Figura tão antiga quanto as religiões, o profeta teve status máximo na religião judaica. Durante séculos eles foram vistos, ouvidos, criticados e (per)seguidos. Há indícios e referências bíblicas para a existência de “escola de profetas”. Ao que tudo indica, a organizada por Samuel, (I Sm 10.5; 19.20) é a primeira. Elias e Eliseu foram responsáveis pela escola dos profetas, que funcionou como resistência à apostasia imperante no reino do norte (II Rs 2.3; 4.38; 6.1). Havia destas escolas em Ramá, Gibeá (I Sm. 19.20; 10.5,10) Gilgal, Betel e Jericó (II Rs. 4.38; 2.3,5,7,15; 4.1; 9.1). Uns cem estudantes faziam parte da escola dos profetas de Eliseu. Quando Elias e Eliseu foram ao Jordão, cinquenta da escola dos profetas estavam com eles (II Rs. 2.7,16,17).
Ser profeta não é uma questão de escolha pessoal, ainda que muitos assim decidam, indevidamente, devo dizer. Se olharmos para as histórias bíblicas dos profetas, constataremos que todos eles receberam um chamado e que foram relutantes em aceitar o mandato e a missão. Haja visto o exemplo de Jeremias que se sentiu chamada quando ainda era um “nah’ar” (imberbe, adolescente).
Percebe-se também que o profeta era alguém que tinha uma mensagem dura, denunciando os pecados do povo e especialmente dos governantes. Como disse Max Weber, em Israel havia uma classe social formada pelos reis e sacerdotes que explorava a segunda classe que era o povo. A terceira era a dos profetas que denunciava a exploração, se colocava ao lado do pobre, explorado, estrangeiro, órfão, e os defendia da tirania. Eles eram a oposição ao governo corrupto dos reis e sacerdotes!
Não é de estranhar que foram execrados. No dizer do escritor aos Hebreus, os profetas praticaram a justiça, da fraqueza tiraram forças, foram torturados, experimentaram escárnios, açoites, cadeias, prisões, foram apedrejados, serrados ao meio, morreram ao fio da espada, necessitados, aflitos e maltratados. Eram homens que o mundo não era digno!
Eles não alcançaram a promessa que anunciavam, mas nem por isto esmoreceram. Havia neles a consciência da vocação. Jeremias quis desistir e veja no que deu: “Seduziste-me, ó Senhor, e deixei-me seduzir; mais forte foste do que eu, e prevaleceste; sirvo de escárnio o dia todo; cada um deles zomba de mim. Pois sempre que falo, grito, clamo: Violência e destruição; porque se tornou a palavra do Senhor um opróbrio para mim, e um ludíbrio o dia todo. Se eu disser: Não farei menção dele, e não falarei mais no seu nome, então há no meu coração um como fogo ardente, encerrado nos meus ossos, e estou fatigado de contê-lo, e não posso mais. ... Mas o Senhor está comigo, tropeçarão os meus perseguidores, e não prevalecerão; ficarão muito confundidos, porque não alcançarão êxito, sim, terão uma confusão perpétua que nunca será esquecida. (Jr 20:7 ss).
Ser profeta é questão de vocação e não de opção. Ser profeta é ser chamado para ser questionado, odiado e viver em solidão porque os “amigos” fugirão na hora agá. Ser profeta é não ser o que gostaria de ser, mas é ser o que sente que deve fazer e o faz com um sentido de missão e obediência ao chamado. Ser profeta é ter experimentado o que Agostinho definiu como o chamado da “graça irresistível” e Calvino disse que “é “vocação eficaz, tão eficaz que não aceita o não!
Marcos Inhauser
Professor, pastor, teólogo e educador corporativo Textos escritos para a coluna semanal no Correio Popular, da cidade de Campinas e texto escritos depois de 2021, que tratam de temas nacionais, internacionais, sobre igreja e teologia
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Há outros artigos e livros de Marcos e Suely Inhauser à sua disposição no site www.pastoralia.com.br . Vá até lá e confira
quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020
quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020
DIVINO TRAVESSEIRO
Com certeza você já foi se deitar algum e, no meio da noite, acorda com uma ideia nova, algo que poderia fazer, uma invenção. Ou foi para a cama com um grande problema, revirou na cama, acabou dormindo e, quando acordou, o problema já não era tão grande e grave quanto parecia no dia anterior. Ou você foi se deitar com uma mágoa muito grande de alguém e acordou percebendo que o tamanho dela parece que havia diminuído.
Também há os que foram se deitar com um problema sobre o qual passaram horas tentando resolver e não encontravam solução. Ao acordar, a solução estava na ponta da língua.
Há também vezes que você foi se deitar e não conseguiu dormir porque o problema ou mágoa era tão grande que você não conseguia conciliar o sono. Levantou mais enrolado ou mais bravo que antes.
A experiência não é nova. Já os antigos recomendavam consultar o travesseiro. No livro bíblico dos Salmos se ensina que se deve “falar com o vosso coração sobre o travesseiro (em outras traduções diz sobre a cama) e calar” (Sl 4:4).
Os estudiosos, a partir das pesquisas que fizeram, mostram que o cérebro, quando estressado, é “envenenado” pelo cortisol, o hormônio do estresse. Quando estamos cansados ou há muito tempo nos batendo com o mesmo problema, parece que a mente bloqueia e se perde a capacidade de ver além do que já foi visto. Nem sempre trabalhar mais significa render mais. Há uma capacidade de trabalho que é natural e saudável. Não respeitar isto é risco sério à saúde.
E por que o descansar, o colocar a cabeça no travesseiro ajuda? Porque “descansa” o cérebro, baixa as guardas dos filtros lógicos e de preconceitos que atuam no nível consciente e bloqueiam avenidas cerebrais que conduzem a novos caminhos e soluções. Quando se dorme, estes filtros e bloqueios são diminuídos ou não utilizados e o cérebro tem liberdade para andar por caminhos novos, com novas conexões, ideias e soluções.
Outro importante fator para o travesseiro é a máxima que não sei se ouvi ou a estabeleci para mim mesmo: “entre a provocação e a reação, deve haver um travesseiro”. A resposta impulsiva, o ato impensado é fábrica de feridas, de inimizades, de tolices etc. Quando somos provocados (uso a palavra provocação não só no sentido negativo, mas também no positivo, quando alguém nos pergunta algo, nos pede um conselho ou orientação que exigem certa reflexão), a sabedoria pede travesseiro: tempo para pensar com calma. O tolo é impulsivo, fala pelos cotovelos, tem lição para tudo e todos, sempre tem a última palavra, é especialista em recitar e receitar o óbvio. O tolo é imaturo e o imaturo é tolo, exatamente porque seus atos e palavras não recebem o tempo de travesseiro.
Isto leva a outra máxima: “não decida hoje o que pode ser decidido amanhã”. A razão para isto é simples: podem ocorrer coisas, contratempos, imprevistos entre o tempo que você decidiu e o tempo que tinha para decidir e você terá que refazer ou voltar a atrás. Há correções e revisões que vão mostrar que o atropelo, o afogadilho, a pressa fizeram você se precipitar. Será evidência inequívoca da imaturidade.
Pense, acalme, deixe o travesseiro ensinar sabedoria.
Adoro meu travesseiro!
Marcos Inhauser
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quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020
A DIVINA DIFERENÇA
Já fizeram isto. Colocaram várias pessoas sob as mesmas
condições e usando o mesmo aparelho de ressonância magnética funcional e as
expuseram ao mesmo estímulo e viram que cada qual respondeu diferentemente no
que às conexões neurais se referem.
Isto provou que cada um de nós tem uma forma diferente de
fazer suas conexões neurais e que não há duas pessoas que as façam da mesma
maneira. Ainda que haja a predominância de uma área cerebral estimulada, no
detalhe as conexões são diferentes.
Quando olhamos algo, quando somos provocados por uma
sensação tátil, olfativa, auditiva ou gustativa, cada um de nós reage de uma
maneira. Daí porque tem gente que adora chuchu, abobrinha e jiló e eu detesto.
E eu gosto de sashimi e tem gente que tem nojo. Isto nos leva a pensar que,
quando olhamos um quadro, uma árvore florida, eu posso “sentir” a coisa de uma
maneira e outro a sentirá de maneira distinta. Ambos podemos concordar que se
trata de algo lindo, mas não significa que eu e ele vejamos cerebralmente a
mesma coisa. Isto explica por que, diante de um mesmo fato podemos ter
interpretações diferentes e até antagônicas.
Não que um esteja certo e outro errado, mas ambos trazem à
tona a forma como cerebralmente as coisas acontecem. Também se pode entender
por que um é mais exagerado e outro mais sóbrio nas suas alocuções, porque um é
histriônico e outro moderado, veemente e passivo. O que para mim parece
mentira, para o outro pode ser a mais pura verdade. Também explica por que
temos mais dificuldades em ver problemas nos nossos familiares que em outras
pessoas. Uma mãe tem extrema dificuldade em reconhecer problemas
comportamentais ou físicos nos filhos. Há uma conexão neural que passa pelo
emocional e filial que a impede de ver as coisas. É um certo mecanismo de
defesa para que não sofra.
Há fatores culturais familiares, escolares e vivenciais que
interferem no mecanismo da criação neural e nos fazem ser diferentes. Mesmo
colocadas em situações de igualdade sócio-ambiental e educacional, dois gêmeos
univitelinos serão diferentes. Com isto entendemos por que há partidos
políticos, ortodoxia e heresia, fãs de música clássica e funk, pessoas menos
aceleradas e outras 220V.
Quem está certo? Em tese todos. Quem é o culpado? Deus! É a
única conclusão a que posso chegar quando vejo pessoas tendo problemas
viscerais para lidar com os diferentes. Como me disse alguém: “ele se nega a
dialogar; a palavra dele sempre é verdade”. Lembrei-me da esposa meio burrinha
que viu uma notícia de um carro na contramão na autopista, colocando a vida dos
demais. Ligou para o marido, também fraco de neurônio, e ele responde: “não é
só um, é um monte de gente vindo na direção contrária.
Somos como somos porque o Criador nos fez indivíduos únicos
e irrepetíveis. Só existe um igual a mim: eu mesmo. Não sou o padrão de medida
para mais ninguém. O que penso, creio, acredito, a minha verdade, são coisas
minhas. Servem para mim. Não sou exemplo infalível para os demais. Posso até
ter quem goste do meu jeito de ver, pensar e sentir e queira ser igual, mas nunca
será.
Ao invés de reclamar e brigar com a diferença, devemos
celebrá-la e tirar proveito delas. Não tenho o dom nem as habilidades para ser
enfermeiro. Minha mãe está hospitalizada em estado grave. Devo deixar a
enfermeira fazer o que não sei e não posso criticar porque não sei, não entendo
e não tenho jeito. Elas, sob qualquer circunstância farão muito melhor que eu
faria.
Marcos Inhauser
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quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020
A PETULÂNCIA DO VERDADEIRO
Sei que sempre fui chato com certas coisas e parece que, com os anos, isto tem se acentuado. Seria fruto do envelhecimento ou a quantidade de veze que já me aborreci? Tenho minhas broncas com pessoas que repetem o que dizem duas três ou mais vezes, como se eu não tivesse entendido na primeira. Acho que, ao repetir, está me chamando de burro. Detesto quando as pessoas usam o “realmente” em profusão. Quando uma pessoa solta o primeiro, começo a contar e descubro que tem gente, e até jornalistas televisivos, que conseguem falar mais de dez vezes em uma inserção de 30 segundos.
Não consigo ler artigos ou livros que trazem títulos absolutos. Veja estes exemplos: Negociação Total, Tudo sobre Inteligência Emocional, Manual Completo de Coaching, Manual Completo do Líder, etc. Citei só os que ganhei de presente e estão na minha biblioteca. Ganhei duas biografias: uma do Einstein e a outra do Chaplin. Gosto de ler biografia. Uma se chama “Einstein, uma biografia”. Li quase que de uma sentada. Adorei. Peguei a segunda: Chaplin: Uma Biografia Definitiva”. Tentei ler, mas achei pedante, cheia de detalhes insignificantes e o título me convenceu a parar de ler. Ele diz que depois desta biografia nada mais poderá ser escrito ou nada mais será descoberto sobre o gênio da cinematografia. Petulância!
Acabo de receber um artigo pelo WhatsApp: “O Verdadeiro Sentido dos Evangelhos”. Não li e não vou ler. É petulante. Só ele sabe o que “verdadeiramente” os evangelhos dizem? Tem ele a interpretação infalível dos evangelhos? Outro que recebi foi: “O verdadeiro amor”. Tentei ler, mas dizia que uma esposa que ama seu marido deve obediência irrestrita e ele. Isto é amor? Também recebi uma mensagem no WhatsApp me informando a “verdade” sobre o corona vírus e culpando os governos comunistas da China, Cuba e do PT de terem produzido vírus.
Para mim, tudo que começa alegando autoridade, verdade, tem ares de ser absoluto, eu deleto. Mas o meu lado masoquista me leva, às vezes a ler um pedaço da podridão que me mandam. Tenho meus pruridos de prestar atenção a quem começa sua apresentação desfilando o que já estudou e o que fez. Tem um escritor bastante lido que, nos primeiros livros que escreveu, falou mais da sua autoridade em escrever o que escreveu, do que explicar o que de novidade tinha a dizer. Era especialista desde motor à explosão até cesariana! Nunca comprei nem um livro do narciso. Outro dia minha esposa recebeu um vídeo de um “médico midiático” que iria discorrer sobre diabete. Estávamos no carro e fui obrigado a escutar. Ele gastou uns 10 minutos para falar onde deu aulas, onde estudou, com quem esteve, quantos livros já escreveu, quantos vídeos já produziu, quanto seguidores tem. Pedi a ela que parasse e ela, também irritada com o rosário de atributos da “otoridade”, desligou sem questionar.
Há leitores que me escrevem criticando. Tem quem me chame de comunistas, socialista, guerrilheiro, petista, herege, bolsonarista, machista, e coisas outras que nem posso repetir. O que chama a atenção nestas mensagens é o tom autoritário e absolutos das frases. Há quem me escreve na esperança de que eu dê um espaço a eles na coluna, rebatendo o que dizem. Perdem tempo.
Marcos Inhauser
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quarta-feira, 29 de janeiro de 2020
REPETIR E CRIAR
Uma coisa é saber de memória todas as peças musicais de
Mozart ou Beethoven. Outra é saber executar cada uma delas, executando-as com
perfeição. O primeiro é conhecimento, o segundo é habilidade. A habilidade pode
prescindir do conhecimento, mas para tocar Mozart ou Beethoven, o conhecimento
é fundamental. Sem ele e só no exercício da habilidade pode se tocar qualquer
coisa, menos as obras dos gênios da música.
Conhecimento e habilidade associados formam um exímio
pianista ou, até mesmo, um regente. Mas conhecer profundamente e tocar
perfeitamente o que eles escreveram e compuseram não torna ninguém um
compositor. Há uma enorme distância entre ser um virtuoso no piano e ser um
compositor, mesmo que de músicas medíocres.
Posso ler todas as obras T. S. Elliot, posso recitar seus
poemas com maestria e perfeição, dando quase-realidade ao que ele escreveu, mas
daí a eu ser um poeta, vai uma distância de anos-luz.
Para ser genial na música ou na poesia não basta conhecer,
mas é fundamental ter a originalidade e a rejeição do que é senso comum. É
lançar um “olhar e proposta rebeldes” sobre o que se tem. Excelentes alunos na
escola, que tiram nota dez em quase tudo, não serão gênios nesta ou naquela
área, porque aprenderam a repetir o que lhes foi ensinado. As notas tiradas
mostram o cabestreamento que o sistema educacional colocou, obrigando-os a
saber exatamente como ensinaram, responder na ponta da língua, de preferência
com as mesmas palavras. Qualquer desvio é punido com notas baixas.
Eles se dedicam de corpo e alma em conhecer o que há e não
em produzir coisa nova. Bons alunos dificilmente serão gênios criativos. Eles
podem sofrer com o sistema, mas não estão treinados a questionar, desafiar,
mudar, rejeitar. A palavra-chave é obediência. E repetição. “Sempre foi assim e
continuará sendo assim”.
Não serão o “aluno-do-ano” ou o “empregado-modelo” que
mudarão o mundo. Se queremos mudanças não peça a eles. Estudos têm mostrado que
as pessoas que conseguiram mudar o mundo ou uma área do mundo não foram
crianças excepcionais na escola. Porque se rebelaram contra o sistema
impositivo do conhecimento existente, tiveram a audácia de propor coisa nova,
diferente, que foi uma ruptura com o dado. Os alunos “caxias” fazem de tudo
para receber a aprovação dos pais e professores e para isto reproduzem o que
existe. Os alunos rebeldes não se prestam a agradar ao sistema, mas em propor
novidades.
A ênfase no sucesso é uma forma de “criar autômatos”. Para
se ter sucesso precisa ser obediente, seguir as regras, trilhar caminhos já
percorridos. Leem o que podem de biografias de pessoas que foram exitosas e
tentam repetir o que eles fizerem para chegar ao topo. Quanto mais se valoriza
o sucesso, menos se dá asas à imaginação da criatividade. É a busca incessante
do sucesso garantido.
Para ser um gênio e mudar o mundo é preciso ter a coragem
para a destruição criativa. O novo e a invenção, requerem que coisas velhas
sejam derrubadas, quebradas, destruídas. Estabelece uma ruptura no modo de
fazer e propõe a novidade. É revolução e não reforma. Para ser original há que
se ter estrutura emocional e resiliência para aguentar os trancos e pauladas
que os conservadores darão. Ser a novidade é coisa para gente grande,
emocionalmente bem firmada. É perseguir o objetivo mesmo que isto custe
milhares de tentativas frustradas, como foi com Thomas Edison até que inventou
a lâmpada.
Marcos Inhauser
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quarta-feira, 22 de janeiro de 2020
EMPREJA
A coqueluche da ciência destes dias é a engenharia genética.
Começou fazendo experimentos com plantas para produzir espécies mais
resistentes, depois passou para os animais, chegou à clonagem e boatos dizem
que já clonaram seres humanos. Parece ilimitada sua capacidade em produzir
novidades.
Ela chegou também ao campo das igrejas. A partir da década
de oitenta, começaram a aparecer os primeiros seres híbridos entre a empresa e
a igreja. E disto nasceu uma espécie bastante robusta e vistosa que é a empreja.
Como todo novo ser criado em laboratório, este também
precisou incorporar certos vocábulos novos ou assimilar outros do mundo com o
qual se associou. O pastor foi cedendo espaço para o líder. O pastorado passou
a ser mais administrativo que relacional. A hierarquia tomou conta e surgiram
centenas de apóstolos, bispos, profetas, missionários, evangelistas, uma nova
geração com títulos bíblicos que estão mais para a Qualidade Total que para o
pastoreio do rebanho. O discipulado virou coaching, evangelização agora é
marketing da igreja. O trabalho deles passou a ser medido em termos
quantitativos e não mais qualitativos.
A empreja passou a ser avaliada em termos de crescimento,
renda, arrecadação, tamanho da platéia, níveis de decibéis no momento do louvor.
O financeiro passou a falar mais alto que o espiritual. Como me confidenciou um
pastor, tem Deus Revelado a ele que a saúde espiritual de sua igreja deve ser
medida pelo saldo da conta corrente.
A empreja não evangeliza, faz marketing; não tem rol de
membros, tem cadastro de freqüentadores; não tem assembléia, tem liderança que
decide em nome da comunidade. Na empreja o fiel não pensa, repete. É um
autômato de uma linha de produção em série, bem ao estilo henrifordiano. Na
empreja o narciso de um ou alguns têm completa liberdade de expressão. Tal como
aquele jogador de futebol que bate escanteio e corre para a área para cabecear,
na empreja o narciso ora, canta, prega, dá a benção, faz a coleta e não muito
raro, gasta o dinheiro arrecadado.
Na empreja é pecado perguntar, mas é virtude submeter-se; o
assunto predileto é autoridade na visão bíblica, onde é maldito o que se
levanta contra o “ungido do Senhor”, que é o pastor-proprietário do rebanho.
Alguns chegam ao cúmulo de alterar o estatuto para prever que ninguém pode
levantar qualquer assunto na Assembléia sem que seja do conhecimento e
aprovação do pastor da igreja.
Na empreja se valoriza o tempo de exposição na mídia, pois,
como empreja que tem um produto a vender, a salvação em Jesus Cristo , quanto
mais ela esteja visível tanto mais sucesso terá. Daí porque tantos programas
religiosos na TV.
Os princípios de qualidade total substituem os valores
bíblicos e teológicos. O pastor deve ganhar pela sua produtividade: um
porcentual pelo número de freqüentadores e outro pelo volume de ofertas
levantadas. Em alguns casos, a fórmula é: o dízimo arrecadado é para o líder
(pastor, apóstolo, bispo ou seja o que for) e as ofertas extras são para pagar
as despesas de funcionamento da empreja.
Este ser geneticamente produzido está privatizando o céu,
com lotes à venda nas emprejas, quais imobiliárias da eternidade. Emprejários
tem conseguido mandato político e se arvoram em porta-vozes dos mundo
religioso, mal denominado de evangélico.
Marcos Inhauser
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quarta-feira, 15 de janeiro de 2020
SONS E BARULHO
Ruídos. O vento faz o seu, o mar ruge, os galhos estalam, os
cachorros ladram. Eles vêm de toda a parte. O que os caracteriza é que eles são
sons sem sentido aparente, desconexos, sem mensagem. Para ouvidos mais atentos
um vento pode sinalizar algo, o estalo de um galho pode prever uma tragédia, um
cachorro ladrando pode ser anúncio de algo.
Há os que são harmônicos com os que ocorrem em música
sinfônicas, os produzidos por orquestras, órgãos, pianos, violinos. São sons
com uma delicadeza ou até mesmo certa ênfase, mas que nos indicam que há muito
mais por trás deles. Há uma certa previsibilidade na próxima nota, um
encadeamento sonoro quase que lógico. E como se ficássemos esperando a próxima
nota e, quando ela vem, enche o vazio que estava à sua espera. Há um sentimento
de saciedade quando as notas nos alcançam, como se nossa vida estivesse a
depender delas ara renovar nossas foras ou pensamentos.
Mas há um som que é fundamental para todos nós: o som da
palavra proferida. A palavra dá uma nova dimensão a tudo. A música, quando
cantada, traz a palavra que, aliada à sonoridade e harmonia, nos provoca
pensamentos. Ela é o traço distintivo que faz com que os seres humanos se
relacionem, se amem, se odeiem, construam castelos e façam guerras. A palavra
faz o ser humano ser qualitativamente diferente de tudo.
Nada é mais poderosa no mundo dos sons que a palavra. Nada é
mais efêmero que a palavra. Ela tem curtíssima duração: dura o tempo de ser
enunciada. Ela tem o vigor do instantâneo. Ela morre assim que é pronunciada. E
mesmo assim é poderosíssima! Ela declara amores e pede favores. Ela declara
ódios e tira dos pódios quem se arvora ser grande. Ela entra pelo ouvido e dá
um trabalho imenso aos neurônios, porque semeia sonhos, planos, imaginações.
Ela fomenta sentimentos de raiva, ódio, de vingança. Ela reconstrói pontes. Ela
pede e declara o perdão.
Sem a apalavra o ser humano seria um “quase zero à
esquerda”. Estudos antropológicos tentam reconstruir os caminhos e descaminhos
para que o ser humano criasse uma forma avançada de comunicação, onde conceitos
e sentimentos pudessem ser expressados. Como seriam os mais primitivos que só
conseguiam falar uma meia dúzia de palavras e todas elas relacionadas a coisas
concretas: chuva, água, fogo, comer, beber? Parece que um indicativo disto pode
se ter no hebraico bíblico, bastante pobre em palavras e conceitos O recurso
utilizado foi o uso das metáforas.
Línguas mais completas e onde se produziu boa parte da
filosofia, são línguas ricas em palavras e com flexibilidade para construir
novos vocábulos, como é o grego, o alemão e o francês. O português também tem
sua riqueza, mas peca por certa inflexibilidade. Daí porque, me parece na minha
laicidade, que usa palavrões, expressões regionais, caipirismos, onde há maior
flexibilidade, para dizer o que as palavras não alcançam.
Palavra não é som emitido pelo ser humano. É o espírito
humano que sai como sopro sonoro, é o vento que Deus soprou nas nossas narinas
para que, aos expirá-lo, criássemos mundos. A palavra é muito mais do que
aquilo que se fala e aquilo que se ouve. É algo divino entre os humanos. Por
isto, Jesus nos alertou que seremos cobrados por toda palavra tola saída de
nossa boca. Fala é o uso de um recurso divino em nós. Com ela somos co-criadores
com Deus.
Marcos Inhauser
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quarta-feira, 8 de janeiro de 2020
IRA, IRÃ, IRA(QUE) E I(S)RAEL
Não é surpresa para ninguém que o Trump é um presidente
irascível e imprevisível. A sua imprevisibilidade é motivo de orgulho para ele
e de apreensão para os demais, tanto pessoas como governos.
O seu caráter iracundo já mostrou as garras em vários
episódios. Desde a questão do muro separando o México dos Estados Unidos,
passando pela forma como tem tratado os ilegais e as crianças, os filhos dos
que tentam entrar ilegalmente colocados em campos de concentração, até a forma
como tem lidado com questões internacionais. O início do diálogo com a Coreia
do Norte foi abruptamente interrompido por sua deserção, por motivos nunca bem
esclarecidos. A sua impetuosidade no trato das questões comerciais com a China,
a desconsideração para com o acordo firmado pelo Barack Obama na questão
nuclear do Irã, a saída do Acordo Climático, a decisão de sobretaxar aço e
alumínio brasileiros, são outros exemplos deste par de características:
imprevisibilidade associada à irascibilidade.
Fomos novamente surpreendidos pela sua decisão de matar o
segundo homem na estrutura de poder do Irã, o Qasem
Soleimani. A sua ira ele a direcionou ao Irã, na questão do acordo firmado
sobre o enriquecimento do urânio. E para fazê-lo usou o território do Iraque
que ele acha que é extensão do americano, uma vez que tem lá mais de seis mil
soldados. Um ataque ao Irã desde o Ira(que)!
Na geopolítica mundial, a ação teve implicações que envolvem
diretamente a I(s)rael, aliado ao qual destina sua fidelidade canina. Irã e
Iraque são inimigos figadais e, ao mexer com o Irã, o tabuleiro também balançou
para o lado da nação que já tem seus problemas com a vizinhança.
É imprevisível as ações que redundarão de tal ataque. A
retórica já experimenta graus de ebulição, mas, em se tratando de Trump, é
difícil dizer o que é verdade e o que é encenação. De uma coisa podemos estar
certos: haverá retaliação. O problema está em definir quando e como. Mas, aqui,
com meus botões, acho que quem vai pagar o pato, será Israel.
A justificativa para tal ataque é que o Soleimani era um
terrorista e que os EUA têm o direito de combatê-los onde quer que seja. A
definição de terrorista é subjetiva e se alinha com os interesses dos EUA. Já
escrevi aqui, em outra oportunidade, que o que os EUA fizeram no Afeganistão,
foi terrorismo. O ato de um homem e seus poucos aliados (Bin Laden) foi
alastrado para toda uma nação. Como terrorista foi classificado o exército
norte-americano, uma forma de retaliação feita pelo Irã.
Parece que, afirmar que alguém é terrorista, é a mesma coisa
é como dizer que alguém é herege: sempre o outro o é e o é por questões
menores. No entanto, a mesma classificação poder-se-ia dar ao exército e
serviço de inteligência israelitas. Sob o pretexto de retaliar ataques de
terroristas palestinos, têm desferido duros golpes conta a população civil.
Quando confrontados com os danos civis, falam de danos colaterais ou que eram
terroristas travestidos. A Ira justifica tudo!
Ira, ódio, vingança, retaliação. Palavras que fazem parte da
cultura de muitos governantes e países. Pasma-me que, entre eles o que são
religiosos (Irã), uma nação religiosa (Israel), um presidente aliançado aos
evangélicos (Trump e a recente participação no encontro de Miami, os discurso de
que os democratas querem impor uma agenda antirreligiosa), o discurso de ódio
com todos os que são diferentes ou pensam diferentemente.
Ira, iracundo, irascível, ir(r)acional, imprevisível,
intempestivo, impulsivo, insolente, inábil, inapto e inepto para o poder e a
liderança. Este é o homem que promove a ira. Mais que isto, tem gente que se
orgulha de imitá-lo!
Marcos Inhauser
quarta-feira, 11 de dezembro de 2019
CONTROLE POPULAR DO PODER
Acabo de ler artigo publicado no El Pais explicando por que
o povo elegeu Hitler. Voltei aos meus livros e leituras para ver o que mais
poderia ler para fundamentar algumas das razões que o escritor do artigo
elenca.
Encontrei este de William Godwin (Enquiry Concerning
Political Justice and its Influence on Moral and Happiness, GG Robinson,
London, 1796, Vol I, pg 108): “O grau de imaturidade ou maturidade da população
se refletirá no sistema político, produzindo um regime ditatorial ou uma
situação de liberdade. Fraqueza interna torna um povo presa fácil de um
conquistador, ao passo que o esforço para oprimir um povo maduro na liberdade,
provavelmente não será bem-sucedido”.
Isto foi alertado pela Comissão Interamericana de Direitos
Humanos; “ ... as potestades constitucionais do Chefe de Estado, por ser tão
numerosas, amplas e importantes, lhe outorgam um poder muito grande, sem os
contrapesos significativos, que por sua natureza, não só abre as portas a uma
aplicação abusiva do poder, mas também permite que se anule, limite ou distorça
o exercício efetivo da representação política e da participação popular e, por
conseguinte, a observância de outros direitos e garantias.” (Diez años de actividades”
– 1971 a 1981, pg 270).
Para citar um pensador, o governo é um comitê com poder para
gerir e facilitar os interesses da elite. Para tanto, ele deve acomodar as
classes populares emergentes, domesticá-las em algum esquema bem ao gosto das
classes dominantes. Lembro-me que, quando cursava o pós-graduação em Educação
na UFSCAR, estudamos as reformas educacionais que o Brasil já teve. O professor
centrou sua análise na exposição de motivos, situados no contexto histórico,
social e econômico que a nação vivia. Ficava claro como as reformas
educacionais foram feitas para prover às elites a mão de obra que necessitavam
naquele momento. Lendo Bordieu e Passeron (A Repodução), percebi como a escola
é a célula reprodutora do pensamento dominante e de domesticação das mentes.
As elites, ao perceberem que não podem resistir ao poder do
povo que se rebela, começam a dar reputação e espaço para um dos seus elementos
(do povo) e o fazem príncipe, para, sob sua sombra, ter seus apetites saciados.
O povo, por sua vez, dá sustentação ao “príncipe do povo eleito”, pois
acreditam que ele irá defender os seus interesses. Eles se equivocam pois, quem
o elegeu, foi o poder econômicos dos ricos. O Brasil está cheio de exemplos
desta natureza, tanto à direita como à esquerda.
É citada com frequência a frase atribuída ao governador
mineiro Antônio Carlos de Andrada: “façamos a revolução
antes que o povo a faça”. É a revolução dos poderosos para aplacar a ira
do povo, vendendo como se a revolução viesse para satisfazer seu anseio. Assim
foi com o Collor, com a Ditadura mal denominada de Regime Militar, com o plano
Cruzado etc.
Quando se tenta unificar as coisas colocando juntos anjos,
cosmos, Igreja, estruturas políticas, religiosos, religião e Deus como sendo a
origem e o sustentador da integração das partes, a coisa assume aura de
sagrado. Isto pode dar-se pelo uso de textos bíblicos fora de seus contextos,
presença constante de religiosos ao redor do núcleo do poder, discursos com
ares de sagrado, mantras religiosos repetidos à exaustão, pseudo-fundamentação
em valores religiosos. Nada mais pernicioso e maléfico do que a ditadura
religiosa. Que o diga Irã, Afeganistão, Guatemala sob a égide de Ríos Mont,
Pinochet e seu messianismo. O governo assim concebido acha que está acima da
lógica política (quer governar sem a política e os políticos), busca uma
solidez ontológica (como se existisse de per se) e tudo passa a ter
validade ética. Aos de fora do núcleo só cabe obedecer. Os desobedientes e
contestadores são lançados ao fogo do inferno. Que o digam os defenestrados de
Sarney, Collor, Lula, Dilma, Temer e Bolsonaro.
É o esquema de um poder que trabalha o povo, manipula seus
sentimentos, fabrica comportamentos, tudo para fortalecer o poder econômico de
poucos.
Alguma dúvida? Olhe os recentes dados de concentração de
renda no Brasil. É indecente como nos últimos 50 anos a coisa foi feita para
que os ricos sejam mais ricos.
Que os profetas (denunciadores do pecado do poder) não se
calem. Quando não há profecia, a nação padece! Isto é bíblico!
Marcos Inhauser
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sábado, 7 de dezembro de 2019
BIBLIOPLANISTAS
Virou moda, apesar do absurdo que é, afirmar que a terra é
plana. Tem gente que o afirma categoricamente e há um autodidata louco e
aprendiz de astrólogo que diz que não há nada que refute a ideia de que a terra
é plana.
A coisa é tão estapafúrdia que se chegou a realizar a
primeira Flat Con, a Convenção Nacional da Terra Plana, com a seguinte
enunciação: "A Terra está parada. Não se move. A superfície da Terra é plana.
Há uma cúpula sobre nós chamada o Firmamento. O sol, a lua e as estrelas estão
sob a cúpula do Firmamento. O sol e a lua são muito menores e mais próximos do
que nos dizem. O sol e a lua se movem em seus próprios padrões sobre a
superfície da Terra. Não há planetas. Apenas estrelas no céu. Não há espaço.
Não podemos sair da cúpula. Está tudo bem aqui ..."
Eles dizem que nossos sentidos indicam que Terra é plana, o
mundo parece ser plano, logo deve ser plano. Para eles a Terra é um disco
redondo e achatado, o Polo Norte está no centro, a borda é formada por gelo
(Antártica), a circum-navegação da Terra é fazer volta ao redor do Polo Norte.
Sol e a lua são pequenas esferas a poucos milhares de quilômetros da Terra, que
se movem em círculos ao redor do Polo Norte, e outras barbaridades.
Duvidam da evidência fotográfica, porque acham ser fácil
manipular imagens. Para eles, a exploração
espacial nunca aconteceu: é conspiração. Os astronautas, que disseram
ter visto a Terra é redonda, foram subornados ou obrigados a dizer isso.
Mas há, em número maior e com o mesmo grau de absurdo, os
Biblioplanistas. Contra toda a evidência histórica, linguística, cultural, da crítica
literária e da glotologia, saem afirmando besteiras sobre a Bíblia. Mesmo
quando uma palavra se trata de uma apax legomena (palavra que ocorre uma
única vez), eles sabem tudo sobre o significado dela, mesmo em se tratando, no
caso da Bíblia, de duas línguas mortas (hebraico bíblico e grego koiné).
Para os Biblioplanistas, os gêneros literários são coisa de
hereges para torcer o real sentido das Escrituras. As contradições entre
narrativas históricas ou a duplicidade delas (como no caso da criação), é coisa
que só incrédulo acredita. A Bíblia é infalível e inerrante. As aparentes
contradições têm algo a mais e o leitor mais atento e cuidadoso fica míope para
estas “verdades ocultas”. Perguntar, questionar e duvidar de certos relatos é
condenação eterna para os Biblioplanistas.
Acreditam que o Pentateuco foi escrito por Moisés ainda no
deserto (só não explicam como há tanta água no texto da criação se o ambiente
dele era o deserto). Acreditam na literalidade numérica: Moisés esteve 40 anos
na corte de Faraó, 40 anos no deserto, 40 dias no monte Sinai e mais 40 anos na
peregrinação, saiu do Egito com 600.00 homens, perseguido por 600 carros de
combate do Faraó.
Desconhecem os gêneros literários. Para eles não há na
Bíblia novela, saga, lenda, mito, saga etiológica, ironia, hipérbole, poesia,
conto, anedota, discurso narrativo ou épico, ode, metáfora etc. As parábolas
devem ser tomadas no seu sentido mais literal possível. Tudo deve ser
interpretado desde uma ótica plana e rasa: literalmente, onde cada palavra tem
o sentido primário, sem possibilidades de interpretações segundo o gênero no qual
foi escrito. A poesia se torna historiografia, a saga etiológica é descritiva
de fatos originais, as fábulas são fatos históricos.
Também acreditam que a vida na terra é um campo de batalha
entre Deus e Satanás, com seus demônios que trazem enfermidades, desgraças,
falências, adultérios e que há pessoas escolhidas a dedo por Deus para expulsar
os demônios e trazer prosperidade.
Com tamanha infantilidade interpretativa, não surpreende que
expulsem demônios da caspa, da obesidade, acreditem que a serpente e a mula de
Balaão realmente falaram, que o universo foi criado em sete dias de 24 horas e
que a terra tenha não mais de 7000 anos!
Marcos Inhauser
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