Os institutos de
pesquisa têm uma fórmula para saber que cada televisor ligado corresponde a X
outros televisores ligados. Em Porto Alegre, um ponto no Ibope equivale a
14.375 domicílios. Em São Paulo, esse número cresce para 58.235 lares (dados de
abril de 2015). Algo parecido vale para os jornais: cada exemplar vendido
corresponde a um certo número de leitores e cada carta enviada ao jornal
representa outro tanto.
Trago isto para dizer
que os números divulgados para a manifestação do último domingo, ainda que
variem segundo a fonte, mostram que foi a maior manifestação política já havida
no Brasil. Não importa se foram mais ou menos de 4 milhões, ou se os números
questionáveis do DataFolha são tomados como sérios. O que importa é que muita
gente saiu às ruas no domingo.
Mas há outro tanto de
gente (que é ainda maior que o daqueles que foram para as ruas), que não
saíram, mas colocaram suas bandeiras, que ficaram nas janelas a dar apoio aos
que para as ruas foram. Conheço vários deles que, por segurança, por não ter
com quem deixar os filhos, por razões logísticas de chegar ao local, preferiram
manifestar-se pelas redes sociais.
Sendo assim, os
números divulgados devem ser multiplicados várias vezes, para se ter uma ideia
mais aproximada do fenômeno ocorrido. Se está certa a pesquisa feita no sábado
dia 12, que afirmava que 9% dos brasileiros pretendiam sair às ruas, significa
que teríamos algo em torno de 20 mi de pessoas nas ruas e isto não se deu. Mas
também se pode dizer que os que foram representavam uma parcela muito maior da
população.
Se se considera que a
democracia é o governo do povo para o povo e que os governantes são os que
receberam a maioria dos votos válidos, ter uma manifestação deste porte para
retirar da pessoa eleita o apoio de uma parcela da população é algo que não
pode ser desmerecido. É verdade que ela foi eleita, mas os que a elegeram e os
que não a elegeram, vieram à rua para dizer: retiro meu apoio.
Eles estavam
renunciando ao governo que tem. Não querem mais quem foi eleito no governo
porque acreditam que perdeu a legitimidade e a capacidade de trazer as mudanças
necessárias. Eles a renunciaram porque perceberam que a crise que aí está tem
um culpado: a incompetência do atual governo em gerenciar.
Antes desta manifestação,
ela já tinha sido renunciada por setores do empresariado, do comércio, do setor
de serviços, pelos políticos da oposição. Mais que sito ela tinha sido
renunciada por parcela significativa dos políticos que lhe davam apoio. Pior
ainda: ela tinha sido renunciada por vários políticos de seu próprio partido.
O governo legítimo não
só deve vencer nas urnas, mas deve ter o apoio popular. O Maduro, a Cristina
Kirchner, o Evo Morales, foram eleitos, mas perderam legitimidade pela falta de
apoio popular. Se 70% ou mais rejeitam o governo, que credibilidade há para que
possa continuar a governar? É golpe? Se o é, é um golpe dado pela maioria da
população em um sistema democrático que diz: não queremos mais!
Ela foi renunciada ao
menos por uma parcela significativa da população. Foi um plebiscito não-formal,
de quem, cansado, saiu à rua de disse: ou renuncie ou sofra o impeachment!