Lá nos anos 60, venderam-me a ideia de que o
problema do país, que era periferia no mundo da economia mundial, era a
dependência do centro e que a solução era o socialismo ou comunismo, dependendo
de quem me pregava. Do outro lado, leitor assíduo do Estadão e Jornal da Tarde
que me acompanharam durante a adolescência, me era vendida a ideia de que o
capitalismo era a solução de todos os males. Soube que as marchas da família e
a revolução dos militares era a solução para o Brasil entrar no primeiro mundo.
Depois, pelo Pasquim, lia a mensagem de crítica aos militares e à ditadura.
Mais tarde, me venderam a ideia de que as multinacionais eram a desgraça deste país e que o
jeito de combatê-las era criando as nossas próprias super-empresas. Lá veio a
Petrobrás que se agigantou e foi uma das primeiras, no que foi seguida pela
Vale e as grandes siderurgias.
Passado algum tempo, veio a onda da dívida
externa, que asfixiava nossa vida e que o jeito era decretar a moratória e o
perdão incondicional da dívida. Aplaudi o Sarney e fui às ruas pela ideia do
Ano Jubileu, ao estilo judaico de passar a régua e recomeçar do zero.
Aí veio o Collor que vendeu a ideia de que o
problema do Brasil eram os marajás e os funcionários públicos. Deu no que deu.
Veio o FHC e disse que o problema eram as estatais. Vendeu tudo e o dinheiro
sumiu, e ainda por cima enfiou outro engodo: o problema estava nas
aposentadorias e no INSS. Veio o Lula, mexeu nas aposentadorias, pegou uma maré
internacional super-boa, aumentou a carga tributária na relação com o PIB e
ainda veio com o discurso de que a CPMF era necessária e que não se cortam
quarenta bilhões de uma hora para outra.
Teve um mandato e meio para se preparar e não se preparou para a redução
e/ou corte da CPMF.
Veio o Temer e insistiu na Reforma da
Previdência para a solução dos males brasileiros. Não conseguiu porque foi
flagrado em outro mal brasileiro: a corrupção via gravação de conversas nada
republicanas com empresário da JBS.
Veio o atual com seu Posto Ipiranga. Prometeu
o paraíso em curto espaço de tempo. Fala fácil e metáforas afinadas, conseguiu
fazer a reforma da previdência, não por empenho do chefe, mas por trabalho do
César Maia. Agora ele retorna no pós-pandemia prometendo privatizar quase tudo
como solução para o reaquecimento da economia. Fala em privatizar os Correios,
o Banco do Brasil, a Telebrás e outras coisas mais.
Não acredito nesta arenga! Já venderam a
Vale, as teles estaduais, os licenciamentos para uso das bandas da telefonia
celular, e o dinheiro sumiu, ninguém sabe, ninguém viu.
De minha parte, não acredito em mais nada a
não ser na história, analisada depois de alguns anos dos fatos e assim mesmo
com os filtros e condicionantes dos instrumentos de análise. E desta
experiência me sobram o ceticismo, a aversão à classe política e uma azia
incurável a discurso político-partidário. De uma coisa sei: não confio no Posto
Ipiranga e nem no chefe dele.
Marcos
Inhauser