No emaranhado das teologias, com tantas interpretações, não
é fácil entender a essência dos posicionamentos. No desejo de explicitar as
coisas, apresento este esboço, resumindo
as teologias a duas linhas fundamentais: a teologia do mérito e a da graça.
A do mérito também
pode ser descrita como sinérgica ou da justiça retributiva. A palavra
“sinérgica” vem do grego “syn”+”erga” = trabalho conjunto. Esta teologia
trabalha com o conceito do mérito: a pessoa recebe de Deus o que ela merece. Se
praticar o bem, recebe a benção. Se praticar o mal, recebe de Deus o castigo.
Frases
características desta linha de pensar são: “Se sou fiel no dízimo, Deus vai
aumentar meu salário”; “se sou fiel, não vou ficar doente”; “Deus levou em
conta a minha fé”; “Deus me curou porque minha fé é muito grande”; “Deus me deu
o emprego porque jejuei três dias”; “aquele que é fiel, praga nenhuma o
atingira´”.
As consequências
lógicas e práticas deste pensamento é que Deus não é onipotente porque obrigado
a retribuir as ações humanas. Deus passa a ser previsível: só responde às ações
humanas. Por consequência, Deus pode ser manipulado, porque se consegue que Ele
atue em retribuição às ações boas ou más. A salvação não depende de Deus, nem
de Cristo, mas das obras feitas para merecê-la, deixando de ser dádiva ou
presente para ser pagamento pelo comportamento exemplar que se teve. O juízo
final será a pesagem de ações boas e más e, dependendo do resultado desta balança,
vai-se para o céu ou o inferno. Como juiz, Deus sentencia cada um de acordo com
suas obras. Assim, deixa de ser salvador e se transforma em juiz, deixa de ser
amor e passa a ser justiça.
Ela promove o
egoísmo: “eu som bom e por isto Deus me abençoa”. Promove a competição e a
jactância: “orei tantas horas”; “oro todos os dias, três vezes ao dia”; “li X
vezes a Bíblia inteira”; “nunca faltei a um trabalho da igreja”; “Deus vai me
responder, porque acredito muito nEle, minha fé é muito grande”. Os cultos se
transformam em palcos para a atuação de narcisos: gente que vai à igreja para
mostrar quão bons eles são. Ávidos para fazer um solo, orar em voz alta, dar
testemunho, contar uma benção. Cacarejam o quanto Deus os está abençoando
porque são merecedores. Fazem um rosário de “testemunhos”, cada qual querendo
mostrar que é mais merecedor das bênçãos de Deus.
A outra teologia é a
da graça que é o agir espontâneo de Deus, aquilo que Ele faz sem que nada o
motive ou obrigue a fazê-lo. A graça é o agir surpreendente de Deus, porque
nunca previsível: nunca ninguém poderá dizer que a graça vai se manifestar! Ela
está definida no texto de João: o vento sopra, não sabes de onde vem, nem para
onde vai. A graça não pede licença, nem retribuição ou mesmo um “obrigado”. A
graça atropela! Faz mais do que imaginamos ou pedimos! Ela arregaça com os
parâmetros da justiça humana, porque ilógica! A graça não precisa de “estrelas
televisivas do mundo gospel” para se manifestar, ainda que, se quiser, pode
usá-las! Não há poço tão profundo que a graça não possa alcançar! Não há trevas
tão escuras que a graça não ilumine!
A graça não é
resposta às orações feitas. A graça vem de onde menos se espera! Muda o caos em
ordem, a briga em harmonia, a crise me abundância! A graça tapa a boca de
pregadores presunçosos! Destrona os que se acham porta-vozes de Deus! Ela
exalta o humilde, o órfão, a viúva, o enfermo! A graça visita leitos de doentes
terminais!
Marcos Inhauser