da Educação que disse: “se
alguém te disser que leu O Capital de Marx, duvide; se disser que entendeu,
chame-o de mentiroso; se insistir, interne porque está louco”. E ele era
marxista!
Há uma coisa que nunca vi nos filósofos assim reconhecidos:
nunca li uma palavra de baixo calão sendo empregado por um deles. Palavrão?
Jamais! Se há uma coisa que os caracteriza é a linguagem escorreita e o
vocabulário que foge ao óbvio e ao popular. Antes, pelo contrário, são
herméticos, com construções de frases bastante complexas.
A fala chula, vulgar, o emprego de palavrões é típico de
gente que não tem vocabulário que consiga traduzir o que quer dizer, que não
consegue expressar os sentimentos. Mais: é característico de quem sabe ofender
e gosta de fazê-lo. Acha que o palavrão, a ofensa, o discurso vulgar é a forma
mais certeira de dizer o que quer e que o povão vai entender e gostar. Ele fala
para a “galera” e mede sua proficiência em filosofia pelos likes e seguidores
que tem. Neste mundo líquido contemporâneo, um falastrão, com linguagem vulgar
e permeado de palavrões pode se considerar filósofo, bispo, apóstolo, guru ou o
que queira.
Como falta à grande maioria dos brasileiros escola, leitura,
noção crítica, autonomia reflexiva, qualquer babaca que fale umas tantas
quantas coisas, mesmo que recheadas de obviedades e platitudes, desde que venha
com palavrões, ele “é o cara”. Este “cara” pode defenestrar um dos maiores
educadores que a humanidade já produziu. Como santo na sua terra não faz
milagre, Paulo Freire é santo lá fora e demônio para os seguidores do guru. Um
sujeito que fez um curso de conserto de geladeira e paraquedismo, que foi
indisciplinado no Exército, o que tem a dizer e ensinar? Nada! Prefere
alimentar as controvérsias no Instagram e Twitter. Mas trazer um plano nacional
de educação, de saúde, de reforma fiscal, esclarecer os pontos da reforma da
previdência, isto não tem cacife para fazê-lo.
Um jovem de dezoito anos, estudioso na medida do necessário,
conseguiu um encontro com uma jovem, esta sim estudiosa. Saíram, conversaram e
no terceiro encontro ela lhe perguntou: este é o vocabulário que você tem? Por
que você repete sempre as mesmas frases e palavras? Por que você insiste em
usar vulgaridades? Se quiser me namorar, comece a ler mais livros e melhore seu
vocabulário! Não tenho tempo para ficar ouvindo as mesmas coisas sempre! Traga
conhecimento e não besteiras!
O conselho da menina serve para muitos. Mas como estudar se
filosofia e sociologia são lixo? Para que estudar se o que importa e saber ler,
escrever, fazer as quatro operações e ter uma profissão? Siga o exemplo do
ministro que, em rede social escreveu “ínsita” quando deveria escrever “incita”,
sem contar o erro de concordância que cravou na mesma mensagem. Ele não estudou
direito, tanto que, trazida à luz seu boletim escolar, teve que dar mil
explicações para as faltas, notas baixas e vida acadêmica abaixo da média. E
abaixo da média continua sendo. O erro de grafia e de concordância são tão
agressivos quanto as vulgaridades e palavrões do outro.
Marcos Inhauser
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quarta-feira, 1 de maio de 2019
ELOGIO À BURRICE
Erasmo de Rotterdam, em 1509, escreveu o famoso “O Elogio da Loucura”, publicado em 1511, e que influenciou a Reforma
Protestante e a civilização ocidental.
O livro tem seu lado satírico e sombrio, trabalha
a loucura como forma de autodepreciação, ataca os abusos da
doutrina católica considerando muitos como superstição, alude às
práticas corruptas da Igreja Católica.
Nele loucura é comparada a uma deusa que é filha de Plutão e
Frescura, educada pela Inebriação e Ignorância, que têm a companhia de Philautia (amor-próprio), Kolakia (elogios), Lethe (esquecimento), Misoponia (preguiça), Hedone (prazer), Anoia (Loucura), Tryphe (falta de vontade), Komos (destempero) e Eegretos Hypnos (sono morto).
Eu o li há algum tempo e voltou à memoria nestes dias quando há, ao que
me parece, um elogio à Ignorância e à Burrice, que é um grau mais profundo da
primeira. Tivemos um Ministro da Educação que me fez lembrar a educadora
Inebriação (deslumbramento) talvez pelo fato de ser colombiano a gerir a
educação brasileira. Isto o levou a mostrar as influências de Komos (destempero) e que, no que pese
que era chamado de filósofo, teve seu lado Lethe (esquecimento)
e não fez o que se esperava que fizesse: não administrou, nem sentou bases para
um plano nacional da educação. Com isto mostrou seu lado Eegretos Hypnos (sono morto).
Defenestrado por incompetência, entra no seu lugar outro ministro. Este
se parece ao filho de Plutão e Frescura. Plutão é um deus que sai das entranhas do pai,
Saturno, entra no panteão e assume o poder do universo. O mundo dos mortos no
interior da terra foi o que lhe coube governar, mesmo contra a sua vontade. Era
sombrio, irritadiço e pouco admirado, por estar descontente com o que lhe tocou.
Viajava à noite em um carro puxado por apavorantes cavalos negros, guardando as
chaves do inferno.
O novo ministro que substitui o incompetente filósofo, também mostra
as influências das companhias que teve. Ao vir a público dizer que a filosofia
e a sociologia não devem mais receber atenção nas escolas e na graduação por
não serem estudos que produzem resultados financeiros, mostrou Philautia (amor próprio – “eu estudei o que útil”), adorou a
Kolakia (elogios – os ignorantes bateram
palmas), revelou que se esqueceu que estudou filosofia e sociologia para
se graduar e assim exagerou na influência de Lethe (esquecimento). Seu posicionamento revela também a
influência de Misoponia
(preguiça), Anoia (Loucura)
e Tryphe Komos (destempero).
Isto revela que estamos com um presidente que escolhe mal a maioria dos
seus ministros, já teve que executar dois deles, tem outros que são calcanhar
de Aquiles (o do Turismo e a Doidamares), foca no insignificante (comercial e
gerente marketing do BB, golden shower etc.), fala o que não deve, mostra-se
péssimo negociador porque cede antes mesmo de se iniciar o processo, tem suas
influências de Misoponia (preguiça)
deixando para o Congresso o que deveria ser seu foco maior (a Reforma da
Previdência), adora Kolakia (elogios)
e se perturba com as críticas.
A maior burrice é a ilogicidade da afirmação de que a Filosofia e a
Sociologia são supérfluas, mas tem num autoproclamado filósofo/astrólogo o seu
mentor e dos filhos e alguns ministros.
Estamos precisando um pouco do deus Sofrósine
(moderação, moderação, discrição e autocontrole) e o exorcismo da deusa
Afrodite, a das paixões desenfreadas, que tem grande influência sobre os
filhos.
Marcos Inhauser
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quarta-feira, 24 de abril de 2019
ARROGÂNCIA DO AUTODIDATA
O autodidata tem dois fundamentos sobre as quais constrói
seu universo cognitivo: a própria competência e a infalibilidade do
conhecimento adquirido pelo esforço próprio. Para que isto se consolide, ele
afirma outros dois fundamentos derivados: transpiração e dedicação. O seu
saber, fruto da atividade solitária, por não ser confrontado com outros
saberes, tem o DNA de arrogância.
O que “sabe” só ele sabe. Acredita com unhas e dentes que
seu saber é único, que seus posicionamentos são apropriados e que vão resolver
os problemas do mundo. A solidão no processo de incremento cognitivo os leva a
uma atitude de desqualificar todo e qualquer pensamento/saber que não se ajusta
aos seus códigos. Passam a ser “donos-da-verdade”, messias para equacionar e
resolver todos os problemas. Não admitem contestações, críticas ou senões ao
seu saber. Quando há quem os critique, não têm pudores em ser agressivos,
ofensivos e violentos.
Exigem obediência cega aos seus postulados e dogmas (o seu
saber é dogmático no sentido religioso de que é uma verdade auto explicável ou
que se aceita por fé). São messiânicos, pois acreditam que sua capacidade
intelectual de aprender sozinhos é dom de Deus, que sua compreensão do mundo é inspirada,
que suas soluções têm a chancela divina, ainda que se afirmem ateus.
Se duas pessoas interpretam um mesmo texto ou fato de duas
maneiras diferentes, uma delas, certamente, estará errada. Como é quase
impossível o autodidata reconhecer que a sua interpretação é a errada, fica
fácil perceber a anatematização do dissidente. O errado e burro sempre é o
outro!
Eles têm tem resposta para tudo. Por inferências, deduções
enviesadas e conclusões questionáveis, estes autodidatas insistem em encontrar
resposta para tudo, mesmo que tenham a profundidade de um pires e a
consistência de uma gelatina.
Como decorrência dos fundamentos, há a maniqueização da
humanidade: Eu e eles. Eu sou o bom. Eles são os burros, condenados, devassos,
promíscuos, corruptos etc. Por assim crer e agir, os autodidatas têm uma
característica comum: são arrogantes! Não conseguem manter um diálogo, antes
insistem em falar compulsivamente, como para impedir que uma visão diferente
possa aparecer e prevalecer. Diante de uma pergunta para a qual não têm
resposta, ao invés de dizer “não sei” preferem estigmatizar o perguntador como
herege. A ignorância deles é burrice de quem pergunta. Quase sempre terminam
uma tentativa de diálogo afirmando: ou você aceita o que lhe digo ou você vai se
ferrar.
Estamos à volta com um ex-astrólogo que ganhou ares de
oráculo para todas as coisas. Sabe e entende de tudo e se mete a falar de
cesariana a motor à explosão! Tem seus discípulos, tão arrogantes quanto o mestre
das babquices. No caso específico, é verdade, tem uma coletânea de conhecimento
que, sim, são válidos. Podem ajudar a não nos tornar idiotas, ainda que, ao
divinizá-lo, os seguidores se tornam robotizados, repetindo as máximas do guru.
A obediência deve ser cega. Se foi nomeado a algum posto por influência ou
indicação do autodenominado filósofo, a autonomia de ação é zero. Haja vista o
demitido ministro da Educação e as sandices do ministro de Relações Exteriores.
A terra é plana, o mundo foi criado por Deus em sete dias e
há não mais de 6000 anos, os militares representam o atraso, o mundo deve ser
dividido entre nós e eles, o Trump é o maior e melhor presidente que os EUA já
tiveram, o Moro é um gênio, a base de cálculos para a reforma da Previdência
deve ser secreta, não houve ditadura no Brasil, nem mesmo tortura, quem morreu
devia morrer por causa da opção que fez, etc. E salve os gênios autodidatas!
Não conheço um autodidata humilde. Se você conhecer, me
avise.
Marcos Inhauser
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quarta-feira, 17 de abril de 2019
A DESEJADA PÁSCOA CONTEMPORÂNEA
O
povo estava escravizado e vinha sendo explorado pelos poderosos da nação.
Trabalhavam duramente para atender às exigências reais e produzir os tijolos.
Não tinham descanso nunca. A realeza, para manter sua opulência e construir
palácios, exigia do povo a produtividade nas olarias. Cada operário deveria
entregar ao fim do dia sua produção. Quando Moisés pediu ao Faraó que deixasse
o povo sair por três dias para cultuar a Deus, o rei entendeu este pedido como
ameaça: “... por que interrompeis o povo no seu trabalho?... o povo já é
muito e vós os distraís das suas tarefas” (Ex 5:4, 5).
A
solicitação justa foi tomada como ameaça à nação, à estabilidade do reino, à
ordem institucional. A resposta real veio na forma de exigência de mais
produção com menos matéria prima (“... não dareis a palha para fazer tijolos...
eles mesmos que... ajuntem para si a palha... e exigireis... a mesma conta de
tijolos que antes faziam... agrave-se o serviço sobre estes homens, para... que
não dêem ouvidos a palavras mentirosas... v. 7-9). Uma reivindicação justa
respondida com mais injustiça.
Ao ler este relato e olhar para
nossos dias, tenho a impressão que a história se repete. Os exemplos modernos
de justas reivindicações de trabalhadores são, com uma frequência assustadora,
respondidas com mais injustiça.
Quantas
vezes trabalhadores lutando por melhores salários não foram tratados com
cassetetes, bombas de gás lacrimogêneo, duchas de água? Quantos trabalhadores
não tiveram seus salários descontados porque pararam em greve para reivindicar
melhores condições de trabalho?
Mais
ainda: na atual situação de haver muita gente para trabalhar e pouco trabalho
(versão moderna do “o povo já é muito...” v. 5), os modernos trabalhadores,
diante do medo de perder seu posto de trabalho, acabam se sujeitando a
situações ainda mais injustas. Sob ameaça de perder o emprego, os modernos
Faraós estão exigindo que seus trabalhadores produzam mais com menos custo (com
a moderna terminologia de “produtividade”).
Aumentam
as exigências e reduzem as condições. Pedem mais produtividade, mas cortam a
“palha” do plano médico, da cesta básica, do adicional por insalubridade etc.
Não poucas vezes se aplica o que o apóstolo Tiago vai dizer mais tarde “... o
salário dos trabalhadores... foi por vós retido com fraude” (Tg 5:4).
A Páscoa
está aí para nos dizer que Deus está atento e que isto terá fim. O sofrimento
do povo, tendo que trabalhar de sol a sol, sem descanso semanal, férias ou
outra coisa beneficiosa, não é algo alheio a Deus e Sua justiça.
Ele
interferiu a favor dos trabalhadores explorados pela ganância e opulência do
Faraó. Certamente também está atento hoje ao sofrimento e exploração feita em
nome do modelo econômico, do lucro, dos acionistas da Bolsa. Ele está atento às
tentativas de retirada de parcos benefícios de quem suou toda a vida. Quem
vestiu farda ou teve trabalho público, para estes Faraós, merecem tratamento
diferenciado e remuneração nababesca depois de se aposentarem.
Os modernos
Faraós podem negar a justa reivindicação dos trabalhadores roubados no FGTS e
negados no pedido de um salário justo, argumentando que isto desestabiliza a
economia, aumenta a inflação etc. Mas há esperanças no Deus da Páscoa. Esta foi
a culminação de um processo de salvação e libertação de uma relação laboral
injusta. Que esta dimensão da Páscoa não se perca em meio a uma celebração que
mais enfatiza o sofrimento sob o império que a libertação, que espiritualiza a
ressurreição, não permitindo ver que há situações concretas que exigem
libertação e ressurreição.
Marcos Inhauser
quarta-feira, 3 de abril de 2019
RELIGIÃO POR QUILO
Por razões de trabalho e passeio já comi em muitos e
variados restaurantes, em vários países, desde os chiques até o muquifo. Há uns
sete anos voltei a um bom restaurante que eu frequentei nos década de oitenta.
Lá entrando vi que tudo estava mudado. O garçom que veio me atender eu o
reconheci dos tempos em que lá estive. Perguntei: “há quanto tempo o senhor
trabalha aqui?”. Há mais de 40 anos, responde ele. Eu repliquei: eu sei disto
porque o senhor já me atendeu várias vezes há vários anos. Ele então medisse: “naquele
tempo isto aqui era um restaurante, hoje é um comedor. Tenho vergonha de
trabalhar aqui porque esta coisa de comida self-service e por quilo é uma
desgraça”.
O difícil é encontrar um bom restaurante na maioria das
cidades que visito. E nestas andanças descobri que os restaurantes por quilo são
todos iguais. A mesma variedade, os mesmos temperos, um pouco mais quente neste
ou mais frio naquele. Alguns com reposição imediata, outros que esperam acabar
para repor. As mesmas saladas, o mesmo arroz e feijão, a mesma macarronada
(alho e óleo ou à bolonhesa), as mesmas sobremesas.
Perguntei um dia ao dono de um restaurante destes (onde comi
muitas vezes ao longo de doze anos). E ele me disse: “se eu inventar e colocar
comida diferente, acaba sobrando. Os clientes preferem sempre o mesmo”.
Isto tem acontecido com as igrejas e religiões. Se a gente
vai a uma Presbiteriana, Metodista, Batista, Assembleia ou igreja independente,
a mudança entre uma e outra será mínimo, cosmético. Todas adotam o mesmo
cardápio: muito louvor capitaneado por um grupo de jovens, com mini sermões
entre uma música e outra, orações genéricas, pregação sem contribuição da
reflexão do pregador (mais do mesmo) e benção final.
Parece que as pessoas vão em busca de um cardápio igual, mas
em locais diferentes, tal como faço quando estou em uma cidade por dois ou três
dias: como em restaurantes diferentes, ainda que saiba que o cardápio é o
mesmo.
Nas igrejas isto acontece. As pessoas vão hoje ao
restaurante presbiteriano, no domingo seguinte ao restaurante batista central,
depois ao nazareno e assim por diante. Tal como nos restaurantes por quilo,
cada um pega o que gosta e na quantidade que consegue comer. E, na quase
totalidade das vezes, a comanda vem: o momento das ofertas!
O chef aparece vestido de terno e gravata ou com vestes talares
típicas dos sacerdotes, há certa pompa na sua presença porque é o vox Dei daquele restaurante. Tal como
nos restaurantes por quilo que compram os ingredientes em locais
especializados, com pre-parados, muitos dos sermões são buscados em sites. O
sermão virou commodity: toma-se emprestado sem citar a fonte, compra-se um já
feito, faz-se uma colcha de retalhos com as ideias de vários autores e lá vai a
gororoba alimentar os clientes daquele domingo.
Estava ouvindo uma pregação juntamente com um amigo e, acerta
altura, o pregador falou algo que não era do estilo e nem da capacidade
intelectual do orador. Imediatamente meu amigo pegou o celular e achou onde o
sujeito tinha “roubado o sermão”. Sobra de outro restaurante servido como
comida recém feita.
Não aguento mais comida por quilo e nem igreja da mesmice!
Marcos Inhauser
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